Capítulo 29 – Desespero e surpresas agradáveis

Já fazia quase quatro meses desde que Justino Finch-Fletchley e Nick-Quase-Sem-Cabeça haviam sido atacados, e todos pareciam achar que os ataques haviam parado. Estavam todos mais animados, principalmente às vésperas do jogo Grifinória X Lufa-Lufa.

Mas Fred e Jorge mal acabavam de tirar os pés do chão, McGonagall anunciou por um megafone roxo que a partida havia sido cancelada. Ouviram mais indignados ainda que todos os alunos deveriam ficar nos salões comunais, esperando.

Viram a Professora se adiantar a todos os alunos com Harry e Rony. Os gêmeos encontraram Douglas, Aline e Cinthia os esperando. Foram até o castelo em silêncio, sabendo que algo grave devia ter acontecido. Mal entraram no castelo, Pirraça já estava anunciando a tragédia com um de seus inúmeros versos inoportunos.

- Tic tac, tic tac, mais um ataque, tic tac. Tic tac, tic tac, mais um ataque, tic tac. Tic tac, tic tac, mais um ataque, tic tac.

Cinthia ficou lívida, e os outros tiveram a impressão de que ela ia desmaiar. Mas ela sacudiu a cabeça e chamou o poltergeist, ainda muito branca.

- Ô Pirraça, quem foi atacado dessa vez?

Eles já estavam no final do aglomerado de alunos, e muitos desviavam dos cinco enquanto estes esperavam o fantasma se aproximar.

- Se eu fosse vocês tomava muito cuidado agora. Não vão sair castelo afora. Atacaram uma monitora e uma aluna modelo. Para Hermione Granger e Penélope Clearwater foi um pesadelo.

Se havia ainda alguma cor no rosto de Cinthia, agora não tinha mais. Pirraça se afastou deles cantando "tic tac, tic tac, mais um ataque, tic tac".

- Puxa vida, uma monitora – disse Aline pasma. – Eu achava que monitores estavam seguros.

- E Hermione Granger, aquela amiga do Rony, ia bem em todas as matérias e ganhava um monte de pontos para a casa, não é mesmo – disse Douglas.

- Eu não acredito que até agora eu andei sozinha pelos corredores – Cinthia falava baixo, tentando controlar a respiração disparada. – Eu podia ter sido atacada. – Ela encarou Fred e Jorge com os olhos estreitos. – Vocês disseram que alunos inteligentes não seriam atacados, e duas alunas assim foram atacadas ao mesmo tempo! Eu poderia estar petrificada agorinha mesmo!

- Ainda bem que você gosta de quadribol e estava com os outro alunos quando isso aconteceu, né. – disse Jorge tentando acalmar a garota que parecia que ia ter um ataque histérico.

- Vocês ainda não me dão crédito nenhum, não é mesmo? Pois bem, vou ficar com alguém que dê.

Ela olhou em volta e logo se afastou com Jonathan, explicando que acontecera mais um ataque e precisava de alguém que a acompanhasse pelo castelo quando saísse da sala comunal da Corvinal. O garoto concordou sem hesitar, afinal ele e Cinthia eram amigos. Certo?

- Ela ainda está exagerando – disse Fred cerrando os punhos ao ver os dois se afastando.

- Não, não está! – disse Aline subitamente. – Eu também acho que somos alvos fáceis se andarmos sozinhas, e espero que os senhores não me larguem pelo colégio, entendido.

Aline apontava a varinha para os dois, que engoliram em seco. Claro que ela estava só brincando, mas não era bom contrariar.

- Se eu fosse vocês, fazia um acordo com o bichinho de estimação do Slytherin para petrificar só a Mini Minerva – cochichou Douglas para os dois enquanto eles se dirigiam para a torre da Grifinória.

O verão estava começando, mas todo o castelo estava num baixo astral: Hagrid, o guarda-caça, fora mandado para Azkaban, a terrível prisão bruxa. Mas o pior de tudo foi o afastamento de Dumbledore do cargo de diretor. Com certeza esse foi um erro desastroso, e os gêmeos não paravam de dizer que os ataques aumentariam com isso.

Todos estavam muito amedrontados com a situação do castelo, a maioria achava a prisão de Hagrid muito injusta, principalmente Cinthia e Aline. Elas sempre acharam o gigante muito legal, e ele sempre ajudava Cinthia com alguma coisa que ela precisasse para a aula de Trato com Criaturas Mágicas, dizendo que ela tinha um jeito especial com os animais.

Quando a notícia de que ele fora preso se espalhou, Aline foi consolar a amiga junto com Douglas Fred e Jorge, e Cinthia acabou fazendo as pazes com os outros. Ela não estava mais nervosa com eles, mas terrivelmente abatida, e Aline não cansava de dizer que assim que devolvessem o cargo a Dumbledore os ataques parariam de uma vez por todas. Mas Dumbledore ainda não havia voltado.

E fora anunciado que os exames finais ainda seriam realizados! Muitos acharam isso uma injustiça (inclusive Fred, Jorge e Douglas), mas Aline achou correto, afinal, a escola só estava aberta até agora para dar-lhes educação. Com toda a correria para estudar, Cinthia acabou voltando a se sentar na mesa da Corvinal para discutir as aulas com Luciana.

