Blurry Arc – Fic VI

Avisos:-  *angst*, um pouco de linguagem , yaoi, Heero POV neste daqui

Casais:-1+2+1 (Yey \^_^/)

Spoilers:- um spoiler ridiculamente breve da série...muita gente nem vai notar.

Disclaimer:- Ontem, Wufei me convidou para meditar. Fomos para uma sala toda branca com tapetes no chão. Mas, ao invés de acompanhar os exercícios, eu fiquei secando ele. Wufei se irritou e queimou meus direitos autorais em um dos incensos que queimavam na salinha...T_T... por isso, por mais que eu queira, eu ainda não sou dona dos Garotos Gundam e nem nada relacionado sobre a série. Isso aqui é um trabalho de ficção sem fins lucrativos (infelizmente T_T)

Quanto ao arco como um todo:- O 'Blurry Arc' na verdade é um arco de fics composto de pelo menos 8, sendo que esse numero ainda pode crescer. Cada fic tem começo e fim, mas devem ser lidos um atrás do outro para formar um todo maior. Na verdade é como uma única fic multi-parte, sem um gancho de continuidade muito forte entre uma e outra. Cada fic é baseado em uma parte da letra da musica "Blurry" do grupo "Puddle of Mud" e, é claro que se você ouvir a musica enquanto lê o fic, o clima fica completo ^_~
Quanto ao Fic V :- Definitivamente este foi um dos capítulos mais difíceis de escrever até então. Eu senti em muitos pontos como se estivesse sendo repetitiva, tanto no aspecto linguagem, quanto no aspecto sentimental, sinto muito se alguns de vocês também sentirem isso. De qualquer forma, o importante é que vocês sintam a profundidade da dor que vai ser passada nesse capítulo, especialmente a emocional. Se alguns de vocês choraram nos capítulos anteriores, preparem-se por que esse daqui vai te fazer ir correndo atrás da caixa de lenço...e o próximo também...

***Agradecimentos a Lien Li por ser uma beta na velocidade da luz e pelos ótimos comentários***

"You know that I'll save you

from all of the obscene..."

            O maior erro de um soldado é perder o controle.

Perder o controle, em nosso caso, pode ser interpretado, muitas vezes, como um adiantamento da hora da morte. Um passo certeiro na direção da dor e do sofrimento. No momento eu me via, cada vez com mais freqüência, perdendo o controle de aço, que me mantivera, praticamente, desde que havia me reconhecido como um ser vivo.

Acontecia todas às vezes em que Duo estava por perto. E era algo contra o qual eu não podia, simplesmente não conseguia, lutar. Eu já havia gasto todas as minhas forças lutando contra aquilo que sentia, algo que eu não compreendia por completo, mas que era forte o suficiente para me manter acordado a noite, com medo de que os sonhos viessem. E eles sempre viriam por mais que me esforçasse.

Os sonhos não era difíceis. Difícil era acordar para a realidade de que tudo não passava de um devaneio.

Por fim, parei de lutar. Parei de tentar jogar minha razão desesperadamente contra aquilo que sentia. Parei de tentar entender e simplesmente aceitei. A alegria da libertação que isso me trouxe, só foi sobrepujada pela alegria da aceitação desses mesmos sentimentos. Aceitação que encontrei nos olhos de Duo, na fatídica e chuvosa noite em que ele descobriu provas físicas da dor que vinha me consumindo a muito tempo.

E o resultado disso não poderia ser pior para o Soldado dentro de minha mente.

Praticamente de um dia para o outro, Duo e eu nos tornamos um casal. Jamais demos demonstrações públicas de carinho. O máximo de mudança, que podia ser notado externamente, em ambos, era um cuidado um pouco maior em gestos, rápidos olhares distantemente afetuosos, ou toques breves. E mesmo assim, aparentemente, todos sabiam da existência de nosso relacionamento. Nunca houve um comentário sequer que tivesse sido ouvido a respeito. Mas eles sabiam. E tinham a consciência de que eu também sabia desse fato.

Felizmente, não houve qualquer tipo de manifestação contraria de nenhum dos outros pilotos. Venho a concluir que eles confiavam tanto em mim quanto em Duo, para que soubéssemos discernir e separar nossos sentimentos de nossas ações, quando assim fosse necessário ou conveniente. E eles estavam certos.

