Capítulo 05 – O Expresso Vermelho

A barreira. Uma parede sólida, feita de tijolos, entre as plataformas 9 e 10. Como atravessá-la? Tudo o Dumbledore dissera parecia não fazer sentido e, como estavam os quatro imóveis, Aline se adiantou e correu de encontro àquela maciça parede de tijolos. Esperava sentir um baque do carrinho chocando se com a parede, mas qual não foi a sua surpresa ao sentir que continuava andando. Teria que fazer aquilo de olhos abertos da próxima vez para ver o que atravessara.

Ainda do outro lado, Cinthia, Luciana e Douglas estavam espantados com o resultado. Douglas adiantou-se falado baixo, mais para si mesmo que para as duas garotas.

- Se aquela metida a sabe-tudo passou, deve ser moleza.

E as duas o viram atravessar a barreira da mesma maneira que Aline. Cinthia passou por Luciana e sentiu que esta lhe segurava o braço.

- Por favor, Cinthia, vai comigo. Estou um pouco nervosa.

- Tudo bem.

As duas atravessaram juntas e não estavam preparadas para a cena que viram a seguir: antes que pudessem vislumbrar o trem, viram Aline e Douglas discutindo, com os carrinhos tombados e esquecidos, atrapalhando o vai-vem dos bruxos. Ainda bem que gritavam em português e ninguém entendia nada.

- Seu tosco idiota! N/A: Já virou marca registrada. Não sabe controlar o carrinho?! Se tiver uma só coisa quebrada dentro do meu você vai ver!

- A culpa é toda sua se você deixa o carrinho no meio do caminho de quem sai da barreira! Se você tivesse ido um pouco para o lado isso não teria acontecido!

- Eu estava bem longe da barreira! - e aqui ela começou a fazer uma irritante imitação de Douglas. – "Olhem para mim, sou um filhote de trasgo tosco e não sei parar o carrinho! Se não tivesse alguém para esbarrar eu certamente cairia nos trilhos"!

- Ah, quer saber? Pode ficar aí com a sua certeza absoluta do caso que eu vou procurar companhias melhores!

Ele ajeitou o malão no carrinho e saiu pisando duro. Certamente que não iria aturar aquela discussão por muito tempo e logo avistou dois conhecidos.

As duas garotas que não participaram da discussão ajudaram Aline a desvirar o carrinho e ajeitar o malão, até que Luciana viu com quem Douglas tinha ido falar.

- Olha só! São Big e Véio! (Dificilmente alguém os chamava pelo nome, tão acostumados que estavam com os apelidos.)

- É mesmo - disse Aline. – O que será que eles estão fazendo aqui?

- Vocês duas não se lembram do que Dumbledore disse antes de embarcarmos? - perguntou Cinthia, ao que as outros duas balançaram as cabeças negativamente. – Ele disse que, além de nós, tinham mais duas crianças no Brasil com forte concentração mágica, e que vinham de famílias totalmente bruxas. Só podem ser esses dois.

É, tinha lógica em juntar os dois pontos e Aline e Luciana concordaram com a amiga.

Enquanto os três garotos conversavam, elas foram direto para o último vagão e ficaram em uma das cabines da frente. Não demorou muito para que elas ouvissem o apito do trem, indicando que logo partiriam. Aline olhou pela janela para observar os últimos passageiros embarcarem, mas logo jogou-se no banco novamente. - Aqueles três vão acabar perdendo o trem se não se apressarem.

O trem deu a ultima chamada e logo partiu. Estavam finalmente indo para a escola de magia, onde aprenderiam tudo o que pudessem para se tornarem grandes bruxas. Mas a paz de espírito em que se encontravam seus pensamentos logo foi interrompida por uma voz familiar que as trouxe à realidade.

- Ham, será que nós poderíamos deixar os nossos malões aqui? Todo o resto do trem está lotado.

