Capitulo VII

Já nas carruagens que os levavam para Hogwarts, Harry olhava para a chuva que caía, enquanto Ron discutia com Ginny, dizendo que ia matar Dean por não a ter ajudado, ao que ela respondia que ele não sabia que ela estava em perigo e que sabia muito bem tomar conta de si própria. Luna sentara-se à beira de Harry e pegara na sua mão. Harry não disse nem fez nada, precisava muito de carinho e o conforto duma mão quente em contacto com a sua mão gelada, fazia-o sentir muito bem. Hermione fora com Dudley nos barcos com Hagrid e os alunos do primeiro ano, pois ele seria o seu novo tutor.

Quando chegaram ao salão, Tonks chamou Harry para ir com ela ver o Director. Seguiu-a, já sabia que era por causa de Malfoy, mas ele não estava para levar com as tretas de Dumbledore nem de ninguém.

- Porquê que não disseste que ias ser a nova professora de Defesa Contra as Artes Negras?

- Ainda não tinha a certeza. É que eu não sou professora, mas como não havia mais ninguém para o lugar...

- De certeza que serás óptima para o lugar. – Tonks sorriu e deu uma palmada no ombro de Harry. Chegaram ao escritório de Dumbledore e Malfoy estava sentado com a cara fechada. Harry não conseguiu evitar um leve sorriso.

- Bem-vindo, Harry. Por favor, senta-te. – disse Dumbledore, apontando gentilmente para uma cadeira. Harry sentou-se ao lado de Malfoy e reparou que ele tinha os punhos fechados com tanta força que os nós dos dedos até estavam brancos.

- Certamente já sabes porque estás aqui. Gostava de saber a tua versão dos acontecimentos de hoje com o jovem Malfoy.

Harry sentiu um prazer sádico em queimar Malfoy, por isso fez um esforço enorme para parecer abalado com a situação. Contou o sucedido, dramatizando um pouco, talvez.

- Bem, pode ir para a festa, a Professora Tonks acompanha-o. – disse Dumbledore a Malfoy. Este levantou-se dum salto. – E não se esqueça do seu castigo.

- Não se preocupe. – respondeu Malfoy, com um ar visivelmente furioso, saindo da sala apressadamente.

- Quanto a ti, Harry, aconselho-te a não... hmm... a afastares-te de problemas e confusões com os teus colegas, especialmente o jovem Malfoy. E tenta adaptar o teu primo. Ah, é verdade. Ele também está de castigo por ter agredido o jovem Crabbe. É tudo, podes ir e tenta divertir-te.

- Desculpe, mas eu não procuro problemas, nunca procurei. Toda a gente sabe que só quero que me deixem em paz. – Harry teve de desencantar uma força sobrenatural para não perder a calma. – E o meu primo só defendeu a Ginny. Se não fosse ele, ela podia estar muito magoada.

- Eu sei, mas isso não justifica a violência, espero que compreendas. E não tens de te preocupar, os jovens Crabbe e Goyle também estão castigados.

Harry levantou-se e começou a dirigir-se à porta.

- Boa noite, senhor director.

- Boa noite, Harry.

Harry saiu a resmungar e dirigiu-se ao Salão. Resolveu comer rapidamente e não ficar na festa. Ao aproximar-se da mesa dos Gryffindor, Ron começou a acenar-lhe para ele se apressar. Finalmente, quando se sentou, Hermione passou-lhe um monte de bilhetes.

- Estavam aqui no teu lugar, não sei quem os pôs. Peguei para ninguém os tirar.

- Estranho, quem poderá ser? – Harry, intrigado, começou a abrir os bilhetes. – Ajudem-me aqui, vão abrindo também.

"Amo-te muito, Harry. És o meu herói. Não consigo viver sem ti."

- O quê? Isto só pode ser uma brincadeira. – Harry estava cada vez mais perplexo. De repente, Ron começa a rir às gargalhadas.

- "Harry, amo-te mais que tudo na vida. Casa comigo. Beijos, Jane" – uma explosão de gargalhadas fez-se ouvir à volta de Harry, quando Ron acabou de ler o bilhete. Só Ginny e Hermione não acharam muita piada e o próprio Harry só queria esconder-se num buraco.

