Kagome soltou um suspiro e continuou a admirar o filho que dormia tranqüilamente sobre uma esteira de palha. Aquela face se assemelhava tanto com duma certa pessoa... Ainda não conseguia acreditar que todos ali não perceberam a semelhança. Ou será que essa aparência toda era coisa de sua mente? Já fora tantas vezes enganada por ela.

Levantou-se com cautela, de modo a não fazer barulho para não acordá-lo. Encaminhou-se a saída daquele cômodo, passando pela 'cortina' de pedrinhas no lugar duma porta, e, depois, saiu daquela casa tão primitiva.

A noite ainda insistia em ficar, mas ia, pouco a pouco, perdendo seu posto para os raríssimos raios de sol. Como tudo havia mudado... Sabia que o tempo não parava. Mas, tudo que havia imaginado sobre como estaria seus amigos e a vida na época em que se encontrava era tudo fantasia... Tudo estava diferente do que esperava!

Cap. 4 - Primeiro, a Dor...

Ainda se lembrava de quando aquela jovem, chamada Rihara, a levou para aquela casa onde, sem ela saber, seus amigos de longas datas moravam ali... Sangô, Mirok e Shippou moravam juntamente com mais alguns conhecidos! Aquilo era inacreditável para seu ponto de vista...

Primeiro, o grande e poderoso Sesshoumaru vivendo com eles! Isso era algo que não aconteceria nunca pelo que conhecia do youkai!

A sacerdotisa... Bom, uma pequena garotinha que conheceu. Agora, um adolescente... Porque não, mulher? E duma das mais belas, não podia negar! Sim, a pequena Rin era, agora, a miko que cuidava daquele lugar. Talvez, por isso, Sesshoumaru resolveu ficar?

Sorriu com o pensamento que surgiu sobre tal pessoa. Será que o youkai frio e sem coração estava apaixonado? Ele que vivia caçoando do irmão por ter sido gerado por uma humana! ... Ah! O irmão dele...

Balançou a cabeça! Não queria e não saberia sobre ele! Foi o que havia dito a todos depois duma pequena confusão que tivera que enfrentar pelo fato de ser mãe sem ter se casado! Casado...

Sangô e Mirok havia se casado e tinham agora dois filhos... Uma menina um pouco mais jovem que Yori e um menino que dava uns 4 anos! Uma gracinha! Só não entendia o porque de Sangô continuar brigando com Mirok. Recordava-se que na surpresa de revê-los ali, naquela cabana, o homem tinha uma marca enorme e vermelha no rosto!

E o Shippou... Aquilo sim que era mudança! Nem o reconheceu... Se não fosse pela voz que pouco se alterara. Realmente, teria pensado que era outro youkai! Estava alto e com um corpo um pouco atlético, os cabelos eram compridos e ruivos na mesma cor que cauda que havia crescido na mesma proporção que o corpo... Deixou que um pequeno riso escapasse dos lábios, lembrando quando o seu pequeno disse que ele lembrava um personagem dum dos seus livrinhos... Só que o personagem tinha a cauda e os cabelos prateados.

"NÃO! Eu não quero saber...!" Ela se auto-ordenou em seus pensamentos. Não queria saber. Quando Sangô começou a contar que no dia depois de ter partido, ele havia ressuscitado Kikyou... Ela o interrompeu e a disse que não queria saber sobre o que havia acontecido. Saber para que? Saber que ele e Kikyou se casaram, tiveram filhos e estão muitos felizes? Saber que ele sequer lembra dela? Não! Não queria aumentar a dor que trazia em seu peito. A única coisa que a trazia viva até hoje era seu filho e as lembranças de sua última noite naquele lugar... Naquela noite sentiu-se como se ele realmente a amasse. Amasse ela como o amava! Que a desejasse como ela a ele...

Sentou-se no chão apoiando as costas na parede da cabana. Aquela noite foi tudo em sua vida. Mas sua mente dizia que aquilo só havia acontecido por causa de sua semelhança com determinada miko. Que para ele... Ela sempre seria a detectora de fragmentos... E, agora, nada mais que uma simples conhecida!

