Capítulo 08 – De travessuras e pergaminhos

E as aulas continuavam. Os brasileiros estavam entrando no ritmo e Hogwarts muito bem, e cada vez gostavam um pouco mais do castelo. E com o tempo, chegavam cada vez mais perto os jogos de quadribol. Numa sexta-feira, às vésperas do primeiro jogo do ano (Grifinória x Lufa-Lufa), Aline não podia deixar passar a chance de humilhar Douglas. Quando estavam saindo da última aula, Aline esbarrou nele de propósito.

- Olha por onde anda, Metida Sabe-Tudo!

- Ah, Tosco. Não te vi aí. Mas vou aproveitar a situação pra te perguntar uma coisa: eles te deixaram jogar no jogo de amanhã?

Douglas sabia que ela vira quando McGonagall recusou o pedido implorado dele para fazer parte o teste para entrar no time. Não queria cair no jogo dela, mas acabou respondendo um pouco mais nervoso do que pretendia:

- Você estava lá, puxando o saco da professora, quando eu pedi para fazer o teste. Parece que a Sabe-Tudo está tendo amnésia ultimamente. Primeiro não responde mais nada nas aulas de Poções, e agora isso!

- Não, eu não estou com amnésia. Só queria ter certeza de que você foi burro o bastante para desperdiçar o seu tempo lendo um livro que só seria um pouquinho útil no segundo ano, e olhe lá!

- Quem está perdendo tempo aqui é você! Veio me fazer uma pergunta que já sabia a resposta. Isso é ser repetitiva.

A "conversa" não havia tomado o rumo que Aline queria, e para piorar mais um pouco a situação, Giovanni e seus colegas de classe estavam passado pelo corredor, e Aline viu que eles riam daquela discussão. Mas para sua surpresa, Douglas foi na direção contrária do grupo, fingindo que não vira Giovanni. Pelo jeito Douglas estava evitando a turma da Sonserina, mas Aline não sabia dizer o motivo certo.

Grifinória venceu o jogo, e todos comemoraram muito. Mas teve duas pessoas que comemoraram mais que todos: Fred e Jorge Weasley. À tarde, ninguém agüentava ficar na torre da Grifinória de tantas bombas de bosta que eles soltaram por lá na empolgação. Como se não bastasse esvaziar a sala comunal, ainda foram gastar algumas bombas pelos corredores.

Foi aí que erraram. Enquanto soltavam uma bomba na porta da sala de Transfiguração, Filch apareceu e levou os dois até sua sala pelos colarinhos.

Enquanto Filch anotava a transgressão dos dois e ameaçava com os costumeiros "podem pegar uma detenção por isso" e depois dizendo "essas coisas já não funcionam mais; seria melhor arrancar-lhes as tripas para aprenderem de uma vez", Fred e Jorge olhavam entediados a sala a sua volta.

Fred olhou para as gavetas de arquivos num lado da sala e não pôde deixar de ficar curioso ao ver uma que dizia "Confiscado e Muito Perigoso". Apontou a gaveta para Jorge e este lhe mostrou mais uma bomba de bosta no bolso enquanto Filch se distraia com as fichas. Jorge jogou a bomba no outro canto as sala e Filch se levantou para ralhar com ele:

- Seu pirralho... O que pensa que está fazendo?

- Mas eu não fiz de propósito – Jorge tentava ganhar tempo para o irmão. – A bomba caiu do meu bolso e estourou. Olha o furo...

Fred, que estava ao lado das gavetas, abriu-a e pegou o único item que estava lá dentro, guardando-o no boldo.

Filch acabou de ralhar com Jorge e voltou para as fichas dos dois. Deu-lhes detenções pesadíssimas por causa do novo cheiro de sua sala, mas os garotos não reclamara, apenas concordaram como bons meninos.

Ao saírem da sala de Filch, procuraram uma que estivesse vazia em que pudessem examinar o novo achado.

- Onde está? – perguntou Jorge.

- Aqui – disse Fred tirando-o do bolso.

Os dois olharam por quase dois minutos para o objeto sem saberem bem o que achar daquilo.

- Um pergaminho? – disse Jorge meio cético.

- Pode estar encantado.

- Precisamos de um feitiço que o revele.

- Mas vai levar décadas até a gente achar alguma coisa que preste na biblioteca.

- Mas não precisamos pesquisar. Podemos perguntar para alguém.

- Quem iria saber um feitiço desses além dos professores?

- A maior puxa-saco que conhecemos: Aline Quadros. Ela é a única grifinória que se deu ao trabalho de decorar todos os livros. Mas o problema vai ser tirar essa informação dela sem levantar suspeitas.

