Para essa cena eu recomendo estar ouvindo Broken (Seether e Amy Lee) e You (Evanescence) respectivamente. Causa mais impacto. Sem contar que a cena toda foi escrita regada ao som dessas duas músicas.

Beijões.


Heero POV

Eu já estava ficando impaciente com essa história toda. Sally estava com os resultados dos exames nas mãos mas não me mostrava por ordens de Relena, pois essa tinha dito para esperar pois tinha um assunto a resolver. E conhecendo Sally como eu conheço, sei que ela sabe que assunto é esse, mas não me dará a porcaria do exame nem que eu aponte o canhão do Wing Zero para a testa dela. E se eu apontar o canhão, Wufei coloca a katana dele em minha garganta para defender a mulher e aí a confusão será generalizada… com certeza Meiran vai chutar a minha canela por eu ser um grosso arrogante com a mãe dela… e como ela tem a personalidade do Wufei mesmo… ARGH!

Levantei e comecei a perambular pela sala para ver se me livrava da ansiedade. Algo que eu descobri há pouco tempo é que quando eu fico ansioso, eu deixo de ter pensamentos coerentes, e não pensar coerentemente é uma coisa que eu não admito em mim mesmo. Desculpe, o lado soldado falando, mas pensamento claro foi o que me manteve vivo todos esses anos trabalhando para os Preventers.

Parei no meio da sala e olhei para Nathan, que estava em pé perto da janela do escritório. Relena tinha ligado há poucos minutos avisando que estava voltando, que queria Nathaniel e eu esperando por ela dentro de seu escritório. Por quê? Não me pergunte. Fiquei casado anos com aquela mulher mas até hoje não a entendo. Fui tirado dos meus pensamentos quando a porta se abriu. E eu esperava ver Relena entrando, mas era Sally, a última pessoa que eu queria ver porque se recusava a me mostrar os malditos exames!

-Relena voltou.

-"timo! – comecei a caminhar em direção a saída, mas Sally bloqueou o meu caminho. Apenas olhei para baixo – sim, teve um tempo que eu tinha que olhar para cima pois Sally era mais alta do que eu, mas isso foi há dezoito anos – erguendo uma sobrancelha para ela.

-Ela pediu que os dois esperassem aqui. – e de repente eu fiquei com uma vontade súbita de matar Relena por causa desse mistério todo. Pombas! O que estava acontecendo?

-Você já vai saber Heero. – o modo como Sally estava olhando para mim, como se tivesse uma grande revelação na manga, não era nada confortador. Ergui mais as sobrancelhas em uma pergunta muda, mas ela apenas sacudiu a cabeça em uma negativa e saiu da sala. Bufei, frustrado, e retornei para a cadeira onde estava sentado na última hora.

Dez minutos depois finalmente a porta da sala se abriu e por ela passou… Maxwell? Agora eu não estava entendendo nada. E ele estava acompanhado por Relena quando ambos entraram na sala.

-Pai! – Nathan passou correndo ao meu lado e foi abraçar Duo. Apesar da pequena travessura, Duo não parecia muito furioso com o filho.

-Hey Nath. – senti um estranho aperto no coração quando vi a cena de pai e filho juntos, com Duo acariciando os cabelos castanhos de Nathaniel. Era como se eu estivesse sendo deixado de fora de alguma coisa muito importante.

-Duo? – minha atenção saiu dos dois e se voltou a Relena, e eu estava pronto para abrir a boca para saber o que estava acontecendo, quando ela disse: -Quer que eu fique? – como assim se ele queria que ela ficasse? Por que Duo estava aqui? Droga, ninguém iria me esclarecer nada? Relena sabe como eu odeio ficar por fora das coisas.

-Não, Lena, obrigado. – Relena deu um sorriso a ele e partiu, deixando apenas nós três na sala quando fechou a porta. Duo soltou-se do abraço de Nathan e começou a caminhar até a mesa de trabalho de Relena, e sentou-se nela. Eu quase poderia tocar a tensão e o nervosismo que estava emanando dele. –Por que vocês não se sentam?

-Não, eu estou bem em pé. – aquilo que eu recebi foi um olhar magoado? Mas foi tão rápido que eu nem percebi. Nathan fez o que o pai ordenou.

