AVISO : Este capítulo contém informações sobre práticas de convivência de casais não tradicionais ou convencionais : se isso incomoda você, não leia, apesar de ser bastante leve.
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4 - Fogo e Gelo
"Cara Estudante
Maria das Graças da Silva
Tendo em vista o resultado obtido em seu exame de proficiência em poções efetuado em 10 p.p., visando a obtenção de bolsa de estudos junto ao projeto B-712, solicitamos seu comparecimento no dia 11 às 09:00 hs à sala 911 munida de documentação de identificação e curriculum vitae atualizado, quando deverá apresentar-se ao Professor responsável pelo projeto.
Atenciosamente,
Severus Snape
Coordenador do Projeto B-712
Albus Dumbledore
Diretor. "
Será que ele sabia que eu era eu, isto é, que Maria das Graças da Silva era aquela pária que ele tinha enxotado da classe chamando de "menina" ? Ah, aquilo parecia piadinha de mau-gosto, só podia ! O cara me dá aquele coice na hora do exame, e depois me chega uma coruja em papel timbrado me mandando ir até a sala dele (devia ser a dele) no dia seguinte ? Será que o Lupin estava certo, e eu era a única que tinha acertado ? Mas... ele tinha bebido minha fórmula, ela estava errada...
E SE ELE TIVESSE MENTIDO, e aquela fórmula não fizesse nada ??? E se tudo não fosse um joguinho de vaidades, de interesse, e eu fosse apenas uma das estudantes "boi de piranha", em nome de sei lá que jogo escuso estivesse sendo jogado ? Vai ver era tudo marmelada, e quem ia entrar era um apadrinhado qualquer... quem sabe o tal - oh, não! - loirinho Malaio... e com esse pensamento interessantíssimo de ver como ficaria o loirinho vestido de malásio dançando com uma roupinha tingida de batik eu adormeci, sem saber no que ia dar tudo aquilo.
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Lógico que acordei tarde, lógico que saí correndo mal me olhando no espelho, lógico que tive de voltar correndo porque esqueci o tal curriculum atualizado, lógico que aparatei do outro lado da faculdade, lógico que demorei séculos para achar a tal sala... e mais que lógico, cheguei atrasada.
- Está atrasada.
Nem um olhar, nem se dignou a mover-se para me levantar o olhar, continuou escrevendo aquele pergaminho como se fosse a coisa mais importante do mundo , e eu continuei com aquela cara atarantada na porta : nada. Apenas "está atrasada". Bom... eu vi que ia ser outro dia daqueles... e se tudo desse certo (certo ?) eu teria muitos outros dias como aquele.
- Eu sei. Peço desculpas, não sabia onde era sua sala.
- Deveria ter descoberto ontem, teve tempo para isso... mas pelo que eu sei, preferiu ficar conversando, rindo e bebendo em uma mesa de bar.
A raiva que me subiu foi tão grande que eu tive vontade de esganar o Lupin e sua boca mole, que "por acaso" estava ali, na mesa ao lado da de Snape, mas um simples olhar para ele já deu para perceber que o comentário o atingiu da mesma forma que a mim : não, não era dali que tinha chegado a informação ao professor, isso era certeza... ou então o professor-assistente era um excelente ator.
- Severus... acho melhor conversarmos. Agora.
- Não posso, Lupin, preciso conversar com essa mocinha antes.
- Não, precisa é esclarecer o que foi dito agora. Aguarde um momento lá fora, senhorita.
E sem esperar minha resposta, fechou a porta.
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- Eu não quis dizer, Remus, eu disse : a moça em questão deveria preparar-se para essa entrevista pelo menos sabendo onde deveria estar no horário adequado, e como apresentar-se, e não ficar rindo e bebendo na noite anterior em um bar. Isso não se coaduna com o perfil que espero dos meus estudantes, eu disse ao diretor que ela não tinha perfil para esse estágio, mas ELE insistiu em continuar com isso, então vamos em frente. Agora me deixe descobrir se ela tem pelo menos controle próprio para cortar as raízes que irão na poção.
- Severus, tudo tem limites ! explodiu Lupin - A moça estava comigo na cantina comunal, e não bebendo em um bar ! Aliás você sabe disso muito bem, não sei como - porque eu mesmo não te contei porque não achei necessário - mas depois desse último exame que você inventou, eu estou temendo seriamente ...
- Não achou necessário ! Que suave, meu caro : você não achou necessário me contar que estava na cantina rindo e bebendo com uma das alunas que tinha acabado de prestar um exame comigo... Remus, onde você estava com a cabeça ao fazer isso ?
- E onde você estava com a cabeça de fazer um exame que pelo menos metade dos estudantes saíram da sala direto para a enfermaria ? Não sei se sobrou outro com a sanidade perfeita além dessa aí, Severus ! Até Draco Malfoy... ah...
