*** Em um PS, hoje é 12 de Março, meu aniversario ^.^=. Mas sou eu quem vai dar essa fic como um presentinho, para todos vocês. Espero que gostem! ^_~***

Blurry Arc – Fic IV

Avisos:- um pouco mais de angst, um pouco de linguagem , shonen-ai, Heero POV neste daqui

Casais:- indicações de 1+2+1

Spoilers:- nenhum

Disclaimer:- Ontem, eu revirei minha casa e meu armário inteirinhos, colocando tudo de cabeça para baixo procurando pelos papéis que diziam que eu tinha os direitos sobre a série Gundam Wing, mas eu não os encontrei...portanto... por mais que eu queira, eu não sou dona dos Garotos Gundam e nem nada relacionado sobre a série. Isso aqui é um trabalho de ficção sem fins lucrativos (infelizmente T_T)

Quanto ao arco como um todo:- O 'Blurry Arc' na verdade é um arco de fics composto de pelo menos 8, sendo que esse numero ainda pode crescer. Cada fic tem começo e fim, mas devem ser lidos um atrás do outro para formar um todo maior. Na verdade é como uma única fic multi-parte, sem um gancho de continuidade muito forte entre uma e outra. Cada fic é baseado em uma parte da letra da musica "Blurry" do grupo "Puddle of Mud" e, é claro que se você ouvir a musica enquanto lê o fic, o clima fica completo ^_~
Quanto ao Fic IV :- Talvez algumas pessoas pensem que esse fic não tem muita razão de ser, mas eu  vou discordar, por que ele vai dar o fechamento nas dúvidas que o capítulo anterior provavelmente deixou. Ele me deu um certo trabalho (é sempre mais complexo escrever em Heero POV), e saiu completamente diferente de tudo o que eu havia planejado para ele no inicio ^.^" ...mas mesmo assim eu espero ganhar alguns corações com este daqui ^_~

***Agradecimentos a Lien Li por ser uma beta na velocidade da luz e pelos ótimos comentários***

"My whole world surround you
I stumble than I crawl..."

            Durante um período de tempo considerável, eu tinha o total controle da situação, e isso me dava a certeza de que a missão seria completada com sucesso. Um andar subterrâneo, não descrito na planta principal do prédio, era o esconderijo, e eu havia conseguido recolher todos os dados necessários no tempo estipulado e repassá-los, também sem qualquer tipo de dificuldade, para a base operante.

            E foram apenas poucas horas após a passagem dos dados, que surgiram os primeiros sinais de que talvez eu pudesse estar errado durante este tempo todo.

            De repente, era como se o próprio ambiente gritasse para mim em alto e bom som que alguma coisa estava terrivelmente errada, alguma peça definitivamente fora do lugar. Pode-se chamar isso de instinto de soldado: é como se a eminência de algo fora dos padrões, fosse capaz de lhe afetar fisicamente, de alguma forma. Como soldado treinado inúmeras vezes até a exaustão, eu jamais poderia ignorar este tipo de instinto, e todos os meus sentidos entraram em um estado de alerta duplo.

            Resolvi me utilizar de uma das passagens existentes em meu andar para subir um nível e analisar discretamente se havia algum tipo de atividade suspeita ou digna de uma investigação mais profunda.

            Uma enorme quantidade de persistência da minha parte foi necessária para que finalmente encontrasse os explosivos. Por dentro de determinadas paredes haviam explosivos, dos mais bem posicionados, em frestas estratégicas , e em quantidade o suficiente para colocar o edifício inteiro abaixo em cerca de segundos.

            O responsável por me dar o alerta final, uma vez que  nunca cheguei a entrar em contato direto com as bombas, foi o barulho do contador de uma delas, e tudo o que pude fazer, foi me jogar pela janela mais próxima, a tempo de escapar da pior explosão que já vi, mas não pude evitá-la por completo. Ainda no ar, após meu pulo, acabei sendo jogado para uma distância ainda maior, apenas pela força do ar lançado para fora por conta dos explosivos.

