Blurry Arc – Fic VIII
Avisos:- mais angst, um pouco de linguagem , yaoi, Heero POV neste daqui
Casais:-1x2x1, 3x4
Spoilers:- nenhum spoiler neste daqui
Disclaimer:- Ontem, Heero e eu fomos comprar uma nova Spandex para ele. Passamos por varias lojas e quando finalmente encontramos uma que o agradava, a atendente da loja cometeu o erro de tocar no ombro dele...foi tiro pra todo lado e, pra abafar o caso, tive que vender meus direitos autorais pra usar a grana TT... por isso, por mais que eu queira, eu ainda não sou dona dos Garotos Gundam e nem nada relacionado sobre a série. Isso aqui é um trabalho de ficção sem fins lucrativos (infelizmente TT)
Quanto ao arco como um todo:- O 'Blurry Arc' na verdade é um arco de fics composto de pelo menos 8, sendo que esse numero ainda pode crescer. Cada fic tem começo e fim, mas devem ser lidos um atrás do outro para formar um todo maior. Na verdade é como uma única fic multi-parte, sem um gancho de continuidade muito forte entre uma e outra. Cada fic é baseado em uma parte da letra da musica "Blurry" do grupo "Puddle of Mud" e, é claro que se você ouvir a musica enquanto lê o fic, o clima fica completo
Quanto ao Fic VIII :- Certo, certo. Eu peço desculpas a todas as pessoas que esperaram por muito tempo por este Fic. Eu realmente não tenho culpa do fato de minha mente ser mal-criada e se recusar a trabalhar em fics mais antigos conforme os mais novos vão chegando...de qualquer forma, essa fic fecha o caso sobre a minha quase-obsessão por água ". Por alguma razão estranha até mesmo pra mim, eu acho que água é uma coisa que dá clima pra quase tudo...vocês vão notar isso, lendo o capítulo a seguir. Beijos pra todos que ainda acompanham este daqui, e espero que gostem
Agradecimentos a Lien Li por ser uma beta na velocidade da luz e pelos ótimos comentários
"there's oceans in between us
but that's not very far..."
Humanos tem uma tendência a guardar seus momentos mais queridos como um tesouro. Uma preciosidade digna de ser mantida a sete chaves, no mais profundo de suas mentes, para que esse cofre possa ser aberto em ocasiões especiais, nas quais as pessoas recordam-se dos instantes de felicidade plena que já tiveram a sorte de viver.
Eu não.
A questão não é a falta absoluta de boas memórias, pois elas existem. A grande maioria delas são dos poucos momentos de quietude e paz que tive a chance de dividir com Duo, sendo que algumas outras pertencem a passagens vividas com os outros pilotos.
Todas essas lembranças porém, tornaram-se infinitamente pequenas, quando comparadas a enxurrada de lembranças ruins que dividem o mesmo espaço em minha mente.
Esse conflito interno de minhas memórias, fez com que eu chegasse a desagradável constatação de que meus momentos felizes tornavam-se pálidos diante das memórias mais recentes e assustadoras, que agora habitavam meu cérebro, a mera menção delas fazendo meu corpo todo estremecer, em uma mistura angustiante de ódio, tristeza e indignação.
Em minha última missão eu tinha ido aos confins do inferno. Apenas para descer a um nível ainda mais baixo nos dias que se seguiram.
Duo havia sido capturado pela Oz em uma missão mal sucedida. Encontrá-lo ensangüentado e ferido, além dos limites suportáveis pelo corpo humano, já havia sido uma experiência capaz de quebrar meu espírito em milhões de pedaços. Acompanhar sua dor e confusão nos primeiros dias de recuperação fora uma tarefa ainda mais terrível, minha inabilidade de ajudá-lo tanto quanto fosse necessário, fazendo com que os últimos pedaços remanescentes de meu controle de aço despedaçassem-se pouco a pouco, juntamente com minha alma.
Foi graças a uma observação de Quatre que acabei retornando para a base em busca da fita das câmeras de segurança da cela aonde Duo havia sido confinado. Fora uma tarefa sistematicamente simples, considerando que todo o local agora não passava de uma estrutura abandonada e parcialmente destruída, resultado do ataque realizado por Wufei no mesmo dia em que havíamos recuperado nossos dois companheiros pilotos do local.
Encontrei o vídeo e levei-o para o esconderijo no qual havíamos estado nas últimas duas semanas, visando descobrir tudo o que eu possivelmente não sabia até então.
Eu realmente pensei que teria forças para fazê-lo.
A simples menção da fita faz com que eu tenha ímpetos de vomitar.
Assistir e ter a consciência exata do sofrimento de Duo, durante todo o tempo em que não fomos capazes de alcançá-lo em seu cárcere, arrancou de mim, definitivamente, qualquer semblante de controle que ainda me restava.
Eu já havia passado os últimos quatro dias como que andando em uma fina corda, uma linha frágil, na qual me equilibrava entre a razão e a vontade, quase incontrolável, de simplesmente abandonar a consciência e entregar-me ao desespero de ter aquilo que era mais importante em toda a minha vida, em um estado de sofrimento constante, sob o qual eu tinha pouco ou praticamente nenhum poder.
