Fazem dez anos que foi embora.Dez anos neste verão.Lembra que prometeste a mim que iríamos ficar para sempre juntos, sempre fitando um ao outro, sempre...? Não lembras...é claro.
Lembranças
Indo mais uma vez à cidade, agora tão pacífica e organizada, me lembro de você por todos os cantos.Ainda não esqueci tudo o que passamos juntos, e foi tanto! Não se lembra? Não lembras...É claro.
Mesmo em minha casa, tudo me lembra de teu sorriso, de teu olhar, de teu porte, de tua gentileza...Este é meu destino, lembrar, e não viver.
Mesmo com nossos velhos amigos, não consigo esquecer-me de teus carinhos, após termos admitido nosso amor.Demorou um pouco para que nos acostumássemos com os caminhos um do outro, mas quando nos descobrimos... Não posso lembrar, é a dor que vem.A dor de não ter-te aqui comigo, para que possamos lembrar, sim, mas para que possamos criar novas lembranças. Mas esse é meu destino, lembrar, e não viver.
Espero todos os dias que realize o grande erro que cometeu.Espero que volte para o teu lugar, e este lugar não é outro senão meus braços. Posso parecer prepotente, tua dona até, mas não foi você mesmo que assim afirmou?Que eu te prendia, te dominava, te controlava...Mas que nunca querias escapar deste tão doce controle?
Agora percebo que tuas palavras foram vãs.E eu, em minha inocência, acreditei, e eu mesma me doei a ti.Para quê?Para que me abandonasse?Para que nunca mais te visse? Não percebes?Me vicia, assim como a droga, e este é o vício que vale a pena.Estar presa a você, sonhar com você todas as noites, este é o preço.E eu o pago com toda a minha vontade e alma.
Olho para a criança.Lembro de ti, mais uma vez.Tenho que me tornar cega, Não, mais do que cega, pois até as sensações e os sons que chegam a mim me lembram de ti. Mas este é meu destino.Lembrar, e não viver.
Grito este desabafo aos ventos, às águas, à qualquer meio que chegue onde estás.Mas Não guardo mais a esperança, aquela chama que me dizia que irias estar de volta no dia seguinte... Apagou-se, como tudo mais dentro de mim. Olham-me estranho.Pensam que não penso mais.É verdade, porém.Não mais penso, apenas lembro. Mas este é meu destino.Lembrar, não viver.
Sinto-a chegando, e à esta altura, ela é doce.Me livrará finalmente de tua imagem, aquela que ao mesmo tempo venero e fujo, amo e odeio, sonho e pesadelo.Não queria que fosse assim. Queria que aqui você estivesse.Talvez a corrente tivesse sido diferente.Talvez eu pudesse ter uma vida. Mas este é meu destino.Lembrar, não viver.
Murmuro mais uma vez teu nome, e ouço uma resposta.É um lamento, um choro sentido, tanto o homem quanto a fera lamentam a morte.Não se preocupe.Ainda te amo, apesar de tudo. Mas é hora de dizer adeus, me libertar desta vida não-vida, me libertar destas lembranças, me libertar deste destino que você mesmo impôs à mim. Deixo as lembranças, o que realmente importou entre nós contigo. Talvez depois de sofrer o que sofri, nos encontremos mais rápido.
Adeus, meu amor.Adeus. Quero um novo destino e o que era meu agora é teu.
Este agora é seu destino, lembrar, e não viver. Adeus.
Escrito em 17/10/2001
Revisado em 16/10/2004
Para quem até agora não entendeu, este fic se passa no Ponto de Vista de Kaoru, após Kenshin abandoná-la de novo...A criança mencionada é Kenji, o filho dos dois, e isto sugere que ele os abandonou por motivos de segurança...