Sentiu uma lagrima escorrer em seus olhos. Abraçou os joelhos e afundou a cabeça entre eles, apoiando-a em seus braços. Por mais que teimasse, seu coração queria saber sobre ele, revê-lo, abraçá-lo, tocá-lo, beijá-lo,... Dentro de si batia uma enorme vontade de ver aqueles olhos dourados que tanto a enfeitiçavam, os cabelos prateados,... Queria ver aquele... Que por noite pelo menos... Fora seu!

-Triste?- a voz fria soou e ela levantou a cabeça para encontrar os olhos vermelhos de sua mais nova conhecida. Ela não disse nada... Apenas continuou a fitar os olhos da jovem em pé a sua frente. – Você me faz lembrar uma pessoa...

-Quem? - perguntou tentando esquecer os pensamentos sobre ele.

-Inu-Yasha.- arrependeu-se por ter feito tal pergunta. Porque ele não podia sair de sua vida nem por minuto?

-Soo...¹ – respondeu tentando mostrar um sorriso... - Porque?

-Ele sempre está triste, desde que o conheci. Ele está sempre... Triste.

"Como?" As palavras frias ecoaram em sua mente em seu coração... 'Ele sempre está triste.' A tentativa dum sorriso foi por água baixo e ela voltou seus olhos para o chão. A jovem estava mentindo! Era isso, não? ... Ele... Ele não podia estar triste! Tinha a pessoa que ele amava ao seu lado... Ele até a havia ressuscitado!

-Eu sei muita coisa sobre você. Apesar de nunca tê-la visto! – Kagome levantou o rosto para ver a jovem que, agora, tinha o rosto virado para direção em o sol nascia devagar. – Ouvi o que disse sobre não querer saber sobre ele. Eles respeitaram sua vontade. Mas eu... Perdoe-me, mas eu não irei! – a jovem trouxe seu rosto para encarar os olhos azuis de Kagome.

-Rihara... – ela sussurrou, antes de ouvir a voz fria e seu coração implorar: "Por favor... Não faça isso comigo! Eu... Eu não agüento mais sofrer!"

-Tudo o que sei sobre você foi o Inu-Yasha me contou... Talvez, eu não seja a pessoa mais apropriada para isso. Porém o Inu-Yasha foi o único que confiou em mim! E me disse que nós, hanyous, somos mais poderosos que qualquer youkai completo... Isso tudo por causa do nosso sangue humano! Por que é graças a esse sangue que não desistimos fácil... Que podemos ter sentimentos que os youkais não têm! – Rihara deixou um sorriso frio dominar seus lábios, antes de levantar o rosto e admirar o céu. – E são... Esses sentimentos que nós faz mais forte...

Alguns instantes de silêncio reinaram entre as duas e só o barulho fraco de vento podia ser ouvido. Kagome olhava para a jovem... Tinha vontade de chorar, mas nenhuma lágrima saia de seu rosto. Tinha vontade gritar, mas sua voz parecia ter sumido.

- Nunca conheci um hanyou que tivesse essa... Mentalidade. Ele me contou que deve isso a você! Deve ser por isso que eu sempre quis conhecê-la! – Rihara voltou a encará-la. – Deve ser por isso que ele te ama tanto!

Os olhos azuis de Kagome esbugalharam-se com aquelas últimas palavras...

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Ele continuava a caminhar pela floresta. Agora tinha duas novas feridas: uma no braço esquerdo e outra no abdômen que manchava a blusa bege. Mas elas não doíam... Pelo menos não tanto quanto a dor em seu coração.

Podia sentir. Estava tão perto do vilarejo. Não sabia o que ou o porque... Mas algo dizia para ir para lá! Entrou em um campo aberto e viu ali um lugar tão conhecido. Aproximou-se do velho poço e examinou a conteúdo negro dentro dele. Os anos passavam mais ainda tinha a esperança de que ela sairia daquele poço, com aquele sorriso que somente ela sabe dar, com aquela mochila amarela, vestida com uniforme, com os olhos azuis brilhando como nunca, com os lábios rosados,... Sentou-se no chão com as costas apoiada no poço.

Um suspiro soltou de seus lábios... Maldita saudade! Saudade dos tempos em que vivam juntos. Ela ao lado dele! Ele estava sozinho... Mesmo sabendo que ainda tinha seus amigos. Sentia-se sozinho em seu coração.