Estar ao lado de Duo não era o suficiente. Eu queria poder pegar toda a sua dor e transferir para meu corpo em um passe de mágica. Em um simples movimento no, qual todo o peso que caía sobre seus ombros fosse transferido para os meus, para que ele se visse finalmente livre daquilo.
Mas isso era impossível.
E nada do que estava a meu alcance fazer parecia o suficiente. Era por essa razão apenas, que eu me mantinha equilibrado sob o vale do desespero, mantendo-me sempre um passo antes da queda. Eu sabia, no fundo de meu coração, que caso caísse levaria Duo inevitavelmente comigo, e isso era a última das coisas que eu deixaria que acontecesse.
Portanto, foi com um enorme pesar que assisti a morte de minha força, juntamente ao vídeo no qual Duo era espancado sem piedade pela imagem do soldado da Oz, imagem aquela que eu levaria para sempre comigo, como o retrato de meu pior inimigo.
Assistir a fita era como ver meu pior pesadelo tornando-se realidade diante dos meus olhos, mas era algo que eu precisava fazer. Eu PRECISAVA saber, por Duo, quais tinham sido os limites ultrapassados em sua tortura. Ele não conseguia se lembrar, e por mais que me custasse, assumi a responsabilidade de descobrir o que haviam lhe feito, mesmo que para isso mais uma parte de mim tivesse que morrer no processo, diante da constatação de todas as coisas pelas quais ele tinha passado.
Quando o vídeo finalmente chegou a seu fim, tudo a minha volta havia tornado-se um borrão desconexo de sombras e luzes, e o que me tirou de meu estado semi-inconsciente foi o som de um soluço, um pequeno gemido de dor que eu seria capaz de reconhecer a quilômetros de distância.
Em um piscar de olhos me vi ao lado de Duo, segurando seu corpo frágil e fraco da tempestade das emoções que o tomavam. Eu não conseguia compreender a todas, mas parte delas eu conhecia muito bem, por serem estas as mesmas que me afundavam, naquele momento, em um mar confuso de alívio e tristeza, misturando-se em uma música complexa e assustadora, sobre a qual não tínhamos qualquer controle.
Naquele instante, sei que não poderia segurar minhas lágrimas nem que quisesse.
Mas eu não me arrependia por elas. Estas eram apenas a prova de tudo o que eu sentia. Meu único ressentimento era ter de assistir a face igualmente molhada e cheia de dor de Duo, tendo de aceitar o meu sofrimento por cima de seu próprio.
Duo porém, não pareceu se importar com minha fraqueza, e, rendendo-me enfim, naquela noite deixamos que nossas lágrimas lavassem nossas almas da camada negra e espessa que nos envolvia.
Dormi na cadeira ao lado de Duo, apoiado sobre a parte de trás do móvel, segurando sua mão durante todo o tempo, até a chegada da manhã.
Acordei sentindo como se meu espírito tivesse renascido, a simples presença de Duo ao meu lado e o calor de suas mãos sobre as minhas assegurando-me do fato de que eu ainda possuía algo por dentro.
Minha mente porém, ainda tinha dúvidas.
Já haviam passado-se cinco dias desde que havíamos trazido Duo de volta para a casa, e apesar de seus ferimentos estarem mostrando sinais de uma recuperação rápida, eu sabia, por experiência própria, que a dor que ele sentia ainda deveria ser muito grande.
Por essa razão decidi que permaneceria ao seu lado durante todo o tempo que fosse possível, durante dias e noites, refeições e trocas de curativos. Eu não deixaria minha posição a não ser que fosse extremamente necessário. Ou inevitável. Felizmente não havíamos recebido qualquer tipo de missão nos últimos dias.
Naquela mesma manhã, a necessidade de que o curativo, do lado esquerdo do abdômen de Duo, fosse trocado, me lembrou de que eu também só deveria tocá-lo quando fosse estritamente necessário. O ferimento havia aberto alguns milímetros na noite anterior, provavelmente por conta dos longos momentos que passamos com os braços dolorosamente fechados envolta um do outro.
Aquilo para mim, agiu como um sinal de que, por mais poderosa que fosse a força de meu sentimento por ele, eu não podia admitir que este causasse qualquer tipo de dano a seu corpo. Essa, vindo a tornar-se, talvez, a mais difícil de todas as minhas missões.
Eu não sabia como transmitir o conforto, que Duo tanto necessitava, através de palavras, eu nunca fui bom com elas. A maneira pela qual eu estava acostumado a lidar com os desejos, tanto dele quanto meus, era através de toques.
Para mim, um abraço, um beijo ou uma simples carícia, eram muito claras e infinitamente mais eficientes na tarefa de transmitir o que eu sentia.
Agora, praticamente privado do contato, que já considerava como algo necessário, tudo o que podia esperar era que minha presença fosse capaz de, alguma forma, garantir a Duo pelo menos parte de todo o apoio que ele tanto necessitava para que pudesse recuperar-se o mais rápido possível.
