Blurry Arc – Fic III
Avisos:- um pouco mais de angst, um pouco de linguagem , shonen-ai, Duo POV neste daqui
Casais:-2+1
Spoilers:- nenhum
Disclaimer:- Ontem, Duo e Heero vieram me chamar para fazermos tatuagens. Eles tatuaram o nome um do outro nas costas, e eu tatuei um chibi de cada um deles. Ficou bem bacana mas...mesmo assim... por mais que eu queira, eu não sou dona dos Garotos Gundam e nem nada relacionado sobre a série. Isso aqui é um trabalho de ficção sem fins lucrativos (infelizmente T_T)
Quanto ao arco como um todo:- O 'Blurry
Arc' na verdade é um arco de fics composto de pelo
menos 8, sendo que esse numero ainda pode crescer. Cada fic
tem começo e fim, mas devem ser lidos um atrás do outro para formar um todo
maior. Na verdade é como uma única fic muti-parte, sem um gancho de continuidade muito forte entre
uma e outra. Cada fic é baseado em uma parte da letra
da musica "Blurry" do grupo "Puddle
of Mud" e, é claro que se você ouvir a musica enquanto
lê o fic, o clima fica completo ^_~
Quanto ao Fic III :- Depois desse eu não
quero ouvir reclamações! Nenhuma! E eu adoro toalhas \^_^/ Isso é só o que eu
vou revelar...
*** Dee, essa fic é dedicada a você! Porque você foi a responsável por eu ter saído com esse capitulo tão rápido. Não teve cena do chuveiro, mas mesmo assim eu espero que você tenha gostado!***
"Pre-occupied
without you
I cannot live at all..."
Já faz algum tempo que vem acontecendo. E, apesar de eu não ter certeza exata de quando tudo começou, eu tenho a certeza de que esta lá, tão palpável quanto minha própria trança caindo pelas minhas costas...eu simplesmente não consigo identificar exatamente o que é.
Alguma coisa mudou. Alguma coisa séria. E por mais que essa coisa seja séria o suficiente para que eu tenha a completa certeza de que algo realmente está acontecendo diante dos meus olhos e a minha volta o tempo todo, por mais que me esforce, simplesmente não consigo colocar meu dedo em cima do fato com precisão.
Talvez eu esteja tirando conclusões um pouco precipitadas. Afinal, o ambiente tem colaborado com a sua própria cota de acontecimentos fora do comum. E posso dizer, com alguma felicidade e até, por que não?, orgulho, que eu seja um dos únicos que notou a mudança gradual que vem acontecendo entre nós, pilotos, e a interação, quase diária como tem sido ultimamente, entre nós cinco.
Não pense que estamos em algum tipo de lua-de-mel ou bobagem parecida. E também não vá pensar que Trowa agora está falando pelos cotovelos, ou Wufei queimando incenso no meio da sala enquanto nos ensina como meditar. Nada disso. A mudança, como eu disse, é gradual e, praticamente nula aos olhos daqueles que não se encontram do lado de dentro dessa situação tão incomum.
O que quero dizer realmente com tudo isso, é que, em algum ponto entre todas as missões conjuntas, que vêm tornando-se cada vez mais constantes nos últimos tempos, pelas quais passamos, todos nós, em maior ou menor nível, perdemos aquela postura de completa defesa que mantivemos durante muito tempo quando ao redor um dos outros. Não irei tão longe ao dizer que agora jogamos nossas vidas um na mão dos outros sem nem sequer pestanejar, mas uma certa quantidade de reconhecimento das habilidades e até mesmo respeito, cresceu entre todos.
Obviamente este fato interferiu positivamente até mesmo no rendimento e conseqüente sucesso das missões. Talvez os Doutores tenham notado isso, através de seus inúmeros e tão detalhados relatórios, e por isso continuam nos jogando sucessivamente juntos em mais e mais esconderijos. Pensando nisso agora...Imperceptível eu disse? Hmpt, talvez nem tanto.
Apesar desse pequeno passo em direção a um bom relacionamento entre todos os pilotos, eu não colocaria minha mão, oras, eu não colocaria nenhuma parte do meu corpo sequer, no fogo, caso eu fosse perguntado se o comportamento de Heero com relação a minha pessoa mudou em alguma coisa.