- Ouçam esta. – Dudley chorava de tanto rir e tentou ganhar fôlego para ler o próximo bilhete – "Não consigo parar de pensar em ti, nem pararia se conseguisse, porque estou apaixonada por ti e sempre estarei e agora digo-te que és único no meu coração."

Mais uma explosão de gargalhadas. Os alunos das outras mesas já olhavam intrigados para lá e passado um pouco já toda a escola sabia do que se passava.

- Não acredito nisto... – murmurou Harry enquanto enterrava a cabeça nas mãos.

Ron olhava para trás, enquanto Harry recolhia os bilhetes, que já circulavam por toda a mesa dos Gryffindor.

- Harry, olha-me para aquela boazona na mesa dos Slytherin.

- Oh, francamente... – Hermione revirou os olhos, enquanto Harry olhava para trás, na direcção que Ron lhe indicava com a cabeça. Foi então que os seus olhos se depararam com a rapariga mais bela que alguma vez vira. Cho, ao seu lado, não valia um galeão furado e Harry estivera vidrado na sua beleza durante muito tempo.

- Vocês, homens, são todos iguais. – disse Hermione, visivelmente irritada. – Será que não podem parar de pensar em grandes pares de mamas e reparar antes na beleza interior?

- Hermione, não te ponhas moralismos. A gaja é boa, nós estamos livres, podemos olhar. Assunto resolvido!

Hermione ficou escandalizada com a resposta de Ron e levantou-se da mesa.

- Estão livres porque querem! – exclamou. Depois, saiu do salão, mas não antes de mandar um olhar de repulsa em direcção à estranha rapariga e, depois, a Ron.

- Se calhar não quero, mas pronto. – Atirou-lhe Ron, olhando-a a caminhar para fora do salão.

- Ó priminho, aguentavas-te com uma toura destas?

Os três passaram o resto do jantar na galhofa, mas Harry estava preocupado. Não sabia bem porquê, mas sentia-se incrivelmente atraído por aquela rapariga e, também estava preocupado com aqueles bilhetes todos que recebera. Será que as raparigas gostavam mesmo dele? Estes seus pensamentos foram interrompidos pela voz do seu amigo Ron:

- Olha, o que achas que a Hermione quis dizer com eu me dever preocupar mais com as minhas relações?

- Hmm? – Harry estava a leste e não percebia donde vinha aquilo.

- Hoje, no Expresso de Hogwarts, não te lembras?

- Ah, sim! Já me lembro. Olha, queres um conselho? Porquê que não perguntas isso à própria Hermione?

- Não sei. – Ron ficara tão encarnado como a sua camisola. – Olha a rapariga está-se a levantar e o Malfoy está a olhar muito para ela. Já viste a cara dele se te visse com ela?

- Não sei. Não me apetece muito envolver com ninguém e é impossível alguém como ela olhar para mim. – Harry começou a sentir-se deprimido e, para piorar a situação, viu Cho a levantar-se com Michael Corner e afastarem-se os dois de mãos dadas.

- Harry, só porque a Cho é uma menina estúpida que te trocou por aquele convencido, aproveitador de raparigas inocentes, não quer dizer que ninguém se vá interessar por ti e a prova disso são estes bilhetes das tuas fãs.

- Ron, não percebes? Elas estão iludidas! Só gostam de mim porque sou o rapaz que enfrentou o Voldemort e essas tretas todas. Se eu fosse um gajo normal ninguém me ligava nenhuma. – Harry baixou os olhos e sentiu-se mal. – Vou-me deitar. Boa noite. – dito isto, levantou-se bruscamente e saiu apressadamente do salão. Ron e Dudley seguiram-no de perto, mas ninguém falou até chegarem ao retrato da Dama Gorda.

- Is (senha) est. – murmurou Ron e logo apareceu a entrada para a sala dos Gryffindor.

Quando entraram nos dormitórios, Dudley, Neville e Seamus já estavam na cama e Ron ficou subitamente irritado ao ver a cama de Dean vazia.

- Onde está o Dean? – grunhiu ele para os outros dois que ainda estavam acordados.

