Capítulo 09 – O zelador das passagens

Naquele domingo, Fred e Jorge foram os primeiros a acordar em toda a torre da Grifinória. Tomaram o café da manhã voando e correram mais rápido ainda para uma sala vazia.

- Vamos ver qual das passagens está livre agora – disse Fred.

Quase todas as passagens estavam desbloqueadas, então puderam escolher qualquer ruma delas.

- Seria melhor que nós usássemos a do terceiro andar – Jorge apontou para um ponto cinzento que parecia uma estátua corcunda. – Seguindo nesse corredor tem a entrada da Corvinal, e seria melhor ver essa passagem antes que os alunos acordem e passem por ali.

- Então vamos.

Eles chegaram na passagem, olharam para o corredor deserto a sua volta e abriram o mapa. Procuraram os nomes de Madame Nor-r-ra, Filch e Pirraça. Nenhum dos três estava por perto. Olharam para a estátua da bruxa corcunda de um olho só e ficaram perdidos. Parecia muito sólida e pesada para der arrastada.

Fred apontou para seus próprios pontinhos no mapa e os dois viram um dos pontinhos tocar uma varinha minúscula na estátua, enquanto um balão de fala abria com a palavra "dissendium". Fred guardou o mapa enquanto Jorge executava os movimentos do mapa. A corcunda da bruxa se abriu e eles espiaram para dentro esperando ver o fundo, mas estava muito escuro Mara se ver qualquer coisa.

- Primeiro você – disse Fred.

- Vamos decidir no "pedra, papel e tesoura", OK?

Mas começaram a ecoar passos no corredor vindos da entrada da Corvinal. Os dois entraram na primeira sala que encontraram, mas não fecharam a porta para não fazer barulho. Deixaram uma fresta aberta para ver o estraga prazeres, e também podiam ver a estátua corcunda de onde estavam. Haviam esquecido a passagem aberta! Fred e Jorge ouviram a pessoa se aproximas, falando consigo mesma, em português.

- Droga de insônia! Acordo de madrugada, não consigo voltar a dormir e passo o dia inteiro como um zumbi. Acho melhor ver a Madame Pomfrey.

Quando a pessoa se aproximou da estátua, os gêmeos prenderam a respiração e danaram a imaginar uma desculpa convincente. Era Cinthia que estava passando pelo corredor. Quando ela visse a estátua aberta certamente procuraria os responsáveis e os acharia na sala aberta. Também ia ligar a "carta que receberam de Gui" com aquilo.

Mas não tinha como evitar, apenas esperar que ela olhasse para a estátua, o que ra inevitável. Estava perto agora. A qualquer momento...

Ela passou reto.

Fred e Jorge suspiraram aliviados ao vê-la de afastar bocejando da estátua, e acompanharam-na pelo corredor através do mapa. O buraco era visível dos dois lados do corredor, apesar de ficar na parte de trás da estátua. No entanto, Cinthia mal o notou! Nem sequer virou para dar uma olhada melhor no caso de estar vendo coisas.

- Geeente, como é que pode? – Fred olhou abismado para a passagem. – Ela não viu!

- Ou ela precisa realmente de algumas horas de sono, ou é estupidamente distraída.

- Ou os dois.

- É melhor irmos antes que mais alguém apareça – disse Jorge se içando para dentro da passagem, sendo seguido por Fred.

Depois de um escorrega, um túnel e uma escada enormes, eles chegaram ao porão da Dedosdemel. Nem é preciso dizer o quão maravilhados eles estavam de se encontrar em uma loja repleta, cheia, entupida até as frestas de doces. Mas como ainda era muito cedo não puderam fingir que eram clientes, e não haviam trazido nem um nuque consigo para levar alguma coisa e deixar o dinheiro no balcão.

Voltaram, então, para o castelo, sentindo-se muito felizes de ter achado aquele mapa. Foram ver a passagem do quarto andar que ficava atrás de um espelho. Sempre se perguntaram qual seria a utilidade de um espelho nos corredores do castelo, e agora sabiam.

Consultaram no mapa o que deviam fazer. Um dos pontinhos tocou com a varinha nos quatro cantos da moldura em "x", e em um balão de fala apareceu a palavra "malfermi". Fizeram o mesmo no espelho real e a parte de vidro abriu como uma porta para dentro da parede.

Seguiram por aquela passagem terrosa e escura imaginando se teria um final. A passagem da Dedosdemel tinha deixado os dois cansados e esta parecia ser tão longa quanto aquela. Mas quando chegaram ao final, não acharam uma luz no fim do túnel ou uma escada como na outra. Não havia nada! Apenas uma parede sólida de terra e pedrinhas cinzentas.

- Beleza! – disse Fred se sentando encostado na parede. – Andamos tanto para nada! Vamos descansar um pouco antes de voltar.

Mas Jorge não se sentou, ele continuou olhando para o que conseguia iluminar da passagem com sua varinha. – Por que alguém faria uma passagem sem saída?

- Não me pergunte. Talvez aqueles quatro gostassem muito de fazer os outros ficarem com cara de idiotas. – Mas Fred parou de falar ao ver algo estranho atrás da cabeça do irmão, e apontou. – Olhe, ali no teto!

- Jorge levantou a varinha num reflexo, mas sua mão não bateu no teto como ele esperava. A luz da varinha iluminava agora um buraco.