            Acho que perdi a consciência por alguns instantes, porque no momento seguinte, abri os olhos encontrando-me de bruços no chão. Senti uma dor pungente em minha mão, alertando-me para um pulso obviamente quebrado e um corte profundo, resultado de minha aterrissagem forçada.

            O tom avermelhado de todo o meu campo de visão me alertou para a presença de um corte, em algum lugar acima dos olhos. Usei meu braço ainda móvel para passar a mão em minha testa e descobrir que o corte estava exatamente acima da minha sobrancelha esquerda.

            O dano ao edifício era imenso. Não havia nada além de fogo e pedaços das paredes a minha volta. Eu suponho que não tenha sido acertado por um dos pedaços do prédio por pura sorte, ou talvez algum desses tenha sido o responsável pelo ferimento em meu rosto.

De qualquer forma, o melhor que  podia fazer naquele momento, era me afastar do alvo o mais rápido o possível. Essa missão ainda poderia ser salva facilmente, e de todo jeito, os outros pilotos já possuíam as informações.

            O esforço necessário para me afastar das chamas me alertou para o estado de meu corpo. O dano no braço era algo que poderia ser ignorado provisoriamente, com a ajuda de uma tala talvez, e os danos em meus reflexos poderiam ser simplesmente desconsiderados pelo fato de que Wing possuía a rota de volta para a residência dos Winner em seu computador e sistemas de bordo.

            A soma dessas duas debilidades porém, anulavam a minha capacidade de tomar qualquer providência emergencial no caso de falha dos dispositivos do Gundam e retardavam meu tempo de reação,  tornando  meu retorno com Wing algo impossível. Sem adicionar a esta conta a possível presença de soldados da Oz nas redondezas.

            Considerando o tamanho da explosão e o estrago causado, não haveria apenas a Oz. Provavelmente uma quantidade enorme de repórteres, bombeiros, militares e curiosos acabaria por se acumular em questão de poucas horas.

            Com meu Gundam escondido e em segurança, eu poderia retornar a minha prévia residência-esconderijo caminhando, utilizando minha bússola interna como guia. Eu voltaria mais tarde, e no auge de minhas habilidades, para recuperar minha máquina.

***

            Dois dias de caminhada em um ritmo acelerado, a escassez de água e alimento, aliadas a um ferimento, que possivelmente era mais profundo e sério do que parecia externamente, causam um efeito negativo até mesmo ao corpo de um soldado extremamente bem treinado.

            Na noite do segundo dia de caminhada, a realização desse fato veio a mim da maneira mais desagradável, inesperada e dolorosa o possível.

            Eu cai em um buraco. Fundo. Realmente fundo.

            Não notei o quão realmente funda era aquela depressão no momento da minha queda. Na verdade, eu apenas tive a chance de notar que me encontrava em um buraco, alguns minutos depois de já estar dentro dele, coberto praticamente até minhas coxas por uma lama densa e escura, que também havia se espalhado pelo meu rosto e cabelo, e folhas que grudavam na lama praticamente por toda a parte, como se quisessem servir, voluntariamente, como algum tipo de camuflagem natural.

            A dor me trouxe de volta a plena consciência em um estalar de dedos. Junto a  ela, a realidade dura de que talvez eu tivesse feito uma avaliação errônea de minha própria condição ao partir do local aonde, apenas dois dias atrás, instalava-se o alvo desta missão. O pulso doía o suficiente para que eu cerrasse os dentes a fim de conter um grito a cada centímetro de movimento que realizava, e a vista estava ainda mais escura. Eu havia praticamente perdido minha visão lateral para a mancha negra dentro de meus olhos.

            Não me restava outra opção senão permanecer dentro do buraco. Não haveria nada que pudesse ser feito em prol da minha causa durante a noite e sem o auxílio de um Gundam. Apesar de que meu estado me permitia dizer que, a esta altura, talvez nem mesmo um Gundam pudesse me ajudar.

            Parei por um momento, contemplando minha própria situação. É apenas um artifício, tão antigo quanto respirar fundo para manter a calma, para que eu me mantivesse consciente. A última coisa de que eu precisaria nesse exato momento seria um desmaio e conseqüente morte por afogamento... em lama.

