ÁRTEMIS SOFRE POR AMOR
Eros saiu à procura de Ártemis e a encontrou, como sempre, caçando. Um sorriso maroto tomou conta do rosto do deus do amor. Seus olhos buscavam pela vítima seguinte e avistou mais adiante um jovem e belo caçador.
Orion era forte, alto, queimado de sol. Tinha os cabelos castanhos claros revoltos que chegam até os ombros. Seus olhos de lince eram verdes como esmeraldas e não perdiam de vista sua caça. O rapaz vinha seguindo o rastro do mesmo animal que Ártemis espreitava.
A deusa da caça, arco e flecha em mãos, tinha o animal em sua mira, mas refreou seu gesto quando um intruso surgiu a sua frente. Os olhares de ambos se cruzaram. Orion e Ártemis se encontraram frente a frente.
O jovem ficou impressionado com a beleza da deusa. Os cabelos dourados, sempre presos haviam se soltado e caiam livremente sobre suas costas. O peplo branco envolvia o corpo delicado da deusa da caça. Seus olhos azuis e brilhantes fitavam-no desafiadoramente.
Apesar de demonstrar irritação com a presença do rapaz, a deusa não pôde deixar de reparar o quanto ele era bonito e atraente.
Hipnotizados um pelo outro, não perceberam a presença do deus do amor.
Parecia ser o momento perfeito. Eros, que os vigiava a uma distância segura, disparou duas de suas flechas. Uma atingiu Orion, que já estava deslumbrado com a beleza da deusa, e agora, estava perdidamente apaixonado. A outra flecha atingiu Ártemis que sentiu algo que nunca havia sentido em toda sua vida. Seu coração estava disparado, batia tão forte que parecia que ia explodir.
Os dois ficaram parados, frente um ao outro, apenas se olhando, admirando-se mutuamente. A respiração ofegante por causa do nervosismo que sentiam na presença um do outro.
De repente Ártemis pareceu cair em si e despertar de seu transe. O olhar intenso de Orion a fez sentir-se tímida pela primeira vez em sua vida. A deusa da caça tentou se afastar, mas o rapaz não permitiu que ela o fizesse. Num gesto impulsivo, tomou-lhe a mão e a obrigou a voltar-se para encará-lo novamente. Mais uma vez, um fogo de olhares consumiu o coração de ambos.
Eros estava satisfeito e se afastou. Tinha cumprido sua missão.
Ártemis e Orion começaram uma conversa tímida. Pela primeira vez, a deusa permitiu qualquer aproximação com o sexo oposto. Os dois descobriram a paixão em comum, a caça, e passaram a praticá-la juntos.
Depois da conversa com Athena, Marin passou a evitar Aioria com medo do que uma aproximação poderia causar entre eles. Sempre que o encontrava, ignorava-o, fugia de sua presença. Mas a Amazona de Águia não conseguia ficar longe do Cavaleiro de Leão e passara a espiá-lo durante seus treinos. Sentia saudades de falar com ele.
Aioria estava perdido. Não sabia o que fazer para se reaproximar de Marin. Não acreditava que a Amazona sequer lhe dera a oportunidade de se explicar, de lhe pedir desculpas. Nunca pensara em ofendê-la. Já havia tentado falar com ela diversas vezes, mas Marin simplesmente lhe virava as costas e se afastava. Ele queria se declarar a ela. Não estava mais agüentando a distância, sentia falta de estar perto dela.
Enquanto Marin tentava se manter afastada de Aioria, Ártemis e Orion estavam cada vez mais próximos, mais unidos e esconder seus sentimentos estava ficando cada vez mais difícil. Mas... Alguém era contra esse amor e resolveu acabar com ele antes que a situação saísse de controle.
Enquanto conduzia sua carruagem pelo céu da Grécia, pensou na armadilha perfeita... Que poderia acabar com aquele amor.
Apolo, deus do sol e da poesia, irmão gêmeo de Ártemis, convidou-a para uma competição para verem qual dentre os dois era o melhor caçador. O deus, embora não se dedicasse tanto à caça, era um exímio caçador, assim como a irmã.
A deusa da Caça aceitou o desafio de imediato. Adorava exibir suas habilidades, ainda mais tendo tão poderoso oponente. Seria muito bom vencer o orgulhoso deus do sol.
Apolo conduz Ártemis até uma floresta.
– Vê aquele lago? – perguntou ele, "inocentemente", apontando para um lago que ficava a uma boa distância da colina onde estavam. Ártemis assentiu e Apolo prosseguiu calmamente: - Ártemis, eu quero que você acerte aquele vulto se mexendo naquele lago, está vendo? – ela acenou. – Acha que consegue? – perguntou com escárnio. A deusa da caça o olhou com um brilho de indignação nos olhos azuis e encarou os olhos violáceos de Apolo. O deus sabia que sua irmã odiava que duvidassem de sua capacidade.
– Mais é claro que eu consigo! – respondeu rispidamente. Apolo se afastou, com um sorriso sarcástico em seu rosto, enquanto observava atentamente os movimentos da irmã.
A deusa preparou o arco e a flecha e fez mira. Seus olhos se fixaram no ponto que se movia rapidamente no lago e suas mãos tremeram. Ela sentiu um aperto inexplicável no peito e abaixou o arco, olhando novamente para seu "alvo".
– O que houve Ártemis? – Apolo aproximou-se dela novamente – Não consegue acertá-lo? – perguntou, provocando-a. Ártemis encarou Apolo, aquela estranha sensação ainda persistia. Ela voltou a olhar para seu "alvo".