Minha imaginação adquiriu o péssimo hábito de construir esperanças e expectativas em cima de toda e qualquer resposta que eu recebia dele. O que faz meus olhos se encherem de luz e meu corpo todo ser tomado por um calor confortante toda vez que ele me responde com um simples "sim" ou "não" ao invés de um grunhido, está além da minha compreensão.
Não me darei nem ao trabalho de descrever como fico nas raras ocasiões em que ele responde com frases completas. Eu realmente não gosto de fazer o papel de bobo por muito tempo.
E, apesar de eu não saber o por que minha imaginação tão repentinamente tomou vida própria, e um dom mais do que óbvio para conjurar cenas românticas, talvez eu saiba o que vem abastecendo todas essas fantasias.
É aquele caderno. Aquele estúpido pedaço de papel que parece ser tão vital quanto o ar que ele respira, afinal, ele carrega o maldito objeto para todo o lado.
Claro que sei que fui eu quem dei o caderno para ele. Como eu poderia esquecer? Mas não consigo realmente evitar o que sinto...eu tenho inveja do inocente bloco de folhas. Carregado para todos os lados, nunca esquecido, nunca negligenciado. Eu sinto tanta inveja do caderno quanto sinto daquele laptop idiota dele, com o qual ele passa mais tempo do que qualquer outra coisa no mundo.
Eu poderia continuar infinitamente nessa linha de raciocínio citando o quanto também invejo aquela bermuda de lycra, a regata verde, as toalhas de banho...mas eu realmente acho que esse tipo de pensamento não vai levar a nada.
Mas apesar dos meus sentimentos completamente infundados com relação ao caderno, ainda é uma surpresa para mim que Heero admita, tanto para mim quanto para os outros pilotos, pelo simples fato de que este não é um dos ítens que ele oculta de nossos olhos, que ele é um tanto quanto possessivo de seu caderno.
Mas o fato de ter sido eu quem deu esse caderno para ele, é um mero acaso. Mesmo. Não tente dar mais idéias para meu cérebro ok?
De qualquer forma, nesse exato momento, eu reflito sobre todos esses acontecimentos, ao mesmo tempo em que olho para longos cabelos castanhos soltos, emoldurando olhos violetas sorridentes no espelho que se encontra a minha frente. Desta vez, estamos em um dos estados da família Winner. E eu não podia estar mais feliz. Não existe nada tão satisfatório quanto passar uma temporada, por menor que seja, em uma das residências de Quatre.
E é claro que esse meu sentimento é indiscutivelmente ligado a pequenos detalhes, como cada um dos pilotos poder desfrutar de seu próprio aposento, comidas líquidas que não sejam soluções protéicas e comidas sólidas que não sejam barras de cereais, sem contar a eventual oportunidade de tomar banhos quentes. Com xampu.
Inicialmente fomos reunidos todos os cinco nessa mesma casa, mas após dois dias, Quatre e Trowa partiram para uma missão de reconhecimento no deserto. Algo relacionado a procurar possíveis esconderijos para a implantação de novas bases para os Maguanacs.
Na verdade, apenas Quatre havia sido chamado para a missão, uma vez que seu Gundam e sua experiência em campos semelhantes faziam dele o mais apto para realizar o reconhecimento necessário, e mesmo localizar possíveis ameaças ao plano inicial. Mas eu fiz sugestões, todas em sub-tons obviamente, de que talvez ele pudesse necessitar algum tipo de apoio, para o caso de algum ataque surpresa ou adversidades.
Dois Gundams são muito melhor do que um, é o que eu sempre digo.
Ou pelo menos essa foi a desculpa que utilizei para dar um empurrãozinho nesses dois. Na direção um do outro obviamente.
Não sei exatamente o que me move a tentar colocá-los juntos. Acredito que seja mais compaixão por Quatre do que qualquer outra coisa. Ele praticamente brilha ao ser colocado no mesmo cômodo que Trowa. Chega a ser de certa forma contagiante, infeccioso, confortante até. Um lembrete de que ainda temos coração embaixo de nossas couraças de Gundanium.
Quanto a Trowa, não posso dizer muito. Ele não é o tipo de pessoa que deixa seus sentimentos transparecerem. Mas gosto de pensar que não estou enganado ao ver algumas reações diferentes, até pequenos relances de sorrisos, associados a assuntos que envolvam Quatre diretamente.
