STFD - OS GLADIADORES
Capítulo Quatro – Final
Thomy gostava de todos na casa da árvore. É claro que Verônica e Malone eram os preferidos. Mas inexplicavelmente ele adorava Marguerite que embora negasse, também gostava de brincar as escondidas com ele.
Marguerite não permitiu que Roxton visse os fantoches que ela havia costurado.
Então começou secretamente a sabotar os horários em que Roxton estava com a criança distraindo sua atenção. Sem que o caçador percebesse, colocava o fantoche do menino no dedo e fazia com que ele visse. Thomy alucinado corria para ela e Roxton começou a ficar intrigado. Olhava para a herdeira para tentando desvendar o mistério. Mas ela sempre dava um jeito de ocultar o brinquedo do caçador.
Marguerite também viu no garoto a possibilidade de diminuir o tédio que a incomodava. Thomy gostava dos sons em geral. Mas as palavras sempre foram mágicas para ele. Adorava quando alguém falava ou cantava. Aquela mulher emitia tantos sons e em tons diferentes, especialmente quando discutia com seu amigo Roxton. E era isso que entre outras coisas, parecia atraí-lo para a herdeira. Outra coisa que ele gostava muito era as pedras que ela sempre tinha por perto. Eram tão fascinantes e coloridas e ao serem batidas uma nas outras provocavam um estalido tão gostoso. E apesar do olhar firme e do tom ríspido, ele não se sentia intimidado por ela.Não mesmo!
A estratégia de Marguerite no seu turno de "professora" de Thomy era diferente da do caçador. Pegava o menino e trancava-se em algum lugar sem deixar que Roxton a seguisse.
Os guardas corriam atrás da menina que esperta conhecia todas as ruas da cidade. Escondia-se com facilidade quando queria, até o dia em que foi pega e arrastada pelas ruas sendo puxada pelo braço, ainda que tentando resistir. Cometera o erro de querer andar entre as pessoas mais ricas e refinadas de Londres e alguém tão fora dos padrões como ela, jamais seria bem recebida por eles. - "Bando de aristocratas, que todos ardam no inferno!" - Pensava a jovem se escondendo em um beco, olhando ao mesmo tempo uma festa requintada do outro lado do quarteirão. - "Algum dia ainda serei um deles... Juro por meus pais..." - Ela parou - "Se algum dia eu os tive."
A mulher entrou no salão e todos os olhos se viraram para ela
"Bem Marguerite... Você conseguiu... Cercada de riquezas e jóias reluzentes que poderia fazer um cego enxergar, meu Deus! Estou entre eles, mas não me sinto um deles... por mais que este vestido caro, este chapéu lindo, e minhas jóias também brilhantes, não sou e nunca serei um deles... Não quero ser...". Este pensamento a perseguia onde quer que fosse, principalmente lhe atormentava os sonhos, nas imagens do que algum dia poderia se tornar para conseguir dinheiro.Ela mesma parecia ter medo desta Marguerite Krux, oculta em seu próprio pensamento.Não, ela acreditava não ter um coração.
O senhor idoso foi ao seu encontro cumprimentando-a. Marguerite sorriu. Afinal, usava o vestido e as jóias emprestados, e que havia conseguido com muita dificuldade, como também convite para o baile.Tinha que aproveitar a ocasião da melhor maneira possível.
Ofereceu-lhe educadamente o braço e conduziu-a sob olhares surpresos. Conforme seguiam até o centro da pista de dança, um corredor se abria entre os convidados.
Pararam e ele sinalizou para a orquestra que começou a tocar uma valsa de Strauss e eles pareceram voar naquele local que apesar da platéia, naquele momento parecia ser só deles.
Lord Fortville era uma das figuras mais importantes e abastadas da corte inglesa. Desde a primeira vez impressionou-se com Marguerite. Era um homem que gostava de boa comida, um bom vinho e de mulheres. Mas seu encantamento pela morena foi imediato. Nenhuma foi tão arrebatadora quanto ela.
