Harry Potter abriu os olhos. Tudo estava azul. Demorou alguns segundos até que percebesse que estava com a cara encostada no tapete da sua salinha de feitiços, jogado de mau jeito no chão.
Ele deu uma olhada na janela. Lá fora, também parecia bem azul. Azul escuro, pois o sol ainda não havia nascido.
Nem sinal de Rose. Harry estava ansioso por encontrar alguma bruxa e confirmar que tudo não passara de um estranho sonho ruim e que ele não podia ouvir quaisquer pensamentos. Apressou-se em tomar seu banho e não conseguiu nem pensar em comer nada. Vestiu-se rapidamente e zarpou edifício abaixo.
Na portaria, nada de Beggy. Ainda estava amanhecendo e Harry decidiu dar uma volta no parque, na tentativa de encontrar uma bruxa, trouxa ou coruja fêmea.
Mas o parque estava deserto. Ele se sentou em um banco perto de um jardim de tulipas, no centro do parque, e respirou o ar fresco da aurora por alguns segundos.
Avistou, ao longe, em meio a neblina da manhã, um vulto caminhando lentamente em sua direção. Harry preparou a varinha e ficou alerta, mas desarmou-se assim que o vulto ganhou cor. Era um homem de cabelos vermelhos. Ronald Weasley.
Rony olhou para Harry e não disse nada, mas sentou-se ao lado dele. Um incômodo silêncio perdurou entre os dois durante algum tempo. No mesmo instante, os dois tentaram começar a falar.
- Rony, eu...
- Harry, eu...
Eles riram e se abraçaram como velhos amigos. Harry queria falar sobre a confusão em que se encontrava sua vida com essa história de audição de pensamentos. Achava que ele seria alguém muito melhor do que Dino Thomas para se dividir os problemas. Foi Rony, entretanto, que se adiantou.
- Você não me procurou... Acho que fui muito duro com você...
- Não, Rony, você só disse a verdade. Eu acho que ainda sou imaturo, apesar da idade, e preciso que me esfreguem a realidade na cara às vezes... Eu ia te procurar para falar sobre isso e marcar com todo o pessoal também, mas, se você não se importa, não estou conseguindo pensar nisso agora...
- Por quê? Muito trabalho? – ironizou Rony.
- Muito pior. Eu não sei o que diabos me aconteceu, Rony, mas estou ouvindo todos os pensamentos femininos.
- Como assim?
- Tudo o que elas pensam! Coisas rotineiras, coisas particulares, desejos secretos, tudo! Até descobri que a porteira do meu prédio é a fim de mim...
- Legal!
- Legal porque você não viu a Beggy! É desesperador, isso sim!
- Ah, nesse caso... Bom, mas como começou isso?
- A maluca da Hermione... err, desculpa...
- Não, tudo bem. Ela deve ser um porre como chefe, não?
- Ela é, digamos, exigente, você sabe. O fato é que ela nos deu um pacote com itens femininos e pediu que analisássemos...
- Mas o que tinha lá?
- Vestidos, pinturas mágicas, poção emagrecedora, um monte de coisas estranhas... e eu experimentei todas elas.
- Você usou vestido?
- Usei. Tudo em nome do trabalho. – Harry disse, tentando parecer sério. Rony caiu na risada.
- E aí?
- E aí, eu derrubei a poção emagrecedora na pia e ela emagreceu mesmo, derrubando todas as outras coisas e deixando meu banheiro na maior lambança. Acabei escorregando e caindo, e desmaiei.
- Mas você ficou bem?
- Fiquei nada. Quando acordei, no dia seguinte, já estava ouvindo pensamentos femininos.
- Você já tentou fazer alguma coisa?
- Ontem, eu meio que repeti o processo, usando contra-feitiços e poções contrárias, mas ainda não encontrei nenhuma bruxa para testar.
- Bom, por que você não testa agora?
Rony apontou na direção de uma velhinha caminhando com dificuldade com a ajuda de uma bengala. Eles fizeram silêncio enquanto a velha passara.
Harry se concentrou. Nada aconteceu. Ela passara por ele e ele não ouvira nada. Ele respirou aliviado e viu uma bruxa particularmente extravagante andando rápido.
