CAPÍTULO 8 – A Graciosa Corvinal

- Srta. Cheer, por que acha que eu sou gay?

- Eu nunca disse isso!

- Mas acha, não é? E fique sabendo que eu trabalho pra camba e mereço ser gerente e tudo o mais!

- Eu não tenho nada a ver com isso, Sr. Thomas!

- A Srta. acha que eu sou gay só porque não a convidei para sair naquele dia que ficamos até mais tarde no Ministério, não é mesmo?

- Ora, Sr. Thomas, isso está passando dos limites!

- Pois muito bem. Srta. Cheer, quer sair comigo? – Dino Thomas disse em alto e bom tom, chamando a atenção do décimo quarto andar do Ministério inteiro para o suposto casal que discutia no corredor.

- Já chega, Sr. Thomas! Vou falar com seu superior! – gritou a Srta. Cheer e desceu as escadas a passos fortes.

Ela deve ter se esquecido de sua ameaça, porque encontrou o superior de Dino no caminho e nem ao menos o cumprimentou.

Harry chegou ao décimo quarto andar todo sorrisos, cantarolando uma canção do tempo das Esquisitonas. A todas as bruxas, dizia o que queriam ouvir ou fazia comentários para que elas refletissem.

- Bom dia, Sr. Potter!

- Bom dia, Rachel! Como vai o namorado grego?

- Meu... meu... namorado? Vai bem, obrigada... – ela disse, intrigada. "Como ele sabe? Estou frita! Vou perder meu emprego!"

- Que bom!

- Sr. Potter, espere! Precisa de alguma coisa? Quer que cheque sua correspondência no corujal? Que providencie suas revistas ou o que desejar? – ela pareceu meio desesperada.

- Não, Rachel, não precisa! Qualquer coisa, eu peço! Obrigado! – ele respondeu, rindo.

Harry deu alguns passos, ainda de costas para contemplar a expressão apavorada de Rachel. Ao se virar, quase tropeçou na bruxa desastrada dos livros, que estava abaixada procurando sua varinha para arrumar a bagunça de livros que jazia ao redor dela. Para variar, ela havia trombado com alguém ou se atrapalhado na levitação e derrubara todos os livros que transportara.

"Tudo bem, tudo bem. Não precisam me ajudar mesmo. Passem por cima de mim, todos vocês!", ela pensou, revoltada com a indiferença de todos ali.

Harry se sensibilizou. Já notara que a garota era meio problemática e agora via que as pessoas não eram muito gentis com ela.

- Accio varinha! Wingardium Leviòsa! – ele lançou sua varinha e executou os dois feitiços muito rápido.

A bruxa o olhou e abriu a boca, incapaz até mesmo de agradecer. Harry sorriu e ofereceu a mão para a garota se apoiar e levantar.

- Qual o seu nome? – ele perguntou, entregando-lhe a varinha.

- Err... Anne, senhor. Anne Riddick.

- Prazer, Anne. Eu sou Harry. Harry Potter,

A menina arregalou ainda mais os olhos e balançou a cabeça, afirmativamente. "Eu sei quem você é. Harry Potter me ajudou com os livros! Mamãe estava certa sobre ele!"

- Então, Anne, se precisar de mim, é só chamar, ok? E tome cuidado com os livros!

"Nossa... Harry é um anjo! Ainda existem bruxos decentes nesse Ministério!". Anne saiu levitando seus livros corredor afora.

- Ministra? – Harry bateu na porta da sala de Hermione, que estava entreaberta.

- Entre! "Harry? Que milagre ele por aqui a essa hora da manhã."

- Sua sala está ótima, a sua cara. Você chegou outro dia e parece que sempre esteve aqui.

Era verdade. Aquela sala parecia sempre ter pertencido a Hermione. Livros, livros e mais livros, pilhas deles, onde quer que se olhasse. Tudo, entretanto, organizadíssimo, diferente da bagunça do primeiro dia. Sobre a mesa dela, uma foto do Trio Parada Dura no primeiro ano de Hogwarts.

"Mães que incentivam os filhos a se unirem a Draco Malfoy. Pesquisa – Reunião Conselho. Duas semanas.", Hermione pensava enquanto escrevia o mesmo em um pergaminho. Levantando a cabeça, ela sorriu para Harry.

- Ah, obrigada, Harry. Tentei arrumar da melhor forma possível.

- Então, como estão as coisas?

- Bem, bastante trabalho. E você?

- Esperando o seu comando, Ministra. – ele disse, imitando continência. – Sabe, Hermione, eu realmente quero ajudar. Se houver alguma coisa que eu possa fazer...

- Está tudo bem, Harry. Estamos só trabalhando algumas hipóteses e analisando os relatórios da equipe.

