Capitulo VIII
- RON! – Harry acordou bruscamente com o corpo todo suado. Tivera o sonho outra vez, mas desta vez percebera que quem fugia era a Sra. Weasley. Uma sensação de medo e terror encheram o seu coração. Ao ouvir os seus gritos, Madam Pomfrey correu ao seu encontro e quando lá chegou ele já estava levantado, tentando agarrar-se às camas da enfermaria para alcançar a porta.
- Harry, que se passa? Não estás em condições de andar por aí, estás muito fraco! – Madam Pomfrey agarrou-o e tentou encaminha-lo para a cama. Um rapazinho do primeiro ano, que estava lá a curar uma pequena constipação por ter caído ao lago, acordou e ficou a olhar espantado para Harry.
- Tenho de falar com o Ron! A Sra. Weasley... tenho de... – E não acabou o que estava a dizer. Ficou sem forças e desmaiou nos braços de Madam Pomfrey. Só se lembra de acordar, não sabia quanto tempo tinha passado, e de estar rodeado por Madam Pomfrey, a professora McGonagall e Dumbledore.
- Harry, o que aconteceu? Temos estado bastante preocupados. – Dumbledore conseguia transmitir uma certa calma até nos momentos mais difíceis.
- Aconteceu uma coisa terrível! A Sra. Weasley... Por favor, têm de ir à Toca salva-la!
- Nós vamos verificar isso. Minerva, acompanhe-me, por favor. – Dumbledore deixou a enfermaria seguido da professora McGonagall, os dois com expressões bastantes preocupadas. Entretanto a Madam Pomfrey acalmou Harry e deu-lhe mais uma poção para ele conseguir dormir. Afinal, ainda era de madrugada.
De manhãzinha, Harry foi acordado por Hermione, que foi até à enfermaria com Neville.
- Harry? Estás acordado? – sussurrou ela ao seu ouvido, enquanto lhe acariciava o cabelo para ele acordar. Ele acordou e reparou que os seus olhos estavam vermelhos e inchados.
- Hermione... Aconteceu alguma coisa? – o seu coração batia muito rápido e ele sentiu muito medo da resposta, mas não foi Hermione que respondeu, mas sim Neville, pois ela desatou a chorar.
- Foi uma tragédia. A mãe do Ron... foi atacada.
- O quê? – Harry sentiu um aperto no estômago. Ele tivera a visão, mas não dissera nada a ninguém. Pensara que era um sonho normal, nem sequer conseguira perceber que se tratava da Sra. Weasley. Só enquanto dormia é que percebeu e quando avisou Dumbledore já era tarde de mais.
- Harry, a Sra. Weasley está morta! Um bando de Devoradores da Morte entraram n' A Toca, quando ela estava sozinha e atacaram-na! Perseguiram-na pela floresta ao pé de sua casa e acabaram por apanha-la e, depois de a torturarem, usaram a maldição Avada Kedavra! – Hermione começou a chorar muito e Madam Pomfrey teve de a levar e acalmar com uma poção. Harry não tinha reacção. Sentia-se culpado. Ele vira tudo e não fizera nada. Uma sensação horrível cresceu no seu coração, ele sentia-se um assassino. De repente, veio a si e mostrou toda a sua fúria e dor.
- NÃO! – saiu da cama e começou a partir tudo. Partiu a jarra de flores que estava na sua cabeceira e pegou num caco, que rapidamente usou para cortar o pulso. "Consegui.", pensou e perdeu os sentidos, desta vez nos braços de Neville.
Harry acordou quase à hora do almoço. "Foi tudo um pesadelo.", pensou, mas logo Madam Pomfrey se aproximou.
- Harry, lamento muito o que aconteceu. Vou cuidar de ti agora e vê se colaboras. - O coração de Harry esvaziou-se como uma balão.
- Então... não foi tudo um sonho? – Harry olhou para o pulso e viu uma firme ligadura, acariciou a face e sentiu um corte, pôs as mãos nos olhos e chorou.
- Lamento muito, a sério. Agora é melhor descansares e vê se comes a comida toda que te pus aqui. – Madam Pomfrey pousou o tabuleiro com o almoço e limpou as lágrimas de Harry, afastando-se de seguida. Harry ainda esteve um bocado assim, a chorar silenciosamente sem querer comer nem fazer mais nada, mas depois mentalizou-se de que iria comer, pois agora tinha mais uma morte para vingar, ou não se chamava Harry Potter.