"E aqueles dois, quem são? Potter e Weasley? Achei que eles tivessem se afastado definitivamente quando providenciamos a ida do casal Weasley para a Áustria. Com Granger no Ministério, o Trio parece estar junto novamente. O Sr. Malfoy precisará saber disso.", Harry a ouviu pensar enquanto encarava os dois com cara de quem comeu e não gostou.
Harry empunhou a varinha e ia estuporá-la naquele momento, se Rony não o tivesse detido.
- Psiu! O que pensa que está fazendo? – Rony sussurrou, segurando-o pelo braço.
- Você... você não ouviu? Ela é partidária do Malfoy! É uma espiã e... – ele parou, ofegante.
- Harry, vamos pensar em três coisas. Número um: você não é um auror, é um político; não pode sair por aí prendendo pessoas, certo? – disse, arrancando um olhar de frustração do amigo. – Número dois: acho que isso significa que você não está curado. E número três, só por curiosidade: além de ser espiã, ela o quê?
Harry o encarou, triste.
- Nos separou.
- O quê?
- Eles mandaram você e a Hermione para a Áustria há mais de quinze anos!
Rony deu um soco no banco e quase se arrependeu depois, pois sua mão doeu bastante. Olhou com desdenho para a bruxa extravagante que passara e pensou em tudo muito rápido.
- Harry, eu vou segui-la.
- Ei, mas você também não é auror...
- Mas conheço alguns em Londres. Vou acioná-los. Faça o mesmo no Ministério.
- Rony, a estratégia do Ministério é preventiva agora, não vão me ouvir. Acho que nem o Sirius me ouviria. Vamos procurar a Tonks.
- Certo, mas e seu problema? – Rony olhava de relance para não perder a bruxa de vista.
- É mesmo. Não deu certo. Não sei mais o que fazer...
- Bom, eu não sei se vai funcionar, mas lembra da Parvati Patil?
- Parvati Patil? Claro, meu primeiro baile... como esquecê-la? – ele disse, irônico.
- Ela e Lilá Brown têm um Centro de Adivinhação na periferia. Quem sabe elas podem, sei lá, adivinhar o que você tem e o que pode te tirar dessa... Nunca acreditei muito, mas algumas coisas que a velha Sibila dizia até faziam sentido, né?
- Bom, só algumas poucas.
- Sei lá, como você não sabe o que fazer, não custa tentar, né? Se você for ao St. Mungus, com certeza, vão te internar... Aqui está o endereço. – disse, apressado, conjurando um pedaço de pergaminho nas mãos de Harry. – Há algum tempo, as irmãs Patil tiveram uma lojinha de feitiços e poções de beleza, então talvez Parvati conheça os produtos que você testou. Bom, Harry, boa sorte. Eu te procuro para falar sobre meu contato com os aurors, ok?
- OK, mas, Rony, como é que você sabe de tudo isso? Rony?
Olhou em volta e não viu ninguém. Rony desaparatara e o parque continuava silencioso. Já amanhecera, mas era muito cedo para ir ao Ministério. Tudo o que Harry tinha era um pedaço de pergaminho na mão e muitas dúvidas na mente.
Harry aparatou em frente a um casebre antigo, em uma vila distante do centro da movimentada capital inglesa onde ele vivia. Ele já estivera ali por perto alguns anos antes, quando conheceu uma admirável artilheira de Quadribol que morava nas redondezas.
Àquela hora da manhã, o lugar estava deserto e um leve nevoeiro cobria o final da rua. Aproximando-se com cautela do casebre antigo, ele notou uma placa gasta e torta próxima à porta. Ela dizia: "Brown & Patil – Estudos Divinatórios".
Hesitante, Harry resolveu bater na porta e o fez duas vezes. Sem obter resposta, ele bateu mais três vezes, mais decidido do que antes. De dentro da casa, ouviu alguém reclamar.
- Ora, mas quem será a essa hora? Mal amanheceu!
A bruxa que abriu a porta era morena, usava um pijama enorme de bolinhas roxas particularmente hilário e tinha seus cabelos pretos amarrados com bobes e envoltos em uma espécie de touca. O rosto estava meio esbranquiçado e ela fez uma cara de horror ao ver Harry.
A velocidade com que ela abriu a porta provocou uma brisa forte na direção dele e seus cabelos, muito sensíveis a qualquer coisa que possa desarrumá-los, esvoaçaram levemente, descobrindo sua cicatriz.