Mas eu temia. Temia porque, com Duo, eu perdia o controle.

No tempo em que passávamos juntos em nosso quarto, nossa relação mudava. Entre quatro paredes, podíamos demonstrar todo o carinho e afeto que guardávamos exclusivamente para os olhos um do outro. Passávamos esse tempo quase sempre apenas deitados na mesma cama, simplesmente apreciando a presença corporal um do outro, o calor do contato.

 Em algumas vezes passávamos horas lendo, uma de minhas mãos segurando um livro, e a outra segurando a mão de Duo, enquanto ele apoiava sua cabeça em meu peito calmamente. Então ele dormia, e eu podia passar horas a fio, apenas observando seu sono tranqüilo, um de meus passatempos favoritos.

Eu quase sempre acabava acordando-o com um beijo. Eu não conseguia resistir aqueles lábios, na moldura perfeita que ele formava enquanto dormia. E ele, aparentemente, não conseguia não responder a meus beijos. Por mais suaves que fossem, ele sempre acabava acordando para responder com fervor as minhas demonstrações de carinho.

E isso me assustava. Por que próximo a Duo, eu não conseguia conter o riso, a alegria, sorrisos, que escapavam-me dos lábios antes que eu pudesse notar sua presença. E, apesar de minha consciência gritar constantemente para que eu recuperasse a faceta de soldado perfeito em todos os momentos, eu simplesmente não podia. Não queria. E acima de tudo, não precisava. Não enquanto Duo estivesse ao meu lado.

Tudo o que eu podia fazer, era contar com meus instintos, para que estes funcionassem com a eficiência de sempre, quando fosse necessário. Eu tinha poder o suficiente para fazê-lo, bastava que eu me concentrasse nisso.

***

            Concentração. Foi tudo com o que eu pude contar para manter uma sombra de sanidade, e não despedaçar a beira de um ataque histérico.

            Duo havia saído em missão com Quatre. Teria sido uma missão de "invasão e destruição" em uma das maiores bases da antiga Aliança, em um local a algumas centenas de quilômetros de  nosso esconderijo, no continente Asiático. Segundo os dados passados no relatório aos pilotos, a base era mal vigiada e pouco protegida, por estar sendo usada apenas como depósito para Móbiles Suítes, portanto, dois pilotos teriam sido o suficiente.

            Mas eles estavam errados. A base possuía um sistema de segurança subterrâneo, constituído por uma tropa de milhares de Móbille Dolls. E agora, graças ao erro deles, Duo e Quatre haviam sido capturados, sem que soubéssemos exatamente as condições nas quais isso havia acontecido. Eles podiam estar escondidos. Eles podiam estar mortos.

            Bani o pensamento imediatamente, enterrando-o no canto mais escuro de minha mente.

            Assim que soube, parti na direção de Wing, sem pronunciar uma palavra sequer. Apenas levantei-me da cadeira na sala de transmissão, aonde eu, Trowa e Wufei havíamos captado a freqüência de rádio da Oz e ouvido a noticia da captura dos dois outros pilotos.

            Antes que eu pudesse sair da sala, Trowa me pegou pelo braço. 'Vou com você', ele falou, e por um momento pensei em recusar, em ordenar que ele ficasse, em dizer que agora esta missão estava sob meus cuidados, e meus apenas. Mas o olhar de Trowa fez com que as frases morressem em minha mente antes de alcançarem a boca.

            Ele tinha os olhos nublados, praticamente negros de preocupação, numa expressão que não deixava dúvidas sobre seu estado próximo ao desespero. Olhei para Wufei, esperando que ele dissesse à Trowa as palavras que eu não conseguia dizer. Mas Wufei estranhamente não se opôs a nossa movimentação. Ele simplesmente nos lançou um olhar, no qual eu pude sentir uma quantidade incrível de confiança e compreensão.

            Antes que pudesse discernir todos os sentimentos que voavam soltos pela sala, partindo de cada um de nós, Wufei falou, 'Vão', e partimos, seguindo seu comando por puro instinto.