E desde a primeira vez Marguerite o tratou muito bem. Sempre o tratou com respeito e sinceridade, deixando claro seus objetivos, não se expondo ao extremo, como muitas mulheres faziam por lá para conseguirem satisfazer seus desejos.
Mas ela teve um diferencial: Gostava de qualidade e não quantidade.
Estava interessada em mudar sua vida de penúria, isto era óbvio. E também não o amava, ele bem o sabia. Mas, conduzir aquela mulher esplendorosa pelos pela corte fazia com que o ego do homem fosse nas nuvens e não foi nenhuma surpresa quando ele a pediu em casamento.
Foi uma festa com todas as pompas e todo brilho que a ocasião merecia. Com incrédulos convidados que embora torcessem o nariz para Marguerite, ao mesmo tempo não queriam perder chance de ter Fortville como um parceiro lucrativo nos negócios.E claro, para o assunto na manhã de domingo seguinte fosse a festa, e ser um dos convidados do famoso Lorde.
"Bando de idiotas." – pensava ela – "Me julgam como se minhas intenções fossem diferentes das deles".
E foi uma época muito boa para ambos. Qualquer desejo de Marguerite era atendido o mais rápido possível.
Viajaram por toda a Europa, sempre com muito luxo. Almoçaram nos famosos restaurantes franceses, navegaram pelo mediterrâneo. Juntos saíram da Gare de Strasbourg em Paris entre os seletos passageiros que iriam cumprir a longa jornada de 2.900 quilômetros em 56 horas até Constantinopla no luxuoso Orient Express.
No primeiro dia de viagem Marguerite estranhou um pouco o balançar do trem e sentiu-se indisposta preferindo fazer as refeições na cabine. Mas insistiu que Fortville fosse ao vagão restaurante para o almoço. Lá que ele dividiu a mesa com alguns companheiros de viagem, entre eles William Roxton que desceria em Munique para resolver alguns negócios pendentes antes de partir de férias para um safári em companhia do pai e do irmão.
Naqueles poucos anos Marguerite conquistou fortuna, recebeu muito carinho e retribuiu-o a Fortville tratando-o com delicadeza, sinceridade e respeito que só uma legítima dama poderia oferecer.
Quando ele morreu, a herdeira sentiu pela primeira vez na vida a dor de perder um amigo. Mais que um amigo, ele era seu protetor. Não mais um 'cofrinho', como ouviu certa vez ao passar por um grupo de aristocratas, assim que voltou a Londres.
Na base da casa da árvore alguma coisa do lado de fora da cerca atraiu a atenção de Thomy ele logo se levantou, curioso se aproximando dela.
"NÃO!" - Roxton gritou enquanto praticamente voava e agarrando Thomy.
O garoto pareceu surpreso e irritado com aquela atitude daquele homem grande e se levantou irado, encarando John. Marguerite sentia o coração quase saltar da boca.
"Você queria que eu te deixasse encostar-se à cerca elétrica é Thomy?" - Roxton perguntou com severidade, mas o garoto não pareceu se sentir abalado.
O menino pegou alguns galhinhos por ali e tentou fazer alguma coisa. Depois pegou no queixo do caçador, virando seu rosto com a mãozinha até seu rosto quase virar totalmente, para ver um porco– do-mato, muito bem escondido e camuflado entre as árvores. John demorou um pouco para visualizar o animal, mas assim que o conseguiu, ficou surpreso com a visão do garoto.
Sorriu e deu uma olhada para Marguerite, que parecia preocupada com a atitude do menino. John lhe deu uma piscadela e ela quase fumegou de irritação.
Levantou, estufou o peito e ajeitando o colete marrom pegou o menino, colocando-o nos ombros, e agitando-lhe os cabelos, sorridente.
"Muito bem rapaz, isso mesmo, como EU lhe ensinei!".Fez questão de dizer em voz alta o "EU".
Marguerite balançou a cabeça olhando por cima do livro.Tinha que reconhecer que, não perfeitamente, mas Thomy tentava fazer o que John lhe ensinou. E seu desespero interno crescia, não sabia até agora o que ensinar ao menino.
