Capítulo 33 – "E vai rolar a festa! Vai rolar..."
Cinthia morava em uma rua sem saída bem calma, e sua casa tinha dois andares e mais um sótão, além de uma garagem embaixo. Assim que chegaram, os cachorrinhos de Dona Laiz começaram a latir, anunciando-os para toda a vizinhança. Fred e Jorge só passariam uma noite lá, partindo na noite seguinte.
Cinthia foi logo mostrando onde eles iriam dormir: no sótão. Eles não tinham um quarto de hóspedes também, e no sótão havia um sofá-cama onde eles poderiam dormir. O bom é que esse sótão parecia mais uma grande sala que ocupava o andar inteiro, e não aquele sótão tradicional cheio de teias de aranha e tralhas velhas que ninguém quer jogar fora. No primeiro andar ficavam as salas de jantar, de estar e de TV, assim como uma cozinha novinha, lavanderia, e até uma sacada de vidro que a mãe de Cinthia usava como "jardim de inverno" de tantas plantas que havia ali. (Fred e Jorge não conseguiram entender a diferença em ir para a chácara e ficar ali.) No andar de cima ficavam os quartos, um para os pais de Cinthia, uma para os dois irmãos e outro que ela dividia com a irmã. Fred e Jorge notaram que no primeiro andar havia um potinho de água, e no sótão havia outro, além de ração, caminhas e brinquedos para gatos, e caixinha de areia também.
- Quantos gatos você tem? – perguntou Fred enquanto eles colocavam suas mochilas no sótão.
- Nove. – disse ela simplesmente, ignorando a cara de espanto dos dois. – Um deles eu ganhei de presente pelas notas que tirei no final do quarto ano. É uma filhotinha de persa preta, fofinha, peluda e felpuda, com olhos laranja. Se vocês virem ela por aí me avisem. Quando saí para ir à chácara eu não consegui acha-la.
- Hã... eu acho que achei – disse Jorge tentando fingir que as unhas da gatinha que subia pela sua calça não incomodavam. Quando a gata chegou ao seu blusão, Cinthia a pegou no colo, livrando o garoto daquelas unha afiadas.
- Nina! Que susto você me deu! Eu achei que tinha fugido. E acho que ela foi com a sua cara – acrescentou Cinthia para Jorge. – Gatos são muito sensitivos, sabe, e sempre evitam pessoas ruins. Estou pensando em levar a Nina para Hogwarts. O que você acha, Pequenina? – disse ela para a gatinha no seu colo, que mesmo para um filhote era bem grandinha.
- O nome dela é Pequenina? – perguntou Jorge.
- Não. É só Nina mesmo. Mas o meu irmão, quando chamou ela uma vez, falou "vem aqui Nina, menina pequenina", e pegou. Às vezes eu chamo ela de Nina, Menina, ou Pequenina, ou até uma mistura desses. É fofinho!
Enquanto falava, Cinthia fazia carinho na gata preta e Fred e Jorge conseguiam ouvir o ronronado dela alto e claro.
- De qualquer jeito, tem uma coisa que eu quero que vocês vejam. Desde que nós entramos no carro pra vir pra cá eu fiquei pensando nisso. – Cinthia colocou Nina no chão e começou a descer os lances de escada até a garagem. – É um jogo trouxa, mas acho que vocês vão gostar.
Depois de terem aprendido basquete na casa da Aline e futebol na casa de Douglas, Fred e Jorge esperavam aprender outro jogo trouxa (pareciam ter infinitos jogos diferentes) de campo, mas Cinthia os levou para uma área coberta ao lado da garagem. Lá havia uma churrasqueira, mesa e cadeiras normais, mas também uma mesa esquisita, cheia de linhas e com uma rede no meio. N/A: Já adivinharam, né?
- Tênis de mesa – disse Cinthia. Vendo que Fred e Jorge não haviam entendido, ela acrescentou: - Mais popularmente conhecido como ping-pong? Dois jogadores que ficam rebatendo uma bolinha de um lado para o outro? Será que vocês nunca, nem sequer ouviram falar nisso?
- Como é que se pode praticar um esporte em uma mesa? – disse Fred confirmando que não sabia de nada mesmo!
- OK, OK. – Cinthia colocou uma das raquetes na mão de Fred e começo a explicar. – Isso é uma raquete. Você usa para bater na bolinha. O jeito certo de segurar é assim – e ela mostrou com a raquete que segurava.
- Certas coisas são meio óbvias, não acha? – disse o garoto em resposta.
- Muito bem, espertinho. Vamos ver como você se sai no outro canto da mesa.
Fred e Cinthia tomaram seus lugares, mas antes Cinthia explicou as regras e o objetivo do jogo. E sem aquela frescura de só cinco pontos, ela explicou o tênis de mesa oficial mesmo. Para ser boazinha com o amigo ela deixou que ele iniciasse o saque, que sem esforço algum fez Cinthia ganhar o ponto.
- Acho que vou ter um pouquinho de trabalho com vocês - disse ela indo pegar a bolinha que voou longe.