- Acho que tenho uma idéia. Nós podemos...

Quando Fred terminou de explicar o plano, os dois garotos correram para a sala comunal para coloca-lo em prática. Mas Aline não estava lá, então só havia um único lugar em que eles poderiam acha-la: na biblioteca.

E lá estava ela, fazendo a redação de História da Magia junto com Cinthia e Luciana, que não conseguiu fugir dessa vez. Se aproximaram sem serem notados.

- Ó Lucy, só faltam 12 centímetros. E você esqueceu alguns detalhes. Dá uma olhada no livro, não custa.

- Sabe o que você faz – sussurrou Cinthia para que só Luciana ouvisse. – Enrola com palavras inúteis, faz letra gigante e espaça bastante as linhas.

- Hum-rum.

- Olá vocês! – disse Fred.

- Será que você poderia ajudar a gente, Aline?

- Com o quê?

- É que fizemos uma aposta com o Gui, nosso irmão.

- Ele nos mandou uma carta nos desafiando a descobrir um feitiço que revelasse a mensagem que ele ocultou no verso.

- E fizemos uma aposta de tempo, mas não podemos pagar essa aposta...

- ... então viemos procurar a resposta na fonte mais rápida: você, a própria biblioteca em duas pernas.

- Bom, vocês podiam usar o aparecium. É bem simples de ser executado, mas imagino que seu irmão não iria usar um feitiço muito complicado.

- Obrigado Aline!

- A gente se vê!

Os dois saíram apressados porta afora. Aline continuou olhando para a porta, pensativa.

- O que foi? – perguntou Cinthia?

- Eles não estavam meio estranhos?

- Não reparei.

- Mas eu também achei que eles estavam um pouco esquisitos – disse Luciana. – Quer dizer, não vi eles receberem nenhuma coruja essa semana.

- E o que fazemos então? Vamos segui-los? – perguntou Cinthia sem nenhuma convicção.

- Ééé... Boa idéia! – disse Aline se levantando.

- Mas eu ao estava falando sério.

- Mas eu estou. Vamos!

Aline saiu da biblioteca trás dos gêmeos. Luciana foi logo atrás dela; qualquer coisa seria mais interessante que terminar aquela redação. E quanto a Cinthia, ela é que não ia ficar parada ali conversando com o tinteiro.

Quando as três saíram da biblioteca, Fred e Jorge já estavam virando à direita no longo corredor. Correram o mais silenciosamente que podiam, mas avistaram os dois virando novamente em uma bifurcação. Esquerda, esquerda, direita, esquerda novamente, até que em uma curva perderam os gêmeos de vista. Foram até o final do corredor, que se dividia para dois caminhos no final, um para cada lado. Esperavam vê-los em um dos dois corredores.

Mas havia um gêmeo de cada lado, como se estivessem esperando as três aparecerem. Fred e Jorge fingiram estar levemente surpresos com a aparição das garotas.

- Muito curioso, não é, Fred?

- Sim, muito curioso. O que você acha, Jorge?

- Acho que estamos sendo seguidos.

- É o que parece.

- O que fazemos então?

- Despistamos.

Os dois deram a volta nas meninas e voltaram pelo mesmo caminho em que vieram andando calmamente. Aline, Cinthia e Luciana se entreolharam confusas.

- Eles obviamente não querem que a gente os siga – disse Cinthia.

- Porque com certeza aprontaram alguma – disse Luciana.

- Bom, acho que não é uma boa idéia seguir os dois, já que eles sabem que estamos fazendo isso – disse Aline pensando que um bruxo na defensiva e armado de uma varinha não era um bom alvo para irritar. – Vamos voltar para a biblioteca e terminar aquela redação de uma vez.

Cinthia e Luciana dispararam cada uma por um corredor ao ouvirem aquilo, deixando Aline sozinha.

- Ah, beleza! Depois não venham pedir a minha ajuda!

Depois de irem até o quinto andar e entrarem em uma sala vazia, Fred e Jorge abriram o curioso pergaminho.

- Aparecium! – disse Fred tocando o mapa com a ponta da varinha.

Linhas começaram aparecer no pergaminho a partir do ponto que a varinha tocava. As linhas se cruzaram e entrelaçaram como teias, até que começaram a formar palavras.

"Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas informam que esse truque bobo não vai funcionar. Pense em algo mais inteligente se puder. Passar bem."

- Parece que conseguimos a jóia dos logros – disse Jorge imaginando o que poderia estar escondido naquele pergaminho.

- Mas ainda temos que descobrir como usar isso.