- Não sei. A última vez que o vi estava a sair do salão com a tua irmã. – respondeu Seamus indiferentemente.

- O QUÊ?! – Ron ficou de tal maneira furioso que as suas orelhas ficaram vermelhíssimas. Dudley deitou-se na cama e tapou tudo e Harry continuou a vestir o pijama, agora mais divertido com a reacção do amigo.

- Oh, pá, deixa lá a tua irmã. Ela sabe muito bem o que faz.

- Era só o que me faltava! Ele vai ver! Vou ficar na sala comum à espera deles e vou partir a cara ao Dean! – e saiu do dormitório apressadamente e a praguejar incansavelmente. Harry suspirou fundo, tentando arranjar paciência, e seguiu-o.

- É melhor ir com ele antes que ele faça alguma coisa estúpida. Boa noite.

- Boa noite, Harry. – respondeu Seamus ao mesmo tempo que bocejava.

- Queres ajuda? - Neville começara a levantar-se.

- Não, Neville, muito obrigado, mas não é preciso. Quer dizer, ajuda só o meu primo se ele precisar, está bem?

- Claro, então boa noite.

- Já sabes, Dudley, qualquer coisa fala com o Neville.

- Ok, boa noite.

Harry saiu e ficou na sala comum a tentar acalmar Ron, que andava dum lado para o outro sem parar. O tempo passou e eles nunca mais vinham. Harry, começou a sentir os olhos muito cansados e adormeceu sem dar por isso. Acordou, passado algum tempo, com os gritos de Ron, de Dean e de Ginny.

- ANDAS AÍ A COMER A MINHA IRMÃ! GINNY, SAI DA FRENTE QUE EU MATO ESSE GAJO! – Ginny estava à frente de Dean com a varinha na mão, enquanto Ron arregaçava as mangas e ameaçava Dean.

- Ron, pára com essas merdas. A tua irmã já não é uma criança, não tens nada que te meter na vida dela. – Harry aproximou-se de Ron e tentou baixar-lhe os punhos que ameaçavam Dean.

- Então também estás do lado dele? Não acredito!

- Ron, deixa de ser... – mas Harry não teve tempo de acabar o que ia dizer. De repente, sentiu as pernas moles e desmaiou. Dentro da sua mente começou a cair na escuridão, como se caísse num abismo e ouvia risos maquiavélicos, que ecoavam insuportavelmente na sua cabeça. Subitamente, a escuridão dissipou-se e viu uma floresta negra e, ao longe, uma pessoa a fugir e a gritar. Ele corria atrás da pessoa e cada vez conseguia aproximar-se mais dela e sentir o cheiro do medo. Quando estava perto o suficiente para ver quem era, sentiu uma grande dor na cicatriz e despertou com um grito. Estava no chão da sala comum com a cabeça no colo de Ginny, que olhava preocupadamente para ele, enquanto lhe afagava o cabelo.

- Harry, que aconteceu? Sentes-te bem?

- Sim, quer dizer... Mais ou menos. – Harry tentou levantar-se, mas sentiu outra dor forte na testa e teve de se voltar a deitar. Pôs a mão na face e viu que tinha sangue.

- Fica quieto, o Dean e o Ron foram chamar a professora McGonagall e a Madam Pomfrey. Eu tomo conta de ti. – Ginny acariciava gentilmente a cabeça de Harry e limpava-lhe carinhosamente o sangue da face com a manga do manto. – Tens aqui um corte feio.

- Como é que isso aconteceu?

- Caíste para a frente e os óculos partiram-se e cortaram-te. Mas não te preocupes, eles devem estar a chegar.

E nesse preciso momento entraram a professora McGonagall e Ron. A professora aproximou-se rapidamente de Harry e ajoelhou-se a seu lado, olhando-o preocupada.

- Que aconteceu? Estás bem?

- Estou mais ou menos. Dói-me a cabeça.

Logo a seguir chegou Dean com a Madam Pomfrey. Harry foi transportado para a enfermaria e passou lá o resto da noite. Estava intrigado com o sonho que tivera, mas resolveu não contar a ninguém e adormeceu rapidamente depois de tomar uma poção para dormir. Adormeceu e perdeu-se numa floresta sem luz.