Cinthia ensinou os dois a jogarem ping-pong, quer dizer, tênis de mesa, e fazia joguinhos em que o perdedor dava lugar para o que estava esperando. Obviamente, Cinthia não saia do lugar, e ainda dava algumas chances para os gêmeos. Mas todo mundo cansa alguma hora, e Cinthia acabou perdendo para Jorge. Agora ela ia ver se eles tinham aprendido alguma coisa.
- E nada de fazer um feitiço para ficarem melhores no jogo. Eu sei de alguns e não quero que vocês usem.
"Mas assim perde toda a graça" pensaram os gêmeos. Tudo bem, se ela queria ver um jogo, ela veria um jogo. Com um aceno de cabeça mútuo, Fred e Jorge concordaram que haviam tido a mesma idéia, e Jorge começou sacando.
Cinthia observou o jogo por três, cinco, sete, 10 minutos, e nenhum dos dois havia marcado o primeiro ponto.
- O que vocês pensam que estão fazendo?
Eles rebatiam a bola lentamente, sempre fazendo balão para o outro pegar fácil.
- Jogando tênis de mesa – responderam os dois.
- Isso não é tênis de mesa, isso é ping-pong! N/A: Perceberam a diferença? Que decepção... Pelo menos vocês aprenderam a controlar a bolinha. O que acham de jogar de verdade? Eu quero jogar de novoooooo.
- Você ficou com a mesa só pra você por uma hora, agora espere. – disse Jorge.
Eles começaram a jogar de verdade e Cinthia viu que tinha feito um bom trabalho com os dois. Eles estavam jogando bem, tanto que por um instante ela pensou que eles tivessem mesmo feito algum feitiço. Quando Fred perdeu por uma bobeirinha, Cinthia não quis trocar. Era legal ver os dois quase se revezando para marcar pontos, ora um, ora outro, e Cinthia preferiu ficar assistindo o jogo dos dois.
O irmão de Cinthia, Ismael (já com 23 anos) fazia faculdade de direito à noite, e quando acordou já era quase hora do almoço. Ele ouviu o som do jogo deles e não podia deixar passar uma chance de jogar com vítimas novas, quer dizer, com sangue novo, quer dizer, com gente nova. N/A: Por que será que tem esse furgão parado na frente de casa escrito "Manicômio St. Mungo para casos irrecuperáveis"?
Cinthia não quis jogar, ela preferiu assistir o massacre de Fred e Jorge pelo seu querido irmãozinho. Mas depois de derrotar espetacularmente os gêmeos, Ismael chamou Cinthia para jogar e a garota não teve escapatória. Essa sim foi uma derrota bonita, para Cinthia, é claro. E Ismael ainda fez uma saída triunfal, cantando "I am the champion" (No time for wizards / 'Cause I am the champion / Of the world).
- Ele é tão modesto... – disse Cinthia depois que seu irmão saiu.
O resto do dia não foi tão humilhante para os três, e Cinthia mostrou a eles o monte de coisas trouxas que tinha na casa dela, sabendo que o Sr. Weasley ia gostar de saber de tudo. À tarde eles até conheceram o vizinho de Cinthia, um garoto chamado Diogo que havia estudado na mesma escola trouxa que ela, e ainda estava lá. Apesar de ser trouxa ele era bem legal, e os gêmeos logo ficaram amigos dele, em parte porque ele também era um palhaço como os dois. Cinthia quase chorou de tanto rir naquela tarde.
À tarde os irmãos de Cinthia trabalhavam, e a irmã fazia estágio, então só ficaram os três e a mãe de Cinthia em casa (ela era aposentada, e seu pai trabalhava mas podia pegar alguns dias limitados de folga quando quisesse). À noite seus irmãos iam estudar, então a casa até que ficava calma. Cinthia, Fred e Jorge ficaram jogando Banco Imobiliário, mas Cinthia já havia jogado tanto isso nas féria que estava entediada. Vasculhando um pouco as estantes do sótão ela achou um joguinho muito mais interessante: War! Ficaram jogando até tarde da noite, e Fred e Jorge continuaram disputando o mundo depois que Cinthia saiu do jogo até não agüentarem mais de sono.
No dia seguinte, Fred, Jorge e Cinthia acordaram com o cheirinho do almoço que vinha da cozinha. Nem toda a família de Cinthia estava lá para almoçar. O Tio Ale (na verdade é o irmão mais velho de Cinthia, agora com 25 anos) estava dormindo e só ia acordar lá por umas três. Cinthia dizia que, apesar dele ter a mesma namorada há sete anos, ia acabar ficando pra titio, daqueles solteirões que moram no sótão dos pais. E ainda namorando. E a irmã de Cinthia também estava fora, almoçando com o namorado na casa da sogrinha. O assado de Dona Laiz rendeu algumas dúzias de elogios de todos que estavam na mesa, e algumas dezenas extras de Fred e Jorge.