Abandonei meus pensamentos alertado pelo movimento da figura abaixo de mim. Olhei para Duo enquanto este segurava meus dedos sobre seu ferimento, evitando a continuidade do movimento que eu fizera momentos antes - numa menção de terminar a tarefa da troca de seus curativos - e fazendo com que minha mão permanecesse durante mais alguns segundos em contato com sua pele.
Seus olhos estavam praticamente presos aos meus, em um semblante de suave desconforto. Seria possível que mesmo a mais delicada de minhas ações e movimentos fosse o suficiente para que ele sentisse dor?
A minha vontade era de deixar que minhas mãos vagassem livremente por seu abdômen, traçando um caminho, que eu sabia decor, para a parte superior de suas costas, para que eu pudesse então envolvê-lo em meus braços, apertando-o contra meu peito durante horas e horas ininterruptas.
Mas, nas condições em que estava, um movimento mais brusco de minha parte poderia praticamente rasgar Duo ao meio. E eu jamais me tornaria conscientemente responsável por tal fato.
Retirei suavemente suas mãos das minhas, em seguida abaixando sua camiseta em sinal claro de que havia terminado aquela tarefa.
Dirigi-me então a cômoda do outro lado do quarto, em busca da pequena tigela com água e panos, que eu vinha utilizando nos últimos dias, para manter a temperatura de Duo em níveis estáveis. Enquanto preparava uma das toalhas, ouvi o som de um longo suspiro partindo da cama no meio do quarto. Virei-me imediatamente, apenas para encontrar a figura de meu companheiro virada para o outro lado do quarto, oposto ao local aonde eu estava.
Seus olhos agora estavam fechados e eu simplesmente aproximei-me dele colocando um dos panos sobre sua testa, em um movimento que estava tornando-se quase automático. Em seguida, tomei meu lugar na cadeira ao lado da cama para ali permanecer durante toda a manhã.
Algumas horas mais tarde, satisfeito com o fato de que Duo não havia apresentado qualquer sinal que indicasse a presença de pesadelos, aproveitei-me de seu estado inconsciente para ir até a cozinha e preparar alguma coisa para que ele se alimentasse.
Foi com grande quantidade de surpresa que encontrei Wufei no pequeno cômodo, ocupado com a tarefa de picar vegetais sob a mesa, enquanto uma grande panela de água era aquecida em uma das bocas do forno.
Ele notou minha presença imediatamente, virando-se em minha direção e me lançando um olhar breve de identificação, antes de retornar a tarefa que possuía em mãos. Sem dizer uma palavra, sentei-me em uma das cadeiras a sua frente, observando com interesse a maneira quase metódica como ele cortava os vegetais em pequenos cubos, de tamanhos praticamente iguais.
Olhei para o outro lado da mesma mesa, notando uma sacola grande de papelão sob esta, de onde meu companheiro retirava todos os ingredientes daquilo que preparava. Assisti o exato momento no qual ele retirou uma cenoura de dentro da sacola, apenas para olhá-la com uma expressão de desaprovação por alguns segundos e colocá-la de volta em seu lugar.
Lancei um olhar levemente confuso em sua direção, ao mesmo tempo em que pegava o vegetal em minhas próprias mãos para analisar qual teria sido o possível problema com aquele alimento. Não encontrando nada que justificasse sua eliminação, resolvi perguntar. 'Qual o problema com a cenoura?'
Wufei virou seu olhar para mim por alguns segundos e depois de volta para sua tarefa. 'Duo não gosta de cenoura.', ele falou, e eu por pouco não perdi a frase, devido ao tom quase imperceptível da voz de meu companheiro.
'O quê?', perguntei. Obviamente eu havia escutado, mas senti a necessidade, mais do que repentina, de me assegurar de que aquilo não havia se tratado de uma miragem auditiva, tamanha era a estranheza com a qual eu havia recebido aquela informação.
Ele me olhou novamente, e desta vez o olhar permaneceu sobre mim durante um longo período. Wufei suspirou longamente, e então voltou a falar, ao mesmo tempo em que voltava a cortar os vegetais sob a mesa, em um ritmo mais vagaroso do que o anterior.
'Maxwell...não suporta cenouras...', ele falou.
E como diabos, Wufei Chang entre todas as pessoas, podia afirmar uma coisa dessas? Minha mente começou a rodar em um ritmo incrível, tentando processar as probabilidades pelas quais ele possivelmente poderia ter conseguido tal informação, sem que eu conseguisse chegar a qualquer conclusão plausível sobre o fato.
Meu raciocínio foi interrompido pela resposta a pergunta que recusava-se a abandonar meus lábios, mas que provavelmente encontrava-se clara como o dia em meus olhos, porque bastou um simples relance em minha direção para que Chang descobrisse exatamente a fonte de minha dúvida.
'Eu descobri isso durante a ultima missão em que...', ele hesitou por um instante, 'em que passamos alguns dias juntos em uma das mansões de Quatre. A missão na qual pensamos que você havia morrido'.
Ele não precisava ter completado a informação. Eu sabia exatamente de qual missão estávamos falando aqui, e, notando isso, ele se calou.