- Deixa eu tentar. – Jorge colocou o pergaminho em uma mesa e continuou: - Fred e Jorge Weasley querem saber quem são os senhores Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas, a não ser que eles não tenham coragem suficiente para nos dizer.

E alguma coisa que ele falou deu certo, pois as antigas letras desapareceram e começaram a surgir novas.

"O Sr. Almofadinhas quer deixar bem claro que coragem é o que não nos falta."

"O Sr. Aluado confira as palavras do Sr. Almofadinhas e diz que os Srs. Fred e Jorge são muito xeretas."

"O Sr. Pontas pede que os Srs. Weasley não metam os narizes extremamente sardentos onde não foram chamados."

"O Sr. Rabicho gostaria de esclarecer aos cabelos-cor-de-cenoura que este pergaminho não pode ser usado por bruxos certinhos."

- Não conseguimos muita coisa, não é? – disse Jorge.

- Mas eles devem estar escondendo algo muito importante para encantar o pergaminho assim.

- Talvez sejam alguns segredos da escola. Precisamos de algo que os façam confiar em nós.

- Eles com certeza adoram de logros e não gostam dos certinhos.

- Então temos que pensar como eles.

- Não vai ser difícil. Os Srs. Weasley prometem não entregar o pergaminho nas mãos dos professores ou de qualquer um que mão o utilize com o seu real valor – disse Fred tocando no pergaminho com a varinha.

"Se é assim, o Sr. Pontas concorda em fornecer este recurso para bruxos transgressores como os Cabeça-de-Cenoura-Weasley."

"O Sr. Rabicho avisa que é preciso dizer uma senha para usar o pergaminho."

"O Sr. Almofadinhas diz para que os Srs. Caras-Sardentas esqueçam qualquer chance de usar este pergaminho caso pretendam fazer algo de bom com ele."

"O Sr. Aluado pede que agora os Srs. Fred e Jorge Weasley jurem solenemente."

- Mas jurar o quê? – perguntou Fred tocando o pergaminho, mas não apareceu uma mensagem como as anteriores, apenas três palavras: "Sejam espertos, trouxas!"

- Pelo jeito temos que jurar que só vamos usar o pergaminho para nos divertir – disse Jorge. – Bom, aí vai. Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom.

Em seguida, letras se formaram no topo do pergaminho, bem acima de um desenho. Fred e Jorge ficaram sem palavras de tão maravilhados que estavam com o que viam.

Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas,

fornecedores de recursos para bruxos malfeitores,

tem a honra de apresentar

O MAPA DO MAROTO

- Um mapa de Hogwarts! – disse Fred entusiasmadíssimo.

- E veja – apontou Jorge para um dos minúsculos pontinhos que se mexiam pelo mapa -, mostra o que cada um está fazendo no castelo, nos mínimos detalhes, literalmente. Olha a gente!

Jorge levantou o braço e um bonequinho minúsculo fez o mesmo no mapa. Agitou o braço para frente e para trás e os dois observaram abobados o pontinho rotulado "Fred Weasley" imitá-lo.

- Ei! Confundiram a gente de novo! – disse Fred irritado.

- Os nomes estão trocados. Arrumem – disse Jorge tocando no mapa com a varinha, e os nomes dos bonequinhos trocaram, aparecendo acima deles as palavras "HAHAHAHAHAHAHAHAHA!"

- Tão engraçado...

- Tem mais! – disse Fred apontando para outras partes no mapa, seguindo com o dedo algumas passagens. – Olha só isso, não são os corredores normais do castelo. E essas sete passagens aqui vão na direção de Hogsmeade. Será que elas acabam lá?

- Só testando pra ter certeza. Mas não hoje, está quase na hora do jantar e com certeza vão sentir falta da nossa magnífica presença, e podem desconfiar de alguma coisa.

- E como é que limpamos o mapa? Não é seguro deixar ele assim caso algum professor o ache.

Os dois olharam para o mapa e viram surpresos um balão de fala aparecer acima dos seus pontinhos. Estava escrito "Malfeito feito."

Com uma pancadinha da varinha, Fred disse as palavras do balãozinho e o mapa ficou limpo, votando a ser um pergaminho velho e comum.

- Temos que ter muito cuidado com esse mapa – disse Jorge guardando-o no bolso interno das vestes. – Imagina se isso cai nas mãos de algum professor. Ou pior, do Filch.

- Calma, é só não deixa-lo largado por aí. Vamos.

Fred e Jorge se dirigiram para o Salão Principal satisfeitos consigo mesmos. Iriam testar as passagens que iam na direção de Hogsmeade amanhã, e as outras no próximo fim de semana. Não sabiam o quão longas eram as passagens e seria arriscado testa-las em um dia de aula.