Ao pegar no tabuleiro, Harry reparou que a sua mesinha de cabeceira estava a transbordar de cartões de melhoras e flores. Confortado com o pensamento dos cartões serem dos seus amigos, resolveu abri-los. O primeiro era de Colin, o segundo de Luna, mas Harry ficou surpreendido ao ver que o terceiro já não era dos seus amigos, mas sim duma suposta fã. Continuou a abrir os restantes e eram todos de raparigas que diziam estar apaixonadas por ele.
- Só me faltava esta agora... – murmurou Harry a guardar os bilhetes antes que o rapaz do primeiro ano, que o olhava atentamente, reparasse neles. No entanto, reparou num cartão muito discreto que estava escondido no meio de tantos cor-de-rosa com corações e coisas do género. Harry pegou nele e viu que era de Cho.
"Querido Harry,
Espero que estejas melhor, já toda a escola sabe o que aconteceu. Eu sei que és muito nobre e corajoso e, por isso, queres o bem de toda a gente, mas sair da escola para lutar com o "Quem Nós Sabemos" para tentar salvar a mãe do teu amigo não foi lá muito seguro. Talvez para a próxima devas contar a alguém antes de tomares uma atitude. Desejo-te sinceramente que melhores.
Beijos,
Cho
PS: Eu sei que deve ser mau ficar com um... bem... "tu sabes o quê" estorricado, mas não fiques complexado, nós gostamos de ti pela pessoa que és."
- Não acredito nisto... – Harry estava de boca aberta, completamente pasmado com a carta de Cho. – MADAM POMFREY! MADAM POMFREY!
- Sentes-te mal? Aconteceu alguma coisa? – Madam Pomfrey apareceu a correr com um ar bastante preocupado.
- Desculpe, mas será que me pode dizer o que significa isto? – Harry passou-lhe a carta de Cho, que ela leu atentamente não conseguindo evitar alguns sorrisos.
- Bem, Harry... Parece que correm uns boatos de que... – Sussurrou divertida o resto da frase ao ouvido de Harry, que ficou ainda mais pasmado. – Mas não te preocupes, são só boatos. Agora descansa para amanhã voltares às aulas.
Harry ficou estupefacto a olhar para Madam Pomfrey que se afastava, mas rapidamente se lembrou de coisas mais sérias e perdeu-se nos seus pensamentos, enquanto o rapaz do primeiro ano o observava intrigado.
Na manhã seguinte, Harry dirigiu-se para a aula de Transfiguração com Neville e Hermione. Sentaram-se os três juntos, trocando novidades, quando a professora McGonagall não olhava.
- O Ron está muito mal, aliás estão todos, mas ele... Não sei se ele vai ser capaz de ultrapassar isto. – Hermione estava bastante perturbada e os seus olhos enchiam-se constantemente de lágrimas.
- Ele está n' A Toca, certo?
- Sim, ele e a Ginny foram logo para lá. Voltam para a semana. Mas, e tu? O que aconteceu realmente nessa noite? – Neville e Hermione olharam-no atentos, mas ele não queria falar do assunto, no entanto suspirou e tentou arranjar forças.
- Eu desmaiei. Foi só isso, fiquei fraco e desmaiei. – Harry decidira ocultar a sua visão, não queria que lhe atribuíssem as culpas pela morte duma pessoa que ele tanto gostara, que fora a mãe que ele nunca tivera. Esforçou-se para conter as lágrimas e continuou a tentar fazer a sua rã desaparecer.
- Então foi tudo coincidência?
- Claro que foi, Hermione. – mentiu ele.
- Sabes, na escola dizem que tu foste salvar a Sra. Weasley do "Quem Nós Sabemos" e perdeste um tomate à conta disso. – Neville não conseguiu evitar um sorriso ao dizer isto. Até mesmo Hermione esboçou um trémulo sorriso, enquanto limpava um fiozinho de lágrimas que escorria na sua face.
A seguir às aulas, Harry, Hermione e Neville, dirigiam-se para o Salão quando Cho se aproximou e interceptou Harry.
- Olá. – disse suavemente, enquanto corava um pouco.
- Olá. – Harry respondeu friamente enquanto a contornava para continuar a sua caminhada até ao Salão. Ela apressou-se a segui-lo.