Depois do almoço, os gêmeos perguntaram o que eram aqueles troféus em cima da lareira. ("É uma lareira a gás, e não funciona com Pó de Flu não", ela disse.) Cinthia explicou que seu pai era atirador, e já havia ganhado muuuitos campeonatos nacionais.
- Mas esse aqui não é um troféu. – Jorge apontou para um círculo branco de metal com sete centímetros de diâmetro que tinha uma marca redonda funda quase no centro.
- Isso é um dos alvos que meu pai usa para treinar – explicou a menina. – Esse ele trouxe pra casa como troféu mesmo porque acertou a 300 metros de distância sem usar uma luneta! Nenhum dos amigos de tiro dele conseguiu fazer o mesmo.
Fred e Jorge sabiam o que eram uma arma trouxa e sabiam os horríveis efeitos que elas faziam nos humanos, e esses efeitos não eram como a simples marquinha como no alvo de metal. De agora em diante eles tomariam cuidado dobrado sempre que falassem qualquer coisa na frente do pai de Cinthia, ainda mais que era o pai dela.
Para mudar de assunto rápido, Fred e Jorge falaram que já estariam de partida naquela noite, lá por umas oito horas. Nesse momento o telefone tocou e Cinthia foi atender.
- Maylson? Oi! Tudo bem? Hum-rum. Hum-rum. Hum-rum. Isso é muito bom! Quanto tempo? Ah, sei. Dá pra esperar um pouquinho? É que eu tenho visita aqui. – Cinthia se virou para os gêmeos tapando a boca do telefone. – É o Maylson, aquele carinha que trocava cartas comigo, de outra cidade, lembram? - Fred e Jorge pensaram "e como não esquecer?" e fecharam as mãos em punhos, mas só acenaram positivamente com a cabeça. – Ele está em Curitiba e vai ficar uns três dias aqui visitando a irmã. E eu acabei de ter uma idéia! – Cinthia voltou a falar no telefone. – Tá escutando? Pois então, eu ia da uma festa daqui a pouco, e você pode aproveitar para dar uma passada. O que acha? Beleza! Festa do quê? De despedida. É. Isso. Exatamente. Posso contar com você então? Daqui a mais ou menos uma hora. Tá. OK. Beijinho, tchau!
- Festa? – indagaram os gêmeos assim que Cinthia desligou o telefone.
- O que vocês acham? Vocês tem uma festa de despedida e deixam o Brasil pela primeira vez em grande estilo! Assim eu também aproveito para rever todo o pessoal da minha antiga escola junto. A maioria deles é legal, vocês vão gostar de conhecer.
- As suas amigas também vem, não é? – perguntou Fred insinuante. Mesmo gostando de Cinthia ele não podia deixar de fazer uma pergunta dessas.
- Claro, claro. Eu não iria deixar vocês sem um passatempo.
Cinthia ligou para Aline e Douglas para ajudar a organizar a tal festa, e eles chegaram em quinze minutos com alguns acessórios que talvez fossem úteis para a festa. Como na casa de Cinthia não tinha espaço para convidar tanta gente quanto ela queria, a garota perguntou a Diogo se ele topava em cooperar. Na casa dele tinha videoquê e uma mini-quadra poli-esportiva, e já ajudava a arranjar espaço para todo o pessoal. Os seis colocaram as mesas que podiam do lado de fora, aproveitando que estavam no fim de uma rua sem saída, e encheram a rua com enfeites de festa, além de levarem um som para fora. Se os visinhos reclamassem, azar deles!
Como toda boa festa, nesta não podia faltar comida de qualidade. Mas o infeliz infortúnio é que nem Cinthia e nem Diogo tinham tanta comida (para umas setenta pessoas, tanto da antiga sala de Cinthia e Aline como da de Douglas). A solução que encontraram foi gastar os últimos feitiços de Fred e Jorge para conjurar um mooonte de comida. E bebidas também (não alcoólicas, lógico, ou a Srta. Mini Minerva matava eles).
Cinthia ligou para todo o pessoal da sua antiga agendinha e pediu para Douglas fazer o mesmo. Mas Fred e Jorge tinham uma péssima notícia...
- Não temos mais Chá de Português – informou Fred.
- Os nossos últimos pacotinhos acabaram ontem, quando a gente falou com o Diogo. – completou Jorge.
- E agora? Como é que vocês vão fazer para falar com toda essa gente? – disse Douglas.
Fred e Jorge se entreolharam e disseram: - Vocês podiam servir de tradutores, né.
- Tudo bem. Sem problemas. Mas que desculpa vamos dar para Diogo? – lembrou Aline. – Ele acreditou quando a gente falou que já tinha encomendado a comida, mas de uma hora pra outra vocês esquecem como se fala Português? Isso é um tanto estranho para os trouxas.
- Ele é um trouxa... - disse Cinthia pensando alto – E eu tive outra idéia! Gente, quando o pessoal for chegando vocês avisam que eles não sabem falar português. A maioria fez curso de inglês mesmo. Eu sei que desculpa dar pro Diogo.
