Capítulo 23 – Mistério resolvido!

Após a primeira semana de aulas, Aline e Cinthia viram que Lockhart não era um professor tão bom quanto achavam. Na verdade, era um péssimo professor. Estava mais preocupado em promover a própria imagem do que com o ensino dos alunos, mas Aline, como toda puxa-saco de plantão, não podia deixar de fazer o seu papel de queridinha do professor.

- Como é que você agüenta? – perguntou Cinthia enquanto faziam os deveres na biblioteca no sábado, mais enjoada do professor que qualquer um deles.

- Você sabia que os puxa-sacos tem melhor chance de passarem de ano com médias altas por causa do favoritismo do professor? Se eu cometer um erro bobo, o Lockhart fica com peninha e me dá um pontinho extra. Dá trabalho, mas vale a pena.

- O Lockhart dá ponto extra para qualquer um que elogie o sorriso dele – disse Fred.

- Se for uma garota então, ele dá dois pontos! – disse Jorge.

- E se for bonita ele dá três – completou Douglas.

- Vocês querem fazer um leilão aqui, é? – disse Aline. – Podem terminar essas lições que depois eu quero ver as respostas certas.

- Sim, Mini Minerva – disseram os três em coro.

Não muito tempo depois, eles estavam empurrando as penas e pergaminho e se levantando.

- Aonde vocês pensam que vão? – disse Aline.

- Já terminamos – disse Douglas.

- Se quiser pode conferir.

- Tá tudo certinho.

Aline deu uma rápida olhada nas tarefas e disse: - Vocês copiaram um do outro! Isso não é justo!

- Mas é ponto fácil – disse Douglas pegando o seu pergaminho para guardar.

- Ah, pode ir! Assim eu termino as minhas tarefas mais rápido.

Jonathan entrou na biblioteca e foi até a mesa em que as meninas estavam sentadas, se dirigindo a Cinthia.

- Cinthia, será que você podia me dar uma mãozinha na tarefa de Aritmância? Não consegui pegar direito a última matéria que a Professora Vector passou.

- Claro! Senta aqui – disse ela indicando o assento vago ao seu lado.

Douglas já estava na porta da biblioteca esperando os gêmeos, mas eles não saíram do lugar.

- Vocês tem mais alguma coisa para fazer aqui? – perguntou Aline com um sorrisinho maldoso para os gêmeos.

- Não.

- Já estamos indo.

Aline percebeu que, enquanto saiam, Fred e Jorge não paravam de olhar por cima do ombro. Viu também que Cinthia não prestou atenção em nada disso (para variar). Também achou curioso que Jonathan tivesse ido pedir ajuda a Cinthia, já que era ela a aluna com as melhores notas do ano, mas, forçando um pouco a barra, arranjou a desculpa de que era por que as casas eram diferentes.

Aline terminou as tarefas antes de Cinthia, porque esta tinha ficado na biblioteca para ajudar Jonathan, e resolveu ir procurar os outros. Para a sua surpresa, viu Douglas voltando para a biblioteca sozinho. Era estranho que se encontrassem sozinhos, geralmente um dos gêmeos estava com ele ou Cinthia com ela, mas Douglas parecia pensativo.

- O Fred e o Jorge voltaram para a biblioteca? – perguntou ele.

- Não, por que?

- Eles disseram que tinham que resolver uma coisas, mas eu não os achei em nenhuma parte do castelo.

- Você procurou no castelo inteiro?!

- Não... estava indo buscar vocês, já que a Cinthia ouviu aqueles latidos estranhos e depois eu achei pelo nas roupas deles. Pode ter alguma ligação, você não acha?

- Vai indo pro sexto andar que eu chamo ela.

Aline correu de volta para a biblioteca e parou ofegando na frente de Cinthia, tentando pegar fôlego.

- Preciso... que você... venha... rápido!

- Por que? O que aconteceu?

- Depois... eu explico – disse ela lançando um olhar de esguelha para Jonathan.

- Então tá – respondeu Cinthia se levantando.

- É muito urgente? – perguntou Jonathan educadamente para Aline, e ela deu uma boa olhada para a cara do garoto.

- Talvez não seja tão urgente assim, mas agora não dá para adiar.

- Pode deixar, Big. Se você não conseguir fazer os exercícios eu te explico mais tarde.