"Está na hora do sono dele, vamos subir". Fechou o livro e levantou-se arrumando o cinto, caminhando até a base do elevador.
"Ei.. Logo agora que ele ia demonstrar algo mais? Marguerite, você disse que não íamos seguir esta rotina exatamente como Verônica nos...".
"Mudança de planos. Vamos logo".
A herdeira entrou no elevador, e esperou impaciente pelo dois.Roxton não se moveu.
"Eu não quero subir agora, e não vou". Desafiou.
Marguerite segurou-se para não lhe dar uma resposta ríspida, não podia brigar com ele novamente.
"Está bem. Mas não demore". Entrou no elevador e os dois meninos acompanharam com os olhos o elevador subir lentamente.
"Que tal ensinar mais um de seus truques de visão, Thomy?".
Ficaram ali por mais alguns minutos, a cada minuto que se passava a fome aumentava. Marguerite sabia que na iam resistir por muito tempo, por isso observou sorrindo, os dois recolherem as bugigangas e caminharem pro elevador.
TROCA DE FRALDAS
"Sua vez de trocar a fralda Roxton".
"Por que? Fizemos um trato lembra? Da ultima vez fui eu, agora é você."
"Você pegou fralda quase limpa e pelo cheiro essa está bem nojenta." – respondeu ela com cara de nojo.
"O culpado é ele mesmo assim" Deu uma rápida olhada ao garoto que, mais uma vez, acompanhava o troca-troca entre o casal balançando a cabeça de um lado pro outro.
A fralda limpa já estava na mão da herdeira, quando Roxton, vencido pelo cansaço, a pegou. Marguerite tomada de surpresa deixou que a fralda caísse ao chão. Os dois bufaram impacientes, rodando os olhos, olhando em direções diferentes.Thomy deu uma risadinha.
Os dois vão pegar ao mesmo tempo e se abaixam ficando com as cabeças bem próximas.
Imediatamente, Thomy fez um barulho esquisito, mais parecendo um estalar de língua, e juntou a cabeça dos dois num beijo.
Thomy corria em volta dos dois gritando sorridente, enquanto os dois pareciam estarem muito, à vontade.
"Lorde Roxton! É isso que você anda ensinando ao pirralhinho?". Afastou-se Marguerite repentinamente enquanto ainda recuperavam o fôlego.
"Foi você quem ensinou isso a ele Marguerite, não negue."
"Grosso" - Marguerite saiu irritada de perto dos rapazes, levantando-se rapidamente.
"O que foi que eu fiz agora?" - diz Roxton saindo atrás da herdeira.
Thomy parou e com uma das mãos tapando a boca, apontou para a boca do caçador, sorrindo descaradamente.
"Cala a boca moleque!" Cochichou o caçador, num tom falsamente sério, indo logo atrás da herdeira, já podendo ouvir dali o barulho de panelas batendo na cozinha.
E NO MEIO DA TARDE...
Marguerite olhou irritada para Thomy completamente concentrado no que fazia.
"Faz ele tirar o dedo do nariz Roxton".
"Eu? Por que eu?".
A herdeira fez uma cara de nojo quando Thomy esticou o dedinho mostrando o que tinha tirado lá de dentro.
"Eca" – disse ela virando o rosto
O menino pareceu notar o aborrecimento dos adultos e sem desviar os olhos dos dois começou a trazer lentamente o dedo para a boca.
"Não moleque. Você não vai fazer isso." – advertiu Roxton.
"Segura ele Roxton!!!" - Gritou a herdeira.
Os dois correram ao mesmo tempo pra cima de Thomy que foi mais rápido e "glup!" botou o dedo na boca.
"Vou vomitar..." - Marguerite saiu correndo em direção a varanda.
Chovia torrencialmente no plateau. A tempestade caiu ao amanhecer do terceiro dia da disputa e não parou desde então tornando impossível sinalizarem com os espelhos.