A medida que o pessoal chegava (incluindo Luciana e Jonathan) a festa ia ficando mais animada. Mas, como todas as rodinhas em volta dos gêmeos falavam em inglês, Diogo não pôde deixar de notar, não é mesmo.
- Até ontem eles estavam falando bem, e agora tão aí com esse sotaque britânico todo pomposo. O que foi que aconteceu? – disse o garoto se aproximando de Cinthia e Douglas enquanto Aline traduzia algumas coisas para Fred e Jorge (no meio de uma roda de amigas dela).
- Isso é um segredo – começou Cinthia. – Na verdade eu não posso te contar, mas se você prometer guardar segredo...
- Tudo bem. Eu fico de bico fechado.
- Não sei se acredito em você...
- Ah, qualé! Eu prometo que não conto. Juro!
- OK, eu conto. É que o governo britânico pediu para os dois fazerem um serviço especial aqui no Brasil, mas nem eu sei o que é. Eles estão usando crianças e adolescentes para não atrair suspeitas. Eles tinham permissão para ficar aqui até ontem, e o chip que implantaram no cérebro deles para que entendessem o português só era válido até ontem. Como eles queriam aproveitar um pouco mais, só vão sair daqui hoje, mas os chips não funcionam mais.
- Nooossa! – disse Diogo com os olhos arregalados, realmente admirado. - Quer dizer que eles são agentes secretos mirins?
- É isso mesmo! Mas depois de passarem as informações que conseguiram para o governo, eles vão fazer uma lavagem cerebral nos dois.
- Que pena. Eles não vão lembrar como é ser espião por uns dias.
- Vê se não conta pra ninguém, hein – disse Cinthia. – Se essa informação se espalhar eu não quero nem pensar no que pode acontecer com eles.
- Pode contar comigo!
Diogo saiu e foi falar com uns outros convidados que estavam chegando. Douglas olhou para ela como quem diz "o que foi isso?!?!?!"
- Ainda bem que ele é fã dos filmes do 007, né. Imagine se a gente tivesse que convencer o irmão mais novo dele. Aí sim ia ser difícil. – disse Cinthia displicente. Ela não sabia mentir, mas não tinha nenhum problema pra enfeitar a realidade em um ponto ou outro.
- Eu ainda não acredito que ele caiu nessa – disse Douglas abismado.
- Nem eu. Esse é um típico trouxa, nos dois sentidos da palavra.
A festa seguiu normalmente, mas Cinthia e Aline tinham mais trabalho que diversão por causa das traduções que precisavam fazer.
- Por que é que vocês não vão pedir para o Tosco traduzir um pouco? – perguntou Aline já cansada no começo da festa. – Ele não fez quase nada até agora.
- Porque as amigas são suas, e não dele – respondeu Fred.
- Ele tem umas amigas também – disse Cinthia.
- Mas a quantidade não é a mesma – explicou Jorge como se todos devessem saber disso.
- Ah, vão pedir ajuda para o Tosco. Nós também queremos aproveitar um pouquinho, né.
Aline e Cinthia saíram de perto dos gêmeos para falar com as pessoas que queriam. Fred e Jorge viram Luciana e Jonathan chegando e logo pensaram em pedir ajuda para os dois. Como Luciana disse que queria achar umas pessoas antes, depois ela ajudaria os dois. A solução de Fred e Jorge foi se divertir um pouco com Douglas e... Jonathan.
Apesar de tentarem deixar o ciúmes de lado, Fred e Jorge não conseguiam disfarçar muito bem, e Jonathan tinha o bom senso de não ficar muito tempo perto deles. Douglas acabou apresentando Fred e Jorge aos seus melhores amigos, sendo que metade eles já haviam conhecido no jogo de futebol. A conversa estava boa, até que Lucas, um japonesinho gente boa, tocou em um assunto nada legal.
- Mas e o Véio? Ele não vem? Faz um tempão que a gente não vê ele.
- Eu acho que ele está viajando – disse Douglas tentando encurtar o assunto. – Não acho que ele possa vir na festa.
- Bom, não custa ligar para confirmar, né.
E no segundo seguinte Lucas já estava procurando Cinthia para usar o telefone. Douglas veio logo atrás, assim como os gêmeos. Quando conseguiu alcançar o Japa, ele já estava entrando em casa.
- O que aconteceu? – perguntou Aline, que tinha ficado para trás enquanto Cinthia emprestava o telefone.
- O Lucas foi ligar para o Pieri. – disse Douglas.
- Por quê?
- Ele já não vê o Véio há muito tempo, e não sabe como ele está. Não sabe que não é mais o Véio.
- Temos que avisar ele.
Douglas, Aline, Fred e Jorge entraram correndo na casa de Cinthia, e viram Lucas esperando atenderem o telefone do outro lado da linha e Cinthia estava quase saindo.
- Onde é o incêndio? – perguntou a garota.
- No seu telefone – disse Jorge.
- Ele está ligando para o Pieri – disse Fred.