- Ah... – Harry percebeu que o assunto estava acabando.

Mas ele precisava salvar sua carreira no ministério. Precisava arrancar alguma coisa de Hermione que fosse importante e tomar a responsabilidade para si. Decidiu arriscar.

- Ahan... Hermione, por acaso vocês pensam em abordar as mães que incentivam seus filhos a seguirem Draco Malfoy?

- Como soube? – Hermione perguntou, prontamente.

- Soube do quê?

- Que faríamos uma campanha com as mães? Achei que ninguém soubesse...

- Bom, você sabia.

- Quero dizer ninguém além de mim, Harry. Eu ia preparar um estudo para...

- Hermione, estamos no mesmo time, lembra? Vai me contar ou não?

- É... você está certo, Harry. Eu planejava lançar uma campanha para trazer todas as mães para o nosso lado. Depois de apresentar um estudo, é claro.

- Vai me deixar participar?

- Harry, esse vai ser, provavelmente, o projeto do ano. Se provarmos a essas mães que somos o lado certo, Malfoy vai perder muito de sua força. É fundamental, precisa funcionar. Tem certeza de que quer entrar nessa?

- Hermione, eu estive em todos os grandes projetos do ano até agora. É claro que eu quero entrar nessa!

- Muito bem. Então, sente-se.

Hermione contou com detalhes no que consistia o projeto e ele ficou feliz quando ela disse que poderiam aproveitar muito do que Harry já tinha desenvolvido em projetos passados. Ele fazia anotações frenéticas em um pergaminho enquanto ela falava, animada, de suas idéias.

- Harry, precisamos saber o que as bruxas que são mães querem. Quais são as preocupações delas em relação aos filhos, que tipo de segurança Malfoy pode oferecer a elas, tudo o que conseguirmos. Pode pesquisar sobre isso para montarmos a estratégia da campanha juntos?

- Claro, Hermione. Em quinze dias, teremos tudo pronto!

"Nossa, Harry é muito eficiente! Quinze dias é exatamente o tempo que eu preciso!", Hermione pensou, feliz.

- Com licença, Ministra? – uma bruxa baixinha de óculos abriu a porta.

- Sim, Geraldine?

- A filha do Sr. Potter deseja uma conexão na lareira da sala onde ele está, ou seja, a sua.- ela disse com voz antipática. – Posso autorizar?

- Claro, Geraldine.

Geraldine deu um sorriso ainda mais antipático do que sua voz e saiu, fechando a porta atrás de si. Momentos depois, Brenda, ou melhor, a cabeça dela, surgiu em meio às chamas esverdeadas da lareira da sala de Hermione.

- Brenda, querida, o que aconteceu? – Harry disse com carinho.

"Hm... Harry está cuidando de Brenda... Eu ouvi dizer que ele nem ligava para a filha, mas está tratando-a tão bem..."

- Harry, eu vou levar algumas amigas minhas na sua casa, ta legal?

"Ué... por que ela não o chama de pai... e por que 'sua' casa?"

- A casa também é sua, Brenda. Não se incomode. Vocês não se vêem desde antes das férias, não é?

- É, é. "Precisamos combinar algumas coisas para o baile, na volta às aulas."

- Tudo bem, filha. Fique à vontade.

- Então, ta. Tchau, Harry!

- Tchau, querida!

E o rosto de Brenda se perdeu nas chamas.

- Ela tem seus olhos e a cor de seu cabelo. Mas o resto é de Gina! Sua filha está linda, Harry!

- Ah, obrigado. Os olhos são de minha mãe. – ele disse, lembrando-se do comentário da filha. – E ela teve sorte de não herdar a rebeldia dos meus cabelos...

Os dois riram.

- Desculpe, Hermione. Brenda devia estar com pressa. Ela nem falou com você...

- Ah, eu não creio que ela se lembre de mim, de qualquer forma. Rony sempre a visitava e eu sempre estava trabalhando e... – ela abaixou os olhos e pareceu ser tomada por uma lembrança triste por um instante. – Com quantos anos ela está? – ela mudou um pouco de assunto.

- Quinze. E agora tem um namorado... – Harry resmungou.

- Mais velho?

- Parece que sim. – Harry não sabia ao certo. O garoto, de qualquer forma, era bem alto.

- E você implica com ela? – perguntou Hermione, já rindo.

- Claro! Ela é a minha garotinha!

- É... foi parecido com meu primeiro namorado, o Krum. – Hermione abaixou os olhos de novo.

Era hora de Harry mudar o assunto por ela. Assim como Cho se fora, Hermione perdera Vítor Krum na Guerra.

- E agora ela está inventando um baile. Sei lá...

- Vai deixá-la ir? – Hermione acompanhando o tópico.