(Foi assim que ele descobriu... no final, tudo não passa de... ciúmes... Ah, meu tão querido Severus...)
- Um excelente aluno, Draco. Realmente excelente. Pena que não controle adequadamente os nervos.
- Excelente informante, você quer dizer... Severus, ponha algo na cabeça de uma vez por todas :você realmente acredita que eu prefira ou venha a preferir qualquer outra pessoa a você ? Temos uma história juntos, Severus... e alguns momentos de descontração após um exame seu - e você sabe como seus exames deixam as pessoas - e uma cerveja amanteigada com uma mocinha na mesa da cantina da escola, não irão apagar ou me fazer esquecer dessa história... nem que eu quisesse, não consigo enxergar mais ninguém, Severus...
- Entendo, Remus, e agradeço profundamente a declaração amorosa logo pela manhã, mas quero te lembrar sobre uma única situação : convívio social. Nossa situação é tolerada, apenas tolerada por vários integrantes do corpo acadêmico, e temos que ser mais que previdentes na forma como nos comportamos em público. E abraçar a moça que está prestando um exame para ser minha bolsista, e depois ficar com ela conversando numa mesa da cantina comunal, não lhe parece algo que possa ser interpretado como favorecimento ? Só prossegui com isso porque eu já tinha enviado a coruja diretamente da sala do diretor, por ordem expressa deste, e porque nenhum outro estudante chegou nem perto de achar a solução correta, e nós dois sabemos muito bem o que está em jogo. Se já falam de nós como casal, falarem de nós como trio vai ser mais interessante ainda, não acha ?
- Eu não a abracei, Severus...só - iniciou Remus
- E eu sou um chato bilioso por pensar essas coisas, já sei. Vamos, a moça está esperando lá fora, Remus... melhor abrir a porta antes que mais gente venha olhar o que o "casal 20" da escola está fazendo numa sala fechada, com uma estudante plantada do lado de fora da sala, esperando para ser atendida.
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Ali, esperando nada pacientemente que os dois resolvessem o que tinham para conversar entre si, eu fiquei pensando em mim mesma, estava literalmente uma bruxa, no sentido trouxa da palavra... com cara de assustada, vermelha de raiva, e sem perceber eu estava amassando a pasta com o curriculum... e que histórico escolar, por Merlin ? Só me pediram documentos e curriculum ! Mas aquele trasgo não ia conseguir me apavorar mais, não ia ! Se ele era um bruxo, eu também era ! Menor, concordo, mas era !
- Por favor, entre senhorita Silva, me pediu Remus com um sorriso muito agradável nos lábios : exímio solucionador de problemas ou ator profissional ? eu ainda não sabia...mas de qualquer forma entrei e rapidamente fiquei na frente da mesa do trasgo, e estiquei a pastinha para ele.
- Aqui está. A carta de convocação somente dizia curriculum e documentação pessoal, e meu histórico escolar não está junto, posso providenciá-lo fisicamente junto à secretaria com a maior brevidade possível, professor. Mas se me quiser perguntar, vou responder o que quiser saber sobre ele.
- Mesmo ?
- Prometo tentar.
- Acabou de me afirmar que poderia responder o que eu quisesse saber sobre ele, senhorita Silva. Aprenda algo, e aprenda de uma vez : somente prometa o que possa cumprir, ou terá uma vida muito breve.
- Sim, Senhor Professor. Eu consegui o estágio ?
Pela primeira vez, Severus Snape levantou os olhos do pergaminho que estava redigindo, e me olhou. Naquele segundo em que nossos olhos se encontraram senti minha alma se enregelar completa e irremediavelmente, naquele minúsculo instante que os olhos deles bateram nos meus senti todo o poder que ele tinha: nada suave, nada sutil, apenas gelo me adentrando o espírito por aquelas negras frestas insondáveis, me preenchendo a alma de tristeza. ELE era um bruxo... eu era um bichinho amestrado que achava que sabia fazer mágicas para divertir crianças. E naquele momento, um bichinho bem assustado que tinha - mais uma vez - falado besteira.
- À minha revelia, Senhorita Silva, conseguiu. Seja esperta e conserve o que obteve, porque existem muitos outros estudantes implorando para estar em seu lugar.
- Eu sei da minha sorte, Professor.
- Não foi sorte, Senhorita, foi perspicácia, apesar da sua falta de atenção evidente em tudo que faz. Gostaria que revisasse isso, e me trouxesse suas dúvidas - pertinentes, espero -amanhã pela manhã no laboratório 3 do subsolo 1. Sem atrasos, dessa vez. - disse ele me esticando o tal pergaminho em que tanto escrevia.
Meus olhos se arregalaram ao ler tudo que tinha ali, era APENAS quase toda a matéria que eu tinha estudado a vida inteira em Poções, e mais alguns tópicos que eu nunca tinha visto na vida... Ia ser uma LONGA noite...
