Capítulo 27 - O dia dos O QUÊ!?!?
14 de fevereiro. O sol amanhecia preguiçoso sobre os jardins de Hogwarts, como se já soubesse das cenas que o dia traria. Os pássaros cantavam alegres, cúmplices ao papel de espectadores que dividiriam com o disco dourado no céu, assim como as roseiras e ocasionais lírios que despontavam no jardim. Para alguns alunos (especialmente para as alunas) este dia prometia muitas surpresas, mas ninguém estava preparado para o que veriam ao chegarem no salão principal, onde Lockhart resolvera contribuir com a decoração.
Melhor dizendo, foi um choque horrível para todos que não tinham as cabeças cheias de futilidades. As paredes do salão estavam enfeitadas com enormes flores rosa-berrante, do teto caiam confetes em forma de coração e até o próprio Lockhart estava vestido a caráter, se fundindo horrivelmente à decoração.
Fred, Jorge, Aline, Cinthia e Douglas vinham conversando distraidamente pelos corredores, e sentiram náuseas ao entrar no salão. Sentaram-se à mesa da Grifinória, não sem antes retirar vários confetes que haviam caído no banco.
- Tá certo que é um dia mágico – disse Aline espanando um confete do ombro – e que todo mundo estava precisando de uma distração, mas os coraçõezinhos foram um tanto exagerados.
- Exagero é apelido, pra dizer o mínimo – reforçou Douglas quando um confete pousou em seu nariz.
Os cinco haviam chegado cedo ao salão e, como o ambiente cor-de-rosa havia lhes tirado o apetite, estavam quase acabando o café da manhã quando Lockhart pediu a atenção dos alunos.
Fred e Jorge já esperavam o discurso enjoativo com os dedos nos ouvidos, mas para o seu alívio Lockhart falara até pouco para uma data que lhe parecia ser sagrada. Infelizmente viram algo pior que um discurso prolongado, esquecendo de destapar os ouvidos de tão chocados.
Onze anões entraram por uma porta lateral usando asinhas douradas e carregando Harperas, mas nem de longe suas caras lembravam anjinhos. De caras amarradas e com os acessórios singulares, eles lembravam mais prisioneiros de um campo de concentração que foram obrigados a fazer serviço comunitário em um show de horrores.
Quando o susto passou e os gêmeos lembraram de destapar os ouvidos, perguntaram o que era aquilo.
- São os cupidinhos do Lockhart – respondeu Cinthia. – Vão ficar circulando por Hogwarts inteira entregando bilhetinhos e "cartões musicais". Vão até poder entrar nas salas de aula.
- Um dia inteiro de aulas interrompidas e arruinadas... - disse Fred bastante tentado a gostar daquilo.
- Mas a quê preço! – disse Douglas num tom melancólico, como se tivessem anunciado que o seu aniversário havia sido riscado do calendário.
- Pelo menos isso encoraja as pessoas a se declararem, certo meninas?
Eles se viraram para trás e viram Luciana, com pena, tinteiro e pergaminho em mãos, e um enorme sorriso maroto dançando em seu rosto.
- Como assim? – perguntou Aline.
- É que eu estou precisando de uns conselhinhos básicos de vocês duas, sabe. Não façam essas caras! – disse ela falsamente indignada para Aline e Cinthia – Eu também achei essa decoração e os cupidos ridículos, mas se uma oportunidade assim aparece, por que desperdiça-la? E eu não sou muito boa com versos...
- Mal a nós não vai fazer – disse Cinthia se levantando, sendo seguida por Aline. Mas antes que elas se afastassem, Aline se virou para os garotos, mais especificamente, para Fred e Jorge, mas lançava um olhar geral para não levantar suspeitas.
- Sabe, garotos também podem mandar cartinhas.
- Se você não nos contasse seria impossível de adivinhar – disse Douglas com sarcasmo de ferro.
- E então?
- Então o quê? – perguntaram os três.
- Não vão usar os cupidos do Profº Me-Amem? – agora ela definitivamente estava olhando para Fred e Jorge.