- Espera um pouco, eu gostava de falar contigo.
- O que é? – Harry estacou subitamente, fazendo com que ela fosse contra ele. O contacto mexeu com ele. Ela era linda e sentir o seu corpo contra o seu, fez-lhe um arrepio na espinha.
- Harry, o que se passou connosco... bem, acho que te devo um pedido de desculpas. – Cho levantara a mão para acariciar o corte bastante evidente na face de Harry, mas ele rapidamente a impediu.
- Não há mais nada para falar, Cho. – Harry largou a mão de Cho violentamente e começou a andar através dos corredores.
- Mas... mas eu gosto mesmo de ti! – Cho tinha os olhos cheios de lágrimas.
- Não, não gostas. Tu só gostas dos rapazes mais populares. – Harry sentiu-se usado e extremamente irritado com Cho. Só a queria magoar, tal como ele estava magoado. – "Ai, vou namorar com o Cedric, que é o rapaz mais popular da escola! Oops, o Cedric morreu, vou namorar com o Harry, ele é muito famoso!" – imitou-a.
- Como podes ser assim tão cruel? – Cho começara a chorar e a correr pelo corredor fora. Harry ficara extremamente irritado e dera um pontapé forte à parede, magoando-se nos dedos do pé.
- Foda-se! – praguejou, atirando a mochila para o chão para agarrar o pé.
- Algum problema? – uma voz doce ecoou nos ouvidos de Harry. Olhou para trás e viu a rapariga do banquete. "Tinha de ser logo neste momento...", pensou.
- Nada de especial, só dei ali com o pé, mas está tudo bem.
- Consegues andar? – Harry só conseguia olhar para o seu rosto lindo. Os seus lábios carnudos excitavam-no e ele, ao notar isso, tentou disfarçar com o manto enquanto corava.
- Está tudo bem, obrigado.
A rapariga apanhou a sua mochila e ao baixar-se, Harry viu o seu decote e sentiu mais uma onda de calor. Ela sorriu ao estender-lhe a mochila. Olhou-o penetrantemente com os seus olhos azuis como gelo e ele sentiu uma dor na cicatriz. "Não, por favor, agora não."
- Estás mesmo bem? Se fores jantar posso-te acompanhar até ao Salão.
- Era uma honra se o fizesses. – Harry pegou na sua mochila e ela deu-lhe o braço. Entraram no salão e toda a gente os olhou com curiosidade. Separaram-se quando ela se dirigiu à mesa dos Slytherin e ele à mesa dos Gryffindors.
- Até breve, Harry! – deu-lhe um leve beijo na face, que o fez voar até à lua e ficar mais vermelho que um tomate. Como é que ela sabia o seu nome? Que pergunta! Ele era Harry Potter, não enganava ninguém. Mal se sentou na mesa no meio de Hermione e Dean, foi bombardeado de perguntas.
- Quem é aquela? – começou Parvatti.
- É tua namorada? – perguntou Dean.
- Deixem-me comer em paz, se faz favor. Eu só me magoei e ela ajudou-me, só isso. – Harry começou a comer rapidamente para ninguém o chatear. Não conseguia pensar em mais nada a não ser naquela rapariga. Os colegas sorriam maldosamente. Olhou para trás subtilmente e viu a rapariga conversar animadamente com uma rapariga dos Slytherin. Também viu Malfoy olhar para ele maldosamente, enquanto Pansy acariciava os seus cabelos. Subitamente, Malfoy dá um empurrão a Pansy e afasta-se. Harry não conseguiu evitar um sorriso. Detestava Pansy quase quanto detestava Malfoy.
- Harry, queres que espere por ti para irmos fazer os trabalhos de casa?
- Hmm? Não, Hermione, deixa estar, ainda tenho de ir ver o meu primo e o Hagrid.
- Manda-lhes beijinhos meus. Encontramo-nos na sala comum. Até logo.
Hermione afastou-se e logo Harry acabou de comer e se apressou a sair do castelo em direcção à cabana de Hagrid. Bateu à porta e foi Dudley que a abriu.
- Primo! Então, como estás? Olha, tenho tido tanto trabalho! Ao princípio era um bocado chato, mas isto é tão divertido! – Harry não conseguiu evitar um sorriso enquanto entrava na acolhedora cabana, agora com mais uma cama.
