Capítulo 28 – Pelúcia, Emplumada e Garra
Os dias passaram lentamente depois do dia dos namorados, e Aline não cansava de repreender os gêmeos por irritarem o Harry cantando "Teus olhos são verdes como sapinhos cozidos" a todo instante, e Gina também estava perturbada com essa brincadeira. Quando ela realmente perdeu a paciência a ameaçou tirar pontos deles por estarem irritando uma Monitora, eles pararam de cantar. Mas só quando ela não estava por perto.
Cinthia e Jonathan continuaram se falando, ela muito aliviada pelo garoto ter entendido que só o considerava um amigo. Sem ressentimento nenhum.
E, apesar de correrem o risco dos ataques, Aline, Douglas e Cinthia continuavam com os treinos de animagos, agora um tanto reduzidos. Para garantir que Cinthia não tivesse um ataque histérico, Fred, Jorge, Douglas e Aline iam busca-la na entrada da sala da Corvinal à 1:00 em ponto, na certeza de que todos já estavam dormindo. Para terem certeza de que não seriam vistos, Fred e Jorge revelaram mais um segredo que mantinham desde o segundo ano.
Uma capa da invisibilidade!
O tio deles, Mark Weasley, havia conseguido um bom dinheiro dando aulas, e como ensinava Defesa Contra a Arte das Trevas achou que seria útil ter uma capa da invisibilidade. Provou-se o contrário. Poucas vezes usou a capa, e era realmente uma pena que ela ficasse pegando pó no baú. Como pretendera trabalhar no exterior desde o último ano, resolveu também dar a capa para alguém que a usasse. Esses alguém foram Fred e Jorge, seus sobrinhos favoritos por parte do irmão Arthur. Ele sabia o que era ser um garoto travesso em Hogwarts, ele mesmo o fora anos atrás, e naquela época daria tudo para ter um brinquedinho como aquele. Quando Fred e Jorge fizeram treze anos em 16 de abril, presenteou-os em segredo com a capa. Sabia que não era exatamente correto, mas logo deixaria de ser professor em Hogwarts e isso não ia fazer muita diferença. Certo?
Ficaram aliviados que Cinthia já soubesse fazer um feitiço de aumento perfeitamente, se não, não caberiam os cinco debaixo da capa. Mesmo assim, aquele tipo de capa sofria muito pouco efeito de feitiços fracos, e tinham que andar bastante juntos para que os pés não aparecessem, principalmente porque o gêmeos eram muito altos.
Na primeira noite que praticaram desde o dia dos namorados, precisaram usar um feitiço para ajudar na transformação. Fred e Jorge disseram que com aquilo apareceria o primeiro resultado, mas que era bom não tentar demais, ou não conseguiriam reverter a cagada.
- E a parte mais legal dessa etapa – dizia Jorge – é escolher os apelidos!
- E para quê precisamos de apelidos? – perguntou Aline enquanto praticava os movimentos que teriam que fazer com a varinha.
- Para não descobrirem que somos animagos clandestinos – disse Fred como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Como assim? – perguntou Douglas.
- Descobrimos uma coisa muito legal quando nos transformamos completamente pela primeira vez – explicou Jorge. – Como os animais não falam a mesma língua, hipoteticamente nós não poderíamos nos comunicar um com o outro na forma de animal.
- Mas, hipoteticamente falando, vocês descobriram como fazer isso – concluiu Aline.
- Exato! É um tipo de telepatia, mas só funciona se um animago conhece o outro. Resumindo: se eu vejo uma raposa na minha frente e acho que o bicho é na verdade um animago, eu posso tentar conversar com ele sem abrir a boca. Mas só se eu também estiver transformado.
- Ainda não entendi o porquê dos apelidos – disse Cinthia.
- A professora Minerva também é animaga – continuou Fred. – Se ela suspeitar da gente e interceptar uma de nossas conversas, ela não descobre as nossas verdadeiras identidades.
- Além de ser legal ter um apelido esquisito – completou Jorge.
- E por que agora é a melhor hora para escolher os apelidos? – perguntou Douglas já imaginado o que estaria por vir.
- A primeira transformação é só parcial, e tirar um apelido a partir daí é realmente engraçado. Suponho que foi assim que Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas tiraram esses nomes.
- Deixem-me adivinha – disse Aline. – O Jorge ficou com apelido de Focinho porque foi a primeira coisa que conseguiu transfigurar, e o Fred com o apelido de Bigodes pelo mesmo motivo.
- Você se daria muito bem nas aulas de Adivinhação se tivesse continuado, sabia? – disse Douglas sarcástico.
- Acho que já praticamos bastante – disse Aline cortando a provocação dele. – Vamos colocar o feitiço em prática.
O treino foi muito exaustivo, e não davam muito resultado. Cinthia era a que se saía melhor com feitiços dos três, e conseguiu um resultado só perto da três da madrugada. Mas, coitada, não foi um resultado desejável.
- Que mico!!!
- Mas não era guaxinim? – caçoou Douglas.
Cinthia diminuiu de tamanho, e até sua voz parecia mais fina. Agora ela estava com, no máximo, quarenta centímetros!
- Parece um daqueles bichinhos de pelúcia – disse Fred.