- Ahhhhhh!!! – gritou a bruxa que abrira a porta.
Quem era ela? Apesar dos bobes e do pijama, Harry não teve dúvidas. Ela fora seu primeiro par em um baile. Parvati Patil não mudara tanto assim.
- Parvati, espere, eu...
Mas a Srta. Patil fechou a porta com a mesma agressividade que abrira.
"Ha-Harry Potter vem até aqui me ver e me encontra assim! Que desgraça! Isso não é justo... Ele me viu desse jeito! Eu estou horrível!", Harry a ouviu pensar. Pela altura da voz, Harry achou que ela estivesse logo atrás da porta, se lamentando.
Menos de meio minuto depois, a porta se abriu com mais delicadeza. A bruxa que agora o encarava não tinha mais bobes no cabelo, mas eles estavam soltos e ajeitados por sobre as costas. O pijama dera lugar a um belo vestido roxo, arrematado por uma linda xale creme. Parvati Patil aparentava ser muitos anos mais novas do que Harry e, embora qualquer um pudesse dizer que ela era uma bruxa muito bonita, ele considerava sua beleza um tanto quanto plástica, por assim dizer.
- Harry... Há quanto tempo. Acho que desde a formatura, não é? – ela perguntou com voz enigmática e quase sensual.
- Pois é. Olha, Parvati, eu soube do seu Centro de Adivinhação e preciso da sua ajuda.
- Já sei. Quer fazer um curso? – ela disse. "Nossa, Harry ainda é tão charmoso!"
- Err... na verdade, não. – ele estava desconcertado. Já era suficientemente constrangedor falar com Parvati e ficaria bem pior ouvindo seus pensamentos.
- Que pena! Tenho certeza de que teria muitas coisas a te ensinar. – ela disse, parecendo lamentar um pouco. "E você nem imagina quais...", ela pensou, fazendo Harry corar. – Bom, o que posso fazer por você, então? "Ah, se ele respondesse o que eu queria..."
- Ahan... eu...
- Não quer entrar, Harry? É mais confortável lá dentro. – ela convidou, gentilmente. "Tem um sofá e uma cama...", Parvati sorriu e piscou para ele.
Harry entrou, sem jeito, no casebre antigo. Não era muito maior do que aparentara por fora. A sala era circular e, no fundo, duas portas denunciavam a presença de outros cômodos. Tudo tinha tons de roxo e um clima etéreo. O cheiro de incenso era forte e irritou o nariz dele. Aquele local o remetia claramente à Torre de Adivinhação, em Hogwarts.
- Sente-se, Harry. – Parvati disse, fazendo o mesmo e indicando que começasse a falar.
- Bem... eu não sei se você pode "adivinhar" o que está acontecendo ou me ajudar de alguma forma, mas... – ele disse, sentando-se em uma poltrona com pouco conforto.
Parvati agitou a varinha e uma mesinha com um bule e duas xícaras apareceu entre eles. O bule ergueu-se no ar e serviu as xícaras com chá. Uma delas levitou ao encontro de Parvati e a outra encontrou a mão de Harry, que tornou a colocá-la na mesa.
- Posso ouvir pensamentos femininos. – ele disse, com objetividade.
Parvati olhou-o com atenção, mas parecia incrédula. Entretanto, seria fácil provar a ela.
- Está bem. Eu entendo que não acredite. Vamos, pense em alguma coisa. – ele disse, impaciente.
Parvati ficou intrigada com o desafio. Ela escolheu um pensamento relacionado a Harry. "Eu fiquei muito chateada com você no nosso primeiro baile de Hogwarts. Por meses, me senti rejeitada porque você não tinha me beijado. Quase todas as minhas amigas deram o primeiro beijo naquele baile..."
- Ah, Parvati, você sabe que eu queria ir com a Cho. Eu já gostava dela desde o terceiro ano.
Ela arregalou os olhos, espantada.
- Foi muito óbvio! – ela alegou.
- Tudo bem, tente de novo.
Ela pensou em algo que supôs que Harry desconhecesse por completo. "Depois que Lilá conseguiu aquelas aulas em Beauxbatons e partiu, meu negócio decaiu muito. Estou pensando em voltar para a loja com a Padma. Lilá diz que se cansou, mas eu sei que ela ficou magoada quando Rony a deixou... ela se apaixona muito fácil. Não tinham nem um mês!"