- Ainda não sei. Com aquele namorado dela...

- Ah, Harry, você tem que deixar. E, não se esqueça, a parte mais importante é o vestido!

- O vestido?

- Sim! É a identidade feminina em um baile. Com um bem bonito para ela, hein!

- Ah, pode deixar. Vou levá-la para escolher.

- Otima idéia, Harry! "Ah, o que estou fazendo? Dando conselhos pessoais para ele em pleno horário de trabalho? Parece que estou falando da minha enteada. Isso parece conversa de namorado."

- Então, eu vou indo. Estou liberado para focar na nossa pesquisa?

- Claro! Estou ansiosa pelo resultado! – ela respirou fundo. "Hermione, não se apaixone pelo Harry, não se apaixone pelo Harry de novo!"

- De novo? – ele perguntou, impulsivamente, quando um turbilhão de emoções de sua adolescência invadiu sua mente.

- De novo o quê? – ela perguntou, incerta.

Ele refletiu. Não podia explorar aquele assunto. Não devia. Pelo menos não ali, naquele momento.

- Nada, eu... não disse nada. Até mais, então!

- Até! Depois, me conte sobre as compras com a Brenda! "Hermione, Hermione, está fazendo novamente. Mas o Harry continua... como antes! Seus lindos olhos verdes, sua boca... lembro o primeiro beijo no rosto que ele me deu, no quarto ano. Infelizmente, minha boca nunca conheceu a sua. Seus braços, que me envolveram tantas vezes, seu... Ai, por Merlin, ele vai perceber que estou olhando diferente para ele!"

Harry estava parado na porta da sala da Ministra com um sorriso muito maior e mais radiante do que o que ele exibia para Lucy. Não era um simples sorriso de ego e orgulho. Era um sorriso carregando mais de vinte e cinco anos de sentimentos.


Ao abrir a porta de seu apartamento, Harry ouviu risos de garotas. Foi até o quarto de Brenda e ela lá estava, junto com três amigas.

- Oi, filha!

Brenda apenas esboçou um sorriso.

- Olá, meninas! Ahan... eu sou o Harry, o pai da Brenda.

"Nossa! Você é mesmo Harry Potter!", pensou uma delas, de pele bem branca e cabelos loiros.

"Por que você não deixa a Brenda namorar em paz?", pensou outra, de cabelos muito cacheados.

"Sua casa está uma zona!", refletiu a última, de olhos bem azuis.

"Sai logo daqui!", Brenda em um pensamento desesperado.

- Desculpe a bagunça, gente. Não sei o que aconteceu com a minha governanta... – disse Harry, embora aquela situação fosse habitual, por mais que Rose se esforçasse. – Brenda, amanhã vamos sair para comprar seu vestido para o baile? – ele perguntou, com gentileza.

- Ué! Você não gostou da idéia quando minha mãe falou... Vai me deixar ir com o Mike? – ela perguntou, surpresa.

- Sim, vamos rever isso. Acho que não tenho sido muito legal com você... Vamos passar a tarde de amanhã juntos? Podemos aproveitar e comprar tudo o que você precisa, que tal?

- Ta legal. "Vou fazer você gastar uma grana..."

- E vamos gastar sem preocupação. Vamos esvaziar o cofre!

"Nossa! Que pai legal!", pensou a loira.

"Ai, eu quero um assim!", desejou a segunda.

"Sabia que mamãe é viúva?", pensou a de olhos azuis.

- Oba! Mas não vai furar, hein! "Que estranho. Meu pai, err... Harry nunca foi tão legal. Ele ta se esforçando mesmo!"

- Não, claro que não. Eu vou sair hoje, tenho um compromisso, mas amanhã está combinado. Ah, ia me esquecendo... – ele disse, colocando a mão no bolso e retirando o pacote que Parvati preparara, contendo o píxide de Brenda. – Filha, isso é para você. Desculpe por aquele dia...

Brenda abriu o embrulho e sorriu ao ver um píxide lá dentro. "Parece que tem um pouco da minha avó nele, afinal."

- Obrigada, pai. – ela fez menção de levantar para abraçá-lo, mas hesitou e apenas manteve o sorriso.

Harry também sorriu para ela em resposta. Sabia que estava, aos poucos, reconquistando, ou conquistando, a filha. Ouviu as amigas dela suspirarem.

- Bom, meninas, fiquem à vontade. – Harry fechou a porta com cuidado.

- Obrigada, Sr. Potter! – elas disseram em coro.


Harry ia a Hogsmeade com freqüência, mas o lugar ainda lhe era memorial. Ele entrou, calmamente, no Três Vassouras e procurou uma mesa para sentar.