Aline e Cinthia saíram da biblioteca correndo, pouco se importando se iam dar de cara com o Filch ou não. Quando chegaram ao sexto andar, Cinthia exigiu uma explicação.

- É que, incrivelmente, o Tosco somou dois mais dois e concluiu que aqueles tufos de pelos das roupas dos gêmeos podem ter alguma ligação com os uivos e latidos que você ouviu.

- Mas os gêmeos falaram tanto que podia ser o tal monstro do terceiro andar. Achei que fosse isso mesmo.

- Mas no ano passado já explicaram o que tinha naquele corredor, não é? E os tufos continuam sem explicação – lembrou Aline. - E por que eles somem sem mais nem menos como agora?

- Você se lembra de qual sala vinha o som? – perguntou Douglas.

- Hum... - Cinthia parou um instante para pensar. – Era por aqui. – ela foi andando, virando em várias curvas, dobrando inúmeras esquinas até parar de frente para uma porta aparentemente comum de madeira, como tantas outras no castelo. Cinthia encostou a orelha na porta e disse: - Mas não tem nenhum som vindo de lá.

- Tem certeza de que é essa? – perguntou Douglas.

- Sim, eu tenho certeza! Pode ter um feitiço de isolamento sonoro...

- Não custa entrar pra ver – disse Aline.

- Mas está trancada – disse Cinthia forçando a maçaneta.

- Deixa comigo – Aline deu um passo a frente e puxou a varinha. – Alorromora!

Nada aconteceu. A porta continuava trancada.

- E agora? – disse Douglas. – Como é que vamos entrar?

- Não me digam que vocês só conhecem esse feitiço de arrombamento?! – disse Cinthia pasma. – Deixem que eu tento outros.

Cinthia foi dizendo uma série de feitiços que nem Douglas, nem Aline conheciam, e era difícil de acreditar que Cinthia se lembrasse de tantos.

- Droga – disse ela por fim. – Nenhum funcionou! Quem queria trancar isso aqui fez um bom serviço. Colocou todos os feitiços antiarrombamento que eu pude imaginar, e aposto que ainda tem mais.

- Será que não tem que dizer uma senha, ou apertar um botão secreto? – sugeriu Douglas.

- Você anda jogando muito RPG Medieval, sabia – disse Aline. – Mas até que não é má idéia.

Enquanto Douglas e Aline procuravam uma pedra diferente na parede, Cinthia ficou perto da fechadura.

- Ô, Cinthia! – chamou Aline. – Vem ajudar, né.

- Mas eu... estou quase... conseguindo.

- ...?

Aline e Douglas se aproximaram e viram que a menina tentava abrir a fechadura com, nada mais nada menos, um grampo!

- Você só pode estar de brincadeira – disse Douglas. – Como você espera abrir uma porta magicamente trancada com um simples...

Eles ouviram o clic da fechadura e Cinthia guardou o grampo triunfante.

- "A solução mais simples é sempre a correta".

- Isso é algum ditado da professora Vector? – perguntou Douglas.

- Não – respondeu Cinthia. – Sherlock Holmes!

Assim que Cinthia abriu a porta, desejou assustada que alguém tivesse ido na sua frente. No meio da sala estavam um coiote do deserto e uma raposa canadense, bem como ela deduzira. Eles vieram correndo na direção dos intrusos, e antes que pudessem fechar a porta novamente, os animais saltaram sobre eles. Cinthia esperava ser atacada, mas ao invés disso recebeu uma lambida no rosto vinda da raposa. Atrás de si, o coiote fazia festinha com Douglas e Aline, abanando o rabo. Mas havia alguma coisa estranha: o coiote e a raposa tinham sardas!

- Fred e Jorge, o que é que está acontecendo!? – ela disse, se levantando.

Diante de seus olhos, o coiote e a raposa se transformaram em Fred e Jorge, respectivamente.

- Como... vocês... como?! – Douglas não conseguia achar palavras, tão pouco as duas garotas.

- Somos animagos! – disse Fred.

- E de primeira linha! – acrescentou Jorge.

- Mas isso é ilegal! – foram as primeiras palavras de Aline. – Vocês sabem quanto tempo podem pegar de detenção? Pior, podem ser expulsos se descobrirem! Não! Pior ainda: se o Ministério da Magia descobre... não quero nem pensar no que pode acontecer!