- Nem que um trasgo cante como uma fada e o Percy passe a ser uma pessoa normal – disse Jorge entre dentes.
- Então tá, né. Mas se mudarem de idéia...
Douglas tacou alguns confetes na garota, que desviou habilmente e seguiu Luciana.
A garota já tinha um poema pronto, e pediu uma ligeira opinião sobre o que as duas achavam dele. O real motivo pelo qual as havia chamado era apenas para incentiva-las a fazer o mesmo. Sabia que Cinthia era muito tímida para tomar tal iniciativa, e que Aline era simplesmente muito cabeça-dura para usar um meio tão ridículo de declaração. Mas Luciana não gostava de entrar no clima sozinha, e como o "Caso Tanya" não lhe interessava muito, resolveu incentivar as amigas brasileiras.
- Agora só faltam os cartões de vocês!
Cinthia corou de leve com a sugestão e Aline ficou impassível, até ligeiramente irritada.
- Eu não tenho pra quem mandar – explicou Aline. – Até agora eu só vi uns poucos garotos que não são de se jogar fora, mas eu é que não vou gastar o meu precioso tempo mandando versinhos pra eles. Prefiro ficar estudando.
Luciana revirou os olhos. "Sempre os estudos" pensou. - E você, Cinthia?
- Ah, eu acho que...
- Ela não vai poder mandar um cartão porque ele está em outra cidade – respondeu Aline no lugar da amiga. – Em outro país, até em outro continente, se você quer saber.
- Não! Não! Não! – Cinthia corou furiosamente – Não é mais ele. Na verdade, eu até poderia mandar um cartão, sim. Acho.
- Parece que vocês inverteram os papéis – disse Luciana rindo. – Agora quem está apaixonada é a Cinthia e quem acha isso uma bobagem é a Aline. Mas, me conta, pra quem que você vai mandar o cartão?
- Só conto se você contar o seu. – Cinthia estava torcendo para que Luciana se recusasse a contar, mas torceu em vão. A garota não hesitou em dizer em alto e bom som, para quem quisesse ouvir.
- Eu vou mandar para o Olivinho!
As três garotas ouviram risinhos atrás de si e viraram para ver quem as estavam espionando. Fred, Jorge e Douglas tentaram disfarçar que estavam só passando por ali, mas as caras de culpados não enganariam nem o Lockhart. Pensando bem, talvez só o Lockhart fosse tapado o suficiente para cair nessa.
- O que os senhores estavam fazendo aí, posso saber? – disse Luciana num tom mandão.
- Estávamos só passeando – disse Jorge com a cara mais lavada do mundo.
- Ah, claro! E eu sou a bruxa mais poderosa do mundo. – retrucou Aline.
- Muito prazer, Vossa Excelentíssima – caçoou Douglas. – Estávamos apenas estudando o comportamento da espécie feminina hominídea para a aula de Trato Com Criaturas Mágicas do Além.
- Vimos o espécime "abertamente apaixonada", a "reclusa de amor" e agora só falta a "indecisamente indecisa" – disse Fred.
- Pois a "indecisamente indecisa" vai continuar uma indecisão para vocês – disse Cinthia. – E não façam essas caras que eu não vou contar mesmo!
- Você quer que a gente tire uma nota baixa nessa matéria do além? – disse Jorge.
- Mas pra gente você ainda vai contar, não vai? – interrompeu Aline puxando Cinthia pelo braço para longe dos garotos. Luciana foi com elas.
- Isso mesmo! Você tem que nos contar quem é, só assim a gente pode te ajudar a escolher um cartão, as frases certa,...
Aline e Luciana arrastavam Cinthia pelos braços até o aglomerado de anões que estavam sem fazer nada. A garota estava muito vermelha, mas fez o cartão assim mesmo.
Fred, Jorge e Douglas observavam de longe porque sabiam que acabariam na enfermaria se chegassem perto. Fred e Jorge apuraram os ouvidos quando Aline deu um gritinho ao ler o cartão que a amiga escrevera:
- Eu não acredito! Sério que é ele? Até que enfim você escolheu alguém à sua altura.
