Capitulo X

Harry acordou e sentiu-se muito mal. Estava encharcado, deitado no relvado frio. Sentia a chuva e o vento gelarem-lhe as entranhas e estava muito nauseado e com dores de cabeça. A cicatriz ardia-lhe bastante. Abriu os olhos e viu tudo enevoado.

- Harry, ainda bem que estás bem. – era a voz de Ron. Uma voz trémula e receosa.

- Tenho frio... – disse Harry a tremer e com a voz fraca.

- Desculpa, não te posso dar o meu casaco, estou encharcado. Espera um pouco, o Neville... – mas Harry não ouviu o resto, porque ficou sem sentidos novamente.

Quando acordou estava na enfermaria outra vez. Hermione estava abraçada a Ron a chorar, enquanto ele lhe acariciava suavemente os cabelos. Harry passou a mão pela cicatriz e sentiu vários cortes. A sua cicatriz estava deformada, mas ainda se notava bem.

- Harry, estás bem? – Ron e Hermione apressaram-se a chegar ao seu lado.

- Olá. – respondeu Harry tristemente.

- Estávamos muito preocupados. Nunca mais voltes a fazer algo assim! – Hermione limpava as lágrimas com as costas da mão.

- Como te sentes?

- Preferia ter morrido...

- Olha, tenho de te pedir desculpas. Perdi o controlo.

- Não faz mal. Mas, o que aconteceu ao certo, afinal?

- Bem, eu percebi que tinha sido um parvo e corri atrás de ti com o Neville. Quando te atiraste fui atrás de ti e salvei-te.

- Obrigado. – Harry sorriu levemente.

- Estão aqui os teus óculos. – disse Hermione dando-lhos. – Arranjei-os para ti.

- Obrigado, se não fosses tu já não tinha óculos ao tempo. – os três sorriram.

- Olha, nós vamos comer alguma coisa, ainda não almoçamos, mas a Madam Pomfrey disse que podias jantar connosco, por isso, até logo. – disse Ron levantando-se da cama.

- Fica bem, Harry. – Hermione deu-lhe um pequeno beijo na face e afastou-se com Ron a ampará-la suavemente. Harry olhou para o lado, tentando ocultar umas lágrimas. Se ele estivesse vivo fazia os amigos sofrer, tentava morrer e eles sofriam na mesma. Não sabia o que fazer, estava completamente perdido, triste, desolado.

- Estás acordado? – uma voz doce interrompeu os seus pensamentos. Limpou rapidamente as lágrimas e olhou para o lado. A rapariga dos Slytherin estava sentada na beira da sua cama. Usava um vestido azul-escuro de cetim sem alças, por cima duma camisa preta transparente, e umas botas igualmente pretas até aos joelhos. O seu cabelo negro encaracolado caía-lhe nos ombros até à cintura.

- Err... Olá! – exclamou Harry ridiculamente. Ficou muito corado e só se queria esconder.

- Vim saber se estavas bem. O que aconteceu? Quem te fez isso? – ao dizer isto, acariciou a testa de Harry e ele sentiu algo que nem com Cho sentira. Era como se uma corrente eléctrica invadisse todo o seu corpo.

- Eu estou bem, dentro dos possíveis, obrigado. – a mão da rapariga agora descia pela sua face até aos seus lábios.

- Tens uns olhos muito bonitos, sabias? – o coração de Harry começou a bater muito forte. Ele olhava os olhos da rapariga, que o fitava intensamente, deixando a sua mão passear suavemente pelas cicatrizes no rosto dele. A cicatriz da testa doía-lhe, mas ele nem ligou.

- E tens uns lábios muito suaves e carnudos. Gosto disso em ti. – Harry começou a sentir muito calor do nervosismo. Ela cada vez mais se aproximava dele e ele cada vez mais sentia que ia ter um ataque cardíaco, tal era a sua adrenalina.

- Será que são tão doces como parecem? – agora estava tão perto de Harry, que apenas sussurrava sensualmente. Harry sentiu algo crescer por baixo dos lençóis, para além do fogo intenso que crescia no seu peito. Fechou os olhos, pronto para o contacto.

- Menina! – abriu os olhos subitamente. A rapariga deu um salto para trás e o seu sorriso desvaneceu, transformando-se numa expressão zangada, ao ouvir a voz de Madam Pomfrey.

- Sim? – perguntou ela friamente com um falso sorriso.

- Tem de sair por uns momentos. Aqui o jovem Potter tem de tomar umas poções e descansar um pouco. E é se quer ir jantar com os colegas! – Madam Pomfrey aproximou-se sorridente com uma caneca na mão, enquanto a rapariga se afastava com cara de poucos amigos. "Foda-se, que timing!" – pensou Harry chateado. Depois de tomar as poções e de Madam Pomfrey se afastar, aninhou-se na cama a pensar no que se tinha passado, ainda não acreditando na sua sorte.