- Espere, espere, espere! Rony e... Lilá? Que história é essa?
Parvati ficou ainda mais perplexa do que da outra vez.
- Ahh!! Você sabe no que estou pensando!
- Foi o que eu disse... – Harry já estava entediado.
Ela respirou fundo, convencida.
- Extraordinário!
- Eu não acho... vai me ajudar? E sobre o Rony?
- Ah, sim... Bom, quando o casamento dele acabou, ele andou por aqui... a trabalho, parece. Ele e Lilá saíram juntos algumas vezes, mas foi só isso. Ela que fantasiou demais... "Também... solteira com quase 40, deve estar desesperada como eu!", ela pensou. Logo em seguida, levou as mãos à boca e, depois, à cabeça. – Finja que você não ouviu isso! – ela ordenou, agora percebendo tudo o que pensara sobre Harry quando ele chegara e sentindo-se envergonhada.
- OK, Parvati, OK. – ele disse, lembrando-se mentalmente de que teria muito que conversar com Rony. – Agora, será que você pode me ajudar?
- Bom, como tudo começou?
E Harry contou-lhe a história toda pela enésima vez, com o máximo de detalhes de que pôde se lembrar. Ela fez algumas anotações em um pergaminho e, quando ele terminou, ela perguntou.
- Por acaso, entre esses produtos que você testou, estava um "Fala-que-eu-não-te-escuto"?
- O que é isso? Um programa de TV trouxa?
- TV trouxa? O que é isso? Não... É uma espécie de líquido-essência... É para o bom convívio dos casais. A esposa fala e o marido acha que é algo do interesse dele...
- É... eu... me lembro de algo assim. Um frasco pequeno. Mas não sei que fim levou...
- Hm... certo. – ela anotou mais algumas linhas em seu pergaminho. – E o que você quer que eu faça?
- Que me ajude a me livrar disso, oras! – Harry gritou, com impaciência.
- O quê? Você quer se livrar disso? Está brincando! Você tem o dom com que todos os homens do mundo sonham e quer jogá-lo fora? Em todo o caso, eu não creio que possa ajudá-lo...
- É... – Harry já estava incerto. Será que ele realmente tinha um problema? Ou uma solução?
Uma solução para sair com todas as bruxas que quisesse, uma solução para prender as partidárias de Malfoy, uma solução para alcançar seu almejado cargo no Ministério! Ele não tinha problema algum, tinha apenas mais uma habilidade e só precisaria aprender a lidar com ela. Ele não era ofidioglota? Não conjurou um patrono aos 13 anos e derrotou duas vezes Lord Voldemort? Ouvir o pensamento das bruxas era apenas mais um de seus feitos.
Harry estava deixando-se levar, mais uma vez, pelo orgulho que tinha de tudo o que já havia realizado, mas não achou que estivesse errado. Além do mais, pensou que, nas atuais circunstâncias, esse dom poderia ser de muita valia no caso que Rony começara a investigar. Ele poderia procurar uma "cura" para o seu caso mais tarde, isto é, se fosse necessário.
- Você está certa, Parvati. Está absolutamente certa! Eu não tenho nenhum problema. Sou um sortudo filho da mãe, isso sim! Puxa, muito obrigado por me abrir os olhos... – ele disse e se levantou para cumprimentá-la.
- Por nada... – ela respondeu, sem entender.
Subitamente, lembrou-se de Brenda. A relação deles certamente se complicaria ainda mais com o ocorrido da noite passada. E ele precisava arrancar dela o que quer que ela estivesse escondendo sobre Lilian Potter. Tinha que agradá-la de alguma forma para se aproximar mais dela. Lembrou-se da caixinha que tirara das coisas dela e que a deixara tão brava.
- Ouça, Parvati, você que já teve uma loja de produtos femininos, sabe onde eu posso achar uma caixinha que, quando aberta, espalha um aroma floral e uma música suave no ambiente?
- Você quer dizer um píxide? Como esse? – ela conjurou uma pequena caixa tampada na palma de sua mão.
- Exatamente! Quanto custa? Pode me vender?
- Leve. É um presente, Harry. – Parvati disse e se esforçou para não pensar em mais nada.
- Oh, obrigado, Parvati! – ele foi até ela e lhe deu um beijo no rosto em agradecimento. Olhou-a nos olhos por um instante e recuou, rapidamente. – É para a minha filha, sabe...