- Hum, não sei não. – disse Luciana ao ler o cartão – Eu acho que o de antes era melhorzinho.
- Mas você nem conheceu ele! – disse Cinthia.
- Mas de tanto que você falava nele já deu pra formar uma ficha completa. Você também fala dormindo, sabia?
- Só podia ser assim mesmo. Eu não lembro de ter falado quase nada pra vocês enquanto eu estava acordada.
- Você não se lembra nem do que acabou comeu no café da manhã – disse Aline.
- Bolachas amanteigadas e suco de abóbora – ela respondeu secamente.
Cinthia escolheu o menos feio dos anões e voltou com as outras duas para onde os garotos estavam. Eles não pareciam muito satisfeitos.
- Quem é? – perguntaram Fred e Jorge juntos e com urgência, e até Douglas olhou para eles com uma cara de quem viu dois alienígenas.
- E isso interessa? – disse Cinthia com as mãos na cintura.
- Bom, não. – disse Fred.
- Só achamos que os amigos tem o direito de saber – disse Jorge.
- Esse direto foi retirado da constituição de 127 d.C. pela Câmara de Deputados e Senadores da Micronésia durante um dilúvio que durou 70 dias e afogou todos os gafanhotos que estavam arrasando com as plantações há mais de quinhentos anos. Vai querer contestar? N/A: Heita, imaginaçãozinha!
- Se você está dizendo... – disseram os gêmeos juntos.
- E Micronésia existe, é? – perguntou Douglas.
- Mas é um tosco idiota mesmo! – disse Aline – Micronésia é um arquipélago (conjunto de ilhas, para os leigos) pertencente à Oceania, situado no Oceano Pacífico. Para mais informações, consulte um geoatlas atualizado ou uma enciclopédia. Um dicionário trouxa padrão também serve.
- Ah, tá – respondeu Douglas. – Como se eu fosse mesmo fazer isso.
Até que não foi uma manhã de toda ruim. A todo instante os cupidos entravam nas salas de aula interrompendo os professores. A primeira aula dos alunos do quarto ano da Grifinória era Poções. Depois que o primeiro anão entrou na sala de aula e Snape acidentalmente derrubou uma poção para encolher nele, e nenhum outro anão chegou perto da sala durante todo o dia. Ficaram com medo de ter o que já era pequeno por natureza diminuído ainda mais.
Já a aula de Transfiguração no segundo período rendeu uma hora mais divertida. Dois anões entraram ao mesmo tempo na sala, e se pareciam muito também. Ninguém ficou muito surpreso quando se dirigiram para Fred e Jorge.
Os garotos fizeram piadinhas como sempre, fingindo estarem emocionadíssimos com a honra de serem lembrados em tal data. McGonagall não estava gostando nada da atuação e já ia repreende-los quando mais um anão irrompeu pela porta, trazendo um cartão duplo para eles. Quando estavam quase fazendo discursos de agradecimento, McGonagall deu uma bronca séria e eles fingiram estarem indignados, mas não provocaram a professora novamente. Aline reparou que, atrás daquela fachada, os gêmeos não se importaram muito com as autoras dos cartões.
Nos últimos cinco minutos de aula mais um anão entrou na sala. Como Aline estava sentada em uma cadeira bem a frente da sala, esperava que o cupido passasse reto por ela, provavelmente para entregar a carta a Alícia Spinnet, que estava sentada no fundão. Sentiu um puxão na manga das vestes e viu, surpresa, que o anão estendia o cartão para ela.
- Para Srta. Aline Quadros! – disse ele numa voz esganiçada que ecoou pela sala. A garota pegou o cartão com indiferença, mas teria sido muito melhor se o anão não tivesse falado tão alto.
Como o sinal logo bateu e ela se apressou em guardar o material e colocou o cartão no bolso para ler na próxima aula, vigiada pelos olhares marotos de Fred, Jorge e Douglas.
Cinthia havia caído na lábia de Luciana e mandara o cartão assim que o escrevera, mas não conseguia convencer a amiga a entregar o próprio cartão!
