The Dark Side of the Moon

Lúgubres,

Ingratas,

Noites de prata :

Bruscas

( mas esperadas)

retiradas

de uma vida feliz :

quando te outorgaste o direito de sobreviver, lobo maldito ?

Dia 29... outra segunda noite de Lua Cheia. Seu corpo há muito não manifestava mais as dores que passava quando das transformações. Mas sua alma esvaía-se a cada mes mais um pouco... sabia que algo estava acontecendo, algo de profundamente errado. E sabia que seu amado também o sabia. E que, por trás daquela aparentemente férrea solidez e profunda certeza de tudo, ele também estava perdido.

Perdido.

Tinha perdido a objetividade do pesquisador preciso e atento ao deparar-se com a derrocada de seu amor. Em nenhum momento conseguira descobrir onde estava o erro, uma vez que aquele era o único lobisomem que havia sobrevivido por tanto tempo. Podia ser a fórmula, sim, mas podia apenas ser seu sangue que reagia mal com a fórmula.

Sangue Ruim...

Excelente forma de expressar o que ele era. Sim,era bruxo de família tradicional e antiga, mas era inexoravelmente um sangue ruim. Seu corpo já não era o mesmo, cansava-se fácil, e suas mãos começaram a apresentar um tremor característico que logo não daria mais para ocultar.

Oculto.

Já se cansara de meias-verdades, de ocultar sua situação em nome de uma sociedade perfeita. Bah, sociedade essa que não o ajudava em nada. Nada. Pois nada mais estava dando certo, continuava ali por causa do laboratório, da verba, mas não tinha apoio de nenhuma forma, só restava aguardar (e augurar) para que a estudante brasileira - luz no fim do túnel, realmente a tese dela era brilhante - o alertasse do que estaria errado.

Alerta.

Barulho estranho, lupina atenção despertada, o homem dentro da fera se apavora : quem seria o inconsequente que estaria por ali ? Passara, ao correr do tempo, a duvidar dos efeitos da poção, e esta seria a primeira vez que iria se deparar com outro ser humano durante sua transformação.

Ação.

Não conseguia mais ficar parado e esperar o passar da lua cheia : ele necessitava de carinho, de aconchego, de...presença. Fosse qual fosse a forma, homem ou lobo, a alma era a mesma, e ele - porque mentir para si mesmo ? - precisava ficar o máximo tempo possível com seu amor, fosse isso uma noite, uma vida ou pela eternidade;e se o lobo exigisse esse sacrifício, ele o aceitaria de bom grado, desde que pudesse ficar perto dele.

Ele. Sempre ele. Para sempre.

E

abraçados,

unidos,

Fera e homem

esperam,

nada incólumes,

o sol dispensar a lua cheia

de suas vidas.