Era Douglas que falava, em um tom de falsamente educado. Giovanni e Jonathan o acompanhavam. Aline logo respondeu no mesmo tom:

- E quem te disse que nós dividiríamos uma cabine com você?

- Oras, e eles ficam sem cabine também? - disse Douglas se referindo aos outros dois.

- Não - dessa vez Luciana também entrou na "discussão", deixando-a com um ar de brincadeira. - Eles podem entrar, mas Toscos não são admitidos nesta cabine.

- Ou todos, ou nenhum - disse Giovanni brincando. Apenas Cinthia reparou que Aline tinha corado, e respondeu no lugar dela:

- Nenhum - disse ela tentando parecer séria. – Tô brincando. Entrem de uma vez.

Eles guardaram os malões mas saíram logo em seguida, dizendo que tinham uns "projetos como bombas, que não podiam adiar". Elas não deram bola e começaram a conversar.

Mal as fazendas iam sendo substituídas por áreas de mata no cenário lá fora, as três garotas foram novamente interrompidas. Mas dessa vez não era nem Douglas, nem Giovanni, nem Jonathan; eram dois meninos ruivos e sardentos, gêmeos, provavelmente da mesma idade que elas, embora a altura indicasse o contrário. Pararam derrapando na frente da porta e entraram na cabine correndo, fechando aporta. Exibiam sorrisos marotos, mesmo parecendo que haviam corrido de uma ponta a outra do trem.

- Podemos nos esconder aqui? - perguntou um deles

- É só por uns instantes. Obrigado - respondeu o outro sem esperar resposta.

Os dois colocaram as orelhas na porta e as meninas aguçaram os ouvidos, intrigadas. Logo ouviram passos apresados e um menino falar bastante irritado:

- Ah, se eu pego esses dois! Aqueles fogos que colocaram no meu malão vai lhes custar muito caro. Tenho que mandar uma coruja a mamãe assim que chegar na escola.

Os dois garotos explodiram em risadas abafadas, para não chamar a atenção do que estava lá fora. Assim que só a voz do garoto era audível (ainda se queixando), os gêmeos cochicharam entre si:

- E o Percy nem notou que também pegamos a varinha dele.

Assim que tiveram certeza que a voz de Percy, juntamente com o corpo, iam para os fundos do vagão, os dois meninos se levantaram e abriram a porta, cautelosos.

- Tchau, e obrigada por nos esconderem.

- Nos vemos na escola! - essa frase chegou-lhes acompanhada por uma piscadela marota.

As garotas viram os dois sumirem de vista, indo na direção contraria á de Percy. Mas logo este passava pela porta da cabine delas, que os gêmeos haviam deixado aberta, gritando.

- Fred! Jorge! Voltem aqui!

Aline fechou a porta da cabine murmurando algo parecido como "garotos".

Lá pelo começo da tarde, uma mulher passou com um carrinho cheio de doces. Elas compraram algumas coisas e se divertiram principalmente com as figurinhas que vinham nos sapinhos de chocolate.

Jonathan, Douglas e Giovanni apareceram na cabine e os seis passaram o resto da viagem conversando e acabando com os doces que as garotas tinham comprado.

A um certo ponto da conversa, falavam sobre o que tinha saído de cada varinha quando experimentaram a certa. As garotas se divertiram debochando das faíscas marrons que saíram da de Douglas, que foram caindo em espiral e apagando como vaga-lumes tontos. Giovanni e Jonathan contaram que tinham comprado as varinhas no Brasil, e por isso eram feitas de materiais diferente. A de Giovanni era feita de pau-brasil e casco de suaçuetê N/A: ou cervo-do-pantanal, para os leigos; é, isso é brasileiro também, seus desinformados!, de 28 centímetros e meio. A de Jonathan era feita de araucária e osso de boto, de 36 centímetros. Realmente, eram materiais bem diferentes dos usados pelo Sr. Olivaras.

Já de noite, o trem foi diminuindo a velocidade, indicando que estariam chegando no destino tão esperado.