E apesar de ser extremamente satisfatório fazer o bem, mesmo que na forma de pequenas insinuações e arranjos como este último, para pessoas que tem rostos familiares, que estão tão próximas, ao mesmo tempo, tudo isso traz de volta pra minha consciência a exata dimensão da dor de ser odiado por Heero.
Como se eu tivesse esquecido por sequer um minuto.
Ficar em uma casa com Wufei Chang também não tem ajudado em nada nesse sentido.
Ao mesmo tempo em que Wufei parece reprovar muito daquilo que compõe o meu caráter, ele parece absolutamente confortável com relação à Heero. Eu sinceramente poderia bater minha cabeça contra a parede com força o suficiente para abri-la, e mesmo assim não conseguiria arrancar qualquer tipo de resposta de dentro dela para esse mistério.
Talvez tenha algo a ver com a maneira como ambos foram treinados. Talvez tenha a ver com seus sensos de justiça semelhantes ao mesmo tempo que possuem pontos de vista completamente diferentes. Talvez tenha a ver com o fato que ambos são orientais. Por todos os demônios das sete camadas do inferno eu não saberia dizer.
E se a poucos instantes atrás eu pensava que meu ciúme por objetos inanimados era uma coisa idiota, nesse exato momento, o ciúme que sinto por aquilo que eles dividem, por mais infinitamente pequeno e irrelevante que seja, é idiota em níveis tão maiores que eu tenho o ímpeto de socar minha própria imagem no espelho.
A imagem que olha para mim de volta já não está mais sorrindo.
Antes que eu cause danos sérios as minhas mãos por inserção de pedaços de vidro inesperados, sinto que é melhor levar minha briga interna para um local mais apropriado. Um local onde eu possa liberar toda a tensão que se acumulou de forma tão inesperada, que eu noto somente ao me mover até a cabeceira da cama o quanto meus ombros doem na exata junção dos braços e do tronco.
Eu pego um elástico preto, e ao mesmo tempo que prendo meu cabelo em um rabo-de-cavalo no alto da cabeça, me dirijo ao salão de ginástica, no porão da casa.
Eu já falei que adoro ficar nas mansões de Quatre, não?
O cômodo é repleto de aparelhos para exercício, o que inclui alguns lugares específicos para puxar pesos. Eu não tenho qualquer intenção de adicionar mais peso aquele que já tenho carregado em meus ombros, e com isso dirijo-me ao saco de boxe, que fica exatamente no meio do lugar.
Eu simplesmente soco e chuto o objeto recheado de areia. Em geral faço esse tipo de coisa para me livrar de stress. Muitas pessoas não acreditariam na diferença que faz descarregar seus medos e frustrações implacavelmente em algo que não é sequer capaz de responder.
São momentos em que o importante de verdade é o que se sente, e por conta disso eu tenho uma tendência a não ter completo controle das minhas ações, e mesmo do ambiente a minha volta. É como se meu corpo dançasse sozinho ao som de alguma musica que somente eu, e mais ninguém, é capaz de escutar. Talvez seja realmente isso que aconteça, uma vez que eu permaneço em um estado alerta o suficiente apenas para notar, de forma breve, que meus movimentos parecem ter um certo ritmo.
Após o que eu conto como poucos minutos de exercício, fios de cabelo rebeldes caindo no meu rosto tiram a minha concentração, e me vejo forçado a parar, para fazer um coque e tirar as mechas desobedientes do caminho dos olhos.
Aproveito para mudar meu ângulo de ataque e de repente me encontro congelado em minha posição.
Heero está na porta da sala, parado, rosto com uma expressão que simplesmente não consigo identificar. Mas isso pode ser por que meu cérebro esteja cozinhando, com a força do calor que vem do resto do meu rosto.
A quanto tempo ele está ali afinal? Será que já faz muito? Como eu pude estar tão desatento a ponto de não vê-lo ali, logo ali? Heero, entre todas as pessoas.
Após alguns instantes de silêncio, me recupero a tempo de virar de costas, obviamente com ímpetos de esconder a cor vermelha que começa no meu rosto e que tenho certeza de que se espalhou por todo o pescoço também.