-Mentirosa! – o murmuro sai dos seus lábios quase que inaudível.

Ela havia prometido que ele nunca ficaria sozinho. Que ficaria ao lado dele! E ela não estava mais ali... Olhou em sua volta revendo tudo ali tão conhecido. Havia passado alguns anos por aquelas árvores... Sempre vigiando o poço. Para que quando ela voltasse, ele fosse o primeiro a vê-la! O primeiro a falar com ela. O primeiro a ver seu sorriso. O primeiro a toca-la. E poder dizer algumas palavras entaladas em sua garganta e que devia ter dito há quase onze anos atrás.

Seus olhos pararam numa coisa redonda. Pegou com mão trêmula. Lembrava-se de já ter visto isso em algum lugar. Mas... Onde? Era uma coisa branca, redonda e tinha um cheiro esquisito junto com um fraco cheiro de rosa que só Kagome tinha. Seus olhos arregalaram-se. Será que...?

Pois o seu olfato em ação... E não demorou muito para que seu coração se agitasse com a simples idéia. Podia sentir o fraco cheiro dela indo em direção a árvore sagrada. Ela havia voltado? Havia voltado para ele?

Mas do que depressa, ele levantou e começou a soltar pelas árvores. Sua força, velocidade,... Haviam voltado. E suas feridas haviam sido esquecidas. A única coisa que tinha em sua mente era sua... Sua Kagome!

oOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOo

- IIIIEE! Você está mentindo! – Kagome levantou depressa, enquanto duas lagrimas percorriam o seu rosto. – Ele... Ele ama a... Kikyou! – a voz fora diminuindo até que na última palavra fora apenas um sussurro.

-Eu não estou mentindo! - a voz saiu fria e calma como sempre. - Ele ama você e você a ele!

-YAMETE!² Eu... - as lagrimas agora caiam livremente pelo seu rosto. -Não agüento mais...

-Está sofrendo à toa...

-Por favor... - ela disse baixo. Sua voz não saia.

-Porque não conserta o passado? - Rihara continuava... Sempre fria. - Porque não vai atrás dele e acabe com esse sofrimento todo?

- Por favor... Não...- a sua voz parecia ganhar força pouco a pouco.

- Tudo pode ser diferente e vocês podem ser feli--

-DAMARE!³- ela gritou a plenos pulmões.

oOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOo

-Kagome... - ele sussurrou. Estava perante aquela arvore... A arvore que havia dado a ele mais uma oportunidade para ser feliz... E novamente ele tinha desperdiçado!

Porque? Porque sempre tinha que desperdiçar suas chances? Ela nunca teve medo... Nunca! Nunca teve medo por ele! Faria de tudo. Até o impossível apenas para ficar com ela novamente!

-Damare!

Suas orelhas se moveram irrequietas no topo de sua cabeça. Aquela voz... Deus! Ele se virou em direção em que suas sensíveis orelhas haviam captado aquele grito feminino. Seus olhos estavam esbugalhados. Aquela voz... Seu coração batia acelerado. Não podia estar enganado! Conhecia aquela voz mais do que a sua própria.

Será que... Ela estava de volta? De volta para ele? Pos a correr com a máxima força que suas pernas tinham. Se ela estivesse de volta... Não iria perdê-la novamente! As árvores passavam como um flash de tão rápido que tava.

Foi assim que sentiu seu corpo sendo arremessado para lado direito quando algo se chocou contra si. Seu corpo parou apenas ao encontro dum grosso tronco de árvore. Suas costas doíam, doloridas pelo impacto. Ele ajeitou-se e olhou à sua frente... Um Youkai! Presumiu ao ver um 'homem' alto com músculos definidos, porém sua pele era um marrom escuro da mesma cor que a terra coberta de gramíneas sob seu pé.

-O que quer? - Inu-Yasha indagou se posicionando para atacar com a mão no cabo de sua tão fiel espada.

O youkai apenas o analisou de pés a cabeça... Antes de ser sugado pelo chão. "Cadê ele?" perguntou-se. Sabia que ele não tinha ido embora. Podia sentir a energia eu aquele corpo emanava... Então, onde ele estaria? Seus olhos não via nada.