Parvati sorriu em resposta e preparou um pequeno kit com outras coisas para presentear Brenda. Padma estivera lá recentemente e ela tinha alguns itens guardados.
Harry agradeceu muitas e muitas vezes e, antes que ele fosse embora, ela lhe disse com seriedade.
- Sei que você não está mais preocupado com isso agora, mas... – ela respirou fundo. – Acho que deve saber que você procurou a Ciência errada hoje. Pense nisso.
Harry não pensou nas palavras de Parvati. Naquele momento, queria apenas usufruir o seu poder de audição de pensamentos da melhor forma possível.
Ele aparatou em frente ao Ministério e foi direto ao Caldeirão Furado. Desta vez, teria Lucy Lathlan nas mãos, ou melhor, na mente. Só precisaria explicar a ela porque não a procurara no dia anterior.
Logo que ele entrou no lugar, Lucy o notou. "Ah, aí vem o Harry... e como está lindo hoje! Cachorro... nem veio aqui ontem nem me mandou uma coruja como tínhamos combinado... Isso é bem-feito para mim... Quem manda se fazer tanto de difícil, Lucy? Eu e meu medo idiota... Não devia tê-lo dispensado tantas vezes... Burra-Lucy-Burra! Sem falar que eu não saio com ninguém desde a minha formatura...", ela pensava enquanto atendia sua fila de clientes.
Harry entrou na fila dela e esperou sua vez, quando ela o atendeu com o tradicional profissionalismo.
- Bom dia, Sr. Potter, como posso ajudá-lo?
- Aceitando minhas desculpas por ontem e saindo comigo, Lucy. Eu fiquei meio transtornado ontem... Minha vida estava uma bagunça e eu tive medo... – ele explicou, dizendo a verdade, ainda que supérflua.
"Hm... sensível. Eu devia aceitar. Mas tenho medo. Já sofri tanto com meus dois ex-namorados sonserinos..."
- Olha, Lucy, eu sei como é difícil sair pela primeira vez com alguém. – ele disse, se aproveitando da situação.
- Sabe?
- É... eu fico um pouco inseguro, com medo. Perdi uma namorada na guerra ainda na adolescência, meu casamento não deu certo e... tenho medo de me magoar. Mas quero me dar uma chance de ser feliz. Por que a gente não se dá uma chance? Sem compromisso, só para ver o que acontece... Caminhando devagar.
"Ah, ele também já sofreu por amor. Deve ter tido problemas mesmo ontem. Acho que ele não vai me magoar." - Quer ir ao Três Vassouras hoje à noite? É minha folga... – ela perguntou, num impulso.
- Claro! Hoje à noite está ótimo! – Harry sorriu, triunfante.
- Então, encontro você lá, às nove. Eu moro lá por perto mesmo.
- Certo, Lucy. Mal posso esperar pela noite.
Harry saiu discretamente do Caldeirão Furado, mas tão logo a porta se fechou atrás dele, atravessou a rua para o Ministério, saltitando como uma criança.
N.A.: 1. O nome do "produto" pelo qual Parvati pergunta por mais detalhes é realmente um trocadilho com o nome de um programa de TV religioso (Fala que eu te escuto). Gostaria de deixar claro que não tenho nenhuma objeção ao programa (que, por sinal, nunca assisti – só vi as chamadas) ou à religião a que ele se refere (que eu nem sei, ao certo, qual é). Sempre achei o nome meio engraçado (junto com a entonação que eles usavam – era piada na época do meu colegial) e não pude deixar de me lembrar dele aqui. Novamente, não planejo ofender nada nem ninguém com o trocadilho.
2. O termo píxide, na concepção a que alude aqui, refere-se a uma caixa pequena com tampa (geralmente de marfim), presente entre os produtos e enfeites comuns na Espanha durante a ocupação dos árabes (Fonte: Revista História Viva – edição 9- jul). A título de curiosidade, seguem definições que encontrei em http:www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx e que, eventualmente, podem vir a ser contempladas no escopo da história:
Do Lat. pyxide Gr. pyxís, caixa de buxo
s. f., Bot.,
fruto que se abre ao meio em duas valvas sobrepostas;
vaso em que se guardam as hóstias ou partículas consagradas.