            Meu relógio interno me dizia que as próximas horas da noite trariam o começo do terceiro dia desde minha fuga. Muito provavelmente, tratando-se dos doutores, caso nenhum rastro fosse encontrado nos destroços do antigo prédio,  eu seria dado como morto.

 Posso afirmar com a convicção de quem sente uma dor que parece se alimentar da sua sanidade, que nenhum rastro de meu corpo vai ser achado lá. Todos os pedaços de meu corpo estão neste exato momento alinhados exatamente aonde devem, pois posso sentir sua presença através do desconforto causada pela lama seca presente neles.

Tento me desligar o mais rápido possível da admissão da presença da dor. Ignore a dor. A dor é como pesadelos, se você se manter acordado e sem pensar neles, é como se não estivessem realmente lá. Ou assim me foi ensinado.

Surpreendo-me pelo fato que, estranhamente, o primeiro pensamento que me passa pela cabeça é um tipo de curiosidade, quase mórbida, com relação a reação dos demais pilotos, caso eles realmente venham a pensar que estou morto.

Por um instante extremamente breve, me ocorre que talvez essa noticia não venha a ser uma mentira. Mas eu descarto a informação tão velozmente quanto o surgimento dela.

Os pensamentos retornam rapidamente à meus companheiros, e meu cérebro me presenteia com uma visão da idéia de como seria a provável reação de cada um deles a notícia.

Wufei teria um comportamento frio e calculista, analisador, controlado. Talvez ele viesse até mesmo a assustar ou causar indignação em alguns dos outros pilotos. Eu não o condenaria jamais. Este é exatamente o tipo de procedimento que eu tomaria caso nossos papéis estivessem invertidos.  Sabemos que podemos contar um com o outro para fazer o trabalho com competência, independente dos sentimentos envolvidos.

Existem horas, em que é necessário que você coloque tudo aquilo que sente de lado, do contrário, perde-se o objetivo, e são nesses momentos de raro descuido e tormento emocional, que o inimigo aproveita-se de sua fraqueza e o ataca. Os sentimentos são como uma faca de dois gumes, podendo ser sua maior arma ou a sua completa ruína.

Wufei e eu não podemos ser chamados de amigos. Mas, durante o tempo de nossa convivência como pilotos, posso dizer que aprendi muito sobre ele e seu senso de justiça, assim como seus objetivos e forma de pensar. Sempre técnico. Sempre preciso. Sempre focado. Ele é extremamente parecido comigo e após um tempo, desenvolvemos um profundo respeito um pelo outro. Não precisamos falar de nossos passados ou engajar-nos em conversas paralelas. Conhecemos um ao outro profundamente, muito além das trivialidades.

É um tipo de relacionamento que nasce do silêncio e compreensão mútua, e nele tem suas bases, firmes como a raiz de uma árvore com centenas de anos, mantendo-se presa no chão exatamente através daquilo que deu inicio a sua vida. Pensando agora, percebo que meu respeito por ele é provavelmente mais profundo do que eu havia percebido até então.

Sei que poderia contar com ele para cavar informações e dados exaustivamente, durante o tempo que fosse necessário, para descobrir a veracidade da informação. Caso ele viesse a declarar minha morte como um fato consumado, ele a aceitaria como um resultado direto do cumprimento da missão, e conseqüente busca pela paz nas colônias, a razão pela qual nossas vidas perduram durante os dias atuais.

Ele sabe tão bem quanto eu, que o futuro da Terra e das Colônias Espaciais é maior do que nossas existências. Sabe que somos peças em um tabuleiro de xadrez. Sabe que, contanto que um de nós consiga dar o xeque-mate, isso já seria o suficiente. Sua convicção o colocaria em paz com seus sentimentos.

Quatre provavelmente não aceitaria a noticia tão bem.

Parece que por um instante eu posso ver, bem a minha frente, clara como a luz das chamas da explosão que me atingiu a poucas horas, a expressão de puro choque e inconformidade em seu rosto. O mais possível é que ele chore, aponte dedos buscando responsáveis, e por fim, responsabilize a si mesmo, em maior ou menor grau , por não ter podido estar presente e ajudado.