-Maldito! Apareça!- ordenou dando olhando cuidadosamente para cada canto daquela floresta.

Dor... Foi o que sentiu segundos depois. Seu corpo sendo pressionado para cima por alguma forte energia... Os 'pedaços' de terra ao seu lado... Enquanto seu corpo voava. Caiu no chão. Estirado. Sentia seus músculos doloridos. Porque aquilo tinha estar acontecendo agora? Logo agora... Quando sua Kagome podia estar esperando?

oOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOo

Silêncio. Era a única que se formava entre a aquela hanyou e Kagome. Os olhos azuis da jovem tentavam cessar as lagrimas, enquanto os vermelhos da meio-youkai continuavam gélidos... Encaravam-se.

-Eu não acredito! - Rihara comentou em sua habitual voz, enquanto um suspiro escapava de seus lábios. - Eu vou falar mais nada. Se você quer viver como eu... Faça o que bem entender!

-Como assim...? - seus olhos tinham agora um tom confuso.

-O que vê... O que quando olha para mim?

Kagome parou um momento... O que via? As lagrimas não caiam mais. Trevas, sofrimento, poder,... Era a única coisa que via naquela jovem na sua frente.

-Eu...

-Nem coragem para responder uma simples pergunta tem? - os olhos azuis a fitaram indignados - Eu... Eu sou um ser das trevas assim como minha mamãe!

-Mãe! - a voz saiu num sussurro.

-É... Minha mãe era uma youkai. Meu pai era humano... Só que eles morreram há tanto tempo que nem me lembro mais de seus rostos. - ela confessava porem sua voz... Nunca mudava de tom! - Eu fui criada por um youkai que me ensinou tudo o que sei... Ataques, agilidade, força,... Mas me ensinou outras coisas mais valiosas. Ele foi tudo o que não pode ter quando matei meu pais...

Os olhos azuis se arregalaram... "Como?"

-Deve... Deve ter sido um acidente!

-Não... Não foi bem assim. Meu corpo. É um corpo das trevas. Qualquer um que me tocar... Morre! Simples e fatal! - ela pareceu sorrir com o comentário, antes que a fisionomia fria tomasse sua face. - Meus pais morreram quando essa energia das trevas se ativou em meu corpo. Eu era um bebê ainda... E até hoje eu não consigo controlar meu poder... Engraçado. Tenho quase quatrocentos anos e nem consigo controlar meu poder!

-Quatrocentos! Mas você parece...

-Sou uma hanyou... Meu corpo envelhece num ritmo muito mais lento que humanos. - aquilo pareceu esclarecer um pouco. - Eu não posso tocar em nada com as mãos limpas... Se não só restará pó! Eu não posso ter sentimentos. Já que eu sou um ser das trevas. E mesmo que queira... Eu não posso amar!

-Rihara, eu...

-Você sabe que até os youkais amam... Olhe o Sesshoumaru. Um exemplo perfeito! Ninguém vive sem amar... Bom, eu já amei, também. E acabei por matá-lo. Mas, esse é o meu destino. A dor! Não faça o seu também assim! Você tem um filho... Ele tem direito a uma família!

-Você...

-Claro! Ele tem a cara do Inu-Yasha... E o gênio! -minutos de silêncio preencheram o lugar, antes da jovem continuar. - Eu não quero que sofra... Pois sei como é! Ele é o meu amigo... Sempre me tratou como uma mesmo sabendo como sou... Eu quero que vocês sejam felizes. E tenho certeza que só conseguiram juntos!

-Rihara, eu... - Kagome fora interrompida por um enorme estrondo vindo da floresta.

Ambas olharam em direção as arvores e puderam observar a terra 'voando' juntamente como uma energia amarela.

-Kuso!- Rihara sussurrou, antes de virar para Kagome. - Entre na cabana e não sai de lá!

-Rihara... -era tarde de mais... A jovem tinha sumido em sua frente.

Continua no próximo capitulo...


Vocabulário:

¹ Soo - Mesmo
² Yamate - Pare!
³ Damare - Cala Boca!
Iie - Não.
Kuso - Droga.


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Mish-chan