-Pai? O que o senhor faz aqui? – jovens, sempre apressados. Mas o sorriso que Duo deu para ele fez o meu coração dar um pulo. Era um sorriso triste, tão característico do Deus da Morte, mas ao mesmo tempo era lindo. Lindo? Como assim lindo? Por que eu estava pensando nisso? Estranho. Talvez fosse o tempo que ficamos longe um do outro que faz eu ter essas reações estranhas quando estou perto do Maxwell. Mas, mesmo assim, todas as sensações boas que ele traz não compensam a dor que eu senti quando o meu suposto melhor amigo se recusou a me ajudar.

-Então… Nath… eu soube que você fez o exame de compatibilidade. – o assunto estava começando a divergir para lugares estranhos e eu resolvi sentar porque sentia que aí vinha bomba.

-Sim, pai, e?

-Bem… e… aqui está o resultado. – e ele deslizou por sobre a mesa um envelope que apenas agora eu notei. Mas por que ele estava anunciando o resultado dos exames? Perguntas, perguntas. Nathaniel pegou o envelope e rapidamente o abriu, o olhando. Um sorriso enorme começou a surgir em seu rosto e ele passou o envelope para mim.

Só por causa do sorriso que o menino deu ao ver o resultado, eu poderia sentir que a coisa era boa. Por isso as minhas mãos estavam trêmulas quando eu peguei o envelope, e o meu coração deu um pulo quando eu li os 98 de compatibilidade. Nem Trowa e Wufei chegaram tão alto assim. Era quase 100. Olhei assustado para ele. O que esse menino tinha de especial para conseguir esse milagre?

-Eu sei o que você está se perguntando, Heero. O que o Nathaniel tem que ele conseguiu ser mais compatível do que os outros? – merda, os anos passam mas Duo sempre parece me conhecer perfeitamente. –E aqui está a resposta. – ele deslizou outro envelope por sobre a mesa, que Nathan novamente o abriu, mas de maneira um pouco mais hesitante. Vi as sobrancelhas dele irem franzindo à medida que ele lia cada linha, e eu ficava cada vez mais curioso sobre o que poderia ter naquele envelope.

-Eu… não entendo papai. – a voz dele estava tão sumida que eu estava começando a ficar preocupado. Suavemente tirei o envelope das mãos trêmulas dele, para saber o que estava de errado.

-O que você não entende Nathan? – tive que erguer os meus olhos da folha para poder olhar para Duo. Ele parecia tão cansado, tão… triste e solitário. Meu coração deu um pulo. O que tinha acontecido com ele para ele ter ficado assim? Sinto, de alguma maneira, que isso é parte minha culpa. Se eu tivesse insistido, se eu tivesse o procurado quando ele começou a se afastar de nós, talvez as coisas hoje seriam diferentes.

-Aquele exame diz que eu… sou filho do senhor Yuy. – o quê? Voltei rapidamente a minha atenção para a folha na minha frente e aqui diz que ele realmente é o meu filho. Mas… mas o pai dele não era o Duo? Agora sim eu estou perdido.

-E você é. – voltei o meu olhar para Duo, que parecia estar tirando forças de algum lugar desconhecido para nos contar alguma coisa. Nossos olhares se encontraram e eu vi lá dentro o medo… e um pedido desesperado por compreensão. Eu estava começando a me assustar. Duo nunca se mostrou tão vulnerável assim em toda a sua vida. O que havia de errado?

-Mas… eu sou o seu filho! – Nathan se levantou numa agilidade impressionante. –Eu sei que sou! – o menino parecia tão perdido quanto eu.

-E você é… Nath.

-Mas então como você explica esse teste? – e ele apontou para os papéis em minhas mãos. Boa pergunta garoto.

-Eu… - Duo soltou um suspiro e passou a mão pela franja, a deslizando depois pelo cabelo trançado. O cabelo dele é algo que sempre me chamou a atenção, mesmo depois de anos, e eles continuam tão belos quanto da última vez que eu os vi… Argh, fugindo do ponto aqui Heero. Mas perto de Duo, estranhamente eu sempre perdia a concentração. -… Doutor G… - opa, se tinha doutor G na história a revelação seria forte e eu estava começando a me preparar para o impacto. O que o doutor G fez? Catou os nossos dna e fez um clone de nós dois em segredo? Então você descobriu a verdade e pegou o resultado da experiência para criar? É isso? Uma explicação mirabolante, mas eu não pude pensar em outra no momento. Mas com certeza as defesas que eu ergui não foram o suficiente para evitar o tranco que eu recebi com a revelação.