            Em nossos respectivos Gundams, dirigimo-nos a base, encontrando uma resistência no meio do caminho. Uma tropa de Touros. Não eram um número muito grande, e nós os enfrentamos com pouca dificuldade. Automaticamente assumimos, cada um, metade da tropa.

            Terminei com meus agressores momentos antes de Trowa, apenas o suficiente para ter um relance do último momento da batalha travada logo a meu lado. Barton estava lutando de uma forma absolutamente feroz, quase desesperada. Tinha a certeza de que caso abrisse o canal de comunicação entre meu Móbile Suit e o dele, eu poderia ouvir seus gritos, ao atacar os Touros com violência.

            O estado de Trowa, fez com que eu pensasse sobre minha própria condição. Eu não deveria estar muito diferente dele, apesar de não possuir consciência completa do fato. Com essa realização, juntei todas as forças de meu corpo para colocar a máscara do Soldado Perfeito firmemente em seu lugar de origem.

            Isto era uma batalha. Não importava o quanto eu quisesse apontar dedos em acusação, gritar ou agredir. Tudo o que eu podia fazer era lutar. E lutar, esquecendo de tudo o que realmente estava envolvido nessa batalha, por momentos que fossem, para que eu pudesse passar por ela.  E saísse dela vitorioso.

            Após acabarmos com a tropa, continuamos em direção a base. Antes de chegarmos ao local, encontramos o Gundam Sandrock, escondido nas proximidades, em um estado que podia ser classificado como um verdadeiro caos. Um sinal parecia estava sendo emitido da máquina.

            Trowa avançou, com Heavyarms e tentou  estabelecer comunicação, sem sucesso. Nenhuma resposta partia do outro Gundam, e aparentemente o sinal de ajuda estava sendo emitido automaticamente.

            Aproximei-me, a tempo de ver meu companheiro abandonar seu Móbile Suit e rapidamente lançar-se na direção do cockpit de Sandrock. Permaneci em estado de alerta, mas não me opus as ações de meu parceiro. Assim como provavelmente acontecera com Wufei, eu sentia como se alguma coisa na movimentação de Trowa fosse capaz de ultrapassar nossos instintos de piloto. Capaz de furar a mascara de soldado. De alguma forma, aquele sentimento era forte o suficiente para atingir-nos em cheio.

            Quatre estava dentro do Gundam, desacordado. Por um momento, verifiquei que havia sangue nele, e soube que Trowa havia feito a mesma constatação, no instante em que notei toda a sua cor deixando o rosto, enquanto ele entrava em um estado de completa paralisação.

            Recuperando rapidamente o foco, gritei pelo comunicador para que ele verificasse a origem do sangramento e o pulso do outro piloto. Minha voz provavelmente foi o que o acordou,fazendo com que ele agisse, descobrindo que o piloto loiro possuía um ferimento em um dos braços, e tinha pulso. Ele estava apenas desmaiado.

            Trowa pegou-o nos braços, carregando-o para seu próprio Gundam, sob minha vigilância constante de nossas redondezas. Ao pararem, Quatre acordou, chamando por Duo.

            Isso fez com que eu voltasse toda minha atenção a meus dois companheiros. 'Aonde esta Duo?', perguntei através do comunicador. Quatre falou em uma voz fraca e rouca, e eu mal pude distinguir suas palavras. 'Ele....foi ca...capturado. Tentando me salvar...ele quis me salvar, Heero. Ele gritou...ele gritou dizendo que...que ficaria bem...'. Eu pude ouvir soluços, e ele continuou. 'Por favor...por favor Heero, salve Duo. Salve-o'

            Sem responder ao pedido desesperado de meu companheiro piloto, avaliei rapidamente o mapa da base, escolhendo a porta menos policiada como meu ponto de entrada. Coloquei Wing em um local seguro, e corri o mais rápido que pude na direção da porta, pela qual invadiria a base.

            Ao chegar no local, derrubei os três guardas responsáveis pela vigilância com facilidade. Silenciosamente retirei o uniforme de um deles, vestindo a roupa em seguida. Mentalmente re-avaliei os dados que possuía sobre o lugar e dirigi-me ao andar subterrâneo, indicado na planta oficial.