- Alô. O Giovanni está? – disse Lucas ao telefone. – Tá, eu espero.
- Tarde demais – disse Douglas com um gemido.
- O Lucas não merece o que está por vir... – disse Aline.
- Oi Giovanni! É o Lucas. Faz tempo que a gente não se fala, né. Olha só, tá tendo uma festa aqui na casa da Cinthia. Você não quer vir e... Ele desligou...
- Nós tínhamos que ter te avisado – começou Douglas. – Ele ficou diferente depois que foi para Hogwarts.
Pobre Lucas. Ele era o melhor amigo de Giovanni na época da escola trouxa. Quando Douglas explicou a ele no que o Véio que conheciam havia se tornado, ele achou que estavam brincando, mas a confirmação das garotas e de Fred e Jorge acabou convencendo-o.
- Bom, antes ele não costumava desligar na minha cara – disse Lucas. - Se ele não sabe o que é bom, não vamos forçá-lo a estragar a festa.
Eles voltaram para a festa de rua e viram que o pessoal estava se divertindo na mesinha de ping-pong. N/A: TÊNIS DE MESA, PELO AMOR DE DEUS! E Luciana estava com umas amigas assistindo o jogo, já que não sabiam jogar.
- Ei! Fred e Jorge! Venham aqui. Essas são Bianca, Bianca e Mayara. Acho que não vou precisar servir de tradutora para vocês, elas sabem falar um pouco de Inglês.
- Vejamos se elas conseguem acompanhar a gente – disse Fred.
Tiveram um papo muito bom com elas e, pelo que Luciana contou delas antes, agora estavam muito melhor. Não estavam mais fazendo fofocas sobre os outros e estavam muito bonitas. Infelizmente Mayara continuava sendo a menorzinha delas, só não perdia para Aline. E mais umas amigas de Luciana se juntaram a eles, Anabele, Maria Fernanda e Gabrielle. Anabele tinha um rosto de boneca e longos cabelos loiros. Fred e Jorge até tentaram dar uma cantada nela, mas a garota cortou-os logo no começo. Maria Fernanda foi a que mais falou, puxando assuntos bem interessantes para a conversa. Mas a mais engraçada foi Gabi (como as outras a chamavam). Parecia que a menina só sabia falar vendo o lado engraçado de tudo, qualquer coisa que ela falava fazia os outros rirem. Não é preciso dizer que ela, Fred e Jorge formavam o trio perfeito de palhaços de festa.
A festa já estava no meio da tarde quando um convidado retardatário chegou. N/A: É diferente de retardado, vejam bem. Fred e Jorge nem ligaram, isso era normal em festas, mas não demorou muito e Aline já estava se aproximando deles com um sorrisinho.
- Deixe-me adivinhar – começou Fred. – Ou o Garra foi embora, ou ele morreu, ou você achou um jeito de faze-lo desaparecer.
- Vocês tem uma idéia muito errada sobre mim, sabiam?
- E por acaso nós estamos errados? – perguntou Jorge.
- Estão, mas eu queria que a última opção fosse verdade. Eu só queria avisar vocês que chegou mais um convidado.
- Nós vimos. – disse Fred. – Daqui a pouco vamos falar com ele.
- Aaaah, mas não precisa. – disse Aline com a voz arrastada. – Mas não precisa mesmo! Eu acho até que ele não veio aqui por causa da festa.
- Você precisa parar com isso, sabe – disse Jorge. – Não é legal fazer esse tipo de joguinho com as pessoas, tipo, matá-las de angustia, por exemplo.
- Mas eu estou fazendo um bem para vocês – disse Aline dando de ombros. – Estou avisando antes que vocês vejam com os seus próprios olhos.
- Sabemos que você quer ver a gente morrendo de ciúmes, mas dessa vez estamos preparados. Pode mostrar o sujeito. – disse Fred cruzando os braços.
- Ele está logo ali, conversando com a Cinthia. É o Maylson. Aquele, sabem, que ficava trocando cartas com ela. E, nossa!, como ela está vermelha. Será que é normal uma pessoa ficar assim quando fala com outra? Eu realmente não faço idéia...
- Para com isso! – disseram os dois ao mesmo tempo.
- E olha só como a Cinthia está rindo! A conversa deve estar muito divertida. Eu não vejo ela rir tanto assim em Hogwarts...
- Você só faz isso porque os nossos 20 feitiços acabaram, né? – perguntou Jorge.
- Imagina se eu ia me aproveitar de uma situação como esta. De jeito nenhum! Eu só falaria de um jeito diferente. Eu sei ler lábios. Se quiserem algum detalhe da conversa...
- Não, muito obrigado. – disse Fred seco. – Temos mais o que fazer.
- Hum... - fez Aline sem dar atenção a ele. – Uh, parece que alguém vai perder o BV hoje, e não vou ser eu.
Se a situação não fosse séria (mais séria do que aparentava), Fred e Jorge teriam feito algum comentário do tipo "é só falar com o Douglas que o seu problema está resolvido", mas eles não tinham tempo para isso. Eles foram recepcionar o convidado que acabara de chegar, seria indelicado que os anfitriões não fizessem isso.