Marguerite e Roxton concentraram seus últimos esforços no que quer que estivessem ensinando ao garoto.
Pela manhã Marguerite trancou-se com o ele no quarto e Roxton, quando tentava espionar colocando o ouvido na porta, mal conseguia ouvir algum som.
A tarde os papéis se inverteram cabendo a John esconder-se com a criança enquanto Marguerite tentava desvendar o que estavam fazendo. Mas assim como ela, quando queria Roxton também sabia fazer mistério.
Malone e Verônica deveriam ter retornado ao entardecer, mas eles não apareceram provavelmente aguardando em algum abrigo. Com a chuva tornara-se praticamente impossível andar pelo platô.
E a noite a saudade de Thomy pareceu ter atingido o limite e ele não dormiu. Também não chorou, mas parecia aguardar ansioso pelo retorno de Verônica. Roxton e Marguerite estavam exaustos. Cuidar dele sem estarem habituados já era cansativo, ter que virar a noite brincando era um suplício.
4 HORAS DA MANHÃ...
"Margueriiiiiiiiiiiiiiiiiiiite!".
Pulando de susto a herdeira quase jogou longe o bule de café que acabava de fazer para espantar o sono. Furiosa foi até a varanda. O caçador e o menino estavam sentados no acolchoado rodeados de brinquedos.
"Droga Roxton! Você parece maluco gritando assim. O que foi agora?".
Ele não respondeu. Apenas pegou o braço de Thomy e levantou mostrando a pequena lata com a mãozinha entalada.
"Eu não acredito" – Desanimada ela juntou-se aos dois, sentada no chão.
"Vamos puxar" – Segurou por trás o corpinho da criança enquanto o homem puxava a lata sem sucesso. Thomy olhou muito feio para Roxton que soltou. Depois com a mão no queixo o caçador meditou.
"Marguerite. Você já reparou que toda vez que existe algum problema ele pensa que eu sou o malvado?".
"Porque você é. Jogou ele longe do balanço, deixou sem comer, quase afogou e mais essa agora. Como vamos tirar isso?".
"Banha de raptor. Pegue um pouco de banha de raptor na cozinha."
Thomy nem se abalava. Parecia ter concluído que enquanto os dois estivessem discutindo era melhor brincar sozinho, então batia a lata com a mão presa no chão apreciando o barulho.
Meia hora depois...
"Roxton!!" Chamava a herdeira o homem distraído passando na décima tentativa creme de barbear no braço do garoto. "Roxton... Roxton!!!"
"O que foi?" Olhou repentina e visivelmente cansado.Respondeu com certa rispidez, mas Marguerite parecia muito nervosa.
"Pára com isso!" Pegou o pano já imundo e tirou mais uma solução do braço do garoto, que estava também cansado.Thomy estava encostado a uma almofada muito calmo, ao lado das pernas da mulher que segurava o pote.
"Nada está adiantando.." Disse com certo desânimo.
"Vou na cozinha ver o que pode nos tirar dessa fria..." Marguerite se levantou lentamente enquanto falava.
"Verônica nos mataria se.."
"Hei.."
Roxton parou "O que é?"
"Eu ouvi alguma coisa.." Franziu o cenho enquanto John já procurava sua arma.
"Não.." ela o tranqüilizou "Parece ser o...."
Na mesma hora os dois se encararam visivelmente assustados.Era o elevador, trazendo com certeza Malone e Verônica.
Com os olhos arregalados, eles precisavam dar um jeito na situação, e rapidamente.Ou pelo menos..
"Eu o escondo" Roxton falou enquanto apontando para si mesmo e pegando o menino. "Você distrai"
Marguerite não deu nem resposta e John também não esperou para ouvir alguma.Cada um correu para lados opostos, enquanto Thomy gargalhava com a corrida desesperada para um dos dormitórios.
Marguerite tentava se posicionar da maneira mais natural possível, mas tudo que o nervosismo a fez fazer foi pular em cima da mesa, e cruzar as pernas, de um modo visivelmente estranho.