Mais alguns instantes de silêncio completo passam, e decido que talvez ele tenha ido embora. Afinal, eu não ouvi sua chegada, portanto ele poderia muito bem ter saído tão silenciosamente quanto chegou aqui. Mas ele ainda estava lá.
Heero simplesmente diz para que eu me dirija a sala de estar, junto a Wufei, para discutirmos as coordenadas da nova missão. E sai, me deixando pra trás num turbilhão de emoções tão confusas que por um momento breve, perco meu equilíbrio, e abraço o saco de boxe por falta de um local melhor para usar como apoio.
O que eu vi nos olhos de Heero? Por um milésimo de segundo algo brilhou nos olhos dele, algo extremamente parecido com...vontade? Esperança? Realmente não sei dizer com certeza. Eu não sei dizer nem mesmo se realmente vi o que vi.
Eu apenas gostaria que meu cérebro parasse definitivamente de ter essas ilusões, de coisas que eu gostaria que acontecessem.
Me apresso até a sala principal da casa para me encontrar com Wufei e Heero. Notando ao sair da sala de ginástica, que havia ficado lá por cerca de duas horas. Nem um comentário sequer é feito a respeito de minha aparência física, meu cansaço e esgotamento óbvios, e o coque no alto da minha cabeça. Graças a Deus.
A nova missão é praticamente toda da responsabilidade de Heero. Ele terá de sair em uma missão de reconhecimento que durará dois dias. Eu e Wufei ficamos encarregados do recebimento dos dados, e também de encaminhá-los, com informações adicionais das nossas próprias databases, para que os doutores analisem. Depois do tempo determinado, Heero voltará a essa mesma casa, para que aguardemos por novas ordens.
Tudo em que consigo pensar é em como minha vida poderá se tornar um inferno, no intervalo relativamente curto de quarenta e oito horas de convivência com Chang Wufei.
***
Viver debaixo do mesmo teto
que Wufei, não é um inferno.
É ridiculamente embaraçoso admitir, mas o fato é que cometi com Wufei, o mesmo erro que acusei-o de ter cometido comigo. Eu o julguei precipitadamente. Passar alguns dias com a companhia dele me mostrou o quanto ele é silencioso, centrado, e mesmo calmo, tão diferente da sua faceta de batalha. E enquanto esse tipo de características já se mostrou bastante eficiente na tarefa de me deixar inquieto antes, agora nada disso parece ser realmente tão incômodo.
Ou talvez seja o simples fato de que eu não já não consiga me importar com um pequeno incômodo, por conta do verdadeiro inferno em que Heero me colocou por ainda não ter voltado de sua missão. Já faz quatro dias.
Mas ao mesmo tempo em que me preocupo, me sinto um completo idiota por fazê-lo. Heero sabe se cuidar. Na verdade, dentre todos os pilotos, talvez ele seja o que definitivamente melhor sabe se livrar de situações adversas. Ou pode ser que tudo que aconteceu até hoje tenha sido pura sorte.
A incerteza e preocupação me deixam nervoso de uma maneira tão agressiva, que eu somente noto o quanto realmente fui afetado por isso ao olhar para minhas mãos e perceber que elas tremem.
Eu não consigo fazer com que elas parem de tremer.
Resolvo recorrer pela segunda vez nessa semana, ao saco de boxe, afinal, ele já me deu apoio em um momento difícil apenas alguns dias atrás.
E a propósito, humor, também é um mecanismo de defesa. Estar recorrendo a ele não é realmente um bom sinal.
Em poucos segundos me encontro novamente no meio da sala, rodeado pelos aparelhos e cara a cara com o saco cheio de areia. Enrolo minha trança no alto de minha cabeça tentando prevenir que as mechas caiam no meu rosto futuramente, e solto um suspiro de alívio pela nota mental breve de que dessa vez Heero não irá interromper, e nem aparecer de repente.
O conforto desse pensamento é substituído tão rapidamente pelo misto de dor e preocupação que a ausência dele causa, e antes que eu possa registrar qualquer outra coisa, praticamente ataco o pobre saco a minha frente com socos e chutes tão intensos que chegam a causar dor no meu próprio corpo, pelo reflexo do golpe.
Eu não poderia me importar menos com a dor. Eu sei o que é dor. E quando a dor se torna uma constante é como se ela fizesse parte de quem você é, sem nunca cessar.