- É que eu não sei se mando como cartinha mesmo ou mando como cartão musical – ela explicava durante a aula de Defesa Contra a Arte das Trevas no primeiro período.
- Bom, sendo ele o Olívio Wood, provavelmente vai receber muitos cartões, sabe. Se você mandar o cartão musical vai se destacar, mas também pode ser um tremendo mico para ele, sabe. E é bom escolher o anão certo para a entrega.
Aquela aula também foi interrompida pelo menos umas quatro vezes. Um desses cartões era musical, e foi justamente para Jonathan. Poema sem conteúdo, desses que se decora e passa para toda a lista de amigos, e um cupido com voz de taquara rachada. Jonathan apreciou o gesto, e Cinthia simplesmente comentou com Luciana "Viu o que eu quis dizer com escolher o anão certo?" Logo em seguida aquela voz disse o nome da remetente: Tanya.
A garota ouviu o comentário de Cinthia e, mesmo estando do outro lado da sala, Cinthia viu pelo canto do olho que ela lhe lançava um olhar quase assassino. Talvez não fosse só o comentário, mas também o fato de que Jonathan estava sentado logo atrás de Cinthia, e guardara seu bilhete de forma indiferente num dos bolsos da mochila, que ocuparia o lixo mais próximo minutos mais tarde.
- Agora ela te odeia pra valer – cochichou Luciana.
- E sem um motivo – Cinthia insistiu, ainda olhando de soslaio para Tanya no outro canto.
Na saída para o segundo período (Poções), Cinthia percebeu que Luciana havia sumido no meio dos outros alunos, e a passagens de um grupo de setimanistas impediu-a de procurar a amiga.
- Deixa que eu te acompanho até a próxima aula.
Cinthia virou para trás e viu o dono daquela voz, com um pressentimento ruim começando a pesar no fundo de seu estômago.
- Hum, tudo bem, Big. Mas eu acho que seria melhor se você acompanhasse a Tanya, ela ia gostar bastante.
- Eu sei disso – ele disse calmamente, como se fosse algo trivial. – Faz um tempo que ela vem dado as suas investidas, mas não é dela que eu gosto. Já disse isso para ela, e não vou mudar a minha opinião por causa de um anão com voz de taquara rachada.
Cinthia sentiu alguém esbarrar nela, quase derrubando-a. Jonathan foi rápido e segurou o braço dela para que não caísse. Antes de se endireitar viu quem havia esbarrado nela sumir no meio dos alunos e não podia confundir aqueles cabelos encaracolados, de um castanho sedoso. Essa atitude parecia até infantil para uma garota já com 14 anos, contudo...
- Acho que ela nos ouviu – disse Jonathan soltando-a.
- E acho que ela ficou muito triste.
Jonathan não perguntou como Cinthia sabia disso, era óbvio. Mas, quando queria, Cinthia sabia interpretar as pessoas. Só pelo jeito que Tanya andava, com passos rápidos, cabeça curvada e mão ao rosto, bem diferentes do seu andar altivo de sempre, Cinthia percebeu que a mágoa da garota era profunda. Ela realmente sentia pena de Tanya.
Para tirar a visão da garota triste da cabeça, Cinthia procurou falar de como Snape agiria se um anão daqueles cantasse no meio de sua sala, vendo que Jonathan realmente não se importava com Tanya.
Tanya já estava na sala de aula, sentada no fundo da sala e, Cinthia percebeu, com o rosto levemente manchado de lágrimas. Luciana, que também já estava lá, pescou na hora o motivo do choro da colega quando Cinthia chegou acompanhada por Big. O garoto se sentou no meio da sala com Brian Nelvous e Martin Conrrad, dois colegas da Corvinal. Cinthia fez questão de pedir a Luciana que mudassem de lugar, para perto da porta. Estavam muito perto de Jonathan e ela não queria fazer com que Tanya se sentisse mais miserável do que já devia estar.