            Por uma questão de lógica militar, todas as celas de prisioneiros localizam-se nos subsolos das bases. Essa linha de raciocínio pode ser explicada pelo fato de que espera-se que alguém venha salvar o possível prisioneiro. Assim sendo, para chegar até a cela seria necessário passar por quase toda a base, e conseqüentemente, uma segunda captura poderia ser realizada.

            Obviamente este tipo de tática não é muito efetiva ao lidar-se com pilotos Gundam. Tudo que eu podia espera,r era que os guardas desse local, não contassem com tal possibilidade.

            Tomo consciência de que cheguei ao local correto, porque a minha frente posso ver dois oficiais. Um deles estava falando e o outro rindo. Eles estavam comentando sobre o prisioneiro e emitindo sons sarcásticos, que me preencheram de um ódio surreal, antes que eu pudesse apontar qual deles era o narrador da história e qual deles era o expectador.

            Admito que este flash de emoção foi muito útil naquele momento, porque fui capaz de derrubar os dois guardas, em dois golpes secos e altamente eficientes, antes mesmo que eles pudessem notar minha presença.

            Com outra série de movimentos rápidos e precisos, abri a cela. Mas nada, nem anos de treinamento árduo e doloroso, foram capazes de me preparar para aquilo que vi dentro dela.

            Tudo o que pude fazer foi segurar o grito de horror, que praticamente explodiu em minha garganta, quase sufocando-me em desespero.

            No meio da sala havia uma estrutura formada por duas hastes, uma horizontal e uma vertical, como uma cruz. Duo estava preso bem no centro dela, braços estendidos, a cabeça jogada para frente, como se o movimento de mantê-la sobre o pescoço custasse-lhe um esforço incrível e intolerável.

            Ele estava seguro pelos pulsos, e o local aonde os membros encontravam-se presos estava vermelho e coberto em sangue. O resto do corpo era completamente preenchido por dezenas de hematomas, manchas roxas que pareciam praticamente engolir os pedaços alvos da pele.

            Antes que minha observação liberasse o grito que ainda segurava, notei a presença de um terceiro guarda, este, dentro da cela. Ele possuía um bastão em uma das mãos, enquanto abria o zíper das calças com a outra. Em um milésimo de segundo, antes que ele pudesse ter o privilégio de respirar uma última vez, atirei certeiramente em seu peito, e ele foi ao chão imediatamente. 

            Ignorando o corpo, agora morto do guarda no chão, aproximei-me de Duo para soltá-lo. Toquei levemente em seu braço para que ele tomasse consciência de minha presença, e senti todo seu corpo endurecer. 

Tive ímpetos de gritar, de agarrar Duo com meus braços e abraçá-lo com força o suficiente para que ele nunca mais pudesse ser capaz de abandonar o meu lado. Mas eu sabia que aquela reação dele, era apenas um instinto automático contra a dor. Deus...o que afinal teria se passado entre as paredes dessa sala? Quanto Duo havia sofrido antes de minha chegada?

Afastei-me poucos centímetros, e sussurrei levemente, da mesma forma que eu costumava fazer enquanto ele dormia. Desta forma, eu esperava que ele percebesse minha presença, soubesse que era eu quem estava ali, para salvá-lo e não para feri-lo ainda mais. 'Duo...sou eu. Sou eu Duo, Heero. Você consegue me ouvir?'

Por longos momentos não houve qualquer tipo de resposta. Nem um movimento sequer. E fui tomado pelo pânico. Inconscientemente meu tom de voz subiu, chegando a um nível perigoso, que talvez entregasse minha posição, até então secreta. 'Duo, por favor acorde! Por favor Duo...'

Ouvi um pequeno grunhido, semelhante a um pequeno gemido de dor. Muito lentamente, ele levantou sua cabeça, e um brilho de puro alívio e reconhecimento passou por seus olhos, antes que ele deixasse sua cabeça cair novamente, a exaustão vencendo todas as outras vontades do corpo e da mente.

Desesperadamente avancei para libertá-lo das algemas, que o seguravam pelas mãos e também pelos pés. A cada novo toque de minha mão, por mais insignificante que fosse, Duo sofria de um pequeno espasmo, acompanhado por um som de dor. Eu fazia o meu melhor, tentando colocar velocidade em meus movimentos, e ao mesmo tempo tocar na menor quantidade de ferimentos quanto fosse possível. Mas parecia uma tarefa praticamente impossível.