Três dias antes dos exames, McGonagall pediu a atenção de todos no café da manhã, dizendo que tinha boas notícias. Os alunos desataram a falar, expressando o que todos esperavam ouvir da diretora substituta.

- Dumbledore vai voltar! – exclamavam muitos.

- Apanharam o herdeiro de Slytherin! – gritou Cinthia esganiçada e esperançosa da mesa da Corvinal.

- Os jogos de quadribol vão recomeçar! – ouviu-se o berro de Olívio Wood, fazendo muitos rirem.

Quando a Profª Minerva finalmente fez-se ouvir, explicou que com as mandrágoras da Profª Sprout poderiam reanimar os alunos petrificados naquela mesma noite. Assim saberia exatamente quem os havia atacado.

- Finalmente a escola vai voltar ao normal – disse Aline com um suspiro na mesa da Grifinória. – Se pegarem o herdeiro de Slytherin, Dumbledore volta a dirigir a escola e Hagrid pode finalmente sair daquele lugar horrível que é Azkaban.

- E se as vítimas disserem que foi ele? – disse Douglas inseguro.

- Você não acha mesmo que foi ele, não é? – disse Aline cética.

- Bem, não. Mas eu sei que estou sendo extremamente parcial ao dizer isso. Também não podemos negar o fato de que não ocorreu nenhum outro ataque depois que levaram ele.

- Você parece o Lockhart falando assim – disse Fred.

- O Hagrid pode até ter um gosto peculiar por bichinhos de estimação, mas não mataria uma lesma lenta nem que ela estivesse arruinado sua plantação de abóboras gigantes – disse Jorge.

- Mas nós não conhecemos muito sobre ele, não é mesmo? E eu ouvi um rumores de que ele abriu a Câmara Secreta cinqüenta anos atrás. Bate certinho com a época em que ele foi expulso de Hogwarts.

- Você não está falando sério – disse Aline balançando a cabeça. – Não pode estar. Dumbledore não ia permitir que uma pessoa assim continuasse perto do castelo.

- Você está certa neste ponto, mas não podemos esquecer da aberração com nariz de gancho que da aulas de Poções para a gente. E Hagrid parece bem inocente comparado com Snape.

Nesse momento Gina passou por eles parecendo muito perturbada. Fred e Jorge a acompanharam com olhar e viram a garota se sentar perto de Harry e Rony. Acharam que ela havia ouvido a conversa deles, e acharam melhor não perturba-la mais.

- Acho que Gina está se preocupando demais com tudo isso, agora que o assunto vai se resolver – disse Jorge.

- Ela não parou de falar no "pobre Hagrid" quando ele foi preso. Ela detesta a idéia dele ser mesmo o herdeiro de Slytherin.

- Eu também – disse Aline. – E eu vou comer o meu chapéu ao molho madeira se no final das contas o Hagrid for mesmo culpado.

- É melhor fazer um prato para dois – disse Douglas. – A idéia de ele ser o culpado também não me agrada. - Aline percebeu que ele falava sério, mais sério que em qualquer outra vez que o tenha visto assim.

Os alunos passaram a manhã com os corações um pouco mais leves, afinal, os problemas estavam acabando. Ou pelo menos muitos achavam assim.

Ao invés de ouvirem o último sinal da manhã tocar para o almoço, ouviram a voz da Profª McGonagall amplificada, ecoando pelos corredores:

"Todos os alunos voltem imediatamente aos dormitórios de suas casas. Todos os professores voltem à sala dos professores. Imediatamente, por favor."

Algo muito grave havia acontecido. Todos os alunos foram silenciosamente para as casas, com o ar de desgraça pairando sobre a cabeça de todos. Subindo as escadas para o sétimo andar, Aline, Douglas, Fred e Jorge viram Cinthia descendo para o terceiro.

- O que vocês acham que aconteceu dessa vez – disse ela com voz assustada.

- Só pode ter sido outro ataque – disse Aline cabisbaixa.

- Pelo menos temos a certeza de que Hagrid é inocente – disse Douglas. – Isso deveria ser um consolo.

- Mas pode ter acontecido algo pior desta vez – disse Cinthia. – Eu estou com uma sensação esquisita, e não gosto nada disso.

- Espero que você esteja enganada – disse Fred.

- Espero... - disse a garota quase num sussurro.

Percy viu que eles estavam bloqueando parte da passagem pelo corredor e separou-os. Quando chegaram nas salas comunais não precisaram esperar muito tempo pelos diretores de suas casas.

Foi com um aperto no coração que Cinthia viu o Profº Flitwick aparecer pela entrada da armadura com o rosto meio manchado de lágrimas. Sabia que o baixinho era um tanto emotivo, mas aquilo a deixou muito preocupada.

- Uma aluna foi levada pelo monstro da câmara. Todos vocês voltarão para casa amanhã. A escola será fechada para que os alunos não corram mais riscos – dizia ele com voz rouca, mas o silêncio era tanto que todos ouviram o professor.