Como Luciana estivera ausente, Cinthia lhe contou do esbarrão no corredor, e que não estava magoada pela garota ter ódio dela. Na verdade sentia pena de Tanya, e queria ajuda-la da melhor maneira possível, mas não sabia como.
Cinthia estava tão ocupada pensando em Tanya que até se esqueceu do sumiço de Luciana, e ela deu graças a Deus por isso. Mas uma coisa que Cinthia reparou foi que em nenhum momento a aula fora interrompida pelos cupidos. Curioso, mas pela cara que Snape lançava aos alunos isso era, no mínimo, explicável.
No terceiro período, aula de Feitiços, Cinthia encontrou uma cena estranha. Douglas, Fred e Jorge rodeavam Aline, enquanto esta segurava a mochila fortemente. Aparentemente ela havia tirado o bilhete do bolso para ler e, vendo que os garotos estavam espichando o olho para fazer o mesmo, guardou-o no primeiro lugar que pensou: a mochila.
Ao ver Cinthia e Luciana na porta, Aline correu para uma mesa da sala que não tivesse nenhum lugar vago em volta. Quando as duas se sentaram também, Aline lhes mostrou o bilhetinho ainda fechado.
De uma outra mesa, os garotos olhavam confusos.
- Por que é que as garotas espalham esse tipo de coisa para todas as amigas que tem, mas deixam os amigos boiando? – perguntou Douglas balançando a cabeça.
- É porque elas adoram fingir que torturam a gente com isso – respondeu Fred dando de ombros.
Quando as três garotas terminaram de ler o cartão, estavam dando aquelas risadinhas idiotas que sempre acompanham esse tipo de situação, e que pareceram ainda mais babacas vistas da mesa de Douglas, Fred e Jorge.
- Irvyn McGreggor... Se não me engano – disse Luciana – ele é o capitão de quadribol da Lufa-Lufa. Está no sétimo ano.
- Setimanista, Lufa-Lufa... ele aparecia o tempo todo lá na biblioteca! – lembrou-se Aline. – Pelo menos ele é bonito. Mais que bonito, ele é um gato!
O Profº Flitwick entrou na sala e começou a passar um exercício com a varinha, e as três continuaram conversando entre sussurros.
- Você não vai responder o cartão só por causa da aparência, vai? – Cinthia parecia horrorizada com a idéia.
- Bem... eu poderia... mas não estou interessada no momento. Eu disse antes que tinha uns que não eram de se jogar fora, o McGreggor é um deles, mas eu realmente não tô afim.
- Mas ele lindo, é capitão do time de quadribol da Lufa-Lufa, é lindo, é muito mais maduro que os carinhas da nossa idade, é lindo. Já mencionei LINDO? – Luciana achava que era uma ótima oportunidade para Aline superar a lembrança de Giovanni rejeitando-a no ano passado, mas Cinthia sabia que essa não era a melhor maneira e lançou um olhar de "pare com isso" para Luciana.
- Hum... - Aline realmente considerou a idéia por um instante. Até que não parecia má idéia, mas... - Não. Não é isso o que eu quero – disse ela mais para si do que para as amigas.
Cinthia afundou na cadeira com um suspiro, aliviada pela amiga ter feito a escolha que ela achava certa. Sem saber direito o porquê, ela se lembrou do sumiço de Luciana depois da primeira aula. Aproveitou que Flitwick passava nas outras mesas corrigindo os alunos e levantou o assunto.
- Eu... entreguei o cartão para um dos cupidos – as orelhas de Luciana estavam visivelmente vermelhas – e... hum... pedi que fosse cantado.
Atenção! O Ministério da Saúde de Comunidades Mágicas de Fanfics adverte: nunca pratiquem feitiços enquanto conversam distraidamente, ainda mais se você for uma pessoa sujeita a acidentes estúpidos.
- Cartão musical! – Cinthia errou o feitiço convocatório e acabou atingindo Jorge, que foi puxado até a mesa das meninas, olhando-as de ponta-cabeça. – Er... desculpa, Jorge. Foi um... acidente.
- Tudo bem. Mas vou precisar de um beijinho pra sarar.