- Eu gostei do som disso! – disse Aline. – Achamos um apelido para você!
- Eu não vou me chamar Bichinho de Pelúcia! – protestou Cinthia com as mãos na cintura, ficando realmente engraçada pelo tamanho em que estava.
- Então que tal só Pelúcia? – sugeriu Jorge.
A garota pensou por um instante e concordou. – É, ficou melhor. Até que é fofinho também. Só tem um probleminha: como eu faço para voltar ao normal!?!?
- Espera um pouco. – Fred e Jorge não se lembravam disso, e reviraram as páginas do livro até achar a resposta. – Finite incantatem não é recomendável. – disse Fred - Aqui! Tem que usar o animalia finite em você mesma, mas, nossa!, eu tinha esquecido como era complicado!
Cinthia ficou tentando voltar ao normal por um bom tempo, provocando umas boas risadas nos outro, principalmente Douglas. Só voltaram para os dormitórios por volta de quatro e meia, sem que Aline ou Douglas tivessem tido algum resultado.
Na segunda semana em que testaram o feitiço, Aline também mostrou resultados bastante... peculiares.
- Acho que dessa vez eu consigo – disse ela enquanto tentava pela quarta vez se transformar. – Animalia Transmutio!
Flomp!
Todo o corpo da menina ficou coberto de penas brancas! Ela olhava surpresa para as mãos que saíam pelas mangas das vestes, cobertas de penugem. Douglas nem tentou segurar o riso, e em poucos segundos estava rolando no chão. Fred e Jorge estavam quase chorando de tanto rir, e Cinthia reprimia a risada a todo o custo para não magoar a amiga.
- Se alguém me chamar de galinha, eu juro que lanço uma azaração que vai durar até o próximo inverno – disse Aline de cara emburrada, cruzando os braços e ouriçando as penas involuntariamente.
- Alise suas plumas, Srta. Emplumada! – disse Douglas. – Ei! Até que é um apelido bom! – ele disse, surpreso com a simples genialidade da própria piada.
- OK, pode ser Emplumada. Mas se alguém, algum dia, resolver mudar para Carijó, vai receber a tal azaração de qualquer jeito.
- Uuuh, tomem cuidado. Quando a Carijó fica zangada, ela da bicadas mortais. Que meda! – caçoou Douglas.
Para o azar dele, Aline sempre cumpre suas promessas. Para a sorte dele, as penas nas mãos de Aline atrapalharam na hora de mirar o feitiço.
A garota já havia treinado o Animalia Finite antes para não terem que ficar lá a noite inteira, e foi muito feliz que Aline voltou para o dormitório vendo que Douglas não conseguira resultado algum.
Em cada seção de treinamento, as garotas conseguiam se transformar parcialmente com mais facilidade, mas não avançavam muito. O máximo que Cinthia conseguiu quatro semanas depois foi despontar um rabo felpudo de guaxinim, ficando ainda mais embaraçada com aquilo.
Nessa mesma semana, Douglas conseguiu algum resultado. O que foi um alívio, porque ele não agüentava mais ouvir Aline dizendo que ele já devia ser um animal de nascença.
Assim que fez a sua primeira transformação parcial, deixou cair a varinha, mas não foi de surpresa. Foi por falta de opção mesmo.
- Patas? – disse ele confuso olhando para as mãos transformadas em enormes patas de urso marrom. – Pelo menos eu vou ser um urso grande!
- Que tal se chamar Sr. Patinha – disse Aline debochando. – Ai, que meigo!
- Vai catar esqueletos por aí, Emplumada. Eu preciso de um nome legal, que combine comigo.
- Você quer saber a minha segunda sugestão? – disse Aline olhando para ele de esguelha.
- Dispenso.
- Que tal Retalhador – sugeriu Fred.
- Ou Estraçalhador – sugeriu Jorge
- Por acaso vocês não têm semancol, não? – disse Cinthia, indignada com a falta de criatividade deles. – Isso é ridículo, parece apelido de assassino. Hummm... Já sei! Garra. É simples e objetivo.
- Ainda prefiro Sr. Patinha – disse Aline. – Mas se quiser um apelido que combine mesmo com você, na minha opinião seria, e sempre será, Tosco!
- E quem disse que a sua opinião vale alguma coisa, Srta. Carijó?
Aquilo deixou Aline muito, mas muito zangada mesmo! Antes que os outros pudessem fazer alguma coisa, Aline lançou um feitiço que deixou Douglas com as pernas presas, caído de cara no chão.
- Um dia você ainda vai agradecer por eu dar uma opinião – disse ela de braços cruzados, parando de frente para ele.
Douglas percebeu que havia cutucado o orgulho de Aline, e achou melhor não provocar o humor da garota naquele momento.
- OK, eu concordo. Satisfeita agora? – ele se virou para os outros que estavam chocados com a cena. - Então, será que uma alma caridosa poderia me ajudar? Eu não consigo segurar a varinha, estão lembrados?
Douglas não tentaria fazer brincadeiras enquanto não pudesse andar ou não tivesse a varinha para se defender, e Aline estava com um olhar de quem esperava briga. Fred e Jorge desfizeram o feitiço de Aline e amarraram a varinha de Douglas em uma de suas patas, assim ele poderia usar o Animalia Finite.
