Pessoal, este capítulo foge muito do normal dessa fic, mas era necessário : ele possui situações de angústia e drama, bem como violência, que são primordiais para a história, mas que o classificam como conteúdo adulto. Se você se sentir ofendido por isso, por favor não leia.

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Espírito de Natal

- Voltar para casa no Natal ... Reencontrar papá, dormir no meu próprio quarto... ah, que prazer !

- Vancour, devo dizer-lhe uma coisa para seu próprio bem: se não exagerasse tanto na entonação e nos gestos, eu talvez até acreditasse que estava falando a verdade.

- Snape, você não me compreende, mesmo, mon cherrie. (desgraçado, esse não dá pra enganar NUNCA! Quem sabe, fazendo um afago de leve para acalmar a fera... ai! animal !)

- Não sou "seu cherrie", não me toque que eu não gosto, que não sou um dos seus bichinhos de estimação. E não se demore, ou vai perder as carruagens e vai ter o enorme desprazer de ficar no Natal em Hogwarts, ao invés de ir para sua tão querida família. Até a próxima semana.

- Nadinne, você sempre espanta o Snape ou é impressão minha ?

- Snape não sabe apreciar a vida, ma petit Narcise...(ela odiava isso... Narcisa era bem mais alta que Nadinne, mas ...)

- Afinal, priminha querida, já se decidiu em qual vai colocar definitivamente a coleira, Goyle, Bullstrode ou McNairr, ou existe outro dragãozinho que não conheçamos ?

- Ah, Narcise, que forma indelicada de falar sobre minhas opções...afinal, é minha vida futura, tenho que pensar bastante... e escolher o melhor.

- Pensar bastante ? Querida priminha, pense bastante, mas pense rápido : estão se esgotando os cãezinhos, e não sei se titio está com paciência de te mandar estudar em Drumstrang para laçar um marido ...Eu já peguei o meu, Narcisa já pegou o dela... só falta você.

- Ah, Bellatrix, fique quietinha que eu quero descansar meus ouvidos de tanta bobagem junta ! Já basta voltar para casa e escutar papá me falando sobre linhagem, e recitando todas as famílias bruxas que eu tenho chance...

E entre risadas debochadas daquele bando de pequenas víboras eu fechei meus olhos... só voltei a abri-los quando chegamos à estação King´s Cross.

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(uma semana depois)

- Bom dia, Vancour.

- Bom dia, Snape.

- Como foram suas alegres férias familiares ?

- Adequadas. Com licença.

Fosse a forma como foi dito, fosse a afetação no andar de Nadinne, algo dizia - ou melhor gritava - a Snape que ali estava acontecendo algo muito errado; e seguindo esse seu instinto ele fez algo surpreendente até para si mesmo : tentou segurar a garota pelo ombro.

- Ai !

O gemido de dor não pode ser evitado, nem a súbita palidez dela não passaram despercebidas aos olhos argutos do colega que era o monitor-chefe responsável pela casa Sonserina : a tentativa da bela jovem de dar um sorriso próximo ao costumeiro permitiu que ele visse em seus olhos um brilho que conhecia bem : o brilho era de terror, não de coqueteria... e isso fez Severus perceber num átimo o que havia acontecido.

- Venha.

- Para onde ?

- Venha.

- Obrigada, Snape, mas preciso subir até o quarto, tomar um banho e estudar... ai ! Me solta, seu brutamontes !

- Não, vamos até a enfermaria !

- NÃO !!!

- Se preferir, posso carregá-la... mas vai ficar mais esquisito ainda, e vai doer bastante. Melhor vir quietinha comigo, andando... você consegue andar ? Me diga onde eu posso apoiar você para não te machucar mais.

Nadinne olhava, com ar cansado e aturdido aquele que era o monitor-chefe de sua casa. Fosse como fosse, ele tinha percebido no primeiro olhar o que tinha acontecido, e - sabe-se lá o que ganharia com isso - estava querendo ajudar. Mas ir até a enfermaria realmente não estava nos planos de Nadinne : não queria que ninguém mais soubesse daquilo, já era muita vergonha ele ter percebido tão rapidamente... ela só queria tomar um banho e deitar-se... talvez para sempre. E ele insistia em ir até a enfermaria, abrir seu coração, mostrar o que restava de si para uma pessoa estranha... melhor fugir. Olhou na direção do corredor, e sentiu a mão de Snape em seu rosto, virando-o delicadamente mas com firmeza em sua direção, forçando seu olhar a voltar-se para ele.

- Nem tente. Eu iria te caçar por Hogwarts inteira, e você não está tão forte assim para fugir, não andaria 10 metros e eu te alcançaria. Agora me acompanhe, que tem gente começando a olhar em nossa direção, pois estamos nos comportando de uma forma um pouco diferente do habitual. Posso segurar no seu braço ?

- Pode... mas não nos ombros, por favor. E não encoste em mim, minhas costelas doem.

- Está bem.

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- O que eu faço agora, Snape ?

