Capítulo 01 - Negociando com trouxas
- Não, muito grande... e esse é muito pequeno... muito torto... muito certinho... - os resmungos de Tiago ecoavam pela sala vazia enquanto ele vasculhava a página de classificados do jornal.
- O que está fazendo afinal?
Com um suspiro, o rapaz fechou o jornal, olhando para a namorada. Lílian estava com os cabelos soltos, um roupão azul sobre o corpo, uma xícara de café nas mãos. Mesmo com a cara amassada de sono, ela ainda era linda para ele.
- Procurando uma casa para morar.
Ela sorriu.
- E desde quando você precisa de uma casa? A mansão dos seus apis tem quartos suficientes para você dormir em um diferente a cada semana e quando, mesmo assim, você enjoa da sua casa, passa temporadas no meu apartamento.
- Lily, eu não quero morar com meus pais a vida inteira. E também não quero abusar da sua hospitalidade.
- Isso é realmente uma pena... Eu ia adorar se você abusasse da minha hospitalidade. - ela riu, sentando-se no colo dele e roubando um beijo apaixonado.
- Oh, Senhor, não me tentes dessa maneira... - Tiago murmurou, enquanto Lílian abraçava seu pescoço.
Ela não prestou atenção no comentário dele. Seus olhos estavam no pedaço de jornal que ele segurava.
- Está procurando casa num jornal trouxa?
- No Profeta Diário só há ofertas de apartamentos no beco diagonal. E eu quero uma casa em londres, com, no mínimo, quatro quartos e.
- Pra quê quatro quartos, Tiago? - ela perguntou em tom suspeito.
- Na verdade, eu estava pensando em chamar os rapazes para morar comigo. O Sirius fica muito apertado naquele apartamento perto do caldeirão Furado. Não sei como, ele está abrigando o Remo lá.
- Tenho pena do Remo... Se o Sirius ainda leva uma namorada por noite pra lá, pobre do Remo.
- Pois é. E o Pedrinho tá morando com a mãe também. Então, eu quero uma casa grande o suficiente para nós quatro.
Foi a vez de Lílian suspirar.
- Não sei se é uma boa idéia deixá-lo sob a má influência do Sirius 24 horas por dia.
- Com ciúmes, senhorita Evans? - ele perguntou, largando o jornal e abraçando-a pela cintura, trazendo-a mais pra perto.
- Talvez sim... - ela respondeu divertida, encostando o nariz no dele - Talvez não.
A ruiva levantou-se, deixando Tiago com cara de tacho, e caminhou de volta para o quarto. O rapaz respirou fundo, coçando a cabeça, notando o jornal bagunçado aos seus pés. Ele abaixou-se para pegar de volta quando seus olhos bateram num anúncio em negrito.
"Vendo casarão bem localizado no centro de Londres, dois andares, seis quartos, salas espaçosas, varanda com alpendre e jardim. O preço é uma pechincha. Tratar com Raffles Jr."
Embaixo havia um telefone e endereço para contato. Tiago ouviu o som de chuveiro vir do interior do apartamento e tomou o resto do café da xícara que Lílian abandonara sobre a mesinha ao lado do sofá. Em seguida, acabou de se arrumar, calçando os sapatos.
Lentamente, ele aproximou-se da porta do quarto de Lílian, notando vagamente a bagunça que estava no sempre tão arrumado aposento. Bateu de leve na porta do banheiro e ouviu a voz da namorada resmungar alguma coisa sob o chuveiro.
- Lily, eu já estou indo. Vamos almoçar no "Be prepared", lá perto do ministério?
- Eu te encontro uma e meia.
Ele sorriu e aparatou do apartamento para um beco próximo ao enderço que vira no jornal. Entrou em um prédio antigo, num bairro meio barra pesada da cidade. Assoviando, Tiago subiu as escadas em caracol até a sala 507, que tinha na porta letras de ouro descascadas: "corretora de imóveis".
Tiago não precisou bater para que a porta se abrisse. Diante dele, respirando cansado, estava um loiro, talvez um pouco mais velho, com olhos escuros e inteligentes.
- Você é Raffles Jr.? - Tiago perguntou curioso.
- Depende. Quem deseja?
O moreno sorriu, entendendo a mão.
- Tiago Potter. Eu vi o anúncio da casa.
- Ah, é isso? Pode entrar. - Raflles pareceu bem mais á vontade e apertou a mão de Tiago com força, puxando-o para dentro do escritório após dar uma espiada no corredor - Tenho certeza de que vamos fazer excelentes negócios...
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Lílian entrou no "Be prepared", o restaurante em que Tiago marcara de se encontrar com ela. Ela sorriu ao pensar no que sua irmã diria se fosse levada para comer naquele lugar... Petúnia, com sua mania de limpeza, com certeza teria um ataque... "Be prepared", esteja preparado... Realmente, para comer ali, era preciso estar preparado.
Ela sentou-se sozinha numa mesa perto da entrada, observando as pessoas esquisitas que entrava, no restaurante. Atrás da mesa do bar, o casal dono do lugar se dividia atendendo os clientes. Lílian sorriu. A senhora era trouxa, mas o marido era bruxo, o que resultava naquele ambiente... diferente.
Deixando seu confuso fluxo de pensamentos para trás, ela se concentrou no cardápio. Mas antes que pudesse se decidir, duas pessoas sentaram-se à mesa. Ela imediatamente levantou a cabeça, encontrando o sorriso de Tiago.
