Capítulo 03 - Metendo as mãos na massa


Os outros marotos logo seguiram Tiago, que caminhava a esmo pela casa, enquanto o fantasma de Raffles flutuava sobre eles, conversando com Sirius como se já fossem antigos companheiros.

- Tiago, você sabe para onde está indo? - remo perguntou, tentando acertar o passo com o amigo.

- Sinceramente, não.

Remo parou, revirando os olhos e cruzando os braços. Raffles aproximou-se de Tiago e retirou do fantasmagórico bolso um papel dobrado.

- É a planta da casa.

Ele entregou o papel a Tiago, que imediatamente caminhou até uma mesa alquebrada, abrindo a planta e colocando-a sobre ela. Os outros marotos pararam atrás dele, observando por cima de seus ombros o rebuscado desenho.

- Quem vê a casa de fora não tem idéia do real tamanho dela. - Raffles continuou - São três andares com o térreo e mais um porão no subterrâneo. O último andar, que são as pequenas torres que se vêem de fora, é o sótao, que quem está de fora não enxerga. Aqui no térreo ficam a cozinha, a sala de jantar, a sala de estar, o salão de baile, a sala de música, de jogos, a biblioteca, os gabinetes de estudo e o hall de entrada. No primeiro andar ficam os quartos, todos suítes. São seis quartos ao todo, cada um com características especiais.

- Como assim características especiais? - Sirius perguntou curioso.

- Cada um deles tem uma decoração diferente. Há o dormitório oriental, o quarto azul, os aposentos de lilás, o dormitório real, o quarto das crianças e os meus aposentos pessoais. O maior de todos é o dormitório real, com papel de parede vermelho e detalhes de flor de lis em dourado. Mas está tudo descascado. As próprias estruturas da casa parecem estar prestes a desabar. - Raffles concluiu tristemente.

- Uma casa como essa deve ter passagens secretas, não? - Pedro foi quem questionou dessa vez.

- Sim. A mansão tem diversas passagens secretas que estão assinaladas em vermelho na planta. Eu as descobri enquanto estava vivo. Depois de minha morte, não me interessei mais por isso, mas ainda deve haver muitas passagens.

Tiago cruzou os braços, caminhando até a janela e encostando-se nela, observando a vista do mal-cuidado jardim. Sirius aproximou-se do amigo.

- O que houve?

- Vocês acham que devemos ficar com a casa? Pela localização dela, não poderíamos usar magia para reconstruí-la. São leis do Ministério. E tem o fantasma também.

- Por mim, vocês não devem se preocupar. - Raffles flutuou até os dois amigos - Há muitos séculos que não tenho companhia para ouvir minhas bravas histórias de nobreza e golpes espertos. Além disso, se ficarem, a mocinha ruiva também vai reaparecer... Tiago revirou os olhos.

- A mocinha ruiva tem dono.

- Só falta agora você colocar uma coleira na Lily, Tiago. - Remo observou.

- Ei, só quem usa coleira aqui sou eu. - Sirius reivindicou.

- Eu voto por ficarmos. - Pedro disse após alguns instantes - Somos os marotos, não recuamos diante de um desafio, lembram?

- Eu, idem. - Remo foi quem se pronunciou - Pelo que entendi da planta, seria o lugar perfeito para mim, já que, nas noites de lua cheia, eu poderia me trancar no porão.

Raffles olhou confuso para Remo, mas o rapaz não parecia querer explicar a afirmação.

- Concordo com o Pedrinho. Não desistimos diante de um desafio, Tiago. Eu voto por ficarmos.

- Bem, eu não tenho nem o que falar, mesmo que eu diga que não, sou voto vencido... Muito bem, então, ficamos com a casa. Mas quando vamos ter tempo para arrumar a casa? Eu e o Sirius passamos o dia na Academia.

- Eu geralmente estudo durante o dia e tenho aulas práticas de DCAT de noite. - Remo observou - Mas acredito que o senhor Raffles ficaria feliz em ler meus livros em voz alta para mim enquanto trabalho.

- E eu só trabalho um período no Ministério. Minhas tardes são livres. - Pedro ajuntou.

- Resumindo, eu e o Tiago trabalharíamos de noite e nos finais de semana. - Sirius completou.

- Só que uma reforma assim vai demorar algum tempo. E precisamos nos mudar logo. - Tiago observou - Sirius e Remo vivem apertados naquele apartamento, Pedro tem que ficar com a mãe e eu estou cansado da mansão Potter.

- O porão está em melhores condições que todo o resto da casa. - Raffles respondeu - É lá que ficam as fundações, a primeira coisa que devem consertar, e, como ele é subterrâneo e os trouxas não sabem de sua existência, vocês poderiam usar magia para arrumar lá. Enquanto acabam a casa, podem tornar o porão habitável.

Tiago refletiu por alguns instantes.