– Já... Já disse que sim! – disse ela, fazendo mira novamente, tentando ignorar a horrível sensação que tomou conta de seu coração. Ela ainda hesitou, mas não voltou atrás.
A flecha partiu tão rápida que fez um zumbido ao rasgar o espaço. Seu "alvo" é atingido.
Orion sentiu uma dor lancinante entre as omoplatas e o gosto amargo de sangue veio-lhe a garganta. Ele chegou com dificuldade até a margem do lago e caiu sobre a relva, sentindo sua respiração faltar.
– Pronto, minha querida irmã! – disse Apolo, com cinismo – Sua honra está preservada! – ele sorriu diabolicamente – Consegui tirar aquele caçador de seu caminho. – comentou, encarando a irmã. Em seus olhos, o brilho da vitória. A deusa olhava pra ele sem entender suas palavras.
– Do que está falando? – de repente, uma imagem horrível passou por sua cabeça. Ela não podia acreditar – O que quer dizer com isso?! – perguntou, sem esconder seu desespero.
– Vá. Olhe você mesma. – dizendo isso, Apolo se retirou, voltando para sua carruagem. O deus do sol olhou pra ela mais uma vez, mas os olhos da deusa estavam presos ao lago. Atiçando os cavalos, Apolo partiu, sentindo-se satisfeito consigo mesmo.
Ártemis mantinha seus olhos no lago e viu quando o vulto se dirigiu à margem e caiu em seguida. Não podia ser!
Correu o mais rápido que pode, não querendo acreditar que aquilo estava acontecendo. Chegou à margem ofegante e sentiu o peito apertar. A deusa da Caça encontrou o corpo nu Orion caído de bruços à margem do lago. O caçador respirava com dificuldade e sentia uma dor pungente em suas costas. Ártemis sentiu seu corpo todo estremecer e um torpor a tomou, fazendo com que ela caísse de joelhos ao lado do rapaz.
– Orion... – disse, com a voz embargada. Ela se aproximou dele e retirou a flecha de suas costas de uma só vez. O sangue jorrou pela ferida aberta e Orion não conseguiu conter um grito e um espasmo de dor. Ela o tomou nos braços e o virou para si. Os olhos deles estavam fortemente cerrados. Os lábios entreabertos, lutando para puxar o ar. O sangue o sufocava, dificultando a respiração. Um filete de sangue escorria-lhe pelo canto da boca
– Ori... rion... O que foi que eu fiz?!! – disse ela, soluçando. Tocou o rosto dele, que abriu os olhos com dificuldade.
– Ár... Árte... Ártemis... Eu... Preciso te... Dizer... Eu.... – ele se esforçava para falar. Sentia que ia morrer, mas não antes de dizer o que estava sentindo.
– Não Orion! Não fale! Poupe suas energias! Você vai ficar bem... – disse chorando. "rion não lhe deu ouvidos. Tinha que lhe dizer. Arrependia-se agora de todas as chances que desperdiçara em dizer que a amava por medo de sua reação, por medo de não entender seus sentimentos, por medo da rejeição. Não podia morrer sem dizer o que sentia por ela.
– Eu... Te... Amo... Ártemis. Sei que... Não devia, mas... Não pude evitar... – disse com a voz entrecortada pela dor que estava sentindo.
Um soluço doloroso escapou da garganta de Ártemis ao ouvi-lo. Fechou os olhos e as lágrimas escorreram, caindo sobre o peito nu de "rion.
– Eu também te amo, Orion! Eu também te amo! - Orion fechou os olhos e sorriu fracamente. Quando os abriu, encontrou os de Ártemis, olhando-o triste, mas apaixonadamente para ele.
A deusa se inclinou e tocou os lábios dele com os seus, num beijo suave. O primeiro e último beijo que trocariam.
De repente, ela sentiu a cabeça dele pesar em sua mão. Abrindo os olhos, afastou-se e viu os dele abertos, sem se fixarem em nada, perdidos, fitando o infinito. Ela o abraçou e chorou a morte do único homem que amara. Jamais o esqueceria e nunca se perdoaria por ter sido tão ingênua e ter caído na armadilha de Apolo.
Como vingança, para que todos soubessem das artimanhas e maldades das quais o deus do sol era capaz, Ártemis transformou Orion em constelação. Essa era também uma forma de manter a imagem e o amor que sentia por ele vivos e para que os homens e os deuses soubessem o quanto ela o amara.
Continua...
O que acharam? Obrigada por lerem. Algumas explicações:
Peplo: É a túnica feminina. Ela é amarrada em torno da cintura e presa aos ombros por fivelas.
Na mitologia Grega há duas versões para a história de Ártemis e Orion: Nuam delas, Orion tenta violentar a deusa da caça e acaba punido. Ártemis envia um escorpião que lhe pica o calcanhar, causando-lhe a morte.
A segunda é mais ou menos como está no texto... Eu a adaptei pra encaixar na história. Ártemis e Orion se apaixonam e Apolo, cruelmente propõe o desafio que acaba levando o caçador a morte. Ela o transforma em constelação. Essa é minha preferida, por motivos óbvios (se é que vocês me entendem).
Gostaria de me desculpar com as pessoas que mandaram comentários. Eu não os apaguei, não. O problema é que tive que remover a fic e postá-la de novo... então alguns comentários foram perdidos, mas eu os tenho no meu PC. Salvo todos.
Desculpem pelo enooooooorme comentário final, mas...
Obrigada pelos comentários e até quinta que vem . Espero que estejam gostando. Tchau.