Inicialmente era um comportamento que me incomodava. Essa facilidade de criar laços poderia ser altamente perigosa para as missões. Mas de alguma forma, aprendi a conviver com essa parte da personalidade de Quatre, essa parte tão onipresente naquilo que faz dele o que ele é. Posso apenas concluir que ele não consiga evitar seu próprio comportamento por mais que tente.

Acredito que talvez toda sua gentileza seja o que contrapõe sua faceta de batalha. Ele pode ser um verdadeiro demônio quando está dentro de seu Gundam, e minha aceitação desse fato - tão estranho para muitos - decorre da minha própria experiência como piloto. Sei que não passa de um resultado direto de nosso comprometimento com nossas missões e destino.

Trowa teria um comportamento muito semelhante ao de Chang, mas por razões diferentes.

Wufei tem sua palavra, sua honra e seu senso de justiça no qual ele se apega como se fossem sua própria vida. Trowa, por outro lado, tendo sido um mercenário, aprendeu - como uma das lições mais importantes de toda sua existência - a não se apegar a nada, nem ninguém, nem mesmo a um nome. Ele sabe do principio básico para aqueles que mudam de localização e mesmo de vida a todo instante: nada dura.

Sei ainda que, apesar de todas essas coisas, tão fortes e presentes como um segundo extinto, assim como eu mesmo, ele não pode evitar os invisíveis laços que cresceram em volta de todos os pilotos.

Ele nunca me falou nada. Mas eu sei. Sei de tudo isso simplesmente pelo fato de que sou exatamente como Trowa. Como se dividíssemos o mesmo espírito.

Fujo um pouco dessa linha de raciocínio alertado novamente pela dor, dessa vez no ferimento em minha cabeça. Gostaria de poder ter a chance de ver o estado real do machucado, o quão profundo ele realmente é, e se é um ferimento sério o suficiente para afetar meu raciocínio lógico. Divagar sobre sua suposta morte nunca foi um sinal de coerência.

Isso faz com que eu me pergunte se o Doutor J gostaria de saber dessa nova habilidade adquirida por seu soldado, a capacidade de criar vínculos. Provavelmente me submeteria a um novo treinamento com o dobro da crueldade e o triplo da dificuldade. Eu poderia simplesmente fugir, ou deixar que o pouco que ainda resta de humano em mim seja levado de uma vez por todas.

E é isso que me faz pensar, não sem alguma quantidade considerável de desgosto e amargura, que meus vínculos não são capazes de tirar o soldado de dentro de Heero Yuy. Não são capazes de me fazer renovar o laço de comprometimento que perdi a algum tempo com a vida.

Concluo que talvez este buraco seja profundo o suficiente para que o ar esteja pouco oxigenado, e tento me levantar da posição que adquiri desde o momento da queda. A dor na cabeça e no pulso quebrado me assaltam em uma única onda inesperada.  Eu xingo, gritando em voz alta uma corrente de palavrões um atrás do outro.

A dor persiste, e por um momento surreal, eu desejo que parte do treinamento do Doutor J  tivesse me ensinado mais palavrões e xingamentos. Os únicos de que tinha conhecimento, eu havia aprendido ouvindo diretamente da boca de... Duo.

Claro, Duo. Como eu podia ter esquecido dele?

Juntamente a esse pensamento, uma pequena voz no canto de meu cérebro dizia em tons sarcásticos que eu não havia me esquecido de nada por nenhum momento. Eu simplesmente a ignorei, da mesma forma que vinha ignorando pensamentos prévios a este, vindo desse mesmo canto do cérebro que parecia não conseguir manter-se calado.

O que Duo sentiria pela minha morte? Ele provavelmente daria um de seus famosos sorrisos, e faria alguma piada ou tirada, com relação a minha incapacidade de falar, minha irritação aparentemente constante e minha falta de expressividade facial. Note-se que nenhuma dessas observações são minhas, estou meramente repetindo palavras dele. Palavras que ele solta em uma velocidade incrível, enquanto pensa que nenhuma delas sequer chegou a meus ouvidos.