-Vocês com certeza ouviram falar das experiências que os cientistas estão fazendo, tentando tornar um homem capaz de gerar uma criança. – claro que eu tinha ouvido falar dessas experiências, parte das verbas delas vinham das empresas Winner. Mas o que isso tem a ver com o Doutor G e essa história? –Bem… - Duo deu uma risada no estilo Shinigami e eu me preparei para o pior. -… vamos dizer que o doutor G foi o pioneiro nesse campo, e eu fui a sua cobaia. – ao meu lado eu vi Nathaniel cair em choque na cadeira onde estava.

-Mas… mas… mas… o que isso tem a ver em eu ser… os exames terem acusado de eu ser filho do senhor Yuy? – ele perguntou debilmente e eu vi o rosto de Duo se contrair e ele se erguer, frustrado.

-Como o que isso tem a ver? Você é mais inteligente do que gosta de transparecer Nathaniel. Claro que eu não poderia esperar menos do filho do soldado perfeito. Mas se você quer que eu esclareça melhor… você nasceu de mim. Fui eu que te carreguei por meses dentro de mim. Eu que fiquei enjoado, eu que tive as minhas costelas chutadas por você, eu que sofri as dores do parto… - ele estava extremamente nervoso, porque estava falando sem parar. E quanto a mim, eu não tinha assimilado bem a coisa para poder esboçar uma reação.

-Quer dizer que a minha mãe… - a expressão do Nathan era de dar dó. Era como se o mundo dele tivesse ruído.

-Hilde não era a sua mãe… Nath. Ao menos não biológica. – Duo ajoelhou-se na frente do filho e segurou as mãos dele entre as suas. -… Mas ela te amava Nath. Ah, como te amava. E foi ela que mais insistiu que eu contasse a verdade, ainda mais quando ficou doente…

-Duo? – eu interrompi o discurso dele, eu precisava esclarecer uma coisa. –Isso quer dizer que naquela noite que nós… - ele apenas deu um aceno positivo com a cabeça. E foi quando Nathaniel e eu explodimos ao mesmo tempo.

-COMO VOCÊ PODE FAZER ISSO COM A GENTE?


Duo POV

Eu me senti atacado e ferido pelos dois lados quando ambos gritaram ao mesmo tempo, erguendo-se de suas cadeiras:

-COMO VOCÊ PODE FAZER ISSO COM A GENTE? – como eu pude fazer isso com eles? Eles perguntam. Como eu pude? Tudo o que eu tentei foi proteger Nathaniel de virar um experimento a ser dissecado por ser a primeira criança a nascer de um homem. E quanto a Heero… bem, eu já tinha dito isso a Relena. Eu não poderia simplesmente aparecer na vida dele e derrubar essa bomba.

-QUEM VOCÊS DOIS PENSAM QUE SÃO PARA FICAR GRITANDO SOBRE JUSTIÇA COMIGO? – por um instante eu achei que a minha voz soou parecida com a de Wufei, gritando sobre justiça. Mas o momento não era para piadinhas. E eu estava começando a me sentir acuado. E quando eu me sentia acuado, eu ficava nervoso. E quando eu ficava irritado, coisa boa não saía disso.

-Nós temos o direito. Você mentiu para mim! – Nathan apontou um dedo para mim e eu estapeei a mão dele para longe. Quem esse garoto pensava que era para ficar apontando e cobrando coisas de mim? Argh, as vezes ele era tão… Heero.

-Duo! Por que você não me contou nada? – e falando em Heero, agora era a vez dele de jogar acusações.

-E você esperava que eu aparecesse na sua casa, meses depois do seu casamento, e contasse as boas novas assim… do nada? – eu estava sendo sarcástico, eu sei, mas foi uma coisa que eu aprendi nas ruas: machuque eles primeiro, garoto, antes que eles te machuquem, era o que Solo vivia me dizendo.

-E quanto a mim? E quanto à mamãe? – perguntas e mais perguntas sendo disparadas dos dois lados, e eu estava começando a ficar tonto.

-A sua mãe me ajudou e muito, ela me ajudou a trazer você ao mundo…

-Ela te ajudou a construir uma mentira… aquela vagabunda traidora. – eu bati nele. Eu bati no meu filho. E o som do tapa além de estar ecoando pela sala, estava ecoando na minha mente. Sem contar o olhar chocado que Nathan estava me dando. Eu nunca tinha batido nele.

-Não ouse profanar a memória de Hilde. Você não faz idéia do que passamos para criar você. Não seja tão ingrato. Eu era um homem, o primeiro a estar gerando uma criança, como você acha que a comunidade cientifica reagiria a isso? O que você acha que eles fariam com você quando descobrissem? Com certeza você não estaria aqui agindo dessa maneira ignorante se eles tivessem te encontrado… não é? – minha voz estava fria e sem emoções, mas eu me sentia entorpecido por dentro por causa da dor. Estava sendo pior do que eu imaginava.