Foi nesse momento que eu absorvi por completo a informação de que a casa que habitávamos agora não tinha qualquer tipo de dispensa com alimentos. Eu não havia sequer considerado tal fato antes de ter me dirigido a cozinha com ímpetos de fazer o almoço para Duo.
Antes que pudesse pensar mais profundamente sobre a questão, tive meus pensamentos novamente interrompidos pelas palavras de Wufei, que agora encontrava-se de costas para mim do outro lado do cômodo, despejando os conteúdos de sua tábua de cortar dentro da panela com água fervente.
'Você não deveria estar com ele?', ele perguntou, mantendo seu tom de voz neutro de qualquer sentimento.
Levei cerca de um segundo para compreender o significado das ações de Chang. Ele estava preocupado com Duo, e, sabendo que minha presença seria absolutamente necessária ao lado dele durante praticamente todo o tempo, ele havia assumido a tarefa de preparar o almoço.
'Sim, eu deveria', respondi, enquanto levantava-me de meu lugar na mesa. Assisti os movimentos de Wufei enquanto este andava de um lado ao outro da pia, ora pegando mais ingredientes, ora mexendo uma longa colher de madeira dentro do recipiente borbulhante.
Senti a vontade de lhe agradecer por tudo o que ele já havia feito por mim. Por ter mantido seu raciocínio lógico acima do meu, no momento em que fraquejei diante da prospecção de ter de dar morfina a Duo, por ter prometido cuidar dele com sua própria vida, caso algo me acontecesse durante meu retorno a base, por ter trocado seus curativos, por ter se prontificado a cuidar dele, mesmo que nada lhe tivesse sido solicitado.
Uma vez de pé, dirigi-me a porta da cozinha, para virar-me no último momento antes de me retirar. 'Wufei...'
'Sim?', ele respondeu, virando sua cabeça em minha direção, sem nunca parar de mexer com a colher na panela.
'Obrigado', falei simplesmente, colocando em meus olhos toda a força real de meu agradecimento, uma quantidade de sentimentos que palavras jamais seriam capazes de expressar, mesmo que existisse um vocabulário para tal.
Ele me olhou por um longo momento, e em seguida acenou com a cabeça, seus próprios olhos dando-me um sinal claro de que ele havia compreendido exatamente a profundidade de minha mensagem. Wufei então virou-se para a tarefa de terminar sua sopa e eu retornei ao quarto.
Abri a porta cuidadosamente, evitando ao máximo qualquer som brusco que pudesse acordar Duo, mas a lenta e suave movimentação de seu corpo sobre a cama, diante de minha chegada, me indicou que ele já estava acordado.
'Heero?', ele falou em um tom de voz sonolento.
'Estou aqui.', respondi, imediatamente tomando meu lugar ao seu lado.
'Heero eu...', ele falou, bocejando longamente entre uma sentença e outra. ' ...eu não quero mais tomar os analgésicos...', ele terminou, suas sobrancelhas franzidas no meio da testa em um sinal claro de desconforto.
'Mas Duo, você ainda não está completamente recuperado...', comecei a falar, apenas para ser interrompido pelo tom de voz ainda sonolento de meu companheiro.
'Não, Heero, eu sei. Mas eu não posso mais com isso. Eu não posso suportar. Eu me sinto como se estivesse sedado durante vinte e quatro horas do dia... tudo o que eu consigo fazer é dormir e...', ele continuou, desta vez sendo interrompido por mim.
'Mas Duo, faz apenas um dia que seus pesadelos cessaram. Você tem de aproveitar e descansar para que se cure.', argumentei.
'E se vocês não pararem com os malditos medicamentos eu nunca vou conseguir', ele respondeu, tom de voz um tanto elevado e uma expressão que passou rapidamente de irritação a súplica. 'Por favor...eu nem sequer me sinto como eu mesmo, quando essas coisas estão fazendo efeito...'
Observei seu rosto enquanto ele falava, e a honestidade em seus olhos fez com que todos os meus argumentos contra aquela idéia voassem para longe de minha mente. Aproximei-me mais dele, retirando instintivamente uma mexa de cabelo, que havia se soltado da trança, e que agora caia sobre seus olhos, cobrindo parcialmente minha visão daquelas órbitas violetas incríveis.
'Está bem', assenti, colocando os fios suavemente atrás da orelha de Duo, 'mas se eu perceber que você não esta repousando o suficiente, você volta a tomá-los', terminei, em um tom que eu esperava que não deixasse dúvidas sobre aquela decisão.
Ele assentiu com a cabeça fechando os olhos lentamente e apoiando seu rosto sobre a mão que eu tinha ao lado de sua face, buscando carinhosamente obter mais contato. Deixei que meus dedos viajassem para sua bochecha buscando a suavidade e calor daquela pele que eu conhecia tão bem quanto a minha.
Tive apenas um breve momento para perceber realmente o quanto eu sentia falta de poder tocar Duo. A incrível saudade que eu sentia da energia de sua presença ao meu lado, do calor de seus abraços e da paixão de seus beijos.
Esse meu pensamento durou milésimos de segundos, porque antes que eu pudesse notar em Duo sinais de que aquele sentimento era recíproco, ouvimos uma suave batida na porta do quarto. Um som que fez com que eu me afastasse imediatamente.
