Capitulo IX
No dia seguinte, Harry sentia-se extremamente desconfortável. Estava cheio de dores no corpo e doía-lhe a cabeça por não dormir nem se alimentar direito.
- Estás a ficar tão magrinho e pálido! Faz um esforço e come mais uma torrada! – Hermione estava sempre a insistir para ele comer.
- Não me apetece. Não insistas.
Acabaram de comer e dirigiram-se para as masmorras. Iam ter a primeira aula de poções do ano com Snape e os Slytherin.
- Hermione, quando é que o Ron volta?
- Não sei. Estou tão preocupada. – Hermione limpou uma lágrima e juntos entraram na aula.
- Potter! Fiquei bastante surpreendido com a nota do seu NPF. Espero que ninguém com a mania que sabe tudo tenha usado uma poção para o ajudar, já que nas minhas aulas sempre foi bastante inteligente... em comparação a um troll. – deitou um olhar a Hermione e esboçou um sorriso maldoso. Ouviram-se risos no lado dos Slytherin.
- Que cabrão... – sussurrou Harry ao ouvido de Hermione.
- Não te preocupes. Pelo menos não temos de aturar o Crabbe e o Goyle. Agora tenta não arranjar confusões.
Harry começou a tirar notas, tentando ignorar o facto de estar numa sala cheia de Slytherins e tentando perceber como é que a burra da Pansy Parkinson tinha conseguido tirar boa nota no NPF de Poções. E foi aí que se lembrou da rapariga misteriosa. Olhou descaradamente para o lado oposto da sala e tentou procura-la. Encontrou-a. Estava numa mesa da frente. Sempre linda, sempre extraordinariamente bela...
- Potter! – Harry saltou com o susto e deixou cair os livros no chão, fazendo toda a gente olhar para ele. – É escusado, não é? Cinco pontos a menos para os Gryffindor, pela sua exímia atenção.
Harry começou a praguejar baixinho enquanto apanhava as suas coisas do chão. Quando olhou para cima novamente, não evitou olha-la e, desta vez, foi correspondido. Os seus olhos de um azul vivo olhavam-no também e ele sentiu um arrepio na espinha.
- Harry, está atento ou o Snape continua a implicar contigo! – foi acordado pelas palavras de Hermione, que eram bastante sábias nesta altura. – Ai! Que olhos frios, falsos...
- Está calada! Ela é a rapariga mais linda que alguma vez vi.
- Eu não a conheço, mas aqueles olhos... Não sei se devias confiar nela.
- Não me chateies!
- Pronto, desculpa...
Continuaram a trabalhar em silêncio até que a campainha tocou e saíram para o intervalo.
O resto da semana foi o mais normal possível. Harry passou quase todo o tempo a distrair-se com os estudos, começou a comer e a dormir melhor, de vez em quando recebia um ou outro bilhete de fãs, cruzava-se muitas vezes com a rapariga misteriosa e Malfoy continuava com as bocas foleiras. Pensava muitas vezes no Quidditch, mas estava conformado com a ideia de que tinha de esperar pela chegada dos Weasley para formarem a equipa e nomearem o novo capitão.
Nesse fim-de-semana, Ron e Ginny voltaram a Hogwarts. Os dois estavam bastante abalados. Na sala comum, Ginny abraçou-se a Neville a chorar, enquanto Harry se aproximava de Ron, que se afundara na poltrona em frente à lareira.
- Ron? Como estás?
- Pá, nem fales comigo, está bem? A culpa é toda tua!
Harry sentiu-se culpado, mas injustiçado ao mesmo tempo.
- O que estás para aí a dizer?
- SERÁ QUE NÃO PERCEBES? NÓS TODOS QUASE MORREMOS POR TUA CAUSA E TU AINDA TENS A LATA DE NÃO AJUDAR A MINHA MÃE! ELA SEMPRE TE TRATOU COMO UM FILHO! PORQUÊ QUE QUISESTE QUE ELA MORRESSE, PORQUÊ? SÓ PORQUE TENS ESSA CICATRIZ PENSAS QUE ÉS O DONO DO MUNDO! EU TAMBÉM TENHO A CARA CHEIA DE CICATRIZES E NÃO ME ORGULHO DISSO! – Ron levantara-se e estava vermelho de raiva. Neville sentara Ginny, que estava cada vez mais inconsolável, numa cadeira e tentou aproximar-se de Ron, acalmando-o.
- ESTOU FARTO DISTO! EU NUNCA VOS OBRIGUEI A VIR COMIGO PARA LADO NENHUM! ACHAS QUE GOSTO DE SER QUEM SOU? EU SÓ QUERIA SER UM RAPAZ NORMAL! EU GOSTAVA DA TUA MÃE COMO SE FOSSE A MINHA PRÓPRIA MÃE! CALA-TE! NÃO PERCEBES NADA DO QUE ESTOU A SENTIR! NINGUÉM PERCEBE!
Harry atirou com um jarro á parede e saiu da sala comum a chorar. Estava vermelho de raiva e o seu coração galopava no seu peito. Como é que o seu melhor amigo teve a lata de o acusar de tal coisa? A desilusão e a tristeza enchiam o seu coração. Entrou numa casa de banho e partiu o espelho. Pegou num caco e cortou a cicatriz que tinha na testa. O sangue escorria pela sua face enquanto a cortava de vários ângulos. Sentiu dores muito fortes, mas não se importou. Só queria que aquela cicatriz desaparecesse, não queria ser mais o "Rapaz da Cicatriz", o "Rapaz que Sobreviveu".
Passado uns segundos de mutilação, ouviu vozes e passos a aproximarem-se. Atirou o caco para o lavatório e saiu do quarto de banho com a testa toda cortada, a escorrer sangue, dando um encontrão a quem quer que fosse que ia a entrar. Passou por um grupo de alunos do primeiro ano que o olharam perplexos.
- NUNCA VIRAM?? – gritou, assustando-os. Continuou a andar apressado, deixando um rasto de sangue pelo chão, até chegar lá fora. O tempo estava frio, um Outono normal, mas ele não se importou. Começou a chover e o sangue misturou-se com as gotas de chuva que caíam, mas isso também não importou. Atirou os óculos ao chão e pisou-os. Atirou-se ao lago e nadou para o mais fundo possível. A água gelou-o e a luz desaparecia à medida que ele nadava mais para baixo. Começou a ficar sem fôlego, cada vez mais. Lembrou-se dos pais, de Sirius, da Sra. Weasley e fechou os olhos mergulhando na escuridão.