Quando chegaram perto dos dois, Fred e Jorge notaram que Cinthia não estava tão vermelha quanto Aline havia dito, apenas levemente rosada, mas eles queriam acreditar que fosse por causa do tempo frio. O garoto com quem ela falava não era muito alto nem muito baixo, e tinha cabelo castanho escuro encaracolado. Pararam perto dos dois e tentaram parecer amigáveis, embora qualquer um que chegasse a dez metros dos dois conseguiria sentir o ciúmes no ar. Menos Cinthia, só para manter a tradição milenar dos tapados de plantão.
- Fred, Jorge, esse é o Maylson. – apresentou Cinthia. - Maylson, já falei deles. Eu estava contando como vocês dois aprenderam a jogar tênis de mesa rápido e como estavam jogando bem. O Maylson também gosta de jogar, e eu estava pensando se vocês não queriam fazer uma partida com ele.
"Por quê, Deus? Por quê?" era o único pensamento que se passava na cabeça de Fred e Jorge. "Por que você criou uma criatura tão tapada?"
"Acalmai vossos corações, pequenas criaturas", é o que Deus responderia se eles pudessem ouvi-lo. "Com tempo as coisas melhorarão... espero. Minhas invenções não são a prova de falhas, sabe."
Eles conversaram um pouquinho enquanto esperavam a fila do ping-pong diminuir até chegar a vez deles. Cinthia estava na fila e ganhou para que desocupassem a mesa. Quem não gostou disso foi quem estava ganhando as últimas partida, um menino chamado Leonardo. Cinthia deixou que Fred tomasse o seu lugar enquanto que Maylson ia para o outro canto da mesa.
- Bom, como vocês dois sabem as regras oficiais do tênis de mesa, por que não fazem um jogo mesmo? – sugeriu ela.
- Você quer que eles se matem, não é não? – disse Aline que apareceu quase que por mágica ao lado de Cinthia para assistir ao jogo. Não era costume dela perder esse tipo de espetáculo.
- Como assim? – perguntou Cinthia bem confusa, e Aline se esqueceu de que era com Cinthia que estava falando.
- Ah, esquece. É que o jogo de tênis de mesa é mais comprido que o ping-pong normal.
- Mas assim fica mais interessante – disse Maylson, que estava prestando atenção na conversa. – Posso começar? – perguntou ele se dirigindo a Fred.
- Tudo bem.
Para quem está acostumado a ver jogos lentos, em que a bolinha só faz balão, essa partida foi extremamente empolgante. Parecia que os dois estavam disputando um prêmio. E Aline achava que Maylson, por ser de uma cidade de interior, era um daqueles caipiras lentos e sonolentos. Mas que nada! Ele era bem esperto, até mais que algumas pessoas de cidade grande (podemos tomar como exemplo a própria Cinthia).
Aline tinha a leve impressão de que o garoto havia notado que Fred e Jorge gostavam de Cinthia, e estava dificultando bastante o jogo só para irritá-los. Mas ela era especialista em decifrar pessoas (tinha até lido um livro sobre o assunto), e sabia que ele estava fazendo isso mais para se divertir do que para "disputar".
Conseqüentemente, ele estava mais calmo, e acabou ganhando por causa dos erros bestas de Fred. Jorge tomou o lugar do irmão mais disposto do que nunca a ganhar. E conseguiu levar a partida até 12 a 12.
- Quando eu acabar com esse aqui, que tal você jogar um pouco? – perguntou Maylson para Cinthia enquanto jogava com Jorge.
- Ah, para perder de você também? – respondeu Cinthia.
- Se você der um sorriso eu deixo você ganhar.
- Mas assim não é justo – disse ela sorrindo involuntariamente. – Eu não vou saber se o meu treinamento intensivo funcionou.
- Mas agora que você já sorriu vai ter que me dar um jogo. Ponto! 13 a 12.
- OK, OK.
Depois que Cinthia concordou, o último set foi incrivelmente curto, com apenas saque, rebate e cortada. 14 a 12 para o Maylson, e Jorge ainda teve que buscar a bolinha que voou longe por causa da cortada, e não estava muito contente.
Durante a partida, Cinthia e Maylson conversavam sem perder a concentração.
- Eu vou ganhar como da última vez – disse ele com o jogo já a 7-6 para ele.
- Mas fui eu que ganhei da última vez!
- Essa foi a partida de ping-pong que a gente fez depois.
- Mas mesmo assim eu ganhei.
- Porque um dos seus gatos pulou na mesa.
- A partida já estava ganha antes mesmo do Dengo aparecer para me dar uma mãozinha.
- Acho que você esta precisando de outra agora. Aposto que consigo marcar esse ponto com uma mão nas costas.
- Duvido!
Maylson colocou o braço esquerdo para trás e rebateu a bolinha de costas com um giro. Cinthia riu e errou a bolinha.