Wufei estava na porta com uma bandeja em mãos. Dei espaço para que ele entrasse, em seguida deixando que ele ajudasse Duo a colocar-se sentado na cama, enquanto eu arrumava o suporte para a bandeja.
Assistimos enquanto Duo alimentava-se, ambos reclamando profusamente quando ele tentou negar-se a terminar todo o conteúdo do prato. Em seguida, ajudei Chang a examinar os ferimentos dos braços e pernas, ficando satisfeito ao perceber que a maioria deles apresentava mais sinais de recuperação.
Ao terminar a tarefa da troca das bandagens, Wufei se foi, voltando rapidamente com um tabuleiro de xadrez que ele colocou sob o mesmo suporte aonde o prato de comida estivera antes.
Ele e Duo jogaram durante três horas ininterruptas, tempo no qual eu permaneci ao lado de ambos, aproveitando o momento de relativa quietude e calmaria para verificar as análises feitas sobre a última missão. Aparentemente, os doutores tinham sofrido uma invasão em seu banco de dados, tendo cometido o erro de passar informações comprometidas para os pilotos responsáveis por aquela missão.
Eles haviam descoberto a fonte das alterações e eliminado-a, comprometendo-se então a verificar os dados mais cuidadosamente, antes de emitir ordens baseadas nestes. Os cretinos não pensavam realmente que isso resolvia alguma coisa agora, certo?
Minha eminente raiva diante de tudo o que Duo e Quatre haviam passado por conta de um descuido, foi o que me levou a parar por um instante para pensar exatamente quanto tempo mais ainda teríamos de suportar esse tipo de coisa, antes que a guerra pudesse finalmente chegar a um fim.
Eu honestamente, não tinha certeza de que poderia suportar muito mais daquilo, a mera idéia de ter de presenciar Duo sofrendo, mais uma vez, fazendo com que meu estômago se constringisse e minha garganta fechasse.
Devo ter emitido algum som nesse momento, porque levantei meus olhos da tela de meu laptop, alertado pelo movimento de dois pares de olhos em minha direção.
Notando nesse instante o olhar levemente sonolento de Duo e a quantidade considerável de tempo que havia se passado, comuniquei a Wufei que eles já havia jogado o suficiente, e recebi um olhar irritado de Duo em minha direção, indicação clara de que o jogo não havia terminado e de que ele provavelmente achava que tinha chances de ganhar.
O chinês assentiu, retirando o tabuleiro de seu suporte, e auxiliando Duo a voltar a posição deitada. Antes de retirar-se do quarto porém, ele parou na porta e lançou um pequeno sorriso sarcástico na direção da cama. 'Você teve sorte dessa vez, Maxwell!', ele falou, sumindo atrás da porta logo em seguida.
'Não pense que isso vai ficar assim Chang...', Duo respondeu, o restante de sua resposta sendo engolida por um longo bocejo.
Aproveitei o momento para coagi-lo a dormir, e pouco esforço foi necessário de minha parte até que ele tivesse caído em um sono profundo. Chequei sua temperatura novamente, colocando uma toalha sobre sua testa apenas como medida de precaução.
Satisfeito com o silêncio do quarto e a privacidade do momento, cuidadosamente verifiquei os arredores, buscando por sons estranhos que não foram encontrados, e então abri a última gaveta da pequena cômoda, ao lado da cama de Duo.
Dentro dela havia um caderno negro. Sua capa estava gasta e suas folhas levemente onduladas, sinal de que já haviam passado por uma quantidade de uso considerável, senão coisa pior.
Qualquer um que olhasse para o caderno diria que ele tinha muitos anos, tal era a precariedade de suas condições. Poucos seriam capazes de adivinhar que aquele pequeno bloco de folhas não tinha mais do que alguns poucos meses de uso.
Abri a primeira página, passando meus dedos suavemente pela inscrição que esta continha. A escrita estava borrada, e traços de tinta azul cobriam toda a folha. As palavras porém, haviam sido marcadas no papel com força o suficiente para que as letras se distinguissem do restante da tinta, e o poema que cobria aquelas linhas podia ser lido com toda a clareza.
Eu nunca havia perguntado a Duo o porquê dele ter colocado aquele poema na primeira página do caderno, esta, me parecendo uma pergunta irrelevante naquele tempo. Hoje porém, eu sentia uma vontade quase transbordante de saber por qual razão ele havia me presenteado com aquilo, e como havia tomado consciência sobre o poema que tanto dizia sobre mim mesmo.
Meus pensamentos foram interrompidos por uma suave batida, e antes que eu pudesse fazer mais do que fechar o caderno e colocá-lo a meus pés, a porta havia sido aberta revelando a figura de Trowa. Ele segurava uma bandeja com um prato sob esta.
'Duo já comeu', exclamei ao vê-lo, e ele simplesmente ignorou minha fala, fechando a porta atrás de si cuidadosamente, e dirigindo-se em minha direção, colocando a bandeja deliberadamente em meu colo logo em seguida.