- Lily, esse aqui é o Raffles.
A ruiva virou-se para o acompanhante de seu namorado, notando nem um pouco satisfeita o olhar cobiçoso que o rapaz lhe lançava. Ela estendeu a mão para que ele apertasse, mas ele a segurou firme, levando a mão dela aos lábios.
- É um prazer, senhorita. - ele disse num pretenso tom sedutor.
Ela rolou os olhos, prestando atenção em Tiago, absorvido na leitura do cardápio. Ele sempre era extremamente ciumento. Porque agora estava agindo daquela maneira? A essa altura era para ele estar torcendo o pescoço daquele... Bem, ao que parece, aquilo tinha sido desprazer à primeira vista. O tal Raffles era absolutamente desgostante. O que Tiago estava fazendo com aquele tipo? E porque o loiro ensebado estava sorrindo para ela daquela maneira?
- Hum, Tiago, você poderia me dizer de onde você conhece esse "distinto" senhor? - ela perguntou tentando controlar seu tom de voz.
- Ora, distinta é a senhorita. - Raffles sorriu galante e Lílian mordeu a língua para não mandá-lo a um lugar não muito agradável.
- Tiago?
- Ele colocou um anúncio no jornal que eu estava lendo de manhã. E eu fui até ele e comprei a casa que ele estava vendendo.
- Você comprou... - Lílian sentiu um calafrio, enquanto Raffles sorria de maneira peculiar - Tiago, você teve a curiosidade de ver a casa? Você nã assinou nada, não é?
- Na verdade, a casa já está no nome dele. - foi o loiro que respondeu - Os documentos estão todos assinados e não há como voltar atrás.
- Foi uma pechincha, Lily. - Tiago disse, tirando um recibo do bolso e mostrando a namorada - olhe só.
Os olhos da ruiva alargaram-se.
- Você pagou em galeões!
- Sabe, eu também achei estranho quando ele foi tirando essas moedas de ouro e...
- Sr. Raffles, se não desaparecer da minha frente agora... - Lílian levantou-se da mesa ameaçadoramente - ...eu providenciarei para que esteja a sete palmos de terra antes das seis horas. Raffles sorriu, levantando-se.
- É uma pena que eu tenha que me despedir da senhorita tão cedo. A propósito, não há como desfazer a negociação. Foi tudo feito dentro da lei e...
- FORA DAQUI AGORA, SEU.
- Lily, calma... - Tiago segurou a namorada pelo braço enquanto Raffles saía caminhando despreocupadamente, um sorriso cínico nos lábios - Porque esse escândalo?
Ela voltou a sentar-se.
- Tiago, você foi enganado. Pagou um preço exorbitante, e essa casa pode nem existir. Como você pode comprar alguma coisa sem sequer ver as condições dela antes? Além disso, aquele tarado estava me paquerando descaradamente!
- COMO?! Eu vou matar aquele desgraçado!
Foi a vez dela segurar o namorado.
- Agora é tarde, Tiago. A essa altura ele já deu o fora. Isso é que dá negociar com trouxas... na verdade, não sei qual dos dois é mais idiota.
- Lily... - Tiago olhou para ela reprovadoramente.
- Certo. Pelo menos ninguém vai ficar sabendo da sua burrada. Vamos dar um jeito e... - ela se calou ao vê-lo menear a cabeça - O que foi?
- Os rapazes estão indo pra lá agora. Antes de vim pra cá eu mandei uma coruja para cada um avisando que tinha comprado a casa e.
Lílian se levantou e foi até o balcão.
- Senhora Dworsky, duas verrugas de velha para a viagem, por favor.
Tiago aproximou-se dela.
- Porque está pedindo comida para viagem?
- Porque temos que chegar lá antes dos outros.
A velha senhora colocou dois pratos de uma espécie de panqueca gigante com molho de tomate por cima e três fios de cebolinha saindo de um buraco no meio por onde se via o recheio de carne.
- Aqui está, querida.
Lílian enfiou os pratos numa sacola e virou-se para o namorado.
- Qual é o endereço?
O rapaz tirou um pedaço de papel do bolso e deu para Lílian.
- Bem, não é um lugar ruim de se morar. Tem um parque lá perto, meu pai gostava de passear lá quando morava aqui em Londres. Vamos logo.
Os dois aparataram, logo chegando na rua indicada no papel.
- É o número 666. - Tiago olhou por cima do ombro dela, em seguida observando as alamedas ao redor deles.
- O número da besta. - Lílian sorriu sarcástica - Nada mais apropriado, não?
Ele não respondeu, e eles começaram a caminhar. Já perto do parque que Lílian citara, encontraram o número 664.
- Deve estar perto, não? - Tiago perguntou.
- Se ele existir.
O ronco de uma moto chamou a atenção deles e Tiago logo reconheceu os dois rapazes que desmontavam dela uma quadra adiante.
- Sirius e Remo chegaram. - ele observou, empalidecendo.
O casal correu até os dois amigos. Sirius olhava embasbacado para um casarão parcialmente destruído pelo tempo. A pintura estava descascada, as portas arrancadas, a grama alta do jardim entrava pela casa.
- Bem, Tiago, pelo menos a casa existe... - Lílian sorriu - Mas, ao que parece, ela vai precisar de uma bela reforma...
