Capítulo 14 – Um outro final de ano
- Que tal perguntar para eles ao invés de segui-los?
- Ah, claro! Grande idéia. Ei, vocês por acaso estão fazendo uma poção ilegal? Como você acha que eles vão responder a isso?
- Pelo menos vamos conseguir mais resultados do que com qualquer das idéias que vocês duas tiveram.
Aline resolveu contar a Douglas suas suspeitas sobre Fred e Jorge poucos dias depois da trégua, já que as suas tentativas de descobrir algo haviam falhado. E como os dois haviam sumido novamente, Douglas suspeitou que havia alguma coisa estranha também.
- Então tá. Você pergunta – disse Aline.
- Por que eu? Você é quem tem fama de xereta.
- Por que eles não contariam que estão fazendo cerveja amanteigada clandestinamente pra mim ou pra Cinthia. Eles sabem o que eu acho sobre quebrar regulamentos.
- Nem me diga...
- E além disso, a idéia foi sua.
Cinthia entrou na biblioteca naquele instante. Olhou de uma cara emburrada para a outra e suspeitou que os dois estavam brigando novamente, apesar da falta de berros.
- Vocês andaram discutindo outra vez, não é?
- Não, senhorita diplomata – respondeu Douglas. – Estávamos debatendo idéias e sugestões diversas.
- Sobre...?
- Fred e Jorge – disse Aline. – Já contei o que a gente descobriu sobre eles. Ah, eles sumiram de novo.
- Não, não sumiram – disse Cinthia. – Encontrei com eles num corredor e me disseram que estavam indo para a cozinha. Eles não pegaram nenhuma escada para o sexto andar.
- Como assim para a cozinha?! – Madame Pince olhou feio para Aline, e a garota abaixou a voz ao falar: - Eles vão se empanturras de besteiras quando estamos às vésperas de um teste que por milagre o Snape resolveu nos avisar? Até o Tosco veio estudar!
- Ei, quando é que você vai parar de me chamar assim?
- Nunca – ela respondeu simplesmente.
- Então eu vou te chamar de Mini Minerva, porque é o que você parece, mandando a gente estudar e recitando todas as regras de trás pra frente.
- Pode me chamar assim, eu não ligo.
- Ótimo!
- Ótimo!
Cinthia começou a ter um ataque de riso incontrolável, mas tentou parar antes que Madame Pince os expulsasse da biblioteca. Mas ela acabou rindo ainda mais ao imaginar Aline sendo expulsa da biblioteca, e teve que sair quando a bibliotecária fez menção de se levantar.
Infelizmente os professores pareciam querer atulhar os alunos com deveres e revisões à medida que os exames finais se aproximavam.
Aline parecia determinada como um general a ganhar uma batalha "obrigando" os outros a estudarem. Até Fred e Jorge vieram pedir as revisões dela emprestado, mas como a garota sempre as usava nas horas vagas, os dois acabaram estudando com eles. E Aline, além de preparar revisões para todos, ainda sublinhava as datas, nomes e palavras mais importantes (quase todas, na sua opinião) com cores diferentes.
Os exames acabaram varrendo a tal poção dos gêmeos da cabeça de Aline, Cinthia e Douglas, mas também parecia que eles não estavam mais desaparecendo com tanta freqüência.
E Aline não se dignava com a idéia de Fred e Jorge perderem horas de estudo com quadribol ou qualquer outra brincadeira que aprontavam na sala comunal, mas até que os treinos estavam dando bons resultados. Grifinória havia conseguido chegar às finais mesmo com o time todo reformado. Mas foram massacrados pela Sonserina, rechaçados sem piedade, esmagados como... já captaram a idéia, né?
E só como bônus, os exames vieram logo em seguida da final de quadribol, deixando os alunos de cabelo em pé. Mas graças às revisões de Aline, todos os cinco foram relativamente bem e passaram com notas previsíveis. Para Douglas, as suas notas "aceitáveis" foram o suficiente para ele passar de ano.
Agora, os cinco voltavam para casa no expresso de Hogwarts muito aliviados. Mas tinham embarcado e Fred e Jorge já sugeriram umas partidas de snap explosivo. Durante o jogo, Cinthia lembrou da poção dos dois, e não conseguiu pensar em mais nada.
- Sua vez, Cinthia – disse Aline, mas Cinthia não se mexeu. – Oiêêê! Tá acordada?