'Eu sei', ele respondeu, puxando uma cadeira do outro lado do quarto, sem fazer um ruído sequer, e colocando em frente a minha, igualmente ao lado da cama aonde Duo ainda dormia sem ter qualquer conhecimento do que se passava dentro do cômodo. 'É para você. ', ele terminou.
Fiquei surpreso por um breve momento, notando logo depois que eu realmente estava bastante faminto. A este ponto, já não era uma grande surpresa para mim que meus companheiros fossem capazes de descobrir parte das coisas que nem mesmo eu percebia sentir.
Peguei a colher, mergulhando-a em seguida no prato de sopa quente, na bandeja em meu colo. Estava realmente saborosa, o que fazia com que eu começasse a questionar as lendas de que os pilotos não tinham jeito para cozinhar.
Trowa interrompeu minha constatação. ' E como ele está?', ele perguntou.
Parei por alguns instantes, segurando a colher a frente de minha boca, e então coloquei-a novamente na borda do prato. 'Fisicamente, ele tem feito muitos progressos, e mentalmente...', dei um longo suspiro antes de continuar , 'ele parece ter melhorado bastante desde...' terminei, pegando minha colher novamente e retornando a tarefa de tomar a sopa, sem intenções de completar a frase. Eu sabia que meias palavras eram o suficiente para Trowa.
Ele assentiu com a cabeça, virando seu olhar na direção de Duo, talvez para analisá-lo com seus próprios olhos.
A expressão de Trowa despertou em mim a preocupação por Quatre, que havia estado negligenciada nos últimos dias, e eu falei repentinamente, 'E como está Quatre?', a pergunta escapando de meus lábios antes que eu tivesse tempo de pensar realmente nela.
Ele pareceu levemente surpreso com minha indagação, mas, talvez vendo a dúvida genuína em minhas palavras, respondeu em seu usual tom calmo e controlado. Apenas um quase e imperceptível tom de melancolia tingia sua voz suavemente. 'Ele está se recuperando. Ainda se sente muito culpado, e diz que deveria ter feito alguma coisa... mas eu lhe assegurei de que não havia nada que ele pudesse ter feito, e que deve focar-se em suas ações daqui para frente. E não no passado.'
Rolei a informação em minha mente, satisfeito com o apoio que eu sabia que o árabe vinha recebendo de Trowa. Barton era, assim como eu, uma pessoa de poucas palavras, mas quando elas eram ditas, apenas a verdade podia ser vista nestas.
Assenti meu entendimento da resposta, e terminei o que seria meu jantar em um silêncio confortável. Ao final de minha refeição, Trowa pegou o prato levando-o consigo, e antes de partir, sem nunca virar-se em minha direção, ouvi sua voz dizendo, 'Descanse um pouco você também'. E então ele se foi.
Sozinho novamente, recuperei meu caderno do chão, passando minhas mãos por sua superfície. As primeiras folhas possuíam algumas anotações e o restante delas, dezenas e dezenas de páginas, estavam cobertos por desenhos da figura adormecida de Duo. Desenhos estes, que eu tinha feito no tempo em que sofrera em crise depois de meu acidente, em noites e noites que havia passado em claro, na dura tarefa de compreender meus sentimentos por esta pessoa que eu agora sabia que ocupava o maior dos espaços em meu coração.
Abri a última das gavetas novamente, retirando um lápis de dentro desta. Olhei para o semblante pacífico do ser diante de mim, e deixei que o grafite deslizasse sobre o papel livremente, formando em seus contornos a figura que, para mim, era a representação pura da perfeição, a imagem que ele pintava em seu sono, renegando todo e qualquer momento no qual aquela mesma pessoa afirmava ser a encarnação do "Deus da Morte".
Preenchi diversas folhas com os mais diversos ângulos e variáveis daquele mesmo modelo, do qual eu sabia que não me cansaria jamais. Provavelmente dormi enquanto desenhava, levado pelo cansaço inconsciente, pois acordei nas primeiras horas da manhã de um novo dia, alertado pelo som de algo caindo no chão.
Levantei-me bruscamente da cadeira por puro instinto, meus olhos caindo imediatamente sobre a figura de Duo sob a cama. Suas duas pernas estavam para fora da estrutura, e as mãos apoiadas dos lados do corpo, sua postura entregando suas intenções de se levantar.
'Duo!', exclamei, indo diretamente a seu encontro e apoiando-o, 'O que você pensa que está fazendo?'
'Eu...', ele hesitou por um momento, '...eu quero tomar banho. Eu...', ele terminou, sem realmente dar fim a sua frase.
Lembrei-me, vagamente, de que no dia anterior ele não havia tomado banho, provavelmente por conta de que eu havia deixado que ele dormisse demais, uma vez que eu mesmo havia dormido muito mais do que o necessário para alguém que, supostamente, deveria estar ali para atender as necessidades dele.
Sentindo-me completamente irritado por meu descuido, ajudei-o a levantar-se e então encaminhamo-nos ao banheiro. Coloquei-o sentado sob a tampa do vaso, enquanto ligava o chuveiro, controlando a temperatura para preencher a banheira.
