Capítulo 06 - Dilúvio


Dois dias mais se passaram desde que as garotas tinham se "mudado" para a República Federativa dos Marotos. Era sábado, mais um quarto estava concluído (o quarto oriental), Lily continuava a dormir no mesmo quarto que Amélia e Tiago no porão com os outros rapazes embora ambos escapassem eventualmente durante a noite.

O dia amanhecera quente, o céu ensolarado típico do verão. Nem parecia ser a mesma soturna Londres de todos os dias. Lílian saíra com Amélia para caminhar no parque, Remo e Pedro tinham ido fazer compras e Tiago e Sirius... bem, Tiago e Sirius estavam muito curiosos ao lado de Raffles, observando o esqueleto hidráulico do casarão na velha planta do fantasma.

- Aqui e aqui. - Raffles continuou a explanar, enquanto indicava com os dedos translúcidos marcas vermelhas no mapa - São as piores infiltrações do prédio. Em geral, as instalações ainda estão razoavelmente boas, apenas alguns canos podres aqui e ali.

- Sabe, é muito engraçado ver como os trouxas conseguem se virar sem magia. Nós tinhamos o chuveiro de água quente há séculos quando eles o inventaram. - Tiago observou - E esse sistema de canos... É realmente engenhoso.

- Eu queria entender como eles colocaram esses canos aí sem magia. A não ser que tenham construído a casa já com os canos todos no lugar. - Sirius retrucou.

- É mais ou menos isso. Eu dei as ordens para a contrução da casa pessoalmente e me lembro dos engenheiros trouxas montando os canos antes de erguer os rebocos. Agora, nesse ponto aqui... - Raffles indicou outra marca na planta, dessa vez em azul - ... é o registro geral. Há anos que eu não desço ao porão e o confiro, portanto, ele deve estar bem enferrujado.

- E o que temos que fazer exatamente? - foi a vez de Tiago perguntar.

Raffles pareceu refletir por alguns instantes.

- Temos que desligar o registro para poder consertar os lugares em que há infiltrações.

- Bem, então vamos fazer isso logo, não é?

Os dois marotos recolheram a planta e voltaram a descer para o porão. Raffles flutuava logo atrás deles, parecendo novamente imerso em seus devaneios. Enfim chegaram ao lugar assinalado pelo fantasma e, como ele dissera, a válvula estava extremamente enferrujada.

- Como vamos desligar isso? - Tiago perguntou para o amigo.

Sirius sorriu marotamente.

- Com medo de uma simples roldana de metal, Pontas?

- Ei! Eu não tenho medo de nada, seu cachorro!

- E o que está esperando?

Tiago firmou as duas mãos no registro, sentindo a ferrugem do metal se descascar sob sua mão. Com um pouco de receio, ele colocou força no objeto. Sirius, que observava atentamente, abriu ainda mais o sorriso.

- Essa nem chegou perto, Pontas.

Tiago franziu o cenho e colocou mais força. Sirius meneou a cabeça.

- Nada ainda, amigo.

Tiago estava começando a se irritar. Com supremo esforço, ele apoiou os pés no enorme cano que saía do registro e tentou mais uma vez, arrancando um leve rangido do metal. Sirius observou o amigo ficar vermelho como os cabelos da namorada, tendo uma veia saltada na testa.

Finalmente, o moreno pulou de volta para o chão, enxugando o suor que rapidamente brotara daquelas tentativas infrutíferas enquanto arfava pesadamente.

- Tisc, Tisc... Tiago, você está me decepcionando. Está ficando muito maricas...

- Se você acha assim, porque não tenta? - Tiago respondeu enquanto tentava fazer a respiração voltar ao normal.

Sirius sorriu.

- Agora veja como um profissional age.

Raffles e Tiago observaram o maroto cuspir nas mãos, apoiar os pés no cano e segurar o registro firmemente. Novamente, o metal soltou um longo e triste rangido, parecido com o grito de uma baleia ferida.

O registro se movera alguns poucos milímetros. Sirius, entretanto, parecia que ia explodir a qualquer momento. O moreno caiu de bunda no chão, arfando com o esforço feito. Tiago deu uma risadinha sarcástica.

- Nossa, Sirius, você realmente é muito forte, hem? Estou até impressionado com seus músculos.

- Ah, cala a boca, seu chifrudo.

Tiago fechou a cara e Sirius se levantou do chão, rodeando o registro.

- Alguma brilhante idéia, senhor cachorrão?

- Se você fechar a boca, talvez eu possa pensar em alguma coisa.

Raffles flutuou para mais perto deles.

- Porque não tentam juntar suas forças?

Sirius e Tiago se entreolharam.

- Eu pego pela esquerda e você pela direita. - Tiago indicou, enquanto tentava novamente se apoiar no cano.

O outro rapaz assentiu.

- No três. Um... dois... TRÊS!

Novamente eles colocaram toda a força que tinham sobre o registro e o metal fez o som parecido com o de um barco fantasma (não que eles tivessem visto algum barco fantasma na vida, mas, provavelmente se tivessem visto, identificariam com aquele barulho). Entretanto, esse esforço não foi o suficiente e os dois soltaram-se exaustos no chão.

- Eu desisto. Essa porcaria tá tão enferrujada que nenhum ser humano normal pode fechá-lo. - Tiago resmungou, levantando-se do chão dolorido.

Raffles olhou para a porta. Ouvira um rangido lá em cima e as vozes alegres de Lílian e Amélia, juntamente com Remo e Pedro. Tiago também parecia ter percebido isso. Sirius, entretanto, parecia mais interessado no que Tiago acabara de falar.

- Nenhum ser humano normal... Bem, nós não somos normais, somos bruxos. Além disso, nós somos marotos...

Murmurando isso para si, Sirius tirou a varinha do bolso. Tiago, que começava a subir as escadas para voltar ao térreo, virou-se, exatamente no momento em que o amigo apontava a varinha para o registro.

- Sirius, NÃO!!!!!!!!!!!!!

Tarde demais. O registro não apenas cedeu, como também todo o cano. Imediatamente um mar de água inundou o porão e Tiago podia ouvir acima dele esguichos de água que provavelmente tinham se rompido nas paredes com infiltrações.

Alguns minutos se passaram antes que o fluxo de água parasse. Tiago viu a porta acima dele se abrir e Lílian aparecer, pingando por todos os lados. Atrás dela, estavam Amélia, Remo e Pedro, em iguais condições.

- TIAGO POTTER!

Lá embaixo, Sirius nadava em direção a escada enquanto Raffles tentava se segurar para não rir...