Ele havia se preparado para aquela noite. Vestia uma camisa verde como seus olhos, coberta por um despojado casaco preto. A calça, também preta, lhe caía muito bem e era arrebatada por um elegante cinto. Os cabelos, entretanto, mantinham-se desarrumados.

A conversa com Hermione o balançara, mas ele esperava há tempos por esse encontro. Já estava na segunda cerveja amanteigada quando Lucy entrou no bar. E ela estava linda.

Usava uma saia azul levemente solta e uma blusa cinza de botões, com um decote que Harry considerou um convite.

- Lucy, você está estonteante esta noite! – Harry se levantou para recebê-la e puxou uma cadeira para ela.

- Obrigada, Sr. Potter, quero dizer, Harry. "Nossa, como ele é gentil!"

Harry chamou a garçonete e pediu dois sucos de abóbora, que chegaram num instante.

- O que você vai fazer agora que terminou Hogwarts?

- Estou tentando juntar dinheiro para estudar Poções. "Tomara que eu consiga estudar na Rússia."

- Ah, então, será uma deusa das Poções! Já pensou em estudar na Rússia? Ouvi falar que lá é muito bom...

- Sim! É exatamente isso que eu quero! Como adivinhou?

E a noite prosseguiu assim, com Harry surpreendendo e encantando Lucy a todo instante. Quando as horas já avançavam e as garçonetes encaravam seus últimos fregueses, entediadas, Lucy se manifestou.

- A conversa está ótima, Harry. Mas eu preciso ir...

- Tudo bem. Eu te acompanho.

- Não precisa. Eu moro bem perto daqui.

- Nem pense em recusar. Eu faço questão.

Harry pagou a conta e os dois saíram, se muita pressa, pelas ruas de Hogsmeade. Desceram uma ladeira estreita e, em frente à penúltima casa, Lucy parou.

- Pronto. É aqui que eu moro.

- Tem certeza de que vai ficar bem? Seus pais estão em casa?

- Não, eles estão viajando.

Fez-se um silêncio durante o qual Harry teve mais de um milhão de idéias.

"Faça alguma coisa, Lucy, sua idiota. Não vá perdê-lo!"

- Boa noite, Lucy. – Harry colocou sua mão suavemente no rosto dela.

Lucy segurou sua mão e o puxou para perto de si, beijando seus lábios docemente. Harry a envolveu em um abraço e ela correspondeu, intensificando os beijos.

"Convide-o para entrar! Vamos, você já é grandinha!"

- Harry, não quer entrar? – ela disse, incerta. "Ah, mas se ele for um cafajeste como os outros e me magoar? Mas ele é tão lindo!"

- Não sei, Lucy. Você tem certeza? Não faça nada que você não queira.

- Eu quero. Vamos entrar. – ela disse com um sorriso. "Ele não forçou nada. Que fofo!"

A casa de Lucy era bastante modesta, mas aconchegante. Na sala, um sofá desgastado e uma pequena lareira. Pequenos vasos de flores campestres davam leveza ao ambiente.

Para surpresa e entusiasmo de Harry, Lucy o levou diretamente ao seu quarto. Ele, um pouco nervoso, sentou-se na cama.

- Lucy, tem certeza de que quer fazer isso? – ele perguntou, encarando a colcha cor de vinho da cama dela.

- Absoluta! – ela disse, abrindo os botões de sua blusa.

Aquela foi a experiência mais incrível que Harry já tivera com uma mulher. Não por ser com Lucy, pois ele costumava sair com bruxas jovens e lindas como ela ocasionalmente. O que tornou aquela noite tão especial foi o conhecimento do íntimo feminino que ele adquiriu. Talvez, o tesouro mais desejado por todos os homens e que ele agora possuía, guardado em sua mente para sempre. Ele sentiu que poderia se tornar simplesmente o melhor amante de todos os mundos.

O ego de Harry estava na mais absoluta alta, em todos os sentidos. Melhor do que todos os elogios que ele ouviu foi a certeza de que eles eram os mais sinceros de sua vida amorosa, por assim dizer.


N/A: Eu sei que todos vocês vão concordar que esse capítulo demorou muito, muito mesmo. Mas para mim, tê-lo terminado foi uma conquista. Esse capítulo foi um dos primeiros nos quais eu pensei e foi o primeiro a ter um título muito claro em minha cabeça. Eu acabei tendo um bloqueio geral para escrever o esperado encontro e, no fim, decidi pela abordagem mais leve que pude imaginar, deixando de considerar outros pormenores que acontecem no filme, afinal, esse não é o intuito da história.

Acredito que, agora, começaremos a fechar mais portas do que abrir, isto é, creio que a fic esteja mais ou menos na metade. Agradeço todos os comentários que recebi e a paciência de quem ainda está lendo, mesmo depois de três meses sem atualizar...