Capitulo II
Pouco tempo depois, Harry batia à porta d' A Toca. Era de madrugada e foi o Sr. Weasley quem abriu a porta de roupão.
- Harry! Que fazes aqui a esta hora? Está tudo bem?
- Desculpe, Sr. Weasley, mas aconteceu uma coisa muito grave e eu e o meu primo não tínhamos a quem recorrer. Viemos no Autocarro Cavaleiro até aqui e agradecíamos que nos recolhesse e ajudasse.
- Mas claro que sim! Entrem, entrem.
Eles entraram, enquanto o Sr. Weasley os ajudava com as malas. Entretanto, a Sra. Weasley já descia as escadas com um ar desconfiado, que rapidamente se transformou num ar de espanto ao avistar Harry.
- Harry, querido, o que se passa? Estás bem? Oh, meu Deus! Vocês estão feridos!
- Não se preocupe, Sra. Weasley, nós estamos bem. – disse Harry ao mesmo tempo que tentava não morrer abafado com o abraço da Sra. Weasley.
- Mas e esse sangue todo?
- Não é nosso. Nós fomos atacados, precisamos da vossa ajuda.
-E quem é este menino? Com certeza o teu primo, certo? – Harry acenou afirmativamente e a Sra. Weasley apressou-se a dar um abraço de boas-vindas a Dudley, no entanto, não tão carinhoso como o que dera a Harry.
- Molly, talvez possas arranjar alguma coisa para eles comerem enquanto eu lhes levo as malas para cima.
- Claro, claro que sim! Meninos, venham comigo.
Eles seguiram a Sra. Weasley até à cozinha e sentaram-se na mesa enquanto ela preparava chá e umas tostas.
- Vocês devem estar esfomeados. Meu Deus, Harry, o que é que aconteceu? Bem, nós também temos algumas coisas para te contar e, na verdade, já estávamos receosos de que algo... bem, algo menos bom acontecesse.
Harry sentiu um aperto no estômago. Com que então sabiam que ele estava em perigo e não o avisaram.
- Sabes, os gémeos foram passar férias ao Brasil, o Bill foi para França e o Charlie continua na Roménia. Só estou aqui eu, o Arthur, a Ginny e o Ron. – A voz da Sra. Weasley tremeu. Harry sabia que era por causa de Percy.
- Pronto, as malas já estão. Só deixei a gaiola da Hedwig na sala para os pios não acordarem o Ron e a Ginny. – O Sr. Weasley entrou na cozinha e sentou-se à mesa. A Sra. Weasley já os tinha servido e estava sentada, também, a comer. Só Harry é que não tinha fome e deu as suas tostas a Dudley, que parecia esfomeado até quando acabava de comer um bom almoço.
- Mas Harry, precisas de comer para ficares forte! – insistia ela.
- Molly, deixa lá o rapaz! Agora conta-nos o que aconteceu, Harry, por favor.
Harry sentiu os olhares todos pousados nele e ao lembrar-se dos corpos mortos dos tios sentiu-se nauseado. Mas depois, lembrou-se do sorriso de Wormtail e um sentimento de fúria apoderou-se dele, tomou fôlego e contou a história toda duma vez. A Sra. Weasley olhava de Dudley para Harry com uma expressão de compaixão profunda e de surpresa, enquanto o Sr. Weasley olhava a mesa com um ar preocupado. Por fim, disse:
- Bem, quanto a isso só há uma coisa a fazer. Tu e o teu primo vêm comigo ao Ministério para prestar depoimento. Dizes que quando chegaste o teu primo estava a atacar o Wormtail em legitima defesa, depois de o ter visto assassinar os pais. Dudley, tu confirmas a história do Harry, está bem? Assim, o Dudley não será condenado por assassínio e tu, Harry, não terás implicações na história.
- Obrigado pela ajuda, Sr. Weasley. – disse Harry – Mas... se eles encontrarem o corpo do Wormtail vão acreditar na inocência do Sirius, não vão? – de repente um calor cresceu dentro do peito de Harry.
- Não precisas de te preocupar com isso. – disse a Sra. Weasley com um sorriso reconfortante – Não tens recebido o Profeta Diário, pois não?
- Harry, agora chegou a minha vez de contar o que se tem passado por aqui. Bem, depois dos acontecimentos que tu bem sabes, toda a gente passou a acreditar em Dumbledore, principalmente quando um grupo de gigantes aliciados por Voldemort entrou no Ministério destruindo tudo e resgatando o grupo de Devoradores da Morte que fora preso. Agora, a Ordem tem tido mais trabalho do que nunca e o Ministério também tem feito tudo o que pode para apanhar o Quem Nós Sabemos e os seus seguidores. As coisas estão más, muito más. Sabemos que ele está prestes a fazer algo terrível, só não sabemos quando e essa incerteza é terrível.
- Isso não é mesmo bom... Mas, em relação ao Sirius, o que se passa?
- Ah, sim. Como estava a dizer, o Ministro acredita, finalmente, na inocência dele, mas agora com o cadáver do Wormtail não vai haver dúvidas. Bem, é tudo. Agora talvez fosse melhor irem descansar um pouco.
- Sim, venham comigo. – A Sra. Weasley apressou-se a conduzi-los até ao quarto dos gémeos, onde eles podiam descansar. Dudley vestiu o pijama e enfiou-se na cama, todo enroscado, por baixo dos cobertores. Harry nem se importou em tirar a roupa. Deitou-se por cima dos lençóis a olhar para o tecto.
