Capitulo IV

Passou-se cerca de uma semana e Harry deu sempre a mesma desculpa em relação ao seu ferimento na mão. "Parti uma caneca e cortei-me ao apanhar os cacos." Obviamente que era esfarrapada de mais. Era madrugada e Harry estava a dormir. Começou a sonhar. Imagens terríveis de sangue, escuridão, dos cadáveres de Cedric, dos tios, de Sirius. Tudo isto envolvido numa banda sonora de gritos e risos maquiavélicos. De repente, acordou encharcado em suor. A cicatriz doía-lhe bastante e ele pôs a mão na testa, suplicando para que a dor parasse. Voltou-se para o lado e passou a noite em claro.

A manhã veio devagar e Harry estava no seu coma habitual quando Lupin bateu à porta.

- Harry! Dudley! Já são horas de acordar, seus dorminhocos! Vão lá tomar um banhinho enquanto eu faço o pequeno-almoço. Vão ver que ficam logo bem-dispostos!

- Pff... bem-disposto... – Harry revirou os olhos e levantou-se calmamente, enquanto Dudley saía apressadamente do quarto para poder tomar banho primeiro. Pôs os óculos e abriu a porta de rompante, decidido a esquecer o banho. No entanto, ao fazer isto dá um salto ao ver Ginny do outro lado com o punho fechado, pronta a bater à porta.

- Harry... – Ginny não sabia o que dizer e o seu rosto estava vermelho. Olhou Harry da cabeça aos pés, com aquele cabelo todo despenteado duma noite mal dormida e as calças do pijama a escorregarem-lhe, mostrando um pouco dos boxers. – Desculpa. Vim só saber se já estavas pronto. A Hermione está a ter uma discussão daquelas que já sabes com o Ron. – Harry sorriu.

- Obrigado, Ginny. Eu já lá vou ter convosco.

- Até já. – Ginny afastou-se, dirigindo-se às escadas. Harry olhou para ela e reparou como ela tinha crescido bastante ultimamente. Pensou, também, nos problemas que Ron teria em proteger a irmã, o que já se tinha provado no ano anterior.

Passado um pouco, Harry desceu já vestido e penteado.

- Parabéns a você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida... – Harry olhou surpreso para a cozinha onde lhe cantavam os parabéns... Com tanta tristeza e problemas até se esquecera do seu próprio aniversário. Esboçou um grande sorriso verdadeiro, do fundo do coração, coisa que não acontecia há bastante tempo. Viu Hermione, Ron, Ginny, Dudley (o malandro não fora tomar banho!), o Sr. e a Sra. Weasley, Lupin, Hagrid e Tonks. - ... para o menino Harry, uma salva de palmas!

Harry sentiu-se nas nuvens, um calor enorme enchera o seu coração e ele parecia flutuar. Ginny veio a correr com um pequeno embrulho na mão.

- Parabéns! – exclamou, estendendo-lhe o pacotinho. Harry abriu-o. Era uma volta com uma medalha com uma forma curiosa, metade lua e metade sol.

- Muito obrigado, é muito bonita mesmo. Queres-me pôr? – Ginny corou, envergonhada, mas aceitou. Pegou na volta e pô-la delicadamente no pescoço de Harry.

- Ainda bem que gostas, fica-te muito bem.

- Olha que eu acho isso mesmo gay! – Ron ria-se divertidamente, mas Ginny afastou-se, diriam alguns, com lágrimas nos olhos.

- És um cabrão insuportável! És mesmo insensível! – Hermione seguiu Ginny para fora da cozinha. Ron encolheu os ombros e rapidamente foram rodeados pelo resto dos convidados.

O resto do dia passou a correr, com uma simples festinha que foi acabando à medida que os convidados se iam embora. Ao fim da tarde, só restava Lupin, Dudley, Harry, Hermione, Ginny e Ron, que conseguiram convencer a mãe a ficar.

Á noitinha, Dudley já ressonava e Harry já estava deitado enquanto Ron vestia o pijama.

- Passa-me a minha t-shirt cinzenta, se faz favor. Está dentro dessa mochila. – Harry abriu a mochila de Ron e procurou a camisola. Encontrou-a e atirou-lha. – Obrigado. Vou lavar os dentes, volto já.

- Até já.

Ron saiu do quarto ainda a vestir a t-shirt, que lhe tapava a cara, e derrubou alguém. Com o susto, tentou desesperadamente enfiar a camisola, mas não conseguia, então tirou-a. Era Hermione quem ele tinha empurrado sem querer.

- Não tens cuidado nenhum, caramba! – Hermione olhou novamente para Ron, desta vez com olhos de ver, e ficou corada.

- Desculpa, foi sem querer. Estava com a cara tapada, nem te vi.

Ron estendeu uma mão a Hermione. Ela não disse nada, apenas pegou na mão de Ron, que a içou, ajudando-a a levantar-se.

- Bem, vou lavar os dentes. Boa noite. – Ron afastou-se em direcção à casa de banho, ainda a tentar vestir a t-shirt. Por fim, conseguiu enfia-la e virou-se para trás ao ouvir a voz de Hermione.

- Err... Ron! – Hesitou. Não sabia o que dizer. Ou melhor, sabia, mas não sabia como.

- Sim? – Ron corou e sentiu o seu coração bater mais rápido.

- Bem... Devias vestir a roupa no quarto para não ires contra as pessoas. – disse aquilo muito rápido e soou-lhe bastante mal.

- Ah, ok. Boa noite.

- Dorme bem. Sonha com o que te fizer mais feliz.

- Sonho contigo... – mas ninguém ouviu o que Ron respondeu, pois ele limitou-se a murmurar as palavras para ele próprio.

Entretanto, no quarto dos rapazes, Harry lembrou-se da corrente que Ginny lhe dera e pegou nela, olhando-a cuidadosamente. Achou-a extremamente bela e, minutos depois, adormeceu, mergulhado em pensamentos sobre almas gémeas, sóis e luas. No entanto, a meio da noite, Harry foi acordado com uma forte dor na cicatriz. Contorceu-se com as dores e só passados uns minutos se deu conta que estava deitado no chão frio da cozinha. "Estas merdas nunca mais acabam, foda-se!", pensou irritado. Cambaleando, dirigiu-se ao quarto. O primo estava aninhado debaixo dos cobertores, Ron estava todo esticado de barriga para cima, dormindo de boca aberta, mas nem esta imagem alegrou Harry. Deitou-se e fechou os olhos com força, encolhendo-se nos cobertores. Desejou entrar em coma e só acordar quando tudo de mal acabasse. A dor cada vez era mais forte. "Só dormir um bocadinho, só um bocadinho..." Harry abriu a sua mochila e tirou os seus comprimidos para dormir. Tomou dois a seco. Uma dor forte atingiu-o em cheio mais uma vez. Tomou mais três. Começou a arrastar-se até à cama. Ficou tudo enevoado, já não sentia a dor, mas a cabeça pesava-lhe como chumbo. Caiu no chão e o seu espírito foi sossegando. Por fim, caiu num vazio e adormeceu.