Cinthia empurrou-o da mesa e Jorge caiu com um baque no chão, extremamente amarrotado. Flitwick ameaçou tirar ponto das duas casas se eles continuassem com aquela bagunça.
- Piada sem graça – disse Cinthia para as amigas enquanto Jorge voltava para a mesa massageando a cabeça. – Voltando ao assunto: você mandou um cartão musical para ele?
- Você mesma me aconselhou a isso! – defendeu-se Luciana.
- Eu sei, mas eu não ia gostar de receber um cartão cantado no meio da aula, sabe. Em todo caso, ele com certeza vai te notar, por bem ou por mal.
- Eu sabia que não era uma boa idéia – Luciana afundou na cadeira, quase sumindo atrás da mesa.
Na hora do almoço, Luciana acompanhou os cinco. Não estava a fim de consolar a dupla sem esperança da Corvinal. Para o seu horror, quando entraram no salão principal, ela viu uma cena nada agradável para os seu olhos e os ouvidos de todos: Olívio Wood estava rodeado pelos onze cupidos, e todos estavam cantando. Não que eles cantassem mal, entendam bem, mas ouvir aquilo era simplesmente uma calamidade! Ele ainda tentou se livrar dos anões e se levantou da mesa da Grifinória, com alguns cupidos insistentes em seus calcanhares.
- Eu devo estar parecendo, no mínimo, ridícula agora – disse Luciana tentando fazer piada com a própria desgraça para ameniza-la. Mas viu algo que a paralisou: - Ele... está... vindo... pra cá!
Antes que pudesse se dar conta, Cinthia, Aline, Fred, Jorge e Douglas haviam se afastado dela para lhe dar mais privacidade. Luciana corou furiosamente, mas antes que pudesse dizer alguma coisa Olívio Wood estava parado na sua frente, em carne, osso e lindos olhos castanhos que a olhavam fixamente.
- Obrigado pelo cartão – disse ele quando parou na sua frente.
- Deve ter sido constrangedor, na frente dos seus colegas de classe. – "Por que eu tenho que corar justo agora? Tantas vezes que falei com ele e nada aconteceu" pensou Luciana muito constrangida.
- Eu não me importei. Na verdade, eu preferia que só o seu tivesse sido entregue agora ao invés dos outros. – Seguiu-se um rápido silêncio constrangedor, até que Olívio disse: - Eu queria falar um pouco com você, lá nos jardins. Tem menos espectadores.
Ele apontou para o grupinho que não havia se afastado muito de Luciana, e a garota concordou, lançando uma piscadela às amigas ao se afastar. De cabeça baixa, Cinthia e Aline seguiram os garotos para a mesa da Grifinória. Esperavam ouvir a declaração de Olívio, mas seus planos foram frustrados.
- Será que o Wood vai mesmo pedi-la em namoro? – disse Aline pensando alto.
- Depois a Luciana conta – disse Cinthia para Aline. - Ainda estamos no começo do almoço; até o final ela já vol...
Nesse instante um anão particularmente baixinho e gorducho deu um cutucão no braço de Cinthia, fazendo a garota se virar. E corar.
- Tenho um cartão para Cinthia "Xristino".
- É "Christino" – corrigiu a garota -, com som de "k".
- Não importa - disse o anão ranzinza. – Você é Cinthia certo?
O anão balançava um cartãozinho acima da cabeça, entre Cinthia e Jorge. Ela viu que Jorge não tirava os olhos do papel, e arrancou-o da mão do anão antes que o garoto o fizesse.
- Sou eu sim.
- E depois dizem que nós é que somos mal educados... – disse o cupido ajeitando as asas no lugar ao sair.
Cinthia leu o cartão, corando a cada linha. Ela viu que Aline tentava tirar-lhe o cartão sorrateiramente e afastou a mão da garota com uma pancadinha. E segundos depois, deu um gritinho:
- AH!
- O que foi, Cinthia? – perguntou Aline massageando a mão.