Havia hematomas e cortes por todos os lados, e mesmo o mais suave dos toques, parecia infringir uma dor incontrolável. Dentro de mim, a dor ao ver o estado de meu parceiro, equiparava-se, e eu lutava contra lágrimas ineptas, que tentavam formar-se sob meus olhos.

Uma vez solto, Duo caiu imediatamente em meus braços, inconsciente. Provavelmente desmaiado por conta da dor. Levantei-o com cuidado, agradecendo silenciosamente por seu estado de inconsciência. A constatação da dor, óbvia em sua face, era quase mais do que eu podia agüentar.

Porém, antes de abandonar a sala, dei uma última olhada para o corpo já frio do soldado, que encontrava-se no local momentos antes de minha chegada. Ele havia caído, sem nunca soltar o bastão em sua mão, que agora eu podia ver que estava coberto de sangue. Retirei minha arma da cintura e atirei em seu corpo imóvel novamente, exatamente entre seus dois olhos, no meio da face. Amaldiçoei o infeliz por ter morrido tão facilmente em meu primeiro tiro e por não ter  sentido a dor do segundo.

Em seguida, corri o mais rápido que pude para fora da base, Duo seguramente em meus braços.

Alcancei meu Gundam, e ao lado dele, Trowa aguardava por minha saída, com Heavyarms a postos, e Quatre junto a si, dentro do compartimento do piloto. Ele havia inclusive deixado o compartimento de Wing aberto, simplesmente esperando pela minha chegada, possivelmente com mais alguém. Eu teria de me lembrar de agradecer futuramente a Trowa, por sua imensa ajuda.

Adentrei meu Gundam, e ocupei rapidamente a cadeira do piloto. Duo ainda estava desacordado em meus braços. Tentei arrumar sua posição, de forma a ajeitá-lo em meu colo, da maneira mais confortável e segura possível. O cinto do cockpit teria de prender a ambos, e isso provavelmente viria a causar muita dor, considerando o que eu havia visto até então.

Resolvi deixar que um de meus braços protegesse o corpo de Duo da fricção causada pelo cinto. Eu poderia pilotar Wing com apenas um de meus braços, bastava apenas fazer alguns pequenos ajustes operacionais. Não seria exatamente fácil, mas desgaste mental e o cansaço de um braço era um preço infinitamente barato a pagar, se eu pudesse eliminar pelo menos um pouco da dor que meu parceiro estava sentindo no momento.

Rapidamente abandonamos a cena e dirigimo-nos para o esconderijo, que vínhamos usando nas últimas duas semanas: uma das mansões de Quatre. Enquanto concentrava-me em pilotar, não reparei na abertura do canal de comunicação entre o Gundam de Trowa e o meu. Assustei-me por um momento ao ouvir sua voz.

'01?', ele perguntou. 'Hm', respondi. '05 está na base. Ele entrou em comunicação apenas a um ou dois minutos atrás. Ele esteve no alvo e está trazendo o Deathscythe e o Sandrock consigo'

'Afirmativo' respondi. E antes que eu fechasse novamente a comunicação entre os dois Móbile Suits, ouvi a voz de Trowa, suave como um sussurro, '... obrigado'.

 Na verdade não havia o que agradecer. Não haviam favores a serem pagos entre nós. Sei que ele sabia disso tão bem quanto eu.

Um pouco antes de alcançarmos nosso objetivo , Duo fez o mais leve dos movimentos com as pálpebras dos olhos, como se mesmo aquele movimento exigisse uma quantidade enorme de força de sua parte.

'Você está bem?' perguntei, tentando convencer a mim mesmo de que agora a dor de meu companheiro era menor, de que ele estava menos ferido, de que ele estivesse realmente vivo e que fosse ficar bem. Na verdade, eu queria que parte da dor incrível, em volta de meu coração naquele momento, também fosse retirada.

'De...Deathscythe...onde...?', ele gaguejou, mordendo os lábios na tentativa de segurar mais um som de dor, antes de conseguir terminar a sentença. 