Virei-me novamente na direção de Duo, notando que ele tentava livrar-se de sua camiseta por si mesmo. Parei seus movimentos com minhas mãos, pegando em seus braços e colocando-os suavemente para cima, para que eu pudesse puxar a camiseta sem dificuldades. Percebi que ele partiu para a tarefa de tentar retirar as calças, e mais uma vez, gentilmente acalmei-o com gestos para que ele deixasse que eu tomasse conta da tarefa.
O tempo que levei para colocar as roupas em um pequeno cesto atrás da porta, foi o suficiente para que Duo tivesse levantado bruscamente e colocado um de seus pés dentro da banheira. Coloquei-me imediatamente a seu lado, um de meus pés juntando-se ao seu na banheira enquanto eu lhe apoiava tentando fazer com que ele ficasse o mínimo de tempo possível de pé.
'Heero eu...' ele falou, parando em seguida.
Sem saber o que ele tentava me dizer, e sentindo sua hesitação, arrisquei um palpite. ' Você...quer lavar seu cabelo?', falei, enquanto uma de minhas mãos ia em direção ao elástico no fim de sua trança. Desde o dia do acidente, dar banho em Duo era como lavar um recém nascido: um atividade que requeria muito cuidado. Devido a alguns pontos em sua cabeça, ele ainda não tinha tido a oportunidade de lavar seu cabelo.
Eu só podia imaginar o terrível incômodo que aquilo devia significar, e por um momento, me repreendi por não ter pensado em me oferecer para fazer aquilo antes. Minha reflexão durou muito pouco, porque no instante seguinte a trança de Duo havia sido arrancada repentinamente, apenas o elástico restando em minhas mãos.
Lancei um olhar confuso e assustado em sua direção, notando que agora ele estava com os dois pés dentro da banheira, e retraindo-se.
'Eu não quero...eu...vou fazer isso sozinho...', ele falou, voz trêmula, enquanto tentava afastar-se ainda mais de meu alcance.
'Duo!', eu praticamente gritei ao notar um de seus pés pisar em falso no chão liso e escorregadio da banheira, enquanto seu corpo inclinava-se perigosamente em direção ao chão.
No momento seguinte eu tinha meus dois pés dentro da estrutura - firmes no chão como um prego na madeira - e meus dois braços envolvendo por completo a figura, agora molhada e completamente instável, de Duo em meus braços. Passei por um momento aterrorizante no qual pensei estar lhe ferindo com a força de meu abraço, mas o medo foi sobrepujado pelo sentimento de alivio que tomou todo meu corpo ao notar que Duo não estava no chão duro do banheiro, e sim, seguro em meus braços.
Um pequeno soluço foi o que me tirou de meu torpor, fazendo com que, imediatamente, me afastasse dele, sem nunca soltá-lo, apenas dando espaço suficiente para olhar em seus olhos em busca de sinais de dor. E o que eu encontrei naqueles olhos despertou uma ponta de horror em minha mente.
Havia dor, incerteza e frustração. Todos os sentimentos misturados em uma terrível combinação, que fez com que meu coração afundasse no peito.
'Duo, eu te feri? Por favor, Duo, me diga onde dói?', perguntei, tentando desesperadamente fazer algo que pudesse aliviá-lo de seu desconforto.
Duo estava olhando para baixo, e demorou muito a responder, fazendo com que meu momento de pavor se prolongasse pelo que me pareceu uma eternidade. Quando ele finalmente falou, sua voz era praticamente um sussurro. '...É tão repugnante assim, Heero?'.
'Duo...eu....eu não entendo...', respondi, ainda olhando-o de cima abaixo procurando por sinais de algum ferimento que pudesse ter aberto durante aquele pequeno acidente.
'Meu corpo Heero...', ele continuou, levantando seu rosto em direção ao meu, deixando que eu visse as lágrimas que formavam-se em seus olhos. 'Meu corpo tornou-se repugnante ao ponto em que você não consegue mais me tocar...?', ele perguntou, as lágrimas escapando de sua prisão e correndo livremente por sua face.
'O...quê....? respondi, sem compreender de imediato o que aquilo significava. As palavras demoraram alguns segundos para fazer sentido em minha mente, mas quando elas finalmente conectaram-se com os fatos dos últimos dias, eu pude perceber exatamente o que eu tinha causado a Duo.
Ele estava ferido. Extremamente ferido. E eu, com minha incapacidade de demonstrar sentimentos em palavras e em minha ânsia de protegê-lo de meus toques, havia feito com que ele se sentisse deformado, desfigurado e indesejado.
'Oh, Duo...', suspirei abraçando-o novamente, esperando ser capaz de lhe mostrar que nada nesse mundo seria capaz de me fazer achá-lo repugnante. 'Me desculpe...por favor....me perdoe', falei afastando-me para levantar seu rosto em minha direção.
Ao ver aqueles olhos tão cheios de dúvida, senti-me ainda mais como o idiota, que com toda a certeza eu era. Eu deveria ter dito a Duo, desde o começo, ter deixado claras as minhas preocupações sobre seus ferimentos.
'Então por que...' , eu pus meus dedos suavemente sobre os lábios dele, calando a pergunta que eu já sabia que viria.