- Olhe só! O túnel continua afinal.

- Veja se não tem uma escada ou coisa parecida – disse Fred se levantando e juntando as mãos para servir de escadinha para o irmão.

Jorge viu que o túnel acima tinha chão, e tirou de lá algumas caixas de madeira. Tinha o suficiente para formar uns três degraus.

- Mas como fazemos depois? – perguntou Fred. – Esse túnel vai direto pra cima.

- Tem uma daquelas escadas de ferro que tem em esgotos e coisas do tipo presa na terra. Parece ainda boa pra usar.

Os dois subiram pela escada de caixotes e depois pela de ferro. Depois de uns vinte metros o túnel acabava. Jorge tateou em volta e descobriu uma passagem como a da plataforma 9½, parecia uma parede mas era atravessável.

Os dois atravessaram a passagem que ficava do lado esquerdo da escada e foram parar na entrada de Hogsmeade. O túnel vertical ficava dentro de uma das colunas do portal do vilarejo. Mais adiante eles viram os morros que o contornavam.

Sem se demorarem mais, eles voltaram para o castelo, indo em busca de mais uma passagem.

- Ainda temos tempo de ver mais uma antes do almoço se todas essa sete vão dar em Hogsmeade.

- Então vamos ver essa na lareira da sala dos professores. Nenhum deles passa por lá num domingo.

Eles entraram e fecharam a porta silenciosamente, mas uma voz no corredor os fez pensar que haviam sido descobertos.

- Vamos fazer a ronda, Nor-r-ra querida.

- É o Filch!

- Rápido, no armário!

Eles se esconderam bem a tempo. Filch entrou e eles ouviram seus passos irem até a lareira.

- Muito bem, Nor-r-ra. Vejamos se alguém descobriu essa passagem. Vamos, fareje até a metade do túnel.

Ele abriu o chão da lareira e Madame Nor-r-ra entrou. Os gêmeos ficaram esperando quase congelados de tão nervosos. Se Filch os achasse na sala dos professores poderiam ser expulsos.

- E então? Algum aluno passou por lá?

Nor-r-ra deu um miado aborrecido em resposta.

- Ah, que pena! Estou com um ótimo humor para dar detenções depois do que aqueles dois Weasley aprontaram ontem. Vamos ver as outras passagens, Nor-r-ra.

Filch saiu e bateu a porta com força. Fred e Jorge saíram do armário às gargalhadas.

- Ele ainda está zangado com o que fizemos.

- Mas eu não entendo – disse Jorge fazendo sua cara mais inocente. – Estávamos apenas redecorando o ambiente.

- O que será que ele quis dizer com "outras" passagens? – disse Fred voltando a ficar sério. – Será que ele sabe usar o Mapa do Maroto?

- Vamos vigia-lo pelo mapa. Assim sabemos em quais passagens ele vai.

Os dois ficaram na sala dos professores mesmo observando o mapa. Filch não iria voltar e ninguém mais tinha um motivo para ir lá, então era um lugar seguro.

O bonequinho de tinta rotulado "Argos Filch" era seguido de perto por um menor (se é que isso é possível) rotulado "Madame Nor-r-ra". Os dois andavam rápido pelos corredores e cortavam caminho por algumas das passagens do mapa, mas ignorava outras.

Prenderam a respiração quando viram Filch chegar a uma das passagens que levava a Hogsmeade e a abrir, deixando Madame Nor-r-ra passar. Ela foi andando e cheirando tudo a sua volta até um bom pedaço do caminho. Voltou, parou de frente para Filch e os dois voltaram a rondar os corredores normais. Fred e Jorge ficaram observando ainda por uns quinze minutos, guardando o mapa quando ficou chato ver Pirraça azucrinando Filch com alguns balões cheios de "coisas" que geralmente tem em vasos sanitários.

- Ele conhece as passagens para Hogsmeade – disse Jorge desanimado.

- Mas ele pode conhecer só essas duas.

- Mas pode ter verificado as outras enquanto estávamos fora.

- OK. Vamos observar Filch por uma semana e ver quais são as passagens que ele usa.

- E quando ele estiver longe, a gente usa as que ele conhece. Assim não tem perigo.

- Então vamos aproveitar que ele está ocupado com o Pirraça para checar uma.

Os dois saíram da sala dos professores e subiram um andar, mas logo encontraram Madame Nor-r-ra. Fingiram ignora-la e continuaram andando, mas a gata começou a segui-los.

- Filch ainda deve estar lembrando do nosso "odorzinho personalizado para ambientes caretas" – disse Fred.

- E foi escolher justo agora para mandar esse bicho atrás da gente. Xô! Passa!

Madame Nor-r-ra miou ameaçadoramente para Jorge depois que ele fingiu tentar chuta-la.

- Temos que despista-la –disse Jorge bem baixinho para Fred.

- Então vamos para a torre da Grifinória – respondeu Fred piscando. – Temos umas lições para terminar.

Mas a gata seguiu-os até eles atravessarem a Mulher Gorda. E ainda esperou por um tempo do lado de fora, caso eles resolvessem sair.

Fred e Jorge acabaram desistindo de ir ver as passagens e resolveram mesmo terminar umas lições que seriam entregues no dia seguinte.