À hora do jantar, Harry juntou-se aos colegas na mesa dos Gryffindor.

- Que se passa com a tua cicatriz? – perguntou Luna, que vinha perguntar como ele estava.

- Olha, nem me digas nada... – respondeu Harry tristemente. Não queria que lhe fizessem perguntas.

- Está bem, mas acho que o "Quem Nós Sabemos" deve estar a preparar algo grande para estares assim. – pegou num pão e afastou-se em direcção à mesa dos Ravenclaw, trincando-o sonhadoramente.

- Esta gaja bate mal dos cornos! – exclamou Ron surpreendido. Começaram a comer e Harry segredou tudo o que tinha acontecido na enfermaria a Ron.

- E vais-lhe saltar em cima? – perguntou ele entusiasticamente.

- Fala baixo! Queres que toda a escola saiba? – sussurrou Harry, dando-lhe uma cotovelada. – Eu não sei o que vou fazer. Vou esperar que ela me diga alguma coisa.

- Depois já sabes! Tens de me contar tudo! – Ron brincava abertamente com a situação, mas Harry não achava piada nenhuma, aliás, não gostava que ele falasse assim da sua rapariga. Sim, ela iria ser sua. "Minha? Estou a ficar todo lixado da cabeça..."

Quando acabaram de comer, Harry, Ron e Hermione dirigiram-se para a Sala Comum, onde conversaram e jogaram Xadrez dos Feiticeiros.

- Ron, desculpa perguntar, mas... como é que o Percy reagiu á noticia? – Hermione estava sentada numa poltrona ao lado deles, a ler um livro.

- Bem... na verdade, ele não está nada bem. Perdeu os sentidos quando soube da notícia e tem estado em tratamento em São Mungo. – Ron baixou os olhos, fingindo concentrar-se no jogo. Hermione voltou a desaparecer por detrás do livro e Harry limitou-se a fitar a sua Rainha, pensando na sua Dama Misteriosa. "Nem sequer sei o seu nome...", pensou, sentindo-se triste.

- Amanhã vamos ter o primeiro treino de Quidditch, não é? – perguntou Ron, movendo o seu peão.

- Sim, pelo menos foi o que combinei com a Katie, o Andrew e o Jack. Avisa a Ginny se a vires. – respondeu Harry, emergindo dos seus pensamentos.

- Mas falta um jogador, não é?

- Sim, falta um chaser, por isso amanhã só vamos discutir essas coisas.

- Espero que não seja de manhã, afinal amanhã é domingo.

- Ron, és muito preguiçoso, sabias? – Hermione reapareceu por detrás do livro, enquanto ele resmungava baixinho como resposta.

À hora do jantar, Harry, Ron e Hermione dirigiram-se para o Salão.

- Vão à frente, que eu ainda tenho de ir dar uma mija. – disse Harry, entrando na casa de banho dos rapazes.

- Até já!

Passado um bocado, Harry saiu apressado da casa de banho, ainda a secar as mãos molhadas ao manto, quando ouviu alguém a chama-lo.

- Psst!

Tentou ignorar, provavelmente não era para ele ou então era alguém a gozar. Seguiu em frente, mas ouviu passos apressados atrás dele e, de repente, umas mãos suaves a taparem-lhe os olhos carinhosamente.

- Quem é? – perguntou ele, tocando as mãos misteriosas para tentar descobrir quem era.

- Advinha. – sussurrou uma voz doce, que ele reconheceu imediatamente.

- Eu sei quem és, só não sei o teu nome. – Harry continuava a acariciar as mãos da rapariga, agora duma maneira mais intensa. Era como se fosse um íman natural que o atraísse. A rapariga aproximou os seus lábios do pescoço de Harry, estava tão próxima que ele sentia a sua respiração na sua pele. Começou a respirar mais rápido e sentiu novamente o seu corpo cheio de electricidade.

- Fico à tua espera à meia-noite, à porta da casa de banho dos chefes de turma. Sabes onde é? – sussurrou ela sensualmente ao seu ouvido. Ele sentia aqueles lábios carnudos a roçarem a sua orelha, sentia aquele perfume leve a malmequer. Não conseguia falar, só queria virar-se e beijar aqueles lábios. Limitou-se a acenar afirmativamente com a cabeça.

- Óptimo. Até logo. – dito isto, mordiscou-lhe a orelha e desapareceu através do corredor. Harry sentiu as pernas bambas e o seu coração quase explodiu com a adrenalina. Aquela rapariga era fogo e ele estava prestes a queimar-se. E, claro, ele não se importava nada de ficar todo tostadinho. Afastou-se ainda com estes pensamentos e sorriu como não sorria à bastante tempo.