Continuo a socar e chutar com violência, até que sinto uma segunda presença no cômodo.
Me viro para encontrar Wufei na porta da sala, braços cruzados na frente do peito, sobrancelhas franzidas em uma expressão que mistura reprovação e surpresa ao mesmo tempo.
Não acho que poderia ficar com mais raiva do que já sentia de mim mesmo por minha imensa fraqueza diante da simples ausência do Soldado Perfeito. E eu simplesmente olho para Wufei, com minha expressão de " qual-é-o-seu-problema-e-que-diabos-você-esta-fazendo-aqui-seu-idiota".
Ele provavelmente não captou o significado nem um pouco sutil do olhar, por que poucos instantes depois ele descruzou os braços e começou a dirigir-se na minha direção.
'Eu não acreditei quando Yuy chegou na sala falando que você estava na sala de ginástica', ele falou.
Por um momento eu pensei que iria explodir em overdose de sentimentos, ficando entre sentir pura e absoluta raiva por eles terem comentado minhas atitudes e comportamento, ou feliz pelo comentário ter partido de Heero, entre todas as pessoas.
Na dúvida, eu virei de costas para ele, e voltei a minha sucessão de socos e chutes.
Quando pensei que, assim como Heero, Wufei havia provavelmente saído do cômodo tão silenciosamente como havia chegado, fui surpreendido por uma mão segurando fortemente meu pulso, com minha própria mão fechada e pronta para o impacto com o objeto de areia.
Provavelmente foram meus instintos que deteram minha outra mão de fazer uma rota diretamente ao rosto de meu companheiro.
'Desse jeito o máximo que você vai conseguir é distender um músculo', ele falou, soltando minha mão.
'Faça dessa forma', ele continuou, em seguida, me mostrando o ângulo da mão e do braço. Wufei golpeou sem qualquer esforço sobrenatural aparente, mas a estrutura que segurava o saco tremeu com a força que a atingiu.
Olhei para ele, dessa vez com minha próprias sobrancelhas franzidas. Mas que diabos?
'Tente', ele encorajou, olhando pela primeira vez diretamente nos meus olhos.
Por puro senso de desafio, mudei meu ângulo, e também o ângulo de meu braço e mão, copiando com perfeição os movimentos que eu havia acabado de assistir. Surpreendentemente, a dor adicional do exercício havia desaparecido, e a força do impacto parecia ainda maior.
Ele fez um breve sinal de positivo com a cabeça, e dirigiu-se então até o outro saco de areia localizado no lado oposto do cômodo. Nós ficamos assim, silenciosamente golpeando durante minutos e horas.
Em seguida, cada um de nós tomou banho em um dos banheiros da casa, e sentamos para jantar, em um estado que só posso classificar como silencioso contentamento.
Wufei havia perdido a expressão de preocupação leve que parecia estar sempre em seu rosto, e eu mesmo podia afirmar que tinha recuperado parte do controle das minhas mãos, que já não tremiam tanto quanto antes.
Os dias seguintes nos encontraram quase sempre na mesma posição.
Um ou outro tomava a iniciativa de simplesmente passar pela porta do quarto ou da sala, e em poucos instantes estávamos ambos novamente no salão de ginástica, executando uma seqüência quase sincronizada de socos e chutes.
Não tenho certeza de quando aconteceu, mas em algum momento dessas nossas atividades, cheguei a conclusão de que agora posso compreender melhor o relacionamento entre Heero e Trowa. Eles quase nunca falam, mas mesmo assim tem uma sintonia espantosa.
Eu nunca havia entendido como eles podiam se comunicar sem que muitas vezes ninguém pronunciasse uma palavra sequer. Agora, eu compreendo, que nem sempre precisamos dizer aquilo que queremos com palavras. Posso dizer até que aperfeiçôo minha técnica de comunicação corporal a cada dia.
***
Somente nestes longos momentos com Wufei é que eu conseguia esquecer do fato de que agora já haviam se passado seis dias desde a partida de Heero. Quatro dias desde que havíamos recebido o último relatório dele.
Na noite do sexto dia, aconteceu.
Recebemos a notícia de que o edifício alvo do reconhecimento havia explodido misteriosamente, não deixando sobreviventes, e que o paradeiro do soldado designado para a missão ainda era desconhecido pela falta de entrada de informações e contato. O prédio passaria por uma detalhada investigação em busca de possíveis partes do corpo aptas para reconhecimento.