- Você estava certa! Você e a Luciana estavam certas! Quem disse que "as coisas desaparecem se ignoradas" estava errado. Não sei porquê eu ainda dou atenção a ditados bobos... Leia!
Aline pegou o cartão afastando a cara de Douglas com a outra mão. Ela sorriu tanto ao lê-lo que estava quase rindo.
Se eu pudesse te mostrar algo, mostraria o mais lido pôr-do-sol.
Se eu pudesse te comprar algo, compraria os céus e a terra.
Se eu pudesse te roubar algo, roubaria a chave para o teu coração.
Se eu pudesse te dar algo, eu te daria meu amor.
Jonathan
- Ah, eu bem que avisei! Sabia que o dia não ia passar batido.
- Agora eu admito que a Tanya tem um motivo para me odiar – disse Cinthia desanimada.
- Você ainda não recebeu uma resposta do cartão que mandou? – as garotas falavam como se a presença de Douglas, Fred e Jorge fosse meramente tão importante quanto um dos guardanapos da mesa. Eles estavam lá, mas eram apenas parte do cenário.
- Não. – Cinthia deu uma rápida olhada para trás, para a mesa da Lufa-Lufa. Fred e Jorge não conseguiram ver para quem ela havia olhado. – Devia ter aproveitado a oportunidade quando ela apareceu. Parece que agora foi um pouco tarde. Acho melhor eu desistir.
Fred aproveitou a distração para roubar da mão de Aline o cartão que Cinthia havia recebido e leu a assinatura. Foi um choque previsível, mas ele repassou para Jorge, que encarou a situação da mesma maneira. Douglas deu uma espiada e ficou confuso com a assinatura.
Fred e Jorge não iriam mandar um cartão para Cinthia, mas não queriam que ele tivesse escrito um também. Fariam qualquer coisa para avacalhar com o cartão.
- Ficou muito meloso – disse Fred.
- Ele deve ter tirado isso de algum livro – reforço Jorge.
- Só pode. Nunca que um garoto que se preze iria escrever uma coisa dessas.
- Eu achei até bem bonitinho – defendeu Cinthia. – Pelo menos mostra que ele tem sensibilidade. Ao contrário de vocês, que ficam roubando propriedade alheia – disse ela pegando o cartão novamente.
- Nós também temos sensibilidade.
- Só não ficamos mostrando isso abertamente para os outros num nível tão alto e suspeito.
- E não existem meninos tão sensíveis assim, se é que você me entende.
- Então já que os dois se acham tão machões, por que não mandam um cartão de macho para alguma garota?
Cinthia ficou esperando uma resposta, mas ela não foi muito convincente.
- Porque é idiota mandar cartão no dia dos namorados – disse Fred. – Ou você manda antes, ou depois.
- E machos não mandam cartõezinhos – explicou Jorge. – Garoto chega e fala de frente, que nem o Olívio.
- E por que os dois não fazem isso, hein?
Os gêmeos notaram o tom de insinuação de Aline, que já havia percebido que os dois gostavam de Cinthia, mas ainda não tinha provas.
- Não é da sua conta – disseram os dois juntos.
- Isso até que é normal para o Jonathan – interrompeu Douglas. Podiam estar um pouco afastados agora, é verdade, mas ele ainda se lembrava da época em que andavam juntos. – Se bem que é estranho ele mandar para ... - ele hesitou.
- Continue a frase – insistiu Aline.
- ... a Cinthia.
- Como assim "estranho"? – perguntou Cinthia.
- É que antes da gente te conhecer, ele te achava... uma boboca. E lembro que um tempinho depois de virmos para Hogwarts ele disse alguma coisa parecida.
- Mas isso foi só no comecinho de Hogwarts, não é? – disse Cinthia.
- Pode ter sido, mas ele não muda de opinião muito rápido.
- De um jeito ou de outro, eu vou ter que consertar isso... - Cinthia se levantou, mas Jorge segurou seu braço.
- Aonde você vai?
- Falar com ele.
- Ah, vai responder o bilhete, é? Se declarar também?