- Hum? Quê? Já é minha vez?
- Acabei de falar isso.
- Tava pensando em quê, hein? – perguntou Fred.
- Você quer mesmo saber? – Cinthia não agüentava mais o suspense daquilo, e ia colocar tudo às claras. – Pois então eu falo.
- Ah, não fala não! – disse Douglas.
- Pôxa vida, será eu sou a única que acha que nós temos o direito de saber o que é aquilo?
- Aquilo o quê, menina? – perguntou Jorge perplexo. Ele e Fred estavam confiantes de que ninguém sabia das suas atividades extracurriculares.
- A poção que vocês estavam fazendo no sexto andar.
- Hein?!
- Do que é que vocês estão falando? – perguntou Fred com uma risadinha falsa.
- Podem parar com o papo de desentendidos – disse Alie. – Sabemos muito bem que vocês estavam aprontando alguma no sexto andar.
- Alguma coisa relacionada às fases da lua e coisas do tipo – completou Douglas.
- Olha, se for alguma coisa a ver com aquelas cervejas amanteigadas, prometemos guardar segredo – disse Cinthia.
- Cervejas amanteigadas? – Fred deu um cutucão discreto (mas doloroso) em Jorge para que ele ficasse quieto.
- Certo. Vocês nos pegaram. Descobrimos a receita e fabricamos a cerveja clandestinamente.
- Mas o pergaminho com a receita acabou pegando fogo e era muito complicada para lembrar de cabeça. Agora não tem mais receita.
- Resolvido o mistério – disse Aline. – Agora, se você não se importa, tia, eu gostaria de romper o trato.
- Pra quê? Vocês estavam começando a se suportar. Não tem sentido em quebrar a trégua agora.
- Peraí! – disse Douglas. – Quer dizer que essa rolha de poço só concordou em fazer a trégua porque esperava que eu ajudasse a descobrir o segredo dos dois? Mas que golpe baixo!
- Não me chame de rolha de poço, seu Tosco burro, idiota! E a idéia não foi minha, foi da Cinthia!
"Odeio quando me colocam no meio das discussões como se eu não estivesse aqui" pensou Cinthia.
- Não importa se a idéia foi sua ou do Ministro da Magia, você concordou com ela!
- Ora, você é a última pessoa que deveria estar me julgando por ter esse tipo de atitude!
Aline se levantou e saiu da cabine tempestuosamente, batendo a porta atrás de si. Douglas também saiu da cabine, mas ficou parado na frente da porta.
- CRIANÇONA!
- VÁ À MERDA! – a garota gritou em resposta.
Douglas andou na direção oposta à dela, provavelmente indo para outro vagão para ficar o mais longe de Aline. Cinthia se levantou calmamente, fechou a porta da cabine e voltou ao seu assento como se aquilo fosse previsível e corriqueiro.
- É minha vez, certo? – Fred e Jorge continuavam olhando para ela com caras de surpresa idênticas. – Ah, isso. Já estou acostumada. São assim desde... os nove anos de idade.
- E você conseguiu que eles fizessem uma trégua...
- ... só para descobrir o que estávamos fazendo?
- É, mas não foi só isso. Eu já estava cheia de ver os dois discutindo por tudo e por nada. Nem sei por que começaram a brigar um com o outro, e uma hora eles iam ter mesmo que parar.
- No dia em que eles se entenderem por livre e espontânea vontade... - começou Fred.
- ... o céu vai cair sobre nossas cabeças – completou Jorge.
- Não sejam tão dramáticos. Aqueles dois podem ser meio cabeças-duras, mas uma hora se entendem. – Os gêmeos lhe lançaram um olhar de muuuita incredulidade. – Tá legal, extremamente cabeças-duras.
Os três continuaram jogando até o trem parar na estação. Nem Aline nem Douglas apareceram na cabine, e ninguém se importou em procura-los. Só os encontraram depois, na plataforma de desembarque.
Aline e Douglas vieram ao mesmo tempo se despedir dos gêmeos, e se evitaram educadamente, fingindo não notar a presença do outro (mas ambos estavam com os narizes tão empinados que pareciam estar competindo para ver quem encostaria no teto primeiro).
Depois disso teriam que pegar o mesmo avião, e Cinthia teve que se sentar no meio dos dois, por segurança.