 Ele seria capaz de mudar o ambiente melancólico, trazendo sorrisos aos rostos de seus companheiros só com seu comportamento.

Com aquela risada, tão desconcertante, tão sonora, tão cheia de vida e entusiasmo que parece encher todos os lugares por onde ressoa com alguma coisa que só pode ser classificada como uma mistura de calor e luz. Ou energia pura e branca.

Lembrei-me da última imagem de Duo preservada em meu arquivo mental, adquirida no salão de ginásticas da casa de Quatre. Eu nunca o havia visto com o cabelo sem que esse estivesse preso em sua habitual longa trança, e admito que foi um choque vê-lo com um rabo-de-cavalo no alto da cabeça, fios soltando-se do prendedor e caindo em volta de seu rosto. O cabelo de Duo... é como se fosse algo com vida própria, com um poder capaz de te paralisar, de alguma forma. Assim como a risada. Será que eu ouviria a risada novamente?

Sinto uma dor ainda mais poderosa constringir minha garganta e dar um nó em meu estômago ao mesmo tempo, e a sensação é tão forte, que talvez eu fosse derrubado, se já não estivesse sentado.

Eu precisava voltar.

Pela missão, pelos pilotos, por...por alguma coisa maior, que simplesmente não conseguia identificar com precisão. Aquela fraca voz dentro de minha cabeça estava gritando desesperadamente, como se quisesse me mostrar alguma coisa dolorosamente óbvia, que eu me recusava a ver. Eu não podia me dar ao luxo de lidar com isso agora.

Não sei exatamente quanto tempo levei para sair do buraco. Talvez tenham sido poucas horas, apesar de eu sentir como se houvessem sido dias. Dos mais longos. Após a escalada, me arrastar até a casa certamente pareceu uma tarefa mais fácil. Todo o caminho de volta passou diante de meus olhos como um verdadeiro borrão. Acredito que tenha sido puro instinto de piloto que tenha guiado meus passos até o local.

Minhas pernas, em um esforço sobrenatural, me guiaram através da porta. A casa estava escura e silenciosa, nem um sinal qualquer dos outros pilotos ou até mesmo de vida. Nada disso me assusta ou surpreende. Não tenho a certeza de que eu mesmo esteja realmente vivo. Ou caso esteja, de que poderei sustentar esse status por muito mais tempo.

Dirijo-me imediatamente ao banheiro, a presença de lama em todas as partes visíveis e invisíveis de meu corpo, fazendo com que me sinta literalmente dentro de uma estátua de gesso.

Abro completamente a torneira da água quente, deixando que ela leve consigo a lama, o sangue, e parte da dor dos ferimentos consigo pelo ralo. Eu esperava que o calor da água me  reassegurasse de minha própria vida, mas mesmo com todo o vapor que envolvia o Box, sinal claro da alta temperatura da água, meu corpo tremia quase incontrolavelmente.

Abandonei o suposto calor do spray sem a certeza de que seria capaz de chegar ao quarto, a dor retornando com uma força, que caso fosse possível, parecia ter uma intensidade ainda maior.

Eu simplesmente não podia desistir agora. Eu havia chegado tão perto.

Mas meu corpo simplesmente se recusava. A única coisa mantendo-me em pé naquele momento, era a concentração da minha mente, voltada de forma tão intensa para a estabilidade de minhas pernas, que alguns de meus outros sentidos simplesmente pararam de se manifestar. Eu não escutava nada, e tão pouco sentia a toalha presa na mão com o pulso quebrado.

Felizmente minha visão não me abandonou. Mas minha concentração falhou por um segundo, no instante em que vi dois olhos... olhos violeta, em uma cor que eu não parecia conhecer até aquele exato momento, mas que ao mesmo tempo me pareciam tão familiares quanto meus próprios olhos.

Duo me olhou com uma surpresa tão grande que chegava a ser palpável, e também com algo que beirava o horror. Eu , estranhamente, não me surpreendi. No fundo, eu esperava que ele me encontrasse.