Assim que o elevador chegou, ela confirmou o que havia suposto.Eram eles.
"Puxa, por onde vocês andaram?" Ela varreu o casal que estava de lama dos pés a cabeça. "Alguma festa, ou celebração? Ou talvez por prazer!" Continuou a herdeira tentando ser o mais natural possível respondeu sarcasticamente, enquanto entravam pé por pé na casa.
"Na corrida caímos em um gigantesco lamaçal" Explicou Ned "Mas isso não importa agora".
"Sim, onde está...".
"Thomy?" Interrompeu ela sorrindo nervosa, mas se arrependendo de ter lembrado dele.
"Sim, estou morrendo de...".
"Ah.. sinto em informá-los, mas Roxton está lhe ensinando algumas coisas, e não me deixou nem ficar por perto, parece algum segredo".
O silêncio ficou ensurdecedor de uma hora pra outra durante os três segundos que trocavam olhares confusos. "Segredo?".
"Roxton entenderá o nosso lado, ele não vai ligar se nós..".
"Oh, não!" Ela pulou da mesa e ficou na frente dos dois "Sinto muito".
Malone e Verônica trocaram mais um olhar confuso e a loira repousou as mãos na cintura. "O que está acontecendo?".
"Acontecendo? Está acontecendo alguma coisa? Não, não está! Está? Claro que não, estão enganados!!!...".
"Marguerite..." Malone disse se aproximando furtivamente das duas. "Escute" o casal coberto de lama foi dando passos enquanto Verônica dirigia a palavra, para a recuada Marguerite. "Ficamos fora um bom tempo, e estamos morrendo de saudades do nosso garoto.. queremos vê-lo agora, avise ao Roxton para continuar isso pela manh".
"Mas ele está ocupado com o garoto!". Protestou, mas parecia estar sendo envão toda e qualquer tentativa de distrair os dois.
"Às.." Malone parecia calcular algo "Às quatro da manhã?"
Marguerite irritou-se e não respondeu, apenas restringindo a passagem deles. "Vocês já se olharam no espelho?". Tentou uma nova tática.
"Que barulho é esse?!".
"Respondam! Já se olharam no espelho!?"
"O que há?" Ned perguntou como se estivessem normais. "O que há conosco?".
"Vocês estão... estão imundos!!! Não vou deixar que cheguem perto dele desse jeito, ele pode se assustar não os reconhecendo"
"Pare de besteira Marguerite, já brincamos com ele muitas vezes na lama daquela piscina natural, perto daqui, você está tentando nos..."
".....Além de estarem encharcados, imundos, fedendo, nojentos... sem contar que estão sujando toda a casa da árvore!!!" Respondeu ela sem dar importância à explicação da loira.
"Eu ouvi de novo...".
"É, eu também..".
"Eu não ouvi nada, vocês estão malucos, deve ser só a chuva!".
Marguerite pareceu se acalmar baixando o tom de voz
"Vamos fazer um trato. A chuva foi generosa e abasteceu a casa da árvore. Vocês merecem terminar sua lua de mel com estilo. Então vocês vão encher a banheira, tomar um belo banho e depois já limpinhos podem ver o pirralhinho".
"Marguerite." - Verônica irritou-se ainda mais - "A casa eu limpo depois. Quero ver o Thomy agora. Ou você sai da frente ou passo por cima"
A herdeira estufou o peito em frente à loira e fechou os olhos em seguida.
"Passa por cima então!".
Verônica gargalhou ao ver a herdeira naquela pose estranha. Em seguida adotou uma estratégia diferente
"THOMY" - gritou a loira - "Vem cá amorzinho"
"TEMOS UMA SURPRESA PARA VOCÊ!" Ned também gritou
Marguerite sentiu o coração saltar pela boca quando viu Thomy, ainda com a lata na mão, correndo dando gritinhos de felicidade ao encontro de Verônica, seguido por um caçador desesperado tentando agarra-lo.