Conte com os doutores para serem técnicos ao extremo, mesmo ao dizer que um de seus companheiros está provavelmente morto.
Eu li a informação cerca de quatro vezes. Quando minha visão já estava quase completamente embaçada por lágrimas, e escura nos cantos, Wufei fechou o laptop na minha frente.
'Wufei', eu gritei. Só o seu nome, nada além. Nem eu mesmo sei a razão disso.
'Mais tarde nós podemos procurar por informações nas coisas dele.' Ele respondeu, e a voz foi tão fria, tão calculada, que fez com que todos os meus nervos quebrassem de uma só vez, e eu pude quase ouvir o barulho de meu coração, também quebrando, em diversos pedaços.
A escuridão do canto dos meus olhos pareceu tomar conta de tudo, e eu me vi no meio do nada.
Wufei gritando meu nome foi o que me tirou do meu transe.
'Maxwell! Maxwell!', ele gritava enquanto me sacudia com força o suficiente para fazer minha trança voar e bater nas minhas costas repetidas vezes.
Me soltei dos braços dele, e me encontrei quase completamente sem equilíbrio. Ele fez a menção de me segurar, de me dar apoio, mas eu me afastei dos braços e do corpo dele antes que ele pudesse. Cambaleei até uma das paredes, onde me apoiei e esfreguei os olhos, tentando recuperar pelo menos um pouco do foco que eles costumavam ter.
Quando finalmente recuperei a visão, ele olhava para mim do outro lado da sala, expressão cheia de preocupação. E foi como um soco no estômago que eu percebi que não podia lidar com isso. Não agora. Corri para a sala de ginástica antes que ele pudesse me seguir.
Mas ele não o fez.
Eu não conseguia pensar, apenas desferia golpes, um atrás do outro sem nunca parar, contra o saco de areia.
Não sei se o saco de areia representava os doutores. Não sei se ele era a Oz. Não sei se ele era o próprio Heero.
No momento em que pensei nisso, meu golpe finalmente foi forte o suficiente para arrancar a estrutura que segurava o alvo do meu ataque ao teto, e o saco caiu no chão com um estrondo, explodindo e espalhando areia por todo o chão.
Eu só tive tempo de olhar para a cena por um instante, por que no momento seguinte minhas pernas me levaram diretamente ao banheiro, onde eu depositei todo o conteúdo do meu estômago de volta no vaso.
Tive a leve impressão de sentir mãos me segurando, uma me apoiando pelas costas, e a outra mantendo meu cabelo longe de meu rosto, enquanto eu tentava acalmar a fúria do meu corpo contra minha janta.
Eu tive tempo de levantar o rosto, e registrar a expressão de Wufei, em silenciosa compaixão, antes que tudo ficasse escuro novamente.
Não sei dizer quanto tempo fiquei inconsciente, mas quando acordei estava em minha própria cama, usando as mesmas roupas com as quais havia desmaiado, um cobertor colocado cuidadosamente sobre meu corpo.
A dor de cabeça que sentia era tão forte que pensei por um instante que fosse desmaiar novamente com o esforço de me sentar na cama. Aguardei alguns momentos, até ter certeza de que minhas pernas tinham força o suficiente para me levar até o banheiro, em busca de algum analgésico.
Nada poderia ter me preparado para o que encontrei ao abrir a porta do banheiro.
Do lado de dentro, estava Heero, cabelos pingando, uma toalha amarrada na cintura, um ferimento no lado esquerdo, acima do olhos, que sangrava pelo lado do rosto, olheiras praticamente roxas, e pele da cor de uma folha de papel.
Tudo o que tive tempo de fazer foi segurar seu corpo que caiu diretamente nos meus braços, no momento em que aqueles olhos azuis brilharam por um instante, em claro reconhecimento do rosto familiar de um outro piloto.
Me surpreendi com a força de meus próprios braços, que a cerca de minutos não pareciam capazes sequer de manterem-se apoiados do lado do meu corpo enquanto estava sentando na cama.
Ele tremeu enquanto apoiado em mim, e eu puxei mais um toalha de uma das hastes do banheiro, enrolando-a em volta dele. Meus olhos quase saíram das órbitas ao perceber que a toalha que ele segurava na cintura tinha uma poça de sangue que parecia aumentar gradualmente, logo em baixo do lugar aonde sua mão segurava.