'Shhh...' tentei acalmá-lo. 'Está tudo bem, tudo bem. Wufei recuperou Deathscythe e estamos indo para casa. Tudo vai ficar bem Duo, não se preocupe, estamos a caminho.'

Eu não sabia se tudo ia ficar bem. Mas eu sentia, com toda a minha força, que tinha de fazer alguma coisa, qualquer coisa, para acalmá-lo, para assegurá-lo de que ele estaria bem enquanto estivesse comigo, que eu jamais deixaria nada acontecer a ele...mas eu já havia deixado. Tudo aquilo tinha acabado de acontecer sem que eu pudesse evitar. Sem que eu tivesse feito qualquer coisa para prevenir aquela terrível tragédia.

Nesse exato momento, iniciou-se o procedimento de pouso, e este é sempre turbulento. O grito praticamente animal, que partiu de Duo, foi o suficiente para afundar minha alma ainda mais nas trevas, que a pouco ameaçavam cobri-la por inteiro, e partir meu coração em pedaços.

Eu sentia a vontade de largar todos os controles, de soltar o cinto de segurança, de simplesmente pegar toda a dor que ele sentia e transferir para mim, para dentro de mim, aonde ele não pudesse sequer vê-la. Mas eu não podia. Eu não tinha como. Eu não conseguia sequer chorar. Era como se eu tivesse me auto-detonado, de dentro para fora, em uma forma milhões de vezes mais dolorosa do que a primeira.

Terminei o procedimento de pouso em uma velocidade incrível, considerando a intensidade com a qual minhas mãos tremiam. Saí com cuidado, tentando evitar qualquer movimento brusco, mas notei que não haveria como realizar tal tarefa. Em meus braços Duo mordia seu lábio, na vã tentativa de segurar seus gritos de dor, e um filete de sangue já escorria por debaixo do local aonde seus dentes encontravam-se firmemente cravados na carne.

Praticamente corri para dentro da mansão e coloquei Duo sobre a cama de casal, a que eu havia identificado como a maior existente na casa inteira, em um dos quartos do andar superior. A dor parecia ter diminuído, mas ele ainda respirava com dificuldade, como se também o movimento de inspirar e expirar cause-lhe um desconforto além do suportável.

Eu não podia simplesmente olhar aquela situação e não fazer nada. Dirigi-me até o banheiro do corredor, o que os pilotos utilizavam, e procurei pelo kit médico. Notei, com certo alívio, que dentro do pequeno kit haviam três seringas de morfina. Procurei por um medicamento mais leve, sem ter sucesso.

Era extremamente arriscado utilizar morfina. Na verdade, qualquer tipo de medicamento contra a dor possuía a tendência de causar efeitos colaterais terríveis, como sonhos, em soldados treinados como nós. Esse fato, isoladamente, explicava a ausência desse tipo de remédio em qualquer um dos esconderijos pelos quais passávamos.

Mas a morfina, era o mais potente e rápido artifício que podia ser utilizado contra a dor. E recorríamos a ela somente em situações extremamente urgentes.

Ainda incerto sobre o que fazer, voltei ao quarto para encontrar Duo sobre a cama. Novamente um arrepio visível passou por todo seu corpo, ao notar que mais alguém havia entrado no local. Era como se, no fundo de sua mente, ele ainda não houvesse assimilado por completo o fato de não estar mais na maldita base, preso e indefeso.

Preparei a seringa de morfina, e ao perceber do que se tratava o objeto que eu segurava, Duo endureceu, e arregalou os olhos em terror. 'Por...por favor Heero...não...eu....eu não posso.....os medicamentos.....eles.....'. Antes de completar sua frase, Duo desabou em lágrimas, soluçando convulsivamente.

Eu sabia o que ele queria dizer. Que os medicamentos levariam a dor, trazendo no lugar o sentimento de indefesa, a confusão, os pesadelos. Mas não havia o que pudesse ser feito. Eu estava preso entre a possibilidade de retirar sua dor, para poder cuidar de seu corpo, ou tentar fazê-lo sem sedá-lo antes. Sendo que em ambos os casos, eu só geraria mais e mais sofrimento, de um modo ou de outro.

Fiquei paralisado, com a seringa em minha mão. Como um homem preso por um dedo em uma corda, sobre um precipício sem fim aparente.