Passado um pouco, ainda ouvia os gemidos abafados do choro de Dudley e cada vez se sentia mais desesperado. Só queria que o primo se calasse, só queria que o deixassem em paz. Não aguentava mais sentir-se assim. Levantou-se e dirigiu-se à cozinha, pegou numa faca e cortou violentamente o braço, por cima das tantas cicatrizes que já tinha. O sangue começou a escorrer para o chão e ele começou a sentir-se melhor, a dor física aliviava-lhe a dor do coração. Deixou-se escorregar até ficar sentado no chão com a faca ensanguentada ao seu lado e as lágrimas a escorrerem por trás das lentes dos óculos, juntando-se ás gotas de sangue que sujavam o chão e as suas roupas já ensanguentadas. Ficou ali a chorar até amanhecer. Quando começou a ouvir movimento, lembrou-se que não estava em casa dos tios e apressou-se a limpar o chão e a faca e a fugir para a casa de banho.
Resolveu tomar um duche, a água quente caía no seu corpo e ele sentiu-se melhor, mais confortado. Lembrou-se de Cho e pensou que o que sentira por ela já não era o mesmo, já não a queria como antes. Depois lembrou-se de Sirius e começou a sentir-se triste novamente. Depois, pensou na profecia. Porquê que tinha de ser ele a nascer com aquele triste fado? Porquê que não era Neville o Escolhido? Sentiu-se mal por ter este pensamento tão egoísta, mas estava muito revoltado com tudo. Ficou silencioso, no banho, a pensar, até que a água arrefeceu.
Já na cozinha para o pequeno-almoço, Harry viu Ron e Ginny, que correram para o cumprimentar.
- Harry, tive tantas saudades! Então, como estás? Estás diferente.
Era verdade. Harry só vestia preto e estava bastante pálido e magro, pois não apanhava nem um pouco de sol, comia e dormia mal. No entanto, os seus olhos verdes continuavam lindos, apesar de demonstrarem bastante sofrimento e cansaço.
- Ginny, desampara aí a loja, está bem? Eu e o Harry temos de conversar.
Ron tentava arrancar Ginny dos braços de Harry para poderem conversar, mas a Sra. Weasley foi mais rápida e obrigou Harry a comer. Dudley já estava na mesa e a Sra. Weasley fazia tudo para ele se sentir bem, embora ele continuasse apático, como se vivesse num mundo à parte. Depois do pequeno-almoço, Ron conseguiu arrastar Harry para o seu quarto, enquanto Ginny fazia companhia a Dudley na sala. Depois de entrarem no quarto, Ron começou a falar muito rápido.
- Hei! Tem calma, meu! Não percebo nada do que estás para aí a dizer! – interrompeu Harry e Ron ficou muito vermelho, respirou fundo e recomeçou mais devagar.
- É assim, o Krum foi visitar a Hermione.
- E?... – Harry ficou um pouco surpreendido, mas logo percebeu qual era o problema de Ron e disfarçou um sorriso.
- E? Ainda perguntas? Eles estão lá juntinhos e nós estamos aqui sozinhos! Ela é nossa amiga, devia era estar connosco!
- Ron, o que é que se passa entre ti e a Hermione? – Harry já sabia a resposta, só queria que Ron admitisse de vez que gostava dela. Em vez disso, Ron ficou ainda mais vermelho (como se fosse possível!) e respondeu:
- Então... err... o mesmo que se passa contigo e com ela. Somos amigos.
- Como queiras, então não acho que tenhas motivos para estar assim.
Ron abriu a boca de espantou, mas não respondeu. Passados uns segundos de silêncio constrangedor, Harry perguntou:
- Então, vamos ver como está a Ginny e o meu primo?
- Claro...
Desceram as escadas e ficaram surpreendidos quando viram Ginny e Dudley conversarem como se já se conhecessem à bastante tempo. Mas antes de terem tempo de dizer alguma coisa, apareceu o Sr. Weasley.
- Bem, rapazes, vamos combinar umas coisas. Não é seguro ficarem aqui depois do que se passou. Agora vão-me acompanhar até ao Ministério, mas depois irão para a antiga casa do Sirius. Lá estarão seguros e Lupin ficará com vocês. Ele e Tonks irão ter connosco para vos escoltarem até Grimmauld Place.
- Com certeza, Sr. Weasley.
- O quê?! Eu também quero ir! Quero estar com o Harry!
- Ron, sabes bem que por mim podias ir, mas a tua mãe não acha boa ideia. Tenta compreender. Rapazes, agora venham que já é tarde.
Harry e Dudley saíram atrás do Sr. Weasley, deixando Ron amuado e a Sra. Weasley com um sorriso enternecedor, para trás. Harry, ao virar-se para se despedir de todos, ainda vê Dudley a acenar amavelmente para a Sra. Weasley e para Ginny, que lhe retribuíram com sorrisos calorosos. Achou aquilo estranho, mas depois ouviu a Sra. Weasley dizer:
- Harry, não te preocupes, nos teus anos estaremos lá todos!
- Harry, eu vou arranjar maneira de ir ter contigo! – mal acabou de dizer isto, Ron foi fulminado por um olhar severo da Sra. Weasley.
- Adeus, Harry! – Ginny quase teve de gritar para Harry a poder ouvir através dos gritos da Sra. Weasley, que ecoavam por toda a rua.