Nem A herdeira nem Roxton pareceram acreditar quando no exato instante que Verônica se virava para o garoto, a lata outrora tão firmemente presa, soltou-se da mãozinha, indo rolar para baixo da cadeira, fazendo com que suspirassem aliviados.
A loira e o menino se abraçaram muito forte e ela o cobriu de beijos enlameados enquanto Thomy retribuía com intensa felicidade. De repente, depois de muitos gracejos, Ned tira uma enorme colher de pau artesanalmente feita pela tribo dos Zangas, com o nome do menino entalhado perfeitamente no cabo. Thomy parecia não se caber de felicidade.
"Viu?" - censurou Marguerite - "Agora vocês três estão imundos. Sumam daqui e já para a banheira".
Enquanto Thomy, Ned e Verônica se dirigiam ao banheiro, Roxton pegou a lata e olhou intrigado.
"Que sorte heim John?" - Suspirou a herdeira.
"Marguerite" - o caçador continuava a examinar o objeto - "Tenho uma coisa pra te contar".
"O que?".
"Você faz idéia porque não conseguimos tirar isso da mão dele?".
"Ele estava entalado?".
"Não" - Roxton bufou irado - "Esse moleque prendeu a lata com a mão".
"TTTHHHOOOMMMYYYY!!!!!!".
Aquela era uma ocasião solene. Sentados na sala, mais uma vez lá estavam os "gladiadores", Roxton e Marguerite, os jurados Summerllee, Challenger, Malone e Verônica e o paciente observador daquela disputa, Thomy.
"Vamos começar então" – disse Challenger – "Vou jogar a moeda. Quem ganhar escolhe se quer começar ou que o outro mostre primeiro o que conseguiu. Marguerite".
"Cara."
Challenger jogou a moeda anunciando – "Coroa. Roxton. Você decide." – Roxton levantou-se estufando o peito.
"Começo eu. Acredito que todos querem voltar logo a seus afazeres, então vamos terminar logo com isso. Em primeiro lugar gostaria de agradecer a todos, especialmente a você Veronica pela confiança que depositou em nós" – Sorria ele – "Segundo quero dizer que essa disputa foi revigorante."
"Não enrole Roxton" – reclamou Malone.
"Terceiro e mais importante." - Sorriu para Marguerite com sarcasmo. - "Por favor, não me acorde amanhã para tirar alguma duvida sobre minhas tarefas Marguerite, deixarei uma lista atualizada de todas as minhas obrigações na porta do quarto".
"Blá...blá...blá" – devolveu a herdeira irritada – "Fale menos e mostre o que conseguiu ensinar."
"Está bem. Por favor, meus amigos, devo acrescentar...".
"Anda logo Roxton".– Verônica impacientou-se.
"Tá." - Olhou para o menino que, sentado no chão brincava distraidamente. – "Thomy, venha cá rapaz". – O garoto imediatamente correu para o caçador.
Roxton colocou vários desenhos feitos por Verônica e Summerllee, além de algumas figuras dos livros de Challenger espalhados no chão.
"Cadê o raptor rapaz?".– dizia o caçador orgulhoso. Thomy hesitou um pouco, mas com um gritinho acabou apontando o desenho certo. Roxton sorriu de orelha a orelha e continuou. – "T-rex" – e Thomy apontou o correto.
"Flor... árvore... maçã..." – os amigos estavam boquiabertos, enquanto Verônica sorria encantada. Marguerite bocejou com ar blasé.
"Muito bom rapaz!" – Roxton deu um forte abraço no garoto que retribuiu. – "E então Marguerite. Não se esqueça que gosto do meu café com pouco açúcar".
"E eu gosto dele bem forte" Disse rapidamente, enquanto parecia dar mais importância no que dizer a seguir, e claro, ignorar os olhares confuso dos outros.Estava mais que claro que o caçador tivera uma idéia realmente imbatível.Ela continuou: "No entanto.. Tenho que admitir Roxton. Você realmente conseguiu ensinar muitas coisas interessantes ao pirralhinho." – Roxton inchou com o elogio da herdeira sem perceber o tom debochado.