- Não seja estúpido. Ele é só meu amigo. – Depois Cinthia adotou um jeito brincalhão de falar. - Além do mais, eu não ficaria com ele. Vocês viram a espinha que brotou no nariz dele essa semana? É horrorosa! E ele tem um queixo muito quadrado pro meu gosto.
Cinthia se afastou, mas voltou logo em seguida, se sentando novamente.
- O que foi? – perguntou Aline.
- Acho que fico pra consertar as coisas uma outra hora. Fica meio chato recusar assim de cara, né.
- Você não tem coragem de chegar e dizer pra ele, isso sim – disse Aline. – Quanto mais você arrastar as coisas, pior vai ficar.
- Eu sei, eu sei! Acho que vou esperar a Luciana para dar o recado a ele.
- Não quer que eu vá lá?
- Pelo amor de Deus, Aline, não! Eu conheço os seus 'recados'. No final do dia ele estaria me odiando.
- Isso foi uma indireta?
- Encare como quiser.
Olívio e Luciana só foram vistos de novo quando começaram as aulas da tarde. Quando entraram na sala de Adivinhação, Luciana contou que ele a havia pedido em namoro. E claro que ela aceitou! Já fazia um bom tempo que ela tinha essa queda por Olívio.
Pelo menos ela havia se dado bem nesse dia dos namorados.
Cinthia falou do bilhete de Jonathan, e pediu que Luciana respondesse por ela. Não queria falar com ele diretamente, tampouco mandar um bilhete em resposta, e pediu que Luciana dissesse que ela só gostava dele como amigo, mas sem machucar demais o menino. Fazendo cara de quem tem uma missão muito importante pela frente, Luciana se sentou na mesma mesa que Jonathan estava. Os dois eram muito amigos, e ele não se espantou nem um pouco com a atitude dela.
A última aula do quarto ano da Grifinória era Aritmância com a Lufa-Lufa. Fred, Jorge e Douglas acompanharam Aline até a sala não porque eram bons amigos, mas para importuna-la com perguntas sobre o remetente do bilhete. Aline entrou bufando na sala de aula, e ao voltarem pelo corredor, Douglas, Fred e Jorge passaram pelo grupo da Lufa-Lufa que se encaminhava para a aula. Cedrico Diggory, o atual apanhador do time, conversava alto com os colegas.
- Eu não vou mandar resposta – dizia ele. – Eu já tive uma queda por ela, mas isso foi há muito tempo. Coisa de criança.
Fred e Jorge pararam e ficaram olhando para trás, acompanhando Cedrico entrar na sala de aula. Sem motivo aparente, eles dispararam pelo corredor, deixando para trás Douglas sozinho e confuso.
Quando os encontrou novamente, eles estavam falando com um dos cupidos de Lockhart.
- Ela está na sala de Defesa Contra a Arte das Trevas agora – dizia Fred.
- E não cante! – lembrou Jorge.
- Eu não usei essa maldita Harpera nem uma vez! – disse o anão se afastando. – Espero que não descontem isso do meu cachê mais tarde.
- Queeeem? – perguntou Douglas colocando as mãos nos ombros dos amigos, embora não precisasse realmente perguntar. Já tinha uma boa idéia de quem era a garota que os gêmeos gostavam.
- Ninguém que você conheça – disse Fred de cara amarrada.
- Eu achava que garotos que realmente se prezam não ficassem mandando bilhetinhos, e sim falassem de frente.
- Acontece que isso só é recomendável se a resposta for sim – explicou Jorge como se fosse um expert no assunto. – Se a resposta não for muito favorável, o recomendável é apenas mandar umas indiretas ou não fazer nada.
- Claaaro – disse Douglas. – Totalmente compreensível.
No jantar, Cinthia só disse que recebera dois bilhetes anônimos na última aula, parecidíssimos, e Douglas achou melhor não falar nada.
N/A: Eu sei que esse capítulo ficou um pouco comprido e esquisito, mas eu reescrevi três vezes tentando dar uma cara melhor ao texto. Qualquer coisa relacionada ao Lockhart tem tendências a ser esquisito. Por favor, sejam compreensivos!
