Verdades, fortes verdades

"Quisera renascêssemos,

no céu como pássaros gêmeos rufando as asas de par em par,

na terra como árvores entrelaçadas, crescendo lado ao lado"

Chourigonka, de Po Chü-i.

As árvores à frente do chalé - dormideiras altivas, dignas de inveja de reles e risíveis homens - são duas : cada uma com seu tronco, seus próprios galhos e suas raízes únicas, crescem em perfeita harmonia, uma perto da outra, desfrutando juntas as alegrias do mundo, assim como os doces dias de suas primaveras e outonos.

E quando a lua finalmente surgir, suas folhas se unirão firmemente e dormirão o mesmo sono que usufruem os amantes. (1)

Mesmo depois de um início de dia tão instável, os dois amantes se entenderam como sempre ao cair da noite : sem palavras e sem muita pressa, Lupin acariciou suavemente o braço de Severo conforme este o esticou para abrir a porta do chalé que dividiam há quatro anos.

- O que está querendo, Lobinho ?

- Ver se você está com frio, Sev.

- Porquê, está querendo ficar aqui fora, olhando as árvores, novamente ?

- Até que não seria má idéia...

- Você é um romântico incorrigível, Remus... mas eu estou com fome, agora. Mais tarde viremos ver seu precioso tesouro natural.

- Se você não fosse um amante tão... interessante, eu não suportaria esse seu materialismo convicto, Severus - disse sorrindo Lupin,se aproximando ainda por trás e beijando-lhe o lóbulo da orelha.

- Você sabe como eu fico quando estou com fome, Remus... não me provoque.

Mãos ágeis e conhecedoras encaixaram-se na frente das vestes de Severus, enquanto Remus aproximava-se mais ainda e sussurrava baixinho em seu ouvido :

- Tem certeza que não quer ser provocado ?

- Tenho.

Ao dizer isso, Severus virou-se de frente para Remus e agarrou-o com apenas um braço, apertando firmemente suas nádegas, forçando o corpo do outro de encontro ao seu enquanto que, delicadamente, com as costas da outra mão refazia o caminho tão conhecido de uma cicatriz em seu rosto, e lentamente o beijava após o toque.

- Quero provocar.

xoxoxoxoxoxoxoxoxo

Aos catorze anos enfim te enxerguei :

duas crianças éramos então, sem reservas ou malícia;

cabisbaixo apenas sabia a parede fitar

quando mil vezes você me chamou, mas nunca me voltei.

Aos quinze, semblante enfim desanuviado,

passei a desejar juntos sermos um dia cinza e pó.

E embora linda história de amor com você sonhasse viver,

Nunca esperei ter de um dia ao mirante subir por você ansiando.(2)

Aos dezessete, você partiu...

Aos vinte e dois, eu te achei. E nunca mais parti.

xoxoxoxoxoxoxoxoxoxo

- Gostou do bolo, Sev ?

- Delicioso, Remus...

- Passou a fome ?

- Uma parte dela, sim...

- Sev... você acha que a moça conseguirá ser útil no projeto ?

(hummm... então foi por isso todo o carinho, o bolo... ah, Remus, não precisa mais me comprar, já pagou o preço justo há muito tempo para me ter completamente...e nós realmente nos merecemos, depois dessa. Enfim, vamos deixar você feliz, porque você precisa disso).

- Acho, sim. Ela tem algo que nos faltava entre os estudantes : é criativa, empolgada, não está no meio o suficiente para ainda conseguir fazer as perguntas difíceis que precisam ser feitas, sem constrangimentos, não tem vergonha de parecer estúpida e fazer aquela pergunta genial que trará a solução ao problema. Só que tem pouca base teórica, o que também acho que vai ser uma bênção.

- Explica.

- Ela não tem vícios, Remus : nunca trabalhou com nenhum outro pesquisador para cristalizar conhecimentos ou formatos de pesquisa, não sabe o jeito "certo" de fazer as coisas, então pode vir a ser o diferencial que buscávamos. Só não fique perto demais dela.

- Ciúmes, Severus ?

- Já te expliquei os motivos pela manhã, e não vou ser repetitivo, Remus.

- Então, se o cuidado é de fazer um trio, quero que você se afaste do Malfoy também.

- São duas situações diferentes, Remus : estou orientando a tese do Malfoy, preciso desse contato, e ele é um homem.

- Sei, sei... e eu sou um animal pegajoso que defende brutalmente o território e suas posses. Sev, sem essa : eu enxergo os olhares que o Malfoy te dá, e vejo que você não é indiferente a isso.

- Acha que eu não enxerguei os olhares que a moça te deu hoje pela manhã ?

- Empatamos ?

- Nâo posso tirar os olhos do Malfoy de mim, e pelo jeito você está gostando da moça se derreter para você... acho que estamos nos fazendo ciúmes mutuamente, não é, meu lobinho ?

Um riso solto, profundo, gutural... e uma carícia. O que mais querer de um lobisomem ?

- O que mais gosto no nosso relacionamento, Sev, é que nunca mentimos para nós mesmos... Mas por que diabos temos sempre de ficar competindo ?

- Porque ambos somos fortes.

- Vem cá que eu já te mostro a força, Senhor das Poções ...

xoxoxoxoxoxoxoxoxoxoxoxo

(1) e (2) essas são adaptações de trechos do livro Musashi, de Eiji Yoshikawa. F A N T Á S T I C O !

Gente, quero agradecer, e MUITO, os reviews !!!!

Marck Evans, que delícia ver um review seu aqui, adoro tuas histórias, e ler vc dizendo que "isso está ficando cada vez melhor" foi ótimo pra minha moral ! Como pode ver nesse capítulo , eles estão muito mais que assumidos... E obrigada por ter gostado do local onde era a escola da Maria das Graças, só podia ser em S Tomé.

Snake Eyes, meu mentor, aquele que me acolhe e de quem eu sou fã de carteirinha : sei que vc não curte slash, e agradeço mais que profundamente você se dar ao trabalhão de ler essa minha fic, e ainda mais achá-la divertida. Espero que goste do poema desse capítulo também (continua arremedo de poesia, sim... rs). :) Ainda bem que consegui transmitir o desespero da Graça, ela tá mais é "ferrada" na escola, mesmo... e aguardem mais agruras, ela ainda vai sofrer um bocado com esses professores dela... Eu sempre tenho uma dúvida quando leio Dumbledore : como ele pensa ? E todo aquele ar divertido por trás dos óculos de meia lua só conseguiu ser traduzido em pensamentos daquele jeito que eu pus no capitulo 2... ok, ok, com jeito de menina, porque menina eu sou, mesmo. rs:)

Ana Carolina, aguarde os próximos capítulos : Draco vai entrar de sola na parte venenosa...afinal, ele é o loiro malaio de saia de batik, ou não ?

e, pessoall, se estiverem gostando, ou não, me escrevam : se não quiserem postar reviews, sem neuras : meu email tá lá no meu perfil, eu adoro receber correspondência ! Mas eu adoro reviews, também, viu ?