"Foi impressionante John." – Concordou Summerllee.
"Obrigada Roxton" – sorriu Verônica sinceramente agradecida – "Eu adorei!".
"Sua vez Marguerite".– anunciou Malone.
A herdeira ajeitou-se lentamente na poltrona, sempre com ar entediado. Depois chamou.
"Thomy" – o garoto, novamente sentado no chão, ao lado da loira olhou para a herdeira com um sorriso. Como sempre, Marguerite permaneceu séria e sinalizou para ele que em segundos ficou a sua frente. A morena chegou bem perto sussurrando em seu ouvido.
"Estou dependendo de você pirralhinho".– Marguerite tirou o fantoche de Thomy do bolso encaixando no dedo mínimo e mostrando para o garoto. Todos olhavam curiosos.
"Quem é?" – O garoto riu e apontou para o próprio peito.
Roxton gargalhou.
"Foi isso que você ensinou a ele Senhorita Krux?".
"Calado John" - censurou Challenger. – "Continue Marguerite."
"Obrigada George".– Chamou novamente a atenção do garoto que a olhou concentrado. Depois tirou do bolso um segundo fantoche que colocou no outro dedo. Ergueu a mão deixando que ele visse seu próprio fantoche, agora colocado ao lado de um segundo para o qual a herdeira apontou.
"Quem é?" – O garoto abriu um sorriso radiante e virou-se apontando para Verônica.
"Mamá" – disse ele com um sorriso meigo.
Challenger, Summerllee, Malone e Roxton ficaram parados olhando incrédulos para o menino, enquanto Veronica emocionada estendia os braços para ele que correu sem parar de gritar.
"Mamá...mamá...mamá...".
A moça deu-lhe um longo e apertado abraço, em seguida olhou comovida para Marguerite.
"Obrigada" – A herdeira deu um sorriso erguendo a xícara de chá em um brinde. Depois se levantou.
"Roxton.." Chamou tranqüilamente "Vou deixar a caixa de costura na porta do meu quarto. Tem meias para serem costuradas. Quero meu café fresquinho quando acordar." – O caçador olhava para ela sem reação. Marguerite chegou bem perto dele – "Ahm, Roxton... feche a boca".– Concluiu pegando no queixo caído do homem.
O único barulho que se ouvia era Malone rindo incontrolavelmente na cadeira. Só então Roxton falou atordoado.
"Esperem. Tem que haver votação dos jurados".– Summerllee colocou a mão em seu ombro.
"John, guarde suas energias para sua dupla jornada de trabalho".
Aquela realmente era uma noite inesquecível ao ouvirem as primeiras palavras do menino.
Summerllee ajudava Verônica com a louça do jantar enquanto Ned escrevia em seus diários e Challenger pedia orgulhoso, para que o garoto repetisse a palavra toda hora, para a alegria de Verônica.
Feliz Marguerite observava da varanda a bela noite no platô quando ouviu passos.
"Thoommyy..." - Uma voz firme, porém em tom baixo veio da cozinha. Era Verônica, que só de olhar Roxton indo até a varanda já sabia porque o garoto estava tão quietinho.
O caçador virou-se olhando para baixo e correndo em seguida atrás do tufo de cabelo preto.
"Vem cá moleque xereta!".
Thomy correu gritando indo se agarrar às pernas de Verônica. Roxton gargalhou retomando seu caminho.
"Veio pegar a lista de obrigações Lord Roxton?" – Perguntou a herdeira de bom humor.
O homem sorriu. "Na verdade vim cumprimentar a vencedora."
Sem que esperasse ele a puxou pela cintura, colando seu corpo ao dela e beijando-a apaixonadamente.
Depois, sempre a olhando nos olhos por um longo tempo, a soltou com delicadeza.
"Boa noite minha Lady" Sussurrou.
A mulher suspirou vendo ele se retirar. Levou a mão aos lábios sorrindo.
"Boa noite, meu Lord".
FIM!!!
REVIEW!!! REVIEW!!! REVIEW!!!