- Onde está o Hagrid?
- Está na floresta. Ele vai lá muitas vezes, sempre que não tem mais trabalho.
Harry lembrou-se de Grawp e percebeu que essa era a razão pela qual Hagrid passava muito tempo na floresta. Provavelmente procurava por ele.
- Bem, então se está tudo bem, vou-me. Tenho trabalhos para fazer.
- Está bem. Até depois.
- Até depois, Dudley.
Harry saiu para o fresco da noite. Sentiu o vento no seu cabelo, na sua face. Caminhou vagarosamente até ao castelo, saboreando o momento. Quando chegou ao retrato da Dama Gorda, Cho estava lá sentada à sua espera.
- Sai do caminho, quero entrar. – disse Harry friamente.
- Não! Primeiro vamos conversar. – respondeu determinada.
- Olha, levanta-te daí! Por favor, Cho, não estou com paciência!
- Mas vais ter de ter. O que é isto? – Cho estendeu-lhe um bilhete.
"Ou te afastas do Harry ou eu mato-te, minha puta sebosa! Isto não é uma ameaça, é um aviso!"
- Que brincadeira é esta? – Harry começou a ficar chateado.
- Isso pergunto eu! Harry, é melhor fazeres alguma coisa quanto a isto, senão és tu que as pagas! – Cho pegou no bilhete e rasgou-o, atirando-lhe com os papéizinhos, que ele ficou espantado a ver cair no chão. Entrou na sala comum, enquanto Cho se afastava rapidamente. Hermione estava numa mesa a fazer os trabalhos com Neville.
- Harry! Ainda bem que chegaste.
- Olá. – Harry sentou-se e começou a tirar os seus livros da mochila.
- Então... tudo bem?
- Olha, nem imaginas! Estava eu a vir todo contente para o sossego da sala comum e encontro a Cho, sentada à frente do retrato da Dama Gorda.
- A sério? Veio insistir novamente para voltares? - perguntou Neville com um pequeno sorriso nos lábios.
- Não, veio-me mostrar um bilhete que lhe mandaram a ameaça-la de morte por andar atrás de mim.
- Oh! A sério? – Hermione apareceu por detrás do seu livro de Runas Antigas. – Quem fez isso?
- Pá, não sei. Também tenho mais em que pensar. Vou dormir, não consigo fazer nada.
- Está bem, boa noite.
- Boa noite, Harry.
- Boa noite.
Harry subiu as escadas em direcção aos dormitórios. Chegou lá e vestiu o pijama, desta vez com mais à vontade, pois não estava lá ninguém. Ele não queria mostrar as suas cicatrizes a ninguém, eram coisas dele. No entanto, quando estava a vestir a camisola, Neville entrou no quarto.
- Harry, precisamos de falar.
- Não vês que me estou a vestir? Quem te mandou entrar? – Harry estava furioso, não queria partilhar as suas cicatrizes com ninguém, já bastava a que tinha na testa.
- Desculpa, não queria interferir na tua privacidade. É sobre o que se passou na enfermaria que queria falar contigo.
- Não tenho nada para falar com ninguém. – Harry enfiou-se na cama e tapou-a com as cortinas, ignorando Neville.
- Está bem, eu vou embora. Mas se precisares de alguma coisa não hesites em dizer.
Harry ouviu os paços de Neville a afastarem-se e largou um soluço. Começou a chorar muito, abraçando a sua almofada e chamando a sua mãe. Ficou assim muito tempo, perdido nas suas mágoas, até que adormeceu.
De madrugada, Harry acordou no chão frio da sala comum. Estava com umas dores insuportáveis na cicatriz e mal conseguia abrir os olhos. Tacteou o chão à procura dos óculos, mas não os encontrou. Quando a dor abrandou, começou a tentar dirigir-se aos dormitórios, mas além de estar tudo escuro, via tudo enevoado. Outra dor forte atingiu-lhe a testa. Agora já lhe doía a cabeça toda. Contorceu-se no chão, gemendo de dor. Cada vez isto acontecia com mais frequência, cada vez mais pessoas eram torturadas e mortas por Voldemort. Harry agarrou firmemente a corrente que Ginny lhe dera, como que à procura de forças para suportar as dores. Passado um pouco acalmaram e ele deixou-se ficar encolhido no chão até aparecerem os primeiros raios de sol.
