Capítulo III - À mesa do bar

- Mais calma agora, Graça ?

- Sim... não me conformo do piti que eu dei,na saída do tal exame. Ai,que vergonha !

- Ah, fique tranquila,não foi nada tão extraordinário... E se você acha que deu piti, precisava ter saído um pouco antes, pra ver a carinha que alguns que saíram antes de você.

O rapaz loiro sentado na mesa ao lado mexeu-se, incomodado : que ele estava prestando atenção em nossa conversa eu já tinha percebido, mas àquela altura ele mirou-me com olhos desafiadores e enregelantes, como se sua vida estivesse dependendo do que nós disséssemos em seguida. Aí me lembrei de quem ele era : era o babaca que estava se pavoneando da tese "fantástica" das tais plantas da Malásia, antes de entrar... provavelmente tinha sido o próprio que tinha aprontado mais que eu. Mas o meu novo amigo também percebeu a mudança no comportamento do outro, e mudou o rumo da conversa para coisas mais amenas.

- Bom, agora então me conta : você é do Brasil, de que escola ?

- Ihhhh... você não conhece, pode acreditar : Universidade Bruxa de São Tomé das Letras, uma cidadezinha afastada em um lugar chamado Minas Gerais, com um astral fantástico, é linda, toda de pedras... a magia transpira ali como se as rochas pulsassem vida e magia, sozinhas. É considerada um dos sete pontos energéticos do planeta, sabia ?

Não, não sabia, claro... eu pensei sorrindo para mim mesma : até que não foi um dia tão mal, assim : aquele carinha meio sem sal tinha o dom de me deixar tranquila (ah, sejamos verdadeiras, dona Maria : ele não era sem sal, ele era um doce completo! Só um doce pra conseguir me arrastar da frente daquela sala sem mais escândalo,e ainda saber falar meu nome, né ?).

- É... e pelo que percebi pelo interesse demonstrado em um comentário seu anterior - e apontou discretamente a mesa do lado - foi a única que achou a fórmula certa, e a fez.

Gargalhadas. Só podia receber uma notícia dessas com gargalhadas.

- Ah, Remus... só rindo mesmo... eu ? - aí cheguei bem pertinho dele e contei (bem baixinho, pra assistência não ouvir) o episódio da "tomada da poção" do Professor Doutor Snape. Não sei porque, para contar isso, eu muito espevitada encostei no braço dele. Ele teve um calafrio e ficou muito sério, para dizer afinal :

- Entendo agora porque você saiu trombando em meio mundo quando saiu de lá.

- Ah, o cara é um crápula imbecil, me perdoe... pode até ser o melhor do mundo, mas é pior que um trasgo em matéria de trato social. Como alguém consegue conviver com ele ?

O olhar dele era pensativo, mas observador : e ele me olhava de um jeito que eu achei que tinha feito coisa pior, antes de trombar nele, e perguntei em um rompante de bom senso :

- Eu...bati em mais alguém ?

Ele respirou fundo, me olhou bem nos olhos e soltou devagar :

- Só prometa que não vai levantar e sair correndo...

- OK.

Mas aquela frase me alertou : eu estava assustada, e percebi que minha respiração começou a ficar mais funda, e que eu comecei a me encolher na cadeira : ai, Merlin, não, que diabos eu tinha feito, que nem me lembrava de nada, fora ter dado um encontrão nele ?

- Não assim, pense bem no que está falando, e no que vai fazer em seguida. Entendeu ?

- Entendi... em quem mais eu trombei ?

- Fora o professor-assistente do Snape, em mais ninguém.