-E quanto a mim, Duo? – ah, segundo round, era a vez de Heero me nocautear. –Você sabia o que eu estava sofrendo com a Audrey, e se recusou a ajudar, sabendo que Nathaniel poderia ser totalmente compatível. Logo você que perdeu a sua mulher para a mesma doença que está roubando a minha filha de mim. Como você pôde ser tão insensível? – no momento que as palavras deixaram a boca dele, eu sabia que estava lidando com o soldado perfeito. E com o soldado perfeito só há dois meios de lidar: á lógica e o sarcasmo. Escolhi o segundo.

-Oras me perdoe sr. Yuy se eu queria proteger o meu filho. Oras, me perdoe se eu fui insensível, talvez eu tenha andado muito com você. Mas o senhor não espera… - e eu comecei a cutucá-lo, com um dedo, no peito, esperando que assim a minha dor se esvaísse. Porque eu sentia que o meu coração estava a ponto de explodir. E tudo o que eu queria nesse momento era sumir. Eu não conseguia mais suportar isso, não mais. -… que eu te entregue de mão beijada a única coisa que me manteve em pé durante todos esses anos, enquanto eu te via feliz da vida ao lado de Relena na tv.

-Do que você está falando, Maxwell? – ah, brincando de ignorante. Mas é como dizem, não é mesmo? A ignorância é uma benção.

-Do que eu estou falando? Estou falando que eu menti Yuy. Eu menti quando disse aquelas lindas palavras para você na sua festa de casamento… cada vírgula saída da minha boca era uma merda de uma mentira. A primeira de muitas. E eu admito que foi errado, mas vocês não estão vendo o meu lado aqui. Eu tentei poupar as pessoas da dor e dos problemas. Mas alguém me agradece? Não! Tudo o que querem é fazer Maxwell de Judas. Pois aqui estou. – me afastei dos dois e abri os braços. –Comecem a bater. Garanto que de todas as porradas da vida, essa é a que vai doer menos.

-Pai… - minhas defesas de Shinigami se quebraram ao ouvir a voz do Nathan. Ele parecia furioso e assustado ao mesmo tempo, sem ter como reagir. Mas o que eu poderia esperar? Esse era um lado meu que ele nem conhecia. E eu achei que nunca precisaria mostrar perto dele.

-Eu sinto muito mesmo Nathan, mas eu só queria o seu melhor.

-Mentindo para mim? Me fazendo acreditar em algo que não era verdade? Eu cresci pensando que a Hilde era a minha mãe. Achando que o que eu tinha em volta de mim era realmente a minha vida, sem máscaras. Você era o meu herói. Perfeito, imaculado. E agora você vem me dizer que mentiu? E ainda quer que eu compreenda? Não creio que eu possa… perdoar isso tão cedo. – Deus, não! Tudo menos isso.

-Nathaniel. – tentei tocá-lo, mas ele se desviou das minhas mãos. –Você não pode fazer isso comigo. Não pode… tudo o que eu fiz… tudo… você é a minha vida Nath. Por favor, não faça isso comigo. – eu as sentia, as sentia rolarem quentes pelo meu rosto. As lágrimas.

-Eu… eu preciso pensar. – e ele deu as costas para mim, pela primeira vez em todos esses anos, e partiu ao mesmo tempo em que eu me senti quebrar e cair de joelhos no chão, derrotado.

-E quanto a você, Yuy? Acabaram as suas acusações? – perguntei quando percebi um movimento a minha frente e ele se ajoelhar em frente a mim.

-Duo… – a voz dele não parecia mais furiosa, ou decepcionada, apenas estava… triste. Ergui meus olhos para ver aqueles orbes maravilhosamente azuis, me encarando de um modo que eu nunca tinha visto antes. Eles estavam chateados, sim, mas carinhosos ao mesmo tempo. Me senti quebrar mais ainda.

-Ele é tudo o que eu tenho. E agora? Me responde Heero, você que sempre achava solução lógica para tudo, e agora? O que a gente faz quando o nosso coração é arrancado do nosso peito pela única coisa pela qual a gente vive? O que eu faço agora? Agora que eu estou sozinho de novo… como um rato de rua.

-Ah… Duo… - e ele me abraçou, forte. E por um momento eu senti defesas contra as maldades do mundo se erguerem, através daqueles braços, e eu me senti protegido. E abraçados ficamos… por longas e longas horas.