- Quem foi a aluna, professor? – Cinthia ouviu uma garota logo à sua frente, de cabelos negros e olhos puxados, do terceiro ano, perguntar muito aflita.

Na sala da Grifinória, McGonagall respondia a uma pergunta parecida vinda de Percy. Ela deu uma longa olhada para o rapaz, como se cada músculo de sua face doesse ao dizer a resposta.

- Gina Weasley.

Fred e Jorge, que estavam perto da lareira, desabaram nas poltronas mais próximas, quase em estado de choque. Assim que McGonagall saiu, Aline e Douglas tentaram falar com os dois, mas eles respondiam enviesados e pediram para serem deixados sozinhos. Percy acompanhou McGonagall até o corujal para mandar uma carta os pais e voltou bem rápido, indo direto até o dormitório.

Ninguém notou Harry e Rony entrando sorrateiros na torre, e Fred e Jorge acharam melhor ficarem perto do irmão. De certa forma, também se sentiam melhor por terem alguém da família por perto, sabendo que Rony estava são e salvo. Mas não conseguiam entender a razão de Gina ter sido levada; ela era puro-sangue. Passaram a tarde toda em silêncio, tentando achar uma resposta, mas não conseguiram. Estavam estranhamente sem fome, mesmo não tendo almoçado, e no final da tarde foram se deitar, já que ficar sentado se lamentando não ajudava em nada.

Douglas estava no dormitório arrumando o malão quando eles entraram. Não disseram nada, mal olhando para o amigo, como se esse fosse apenas mais uma sombra no mundo que ficara cinza de repente.

Douglas deixou o malão de lado e saiu do quarto, não querendo atrapalhar Fred e Jorge com o barulho. Encontrou Aline afundada em uma das poltronas perto da lareira. Sentou-se na poltrona ao lado, encarando a lareira vazia por um tempo.

- Como eles estão? – disse a garota com a voz meio fraca.

- Ah, você pode imaginar. Mais pra baixo que umbigo de minhoca.

Aline suspirou. – Eu tenho uma irmã mais nova, sabe. Eu não gosto muito dela, mas sei que iria me sentir horrível se algo assim acontecesse com ela. Deve ser pior para eles, que adoram a Gina. Mesmo provocando-a e pregando peças nela, eu sei que eles se sentiam na obrigação de protege-la.

- Por que será que o monstro levou uma bruxa puro-sangue ao invés de uma nascida trouxa? Isso não bate com a história da lenda.

- Existem muitos feitiços que só podem ser realizados com bruxos puro-sangue, e também... - ela engasgou, não querendo dizer a palavra, mas Douglas olhou-a intrigado e ela continuou – rituais, sacrifícios.

- Não conte isso a Fred e Jorge, OK. Eu ouvi um dia o Lockhart dizendo que sabia aonde era a entrada da Câmara Secreta. Se há uma chance de salva-la, os professores já devem ter tomado as providências.

Aline olhou para Douglas cética. – Se Lockhart foi resgata-la vamos ter que torcer para que o monstro não o pegue antes, e a Gina vai precisar de muita sorte se tiver que contar com as habilidades dele.

Não muito depois de todos terem ido dormir, uma coisa extremamente inesperada aconteceu. A professora McGonagall estava anunciando que dariam uma festa! Ainda com cara de sono, Fred e Jorge viram que atrás da professora estava Gina. Saíram correndo para abraçar a irmã, ainda um pouco abalada por tudo o que havia acontecido, a Câmara Secreta, o diário de Tom Riddle, os ataques que ela causara. Mas Fred e Jorge entenderam tudo sem culpa-la de nada, apenas felizes por tê-la de volta e bem. Na verdade, Aline e Douglas nunca os tinham visto tão animados.

E a festa no salão principal estava realmente muito animada, com todos ainda em seus pijamas. Dumbledore voltara ao cargo de diretor, e Hagrid voltou lá pelas três da madrugada. Toda a Grifinória deu uma verdadeira explosão de vivas quando anunciaram que Harry e Rony havia ganhado quatrocentos pontos para casa e, conseqüentemente, a Copa da Casa. Mas ninguém urrou tanto de alegria quanto Douglas quando Minerva anunciou que os exames finais haviam sido cancelados como um presente da escola. (Aline chegou a ficar levemente chateada.) E o que fez o dia de muitos alunos foi a notícia do afastamento do professor Lockhart para que ele recuperasse a memória depois de um acidente deplorável na Câmara Secreta.

- Acidente deplorável nada – disse Jorge para os colegas. – Foi sim uma bênção; um milagre! Imaginem que ele tentou lançar um Feitiço da Memória no Roniquinho e no Harry, que acabou saindo pela culatra.

- Nem ser um mau profissional ele sabe ser direito – disse Fred.

- Um brinde à saída de Lockhart! – sugeriu Aline levantando o copo.

- Tem certeza que não vai ficar com saudades? – disse Douglas olhando-a significativamente.

- Tanto quanto eu sinto saudades das aulas de Adivinhação.

- Ao brinde! – Douglas encostou o seu copo ao da garota, fazendo-o tilintar, e logo os que estavam em volta fizeram o mesmo.