Um movimento rápido me tirou de minha semi-inconsciência. Wufei retirou a seringa de minha mão, e em seguida, aproximou-se da cama. 'Sinto muito Duo, mas é só o que podemos fazer por você agora.' e com isso ele injetou o conteúdo do êmbolo no braço de Duo, com rapidez.

'Wufei...Heero...', após pronunciar meu nome, ele caiu inconsciente novamente, claramente sofrendo os efeitos do medicamento. Wufei simplesmente olhou para mim, sem falar nada, apenas esperando que eu me recuperasse daquele estado quase catatônico. Foi graças a seu semblante compreensivo e forte, que fui capaz de me recuperar, acordando quase que assustado para o fato de que tínhamos que agir com rapidez no corpo de Duo, antes que o efeito da morfina cessasse.

Chang trabalhou comigo, retirando cuidadosamente os trapos, que um dia haviam sido as roupas de Duo, alguns deles, presos na carne pela profundidade dos cortes que haviam sido feitos. A cada novo hematoma descoberto em alguma parte do corpo de meu companheiro, mais crescia a minha vontade de voltar a base.

Pro inferno com a missão, a guerra, e tudo mais, eu só queria destruir. Deixar tudo em um estado de devastação, no qual não sobrasse uma alma viva sequer para contar a história do local.

'Não ia te trazer nenhum conforto, Yuy', Wufei falou, sem nunca tirar os olhos do ferimento, que no momento ele cobria com um largo pedaço de gaze. 'Concentre-se apenas em ajudá-lo a melhorar agora', ele continuou, dessa vez levantando a cabeça para olhar diretamente em meus olhos. 'Ele precisa de você mais do que nunca.'

As palavras de Wufei me atingiram como um verdadeiro tapa na cara. Ele estava certo. Eu não havia fraquejado até agora. Eu simplesmente não podia permitir que a minha dor, que o meu sofrimento devido a minha incapacidade, afetasse Duo. Isso não podia acontecer de forma alguma, sob nenhuma circunstância.

Olhei para meu companheiro chinês, que me olhava com uma expressão triste. Em seguida olhei para Duo. Ele parecia tão frágil...como se pudesse quebrar, debaixo do mais leve toque de meus dedos.

Deixei que as duas únicas lágrimas, que haviam habitado meus olhos durante praticamente o dia todo, escorressem lentamente por minha face. Eu não conseguiria detê-las naquele momento, por maior que pudesse ser meu esforço nesse sentido. Eu sentia como se toda a minha força tivesse abandonado meu corpo junto com aquelas lágrimas.

Mas eu ficaria mais forte. Eu suportaria qualquer dor, fosse ela qual fosse, física ou emocional. Por maior que pudesse se apresentar sua intensidade, eu suportaria. Eu tinha de fazê-lo. Por Duo. Ele precisava de mim e eu jamais seria capaz de abandoná-lo mais uma vez.

Eu não choraria. Eu ficaria a seu lado pelo tempo que ele necessitasse, e se minha ausência fosse o que ele quisesse, assim seria feito.

Eu teria de manter meu controle. Por mais difícil ou doloroso que isso fosse.

****
Fim do Capítulo VI

Eu só quero dizer que o processo de escrever este capítulo, em si, foi muito doloroso. Primeiro por que eu odeio ferir o Duo, realmente odeio, mas era necessário para o bom andamento do enredo (o que não significa que tenha sido algo que não me deixou chateada...-.-") e segundo...por que dor no pulso....desculpem o termo, mas é uma merda! . Torçam para que eu não esteja desenvolvendo uma L.E.R ou tendinite da vida....ai.......


Olá reviewers! Aqui vai o beijo da semana para todos aqueles que trazem a luzinha no fim do túnel das reviews: Hi-chan, Yuki, Kagome, Bra_Briefs, Naomi, e todos aqueles que me mandaram e-mails. Desculpem-me se eu os esqueci. Numa próxima, não deixarei passar novamente okie? ^_~

Sim, claro, quase me esqueci ^.^" ! Agora a tia Misao-chan aqui tem um site só pra ela, com os fics arquivados. Por favor visitem: . E deixem seus comentários okie? Obrigada ^.^=