Eu devo ter ficado até azul de tão roxa de vergonha, porque finalmente caiu a ficha de com quem eu estava conversando : também, só eu mesma para ficar de papo com um simpatico daqueles por quase uma hora e não perguntar nada além do nome... Eu fiquei tão abobada, me subiu o sangue até os olhos, e eu não enxerguei mais nada, só fiquei ali, respirando fundo (ok, ok, eu estava arquejando como se tivesse corrido atrás do Nôitibus durante a noite inteira) que fiquei um tempo que nem sei quanto só olhando para o cara, e só percebi que ele tinha segurado meu outro braço quando tentei me levantar para ir correndo embora. É, foi realmente o único jeito dele me segurar ali... e para não piorar a situação - que já estava mais que esquisita, pois o tal loirinho e sua intrépida troupe até tinham ajeitado as cadeiras para observar melhor a nossa "performance" - eu me ajeitei na cadeira, e fiquei de costas para eles,puxei devagar o braço de debaixo do dele tentando voltar a respiração ao normal, olhando com olhos assustados para o tal "professor-assistente", e num rasgo de genialidade fantástico, digno de um trasgo montês eu perguntei :

- E sua tese, do que é ? Do que era ?consertei na hora

Enquanto isso ele apenas observava minhas mudanças todas naqueles minutos de "revelação", ao ter certeza que eu tinha assimilado bem o que tinha acontecido me olhou, deu um sorriso bonito e disse :

- "Efeitos da utilização de feitiços do tipo Hydratus em plantas hidrênquimas da família Euphorblacae e seu correspondente natural".

Você que está lendo essa fic entendeu ? Nem eu, de cara... e - contrariando o formato tradicional de comunicação dos estudantes daquela austera casa de ensino - eu abri a boca e disse em alto e bom som (ok, ok, um pouco alto demais, eu ainda estava nervosa de falar com o assistente do trasgo, ops, do Snape) que não tinha entendido nada do que era o tema de tese dele, sob o olhar de dó das pessoas que estavam na mesinha ao lado, principalmente o tal loiro que quase teve um esgar de felicidade ao me ouvir falar isso; ele me explicou na boa, rindo daquele jeitão simpático dele :

- São plantas suculentas, aquelas que tem as folhas "carnudinhas", que mesmo com pouca água elas se sustentam por bastante tempo. Ele estava estudando os efeitos de não ministrar água, e sim feitiços de hidratação nelas, para cultivá-las em ambientes que não os naturais delas, e ver no que elas mudavam quando aplicadas às poções que eram utilizadas, em geral, pois existiam duas linhas de pesquisas que diziam que elas sofriam alterações na duração do efeito da poção, quando usados feitiços ou quando utilizada apenas água. Porém alguns desses feitiços não são muito apreciados pela comunidade mágica ortodoxa, se é que você me entende... eles são considerados, no mínimo, fronteiriços com magia negra. Enfim, é uma tese um pouco controversa.

Amei o tema, claro, e amei o amigo novo, que tinha com aquela explicaçãozinha conseguido fazer com que eu voltasse a uma cor normal, e começasse a me expressar de um jeito menos doentio também... seja porque eu já tinha certeza que o tal estágio tinha ido pro sétimo círculo infernal, seja porque eu estava tão nervosa com tudo aquilo que eu arrematei com chave de ouro :

- Então ! Agora, papo sério : eu dei piti, né ?

- Bom... agora que você está mais calma... Deu ! Mas não foi a única, não se esqueça.( Lupin sorrindo fica uma graça)

- Ai, que vergonha... pede mais duas cervejas amanteigadas aí, que agora eu vou é encher a cara pra esquecer esse maldito exame de vez !

E muitas risadas selaram aquela que parecia ser o início da minha melhor amizade em terras estrangeiras. Sempre sob olhares glaciais do tal loiro, que continuava nos observando com um sorriso inescrutável...

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Curiosidade I - Porquê eu insisto tanto nas plantas da Malásia para a tese do nosso amado Draco ? (sim, como todo mundo já adivinhou, é o Draco Malfoy, em carne e orgulho!!!) Porque no século 16 os portugueses invadiram a Malásia, e a língua portuguesa é bastante conhecida por lá, ainda hoje, sendo que várias palavras malaias tem sua raiz no idioma lusitano.