- Não vale sabotar o jogo do outro – disse ela ainda rindo.
- Nunca vi isso escrito nas regras. Preciso atualizar o meu manual.
Aline se aproximou de Fred e Jorge enquanto eles mais prestavam atenção na conversa do que assistiam ao jogo (que, por sinal, estava muito bom e havia atraído muitos dos convidados como platéia). Antes que Aline pudesse abrir a boca, os gêmeos já sabiam o que estava por vir.
- Sem comentários, por favor! – disse Jorge.
- O novo item na lista de maus agouros da libélula Trelawney: Aline com um sorrisinho maldoso. – completou Fred.
- Eu vim aqui com a melhor das intenções e vocês me tratam assim? De qualquer jeito, eu tenho boas notícias.
- Para o caipirinha? – perguntou Jorge sarcástico.
- Para ele o que eu tenho a dizer não faz a menor diferença. Quando eu soube que ele estava vindo para a festa, eu tomei algumas pequenas providências.
- E quais teriam sido? – perguntou Fred.
- Eu procurei o diário da Cinthia enquanto vocês estavam ocupados organizando tudo.
- Boa desculpa para a preguiça – disse Jorge. – Essa eu ainda não tinha ouvido.
- Se vocês não querem saber o que eu descobri, então eu finjo que não li nada de interessante e esqueço tudo.
- Fala – disseram os dois meio a contra gosto.
- Não é do Maylson que ela gosta agora. Ela teve uma queda temporária por ele logo depois que se conheceram, mas já faz um tempo que isso acabou.
- Até que valeu a pena ouvir você dessa vez – disse Fred dando um meio sorriso, mas sabia que tinha mais notícias a caminho. – Você ainda está com o diário aí?
- Você acha que eu ia guardar ele até agora só pra mostrar para vocês? Claro que eu ia!
Aline tirou do casaco um livrinho quadrado azul-médio com um grande C bronze na frente. Uma fita azul-celeste dividia o diário no meio. Aline abriu um pouco antes da página marcada e afastou Fred e Jorge do jogo antes de ler uma parte.
- "Oi Diário! Tudo bem?" – começou Aline – "Eu não sei mais o que fazer! Acho que ainda gosto do Cedrico, mas tenho a impressão de que o sentimento não está tão forte como antes. Queria saber o que fazer para esquecer ele de vez, mas não dá! Eu sei que eu não vou conseguir namorar com ele, mas eu simplesmente não consigo esquecer esse garoto gos..." Depois disso a Cinthia enumera uma lista de qualidade que eu acho que ela não ia querer que vocês soubessem. Mas é basicamente isso! Estão mais animados?
- E era para dar pulinhos de alegria? – disse Jorge ainda pensando no "acho que ainda gosto do Cedrico".
- Pelo menos ela não gosta do caipira. Não é um consolo?
- De um certo ângulo é – disse Fred. – Mas foi o mesmo que trocar seis por meia dúzia. Não fez muita diferença.
- Só nos deu um ponto específico no qual temos que concentrar o nosso desgosto. – disse Jorge, achando que "ciúmes" era uma palavra muito forte.
- E quando voltarmos para Hogwarts em uma semana ela vai estar escrevendo que esse sentimento acabou aumentando mesmo.
- Como vocês estão pessimistas! – disse Aline. – Se continuarem assim até o Big passa na frente de vocês! Aí sim ela vai escrever nesse diário que os sentimentos passaram para outra pessoa. E não vai demorar muito do jeito que as coisas andam.
- Como assim? – perguntaram os dois preocupados com o tom insinuante na voz de Aline.
- Nessas férias, pouco antes de vocês chegarem, O Big convidou a Cinthia para ir ao cinema, e eles foram.
- Cinema? – perguntou Fred.
- Quase esqueço que vocês só vivem no mundo mágico. Cinema é uma sala cheia de cadeiras onde as pessoas assistem filmes, imagens que contam uma história. As cadeiras do cinema são enfileiradas, uma grudadinha na outra, e para poderem passar o filme a sala tem que ser bem escurinha. – Aline fez uma pequena pausa e continuou - E a Cinthia disse que gostou muito de ir no cinema com ele.
Fred e Jorge ainda estavam processando a informação "sala bem escurinha" quando escutaram a última frase de Aline. Pareceu que haviam jogado um balde de cubos de gelo no estômago deles. Aline achou que os dois haviam entrado em estado de choque e começou a abana-los com o livrinho que tinha na mão. Isso prova que até alunas modelo cometem erros.
- O meu diário!!! – exclamou Cinthia na muito longe deles.
- Er... Já acabou o jogo? – Aline tentou disfarçar escondendo o diário atrás das costas, provando mais uma vez que não estava nos seus momentos mais espertos.
- Eu já ganhei faz um bom tempo. Posso saber o que você está fazendo com isso e como foi que achou?
- É... bem... - ela começou a enrolar - eu... sabe o que é... eu só...