- Vamos ver esse porão agora.

Raffles assentiu e foi flutuando na frente, guiando os quatro marotos. Por trás das escadas que levavam aos andares superiores, havia um alçapão que, aberto, mostrava degraus de pedra. Com a varinhas a frente, eles desceram.

- Primeiro vamos passar pelo vestíbulo. - Raffles explicou - Depois tem a adega, a lavanderia, a despensa e o depósito. Esse último é o maior cômodo, é lá que devem ficar.

Sirius esticou a cabeça quando passaram pela adega, podendo entrever à fraca luz de sua varinha as várias garrafas empilhadas nas caves cheias de teias de aranha. Quando chegaram ao fim do corredor onde situavam-se as portas que levavam aos aposentos que o fantasma nomeara, Tiago abriu um portão de madeira e logo uma imensa claridade os cegou.

- Ops... Eu esqueci de dizer que sempre que se abre o depósito, as luzes se acendem. para apagar, vocês devem bater palmas.

Remo foi o primeiro a se reacostumar com a luz e a observar, através da luz amarelada e mortiça em que o primeiro flash se tornara, o aposento. Era realmente grande. Havia objetos quebrados por todo o lugar, mas o que primeiro chamou a atenção dele foi um velho aparelho de rodar as fitas de filme no cinema. Havia um telão empoeirado pendurado na parede.

Tiago murmurou alguma coisa e a grossa camada de poeira que recobria tudo desapareceu. Sirius e Pedro se espalharam, tirando lençóis de móveis, descobrindo sofás, cadeiras e até um grande espelho partido. Aos poucos, o lugar foi se tornando habitável.


Amélia aproximou-se da mesa da ruiva, que parecia estranhamente pensativa.

- Lily? Está acontecendo alguma coisa?

A ruiva meneou a cabeça, mas antes que a outra moça pudesse sair, ela a interrompeu.

- Porque os garotos são tão imaturos?

- Como?

- Você acredita que Tiago comprou uma casa sem sequer dar uma olhada nela?

Amélia sorriu.

- Tiago comprou uma casa? Bem, Lily, você deveria estar feliz. Se ele já está nesse ponto, logo, logo vai pedi-la em casamento.

Ela estreitou os olhos.

- Perdão? Eu acho que não entendi direito.

- Ora, se ele quer comprar uma casa, já deve ser pensando em morar com você lá.

Lílian riu.

- Tiago, se casar? Amélia, ele comprou a casa para viver com os amigos. Você consegue imaginar os marotos separados? Bem, ele não consegue.

A outra garota suspirou, e depois abriu a porta.

- Espero que isso sirva pelo menos para que, quando ele quiser te ver, te chame para lá. Estou cansada de ter que ir para a casa do meu irmão por conta de visitas de Tiago no meio da noite. E nem venha me dizer que isso não é nada, porque eu nunca vou me acostumar a ver aquele Deus grego sem camisa no café da manhã e fingir que ele não existe porque ele é o namorado da minha melhor amiga.

Lílian riu e Amélia deixou a sala. Elas dividiam o apartamento desde que tinham deixado Hogwarts. Realmente, não podia reclamar muito de Tiago.


Pedro se deixou cair num dos sofás, agora consertado. Tinham passado as últimas horas consertando e limpando o porão. Estava cansado. Logo os outros três o seguiram, observando o resultado da tarde de trabalho.

O porão praticamente se transformara. O grande espelho estava a um canto, consertado; o telão fora enrolado e o projetor descansava ao seu lado; havia diversos quadros empilhados a um canto e um enorme tapete fora desenrolado para esquentar o chão frio de pedra.

- Acho que podemos nos mudar ainda hoje. - Sirius observou com um meio sorriso.

- É melhor não. - Remo objetou - Devemos trazer nossas coisas aos poucos. Amanhã podemos fazer a mudança. Por hoje, é melhor irmos para casa descansar.

Tiago e Pedro concordaram com o amigo e Sirius levantou-se, indo até Raffles, que observava o aposento com um ar nostálgico.

- O que houve? - ele perguntou para o fantasma.

- Boas lembranças... Esse tapete me traz boas lembranças.

- Sobre o quê? - o moreno perguntou curioso.

Se fantasmas fossem capazes de corar, certamente Raffles teria ficado imensamente vermelho. Mas as bochechas dele apenas brilharam num tom prateado e ele murmurou um nome feminino. Sirius abriu um sorriso. Não precisava de mais nada para descobrir que tipo de lembranças o fantasma estava tendo.

- Bem, então é isso. - Tiago interrompeu os pensamentos de todos - Vamos para casa. Amanhã, domingo, nos reencontramos aqui com nossas coisas. Vamos aproveitar o resto do fim de semana para isso.

Os outros concordaram em silêncio, logo aparatando. O fantasma ficou sozinho, ainda perdido em suas lembranças de outros tempos...