'Porque eu pensei que iria te machucar... sem perceber que já estava fazendo isso...', respondi, observando enquanto ele dava um soluço angustiado e as lágrimas caiam continuamente de seus olhos, juntando-se a água em nossos pés.
Continuei a falar, decidido a deixar que ele soubesse exatamente o que eu tinha em mente no momento. ' Você não é repugnante...e nem nunca vai ser...jamais. Suas cicatrizes...não são nada...nada além da dolorosa lembrança do que eu não fui capaz de deter. Seu corpo é lindo....você...é completamente perfeito. E sempre será.'
A emoção daquelas palavras trouxe lágrimas a meus próprios olhos, e, tomado pelo sentimento repentino de mostrar para Duo exatamente o quanto eu realmente o admirava e desejava por completo, envolvi seu corpo em meus braços, beijando-o com força.
Senti seus lábios partirem-se sob os meus e deixei que nossas línguas engajassem-se em uma dança longa, ritmada e hipnotizante. Não sei por quanto tempo ficamos nos beijando, mas quando finalmente nos separamos, eu segurava todo o peso de Duo em meus braços, suas pernas aparentemente tendo cedido diante da força de nosso encontro.
Sem nunca soltá-lo, retirei-me da banheira deixando que ele mergulhasse seu corpo por completo na água, e desligando o chuveiro em seguida. Eu estava completamente ensopado, mas não podia me importar menos.
Ele agora estava deitado, seu cabelo solto flutuando a sua volta, como uma cortina de seda, e seus olhos estavam fechados enquanto ele parecia recuperar seu fôlego. Quando suas pálpebras se abriram, fui gratificado com a visão dos maravilhosos orbes violetas, completamente repletos de alívio e alegria, encobertos por um torpor febril, que provavelmente se assemelhava ao que eu possuía em meus próprios olhos.
'Obrigado, Heero', ele sussurrou.
'Não há o que agradecer', respondi, juntando nossos lábios novamente em um beijo muito mais suave do que o anterior. 'Apenas não se esqueça nunca disso', falei, quando nos separamos.
Duo deixou que eu o banhasse como nas noites anteriores, e em seguida ajudei-o a se vestir em roupas quentes, colocando-o na cama pouco tempo depois.
Troquei minhas próprias roupas, pronto para tomar meu lugar na cadeira ao lado da cama. Duo porém, me surpreendeu, erguendo o cobertor a seu lado, em um convite silencioso para que eu me juntasse a ele.
Subi na cama, e posicionei-me em suas costas, abraçando-o e colocando minhas mãos protetoramente em volta de seu peito.
Senti e ouvi um suspiro suave de contentamento partindo do corpo que eu segurava em meus braços, e deixei que meu próprio corpo relaxasse naquela posição na qual eu julgava poder ficar para sempre, caso pudesse.
O ritmo calmo e controlado da respiração de Duo e o subir e descer dos músculos de suas costas, teve a eficiência de uma canção de ninar sobre mim, e antes que eu notasse, encontrava-me muito próximo da inconsciência.
Antes de adormecer porém, deixei que algo escapasse meus lábios, algo que eu havia guardado a muito tempo, e que finalmente agora, tinha forças o suficiente para ser vocalizado.
'Duo...?'
'Hmmm?', ele respondeu, indicando que ouvia a minhas palavras.
'Eu te amo'
Ele ficou completamente imóvel por alguns segundos, e em seguida, virando seu corpo em direção ao meu e colocando seus braços em volta de mim em uma imitação perfeita do abraço que eu mesmo lhe dava, ele respondeu, como se fosse a coisa mais natural e certa em todo o mundo, 'Eu também te amo, Heero. Eu também'
Relaxamos finalmente nos braços um do outro, dormindo com uma paz de espírito e coração como já não sentíamos a algum tempo.
Antes que eu perdesse a consciência por completo porém, um último pensamento me passou pela cabeça.
Não importava quantos pesadelos e lembranças ruins eu tivesse dentro de mim.
Duo, segurava em suas belas mãos, a chave que abria o cofre de minhas memórias mais preciosas. Se eu não tinha lembranças boas para guardar com carinho, nós dois construiríamos as lembranças juntos.
Juntos.
Fim do Fic VIII
Nyahaahahahaha eu aposto que enganei muita gente com esse capitulo daqui...eu corto meu dedinho se não houve quem pensou que ia rolar um lemon na cena do chuveiro desse fic....NADA DE LEMON PRA VCS SEUS PERVS
Na verdade a cena do chuveiro desse fic aqui non pode nem ser considerada um lime...eu NÃO QUERO que ela seja considerada um lime porque ela não é isso. Ela é muito mais do que isso, porque representa o momento em que o Heero percebe seu erro, e mostra a profundidade de seu sentimento para o Duo...enfim, eu non vou ficar explicando o fic aqui, porque apesar do que eu penso e escrevo, as coisas sempre ficam meio que abertas a interpretação...
E alguém notou que essa foi a primeira vez no ARC TODO em que eles falaram "Eu te amo" um para o outro? Non é emocionante? Sim, sim, eu sou uma romântica incorrigível....
Anyways...continua sendo difícil escrever "Blurry"...-.-"
...mas eu insisto...hehehe