Naquele instante, por mais que o soldado dentro de mim gritasse em frustração e desespero, todo o resto do corpo despedaçou como um castelo de cartas ao vento. De alguma forma, a maior parte de mim sentia com uma convicção inabalável, que eu podia me render ao desejo do corpo de simplesmente desistir. A certeza da segurança próxima e certa como o infinito do próprio universo.

Os momentos seguintes passaram como se eu estivesse fora de meu próprio corpo. Eu tinha a vaga impressão de movimento. A dor retornando e cessando logo em seguida. Água passando por minha garganta, como uma verdadeira chuva no deserto. Eu mesmo não havia notado até aquele momento o quanto minha boca estava seca.

Reuni forças o suficiente para abrir meus olhos, e a primeira coisa que avistei foi Duo, debruçado sobre a cama, olhando de cima, diretamente para mim. Agora eu tinha a certeza de que meu estado era completamente deplorável, por que a preocupação nos olhos dele era clara como o dia.

Havia dor também, e  senti como se aquelas órbitas fossem um reflexo da mesma dor, tão incomoda,  pungente e  constantemente presente, que eu havia sentido no momento em que tomara a decisão de sair do buraco e voltar para o esconderijo.

Olhar para os olhos de Duo era como olhar através da janela de minha própria alma. E por um momento, me senti extremamente idiota, pelo fato de que a janela estivera aberta para mim o tempo todo, apesar de meus constantes esforços inconscientes de fechá-la e ignorá-la.

Mas eu não tinha forças para sequer pensar no outro lado da janela nesse exato instante. E também não tinha certeza se algum dia teria. O medo latente de que do outro lado a dor fosse ainda pior, mais presente e assustadora.

Senti a necessidade de falar um milhão de coisas. Caso eu fosse eloqüente, Duo provavelmente entraria em estado de choque com a quantidade de palavras desconexas e sem qualquer semblante de sentido que pulariam de minha boca sem aviso prévio.

Mas eu não tinha forças. Nem mentais e nem físicas. E simplesmente agradeci. Uma única palavra que de alguma forma resumia todas as outras que rodavam descontinuamente em meu cérebro naquele momento.

Depois disso, fechei meus olhos, tomado pela exaustão. E sem que eu esperasse, fui envolvido por uma verdadeira onda de calor e luz. Algo como eletricidade. Força, energia, alegria...tudo aquilo que me lembrava Duo, juntos em uma única sensação arrebatadora.

Respondi imediatamente aquela sensação da maneira como pude, simplesmente deixando que o calor tão diferente, e de certa forma tão familiar, me preenchesse. E assim que a sensação cessou, meu corpo entregou-se completamente à exaustão. A certeza da proteção e completude vibrando em cada célula.

Acho que dormi, por que acordei por conta da claridade que entrava no quarto pela janela, encontrando a cabeça de Duo suavemente apoiada sobre seus braços , em cima de meu peito, dormindo profundamente.

A última coisa que me passou pela cabeça, foi que, apesar de extremamente ferido, havia meses, talvez até mesmo anos, que eu já não me sentia tão bem. Talvez isso fosse um relance do que a verdadeira paz significava. E depois disso, me entreguei novamente ao sono, deixando que o peso em cima de meu corpo mantivesse-me como uma âncora, evitando que eu pudesse sair daquele lugar tão claro e confortável, no qual eu havia podido finalmente repousar um pouco.

***

FIM DA FIC IV

Olá! Aqui vou eu novamente aproveitar o espacinho no fim da fic né? ^.^"  Dessa vez eu queria agradecer aos meus novos reviewners Yuki e Athena Sagara, pelos comentários e pela força que estão dando ao fic também! Aproveito pra agradecer a Koorime e também a Lien, por um apoio que já tem sido mais constante, e  para dizer que continuem mandando reviews, por que elas realmente ajudam muito no processo criativo, viu gente? ^_~

Aproveito ainda pra fazer propaganda do meu novo fic – "Things I'll Never Say", que já esta disponível aqui no site. É um fluffly/comédia, bem diferente deste aqui, e eu espero que vocês gostem e que comentem também! Abraços a todos!