Coloquei todo o peso dele sobre mim, e o levei até meu quarto, que ficava mais próximo do banheiro. Acho que instinto foi o responsável por fazê-lo colocar um pé atrás do outro num semblante do que já havia sido sua mobilidade, por que seus olhos estavam fechados e sua cabeça jogada para frente .
Eu coloquei Heero na cama, e o cobri imediatamente, para só depois tirar a tolha de sua mão.
Foi nesse momento que realmente percebi que Heero Yuy estava deitado em minha cama, usando nada além de uma toalha.
Esse pensamento durou o tempo que levou para que eu corasse até as pontas dos fios do meu cabelo, pois em seguida eu estava correndo em ida e volta do banheiro com o kit de primeiros socorros.
Apliquei curativos em sua cabeça, depois de limpar o sangue que já havia escorrido até seu ombro, e também enfaixei a mão, que tinha um grande corte que ia de um lado ao outro. Heero pareceu estar desacordado durante todo o processo, o que foi de certa forma um alívio. Eu não gostaria de ter que lutar com os olhares de reprovação dele ao mesmo tempo em que lutava com meus próprios nervos na tentativa desesperada de ajudá-lo.
Quando finalmente terminei, notei que ele ainda parecia muito pálido, e preparei um copo de água com açúcar e sal para que ele bebesse e recuperasse um pouco de sua cor.
Olhei para ele por alguns instantes e a mera idéia de ter que acordá-lo fazia meu estômago dar nós. Ele parecia tão vulnerável, tão...frágil. Eu nunca havia visto Heero assim em toda a minha vida. Na verdade eu não me lembro de sequer tê-lo visto dormindo, apesar de todas as vezes em que dividimos quartos em escolas. Eu nunca cheguei a reunir coragem o suficiente para observá-lo durante o sono.
Para meu alívio, ele mesmo abriu os olhos, e aproveitei a deixa para colocar o copo em seus lábios suavemente e empurrar um pouco do líquido para que ele ingerisse. Seus olhos flutuaram mais algumas vezes, e ele bebeu cerca de metade do copo, até começar a perder a consciência de novo.
Eu me dei por satisfeito e me virei para colocar o copo em cima de uma grande cômoda ao lado da cama, e quando me virei para ajeitar suas cobertas novamente ele tinha os olhos abertos novamente.
'Obrigado', ele falou, e por um momento, seus olhos se abriram por completo e ele olhou diretamente nos meus.
Eu não sei que tipo de força poderosa tomou conta de mim naquele exato momento. Não sei o que se passou por minha cabeça, se é que algo realmente permaneceu dentro dela. Tudo o que sei é que me inclinei e o beijei.
Só um leve encontro entre meus lábios e os dele, que já foi o suficiente para enviar choques por todo o meu corpo.
Por um momento, o senti respondendo, e me afastei lentamente. Provavelmente foi obra de minha imaginação novamente, por que quando olhei para o rosto dele, seus olhos estavam fechados, e a respiração constante. Ele estava dormindo.
Dei um suspiro longo e aliviado, e nesse exato momento percebi que minha mão, que estava sobre a mão de Heero, havia parado de tremer. Percebi ainda exatamente o quanto meu corpo doía em praticamente todas as partes e que minha cabeça parecia a beira do colapso por conta da dor que latejava.
Mas ao invés de me deitar no quarto de Heero, eu tomei uma cadeira ao lado da cama. Por ele, eu podia agüentar aquela noite de dor.
Antes de adormecer na cadeira, na mais estranha das posições, evitando colisões em certas áreas do corpo, meu último pensamento foi que minha dor agora, apesar de tudo, era infinitamente menor.
***
Fim da Fic III
Opa, eu vou usar o espaço para mandar um grande agradecimento
as minhas reviewers: Hina, Kagome, Koorime (oi moxa! \^_^/) Dee, (é lógico ^_~)
e Naomi. Vocês não tem a verdadeira noção do quanto o
apoio de vocês a este arc faz TODA a diferença. Muito obrigada, e querendo
comentar mais , eu sou toda ouvidos...
Feedback é um sonho que eu tenho...hehehe *^.^*
