De Belas Varinhas a Manchas de Porcos

Sobre sua cabeça, estrelas juncavam um céu de primavera.

Ousar descrevê-las seria bobagem, pensou Nadinne fechando seu diário após essa frase, e preferiu apenas sentir o prazer de estar ali, naquele momento. Seria por pouco tempo, ela bem o sabia : deixaria seu refúgio secreto para obedecer as ordens de sua família, afinal, Beaubaxtons era conhecida mais como uma escola preparatória para "patricinhas" bruxas, do que propriamente uma boa escola.

Não que ela acreditasse nisso, tinha aprendido o suficiente ali para não passar vergonha em qualquer duelo, mas...tinha de fingir, como sempre, ser apenas uma frágil garotinha à espera do ´príncipe encantado´. E se uma coisa era realidade, é que em Beaubaxtons existiam poucos rapazes "aproveitáveis"... então, era hora de mudar de escola. Simples e Fácil, como todas as decisões da família Vancour : troque de escola e lace um puro-sangue antes que outra patricinha mais esperta o faça, pensou Nadinne insatisfeita.

Respirou fundo e entrou, para terminar de fazer suas malas.

- Oh, Nadinne, vou sentir tanto sua falta ! Com quem mais vou quebrar regras, agora ? Todo mundo aqui só quer saber de poções, feitiços, herbologia... poções para cabelos, feitiços de amor, ervas milagrosas para... você sabe o quê ... e Louise começou a rir seu sorriso baixinho e debochado .

- Ah, Louise... sinceramente ? Só vou sentir falta de uma coisa : das tuas tiradas "patrícicas"... das tuas risadas... da tua amizade.... conforme ia falando a voz de Nadinne ia ficando mais baixa, enrolada... o nó na garganta não a deixou terminar a frase.

- Promete escrever me contando dos príncipes ingleses ?

- Prometo ! Se conseguir, mando até fotos .

- Só me poupe... mande só os solteiros, tá ? E VESTIDOS, sil vou plais !

- Lousie ! Vai estudar poções, vai !

Arrastou pesarosa sua vida pregressa para fora de Beaubaxtons : mesmo sob qualquer ótica, refletiria, no brilho dos olhos e no fundo da alma, as vívidas estrelas da França, para quem fosse corajoso - ou, mais provavelmente, tolo - o suficiente de se arriscar nesse mergulho. E verificar se sairia vivo e inteiro dele. O que ela particularmente duvidava.

Como uma visão diáfana, Nadinne atravessou a barreira da estação de King´s Cross e olhou - entre divertida e horrorizada - a balbúrdia das pessoas ali, esperando para subir no trem que os levaria a Hogwarts.

Estava em território desconhecido, não sabia quantas pessoas ali praticavam Legilimência, e tinha que ficar concentrada, ainda mais no meio daquelas pessoas falando inglês tão rápidamente, de uma forma quase incompreensível.

Com postura da rainha que fora treinada para ser - como convinha a uma dama da nobre família Vancour - Nadinne andou suavemente um pouco mais em direção ao trem, puxando quase desajeitadamente seu malão, afastando-se delicadamente das pessoas que pareciam propensas a fazê-la esquecer - com encontrões e vozes altas - os bons modos tão duramente aprendidos.

Doce ilusão, pensou ao afastar um elaborado cacho que insistia em cair em seu rosto.

Sua aparência frágil enganava bem, até...bom, melhor nem pensar nisso. Oclumência... sapatos azuis, sapatos roxos, sapatos azus, sapatos roxos... pronto.

Apenas queria começar logo - e terminar igualmente rápido - sua "tarefa", não via motivos para esperar mais.

Faltavam cerca de vinte minutos para o trem sair - naquele ponto onde estava ela teria uma melhor visão geral, e por conseguinte poderia ser melhor vista, também...

o que efetivamente estava começando a acontecer, pensou deliciada ao observar a forma como dois rapazes pararam embasbacados - atrapalhando todo mundo - ao vê-la ali. Seu olhar treinado já tinha se abaixado sutilmente, de uma forma quase tímida, como se observando seu malão, e ela ria-se interiormente : na França, na Bulgária ou na Inglaterra, os homens eram sempre iguais.

Sabia do seu poder, claro, e jamais deixaria de usá-lo. Ainda mais agora...Então se dedicou ao estudo dos espécimes, para observar meio desagradada que não pareciam puro-sangues. Bien... c´est la vie.

E possuída de uma nova energia - a caçadora finalmente estava emergindo - , sem esperar as primas, ela entrou no trem, puxando seu malão.