Já devidamente acomodada na enfermaria sob o olhar quase feroz da enfermeira que tinha ido - resmungando : animais... belo exemplo que dão para os filhos... - preparar algumas poções de assepsia, Nadinne olhou para seu amigo (amigo ? sim... ele era) : a voz cansada e incolor era o que mais magoava agora os ouvidos de Severus : onde estava aquela menina irriquieta, que brincava com tudo e todos ? O velho Vancour tinha arrancado isso junto com a pele das costas dela... mas a pele cicatrizaria. Ele tinha que fazer alguma coisa para que algo mais cicatrizasse, e bem rápido.

- Descanse, senhorita Vancour. Eu retornarei quando Madame Pomfey permitir, com licença.

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Era quase noite quando a enfermeira Pomfey permitiu que Severus entrasse novamente por alguns minutos na enfermaria : em uma nova cama separada por um biombo a moça estava recostada de lado, ainda pálida, as costas voltadas para o biombo e com os ombros despidos...estava toda coberta de bandagens, os vergões nos ombros eram ainda muito evidentes, apesar da gosma verde que os cobria, e ela encolheu-se ressabiada quando seguiu a direção dos olhos dele, que com uma voz aparentemente calma e suave disse:

- Como está, pequena Vancour ?

- Não sou pequena.

- Sim, é, mesmo que não queira.

Aquilo era um sorriso no rosto de Snape ? Se era, era bom olhar bastante, porque era algo mais que raro, era até...precioso. Nadinne devia ter apanhado muito na cabeça, para pensar isso, mas a atitude do monitor-chefe tinha aberto os olhos dela para outra realidade. Se bem que a última semana tinha mostrado a Nadinne que existia outra realidade dura e sólida com a qual teria de viver definitivamente.

- E você, já escolheu sua vítima, afinal ?

- Vítima ?

- Seu futuro esposo, se preferir.

- Goyle.

- O mais burro...

- O menos agressivo.

- Engano seu, querida.

- Então McNairr...pouco me importa, qualquer um serve.

- Você realmente não sabe enxergar um palmo adiante do nariz, mocinha ! Bem, eu preferiria não fazer isso, mas vejo que você não vai saber sair dessa situação sozinha, mesmo, então ouça agora e ouça até o final, antes de se manifestar : enviei uma carta para seu pai dizendo das minhas intenções de te desposar.

- O QUÊ ? Você está maluco, Snape ???

- Eu disse para não se manifestar, preciso ser mais duro que isso, você só entende a linguagem da força ? Eu sei usá-la, se necessário.

- Não duvido.

- Cale-se e ouça, minha paciência tem limites curtos e logo Pomfey irá me tirar daqui : fiz isso para que você tenha um ano sem hematomas, e que seu pai se apazigue e te deixe estudar em paz, ver se entra alguma coisa além de casamento dentro dessa cabeça dura. Quando você fizer 17 anos, poderá se cuidar sozinha, e nós terminaremos esse noivado e você poderá escolher o idiota que você quiser, de acordo ?

- O que você ganha com isso ?

- Uma aliada.

- Nunca fui inimiga sua.

- Nem deixou de ser... minha cara senhorita Nadinne Vancour, mesmo com essa casca de coqueteria e mediocridade que tenta passar para todo mundo você pode ser tudo, menos superficial, e ser seu aliado tem muitas vantagens. E sei que tem bons relacionamentos na França, e que sua família não deixaria nada a desejar ao apoiar seu futuro esposo em suas incursões políticas no mundo mágico , e que seu dote não seria nada inexpressivo. Então, você seria sempre uma boa escolha.

- Ah, sou um bom partido, então, Snape ? Mesmo com tantas "marcas de amor" nas costas?

- Estamos todos sujeitos aos arroubos da paixão, minha cara Vancour... e apenas para seu conhecimento, sua eventual escolha por McNairr iria te trazer mais marquinhas de amor, minha querida... pelo menos te prometo não contribuir mais com seu mapa geográfico pessoal.

- Por quê, Snape ?

- Já te disse as razões, Vancour.

- Não, você apenas ponderou racionalmente sobre elas... porquê, realmente, Snape ? Vai me dizer que ficou com pena da loirinha francesa ?

- Vancour... de uma vez por todas : posso sentir qualquer coisa por você, mas nunca pena.

- Ah, é paixão, vê-se logo...

- Prefiro sua ironia fina e inteligente à sua falsa burrice, Vancour. E veja se se comporta e sai logo dessa enfermaria, e tome isto.

- O que é ?

- Uma poção de amor. Tome.

- Ah, você é tão romântico, meu querido !

- E você é muito gentil e educada, minha querida. Agora tome, vai diminuir suas dores e cuidar internamente das feridas. Logo Pomfey virá passar outra localmente para tentar fazer sumir esses cortes, que eu já entreguei a ela, e ela aprovou também como tratamento coadjuvante... enquanto estiver aqui aproveite a calma e estude , vou trazer seu material e te dar apoio nas aulas que não puder assistir, mostre-se produtiva agora que não tem outro objetivo menos nobre direcionando sua mente.

- Como preferir, amo e Senhor !

- Não brinque com isso. Nunca, nunca brinque com isso.

- Está bem, Snape. Não fique bravo, você fica com rugas quando fica bravo !

- Pelo menos por aparências, melhor me chamar pelo prenome, de agora em diante... Nadinne.

- Como preferir... Severus.