- Calma Aline – disse Jorge. – Se desde o primeiro ano ninguém descobriu nada, não vai ser agora, não é.

- Primeiro ano! – Aline quase desmaiou. - Isso... isso não está certo!

- Você não vai dedurar, vai? – disse Douglas mais como um aviso.

Aline era monitora; era seu dever avisar qualquer atividade anormal de algum aluno. Mas eles eram seus amigos, e não é como se fossem atacar alguém na forma animal. Mas ser um animago ilegal era proibido até pelo Ministério. Se ela fosse pega como cúmplice, provavelmente seria expulsa. Se ela dedurasse os amigos, nunca iria se perdoar por isso.

Para Aline era extremamente conflitante não seguir as regras, especialmente em uma situação importante como essa.

- E então, Srta. Mini Minerva? – apressou Douglas.

- Eu não vou contar. Você não fizeram nada errad... nada de muito errado.

- Tsc, tsc, tsc – fez Fred. – Sabia que você é monitora?

- Nem me lembrem! Vocês não sabem como é horrível ver dois amigos quebrando pelo menos duzentas regras escolares e outras cinqüenta do país sem poder fazer nada.

- Não fazemos idéia – os gêmeos disseram, sendo sinceros.

- Como vocês conseguiram se tornar animagos em tão pouco tempo? – perguntou Cinthia. – E, pra começar, como vocês conseguiram se todos os livros sobre o assunto estão na seção reservada da biblioteca?

- Ah, essa façanha só foi possível graças a quatro pessoas que vocês já conhecem: - disse Fred.

- Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas. Os mesmos criadores do Mapa do Maroto.

- Suponho que eles também eram animagos – disse Aline.

- Com esses apelidos, você esperava o quê? - disse Douglas.

- Mas é claro! – disse Fred tirando o mapa do bolso e colocando-o sobre uma mesa.

- Eles se tornaram animagos, mas levaram mais tempo que a gente – explicou Jorge. – Conseguimos nos transformar no ano passado, com menos de três anos de treinamento.

- Imaginei isso – disse Cinthia.

- Eles criaram um livro simplificando toda aquela tralha que tem na biblioteca para ajudar as novas gerações de transgressores que estudariam em Hogwarts. – Disse Fred.

- Transgressores? – assustou-se Aline pensando automaticamente nas regras.

- É. Foi isso o que eles explicaram na introdução do livro. – explicou Jorge - Mas não foi fácil para nós acharmos o livro.

- Nããão. Nós tivemos que passar por passagens nem um pouco dignas.

- Passagens em que nenhum grifinório que se preze sonharia em passar.

- Foi nessa aqui – apontou Fred no mapa -, a que liga a sala comunal da Grifinória com a da Sonserina.

- Mas vocês foram checar todas as passagens, não é? – disse Douglas.

- Obviamente – disse Jorge. – Se tivéssemos apenas usado as que nos interessam, não teríamos achado esse tesouro.

- Eu quero aprender a ser animaga! – Cinthia disse de repente, surpreendendo a todos, e ainda levou uma repreensão de Aline.

- Mas, se eles já quebraram as regras, que diferença faz mais um?

- Mais dois – acrescentou Douglas.

- Ai, ai, ai... Assim eu nunca vou chegar a Monitora Chefe.

- E quem quer uma coisa dessas (além do Percy, é claro) – disse Fred.

- Tá bom, tá bom. Vocês venceram. Mas então eu também quero ser animaga. Não vou deixar vocês se divertirem sozinhos.

- Beleza! – disse Jorge.

- Mas que isso é errado, ah isso é! – acrescentou Aline.

– Se vocês quiserem, podemos começar agora mesmo a quebrar centenas de milhares de regras. O que me dizem? – disse Fred.

Logo de cara perceberam que não era nada fácil tentar se tornar um animago, mas estavam se esforçando, cada um com uma motivação diferente. Douglas imaginava quanta diversão ia poder ter na forma de animal. Cinthia sempre gostou de animais, e se tornar um era quase um sonho para ela. Já Aline pensava "se eles podem, eu também posso" e "que mal vai fazer?". Enfim, cada um tinha seu motivo...

Mas naquele ano nem tudo foi um mar de rosas, doces e logros. Também havia uma ameaça pairando em Hogwarts, e ela se mostrou pela primeira vez no dia das bruxas.