Não parecia tarefa fácil conseguir achar um lugar desocupado naquele trem, e as pessoas a estavam olhando como a um bicho raro. Bom... rara ela era mesmo, então, nada a temer, pensava Nadinne interiormente, arrastando o malão atrás de si, e procurando uma cabine vazia.

Ouviu o apito do trem informando aos retardatários que a hora de partir se aproximava, criando uma azáfama maior que a já existente e obrigando todos a subirem na composição.

Nadinne estava começando a ficar impaciente com aquilo, não havia lugares marcados, não havia cabines vazias, não tinha achado os parentes, não entendia direito o que as pessoas falavam... e o trem logo começaria a se mover... ela começou a andar mais rapidamente em um corredor apertado com cada vez mais pessoas, ate´ finalmente enxergar algo que parecia conhecido :

- Bellatrix ! Quase gemeu Nadinne, ao ver os longos cabelos negros da prima desaparecendo em uma cabine.

Sem pensar muito em consequências, ela foi até ali e abriu tempestivamente a porta da cabine, e antes que pudesse dizer qualquer palavra o trem dá o primeiro tranco para partir, fazendo com que ela se desequilibrasse e caísse dentro da cabine, para seu horror.

- Ora, ora, se não é nossa priminha francesa ...bela entrada, Nadinne! disse divertida Bellatrix, ao observar a situação da priminha "nariz empinado" no chão : cotovelo esfolado, a capa enroscada nas pernas, os lindos cachinhos desarrumados, ocultando o rosto que tinha batido com força nas botas de um Severo Snape aturdido e imóvel... muito adequado, pensou Bellatrix. Aquela nojentinha só servia para lamber as botas do Snape, mesmo.

- Bella, e você ainda ri ! disse Andrômeda, puxando rapidamente a prima para perto de si, sentando-a a seu lado, perto da janela, logo em frente a Snape, e imediatamente começando a ajudá-la a tentar se compor melhor, enquanto Bellatrix continuava rindo ... sendo imediatamente acompanhada por Narcisa, que não conseguiu se seguirar como também por um olhar divertido de Lucius, que queria ver onde aquilo tudo ia dar. O único a ficar sério foi Snape , que disse com voz lenta e sibilante, mas bastante audível :

- Vamos para o vagão dos monitores, já é hora. Lucius ? A forma como Severus levantou e o toque em seu braço não deixava margem para réplicas.

- Se é realmente preciso AGORA... - disse um Lúcius sardônico - vamos.

Mesmo sentindo-se um trapo, Nadinne prestou atenção em como Severus era alto... ainda cobrindo o nariz - que percebera sangrando - olhou-o diretamente nos olhos, sutilmente agradecendo nesse olhar a gentileza dele ao sair da cabine naquele momento. Mas olhar ali era se perder numa noite sem estrelas. Mauvais Choix. .

- Boa a priminha da minha noiva, não, Severo ?.

Silêncio. Passos largos e firmes, sem palavras em direção ao vagão dos monitores.

- Ficou interessado na priminha francesa, pelo jeito, pois que até teve ataque de grifinório, não deixando a dama em má situação.... Não te tiro a razão, ela tem umas pernas... você viu quando ela caiu, que posição ? E direto a seus pés... e você, "gentilmente", fica quieto e se retira...só eu vi a direção dos teus olhos, seu sonserino safado !

(A mordacidade de Lucius sempre fora seu forte, não se podia negar.. e ficar quieto só reforçaria uma falsa imagem de interesse na menina.Melhor ser rápido e direto. )

- Lucius.. você já disse tudo : é prima da tua NOIVA, portanto pense bem em como olhar para ela; e não, não me interessei por ela, é uma criança mimada e idiota, que nem sabe se defender sozinha. Não gosto de crianças.

- Ela é só um ano mais nova que a gente. Só tem cara de novinha... que o resto, UAU...

- Se a Narcisa te escuta... ou pior, se uma das "amigas" da Narcisa te escuta...

- É, melhor mesmo ficar quieto. Mas... ela é bem branquinha também, mãozinhas delicadas...

- Lucius...

- Hum ?
- Cale a boca.

. Mauvais Choix - (Má Escolha)

N/A : O título do capítulo tá esquisito ? Tá não... Beaubaxton em francês significa "Belas Varinhas", e Hogwarts em inglês significa "Porcos Manchados", de uma forma muito mal traduzida, claro... mas serve ao intento desejado. :)