Aline saiu correndo para o meio da multidão, levando o diário consigo. Cinthia saiu correndo atrás, mas perdeu a amiga de vista. Maylson se aproximou de Fred e Jorge e tentou começar uma conversa.
- Eu deixei ela ganhar. – disse ele com um sorrisinho.
Fred e Jorge não tinham mais nada contra Maylson, embora ele fosse um garoto legal que estava sempre em contato com Cinthia, mas alguns dos outros amigos dela também eram assim. Como não faziam inimigos a toa, Fred e Jorge resolveram dar uma chance e continuaram conversando com ele.
- Nós fazemos isso o tempo todo – disse Fred.
- Ela me contou que vocês aprenderam a jogar ontem.
- Esse é um pequeno detalhe que não deve ser levado em conta – disse Jorge.
Enquanto isso, em algum lugar perto das mesas de comida, Aline tentava se esconder de Cinthia.
- Droga! Por que não colocaram toalhas compridas nessas mesas?
- Pra que você quer toalhas compridas? – perguntou Douglas logo atrás dela segurando uma braçada de doces.
- Douglas! Justamente quem eu estava procurando! – disse Aline, sorrindo e tendo uma idéia.
- O que isso tem a ver com toalhas mais compridas? – ele perguntou, desconfiado.
- Nada não. Eu só preciso de um pequeno favorzinho. Você consegue levar isso aqui para bem longe de mim? – disse ela entregando o diário para Douglas, mas ele não pegou.
- O que eu ganho com isso?
- Nada. Mas o que você não vai ganhar é uma bifa se fizer o que eu estou pedindo delicadamente.
Douglas coçou o queixo lentamente, deixando Aline nervosa.
- Hum... quero uma recompensa melhor...
- Fala logo!
- Ah, mas não fala mesmo! – Cinthia colocou a mão no pescoço de Aline, sabia que a amiga morria de cócegas ali. Estendeu a mão livre e Aline entregou o diário. Só depois de verificar se não tinha nenhum arranhãozinho Cinthia soltou Aline, mas estava com uma cara amarrada que fez até Douglas encolher em comparação com ela. – Desculpa interromper a conversa, mas quem vai falar aqui é a Aline. E as perguntas que ela tem que responder são: por quê?, como?, quem?, e o quê?
- Porque eu fui obrigada, achei o diário debaixo do seu colchão, o Tosco me obrigou e eu não faço idéia do que ele queria saber.
- Ei! Não me meta nessa história!
Aline virou a cabeça para trás e disse sem fazer som: - Me ajuda aqui, pô!
- Aline, o que você leu no meu diário?
- Só deu tempo de ler a última página.
Cinthia abriu o diário, leu rapidamente a última página escrita e respirou aliviada.
- Não tem nada de mais aqui. Só não faça isso de novo, tá?
- Tudo bem. Eu prometo!
Cinthia entrou em casa para guardar o diário e Douglas não acreditava no tinha acabado de ver e ouvir.
- Como é que você consegue enganar ela tão fácil?
- É simples, basta falar de um jeito convincente.
- Você tem mais sorte que juízo.
- Chame de ajuda do destino.
- Ainda acho que é sorte.
Enquanto isso, Diogo ligava o videoquê para animar um pouco mais a festa (como se já não estivesse animada). Fred e Jorge resolveram experimentar, mas teriam que esperar na fila de pessoas que queriam cantar. Depois de verem sete apresentações das quais cinco deveriam ter sido acompanhadas de tampões de ouvidos, os gêmeos já haviam entendido como o aparelho funcionava.
Mas não conheciam músicas trouxas.
O jeito era perguntar para alguém qual música era legal. E eles levaram sorte de encontrar Diogo por ali, pedindo uma opinião dele, já que era o dono do videoquê e devia conhecer as músicas que tinha ali de trás pra frente.
- Depende do estilo que vocês querem cantar – ele disse pegando um livro com a lista. – Mas eu separei umas que eu mesmo acrescentei na máquina.
Fred e Jorge correram os olhos pelas seis páginas com nomes de músicas e bandas que não conheciam, e optaram por uma em inglês com um título apropriado para eles; Kick Some Ass, do Stroke 9.
- OK. Número 7639... Pronto!
Assim que a música começou a tocar, Fred e Jorge perceberam que haviam feito uma boa escolha. Era bem a cara deles, e aos poucos viram que a letra também era conveniente.
How many people wanna kick some ass?
A música ficou lenta no começo, mas ainda assim não perdeu o tom de rock, e Fred e Jorge acompanharam fácil o ritmo.
I used to be a nerdGrew up in the suburbs.
Nothing there ever went wrong,
I made it up in this song.
I talk about the hood,I say stuff like it's all good,
Tell people I'm down with all the cool kids downtown
When I've never even been there.
O refrão era a melhor parte, na opinião dos dois, que cantavam aquela parte aos berros. E boa parte da platéia (cerca de um terço das pessoas da festa) parecia conhecer a música também, porque acompanharam os dois no refrão.
How many people wanna kick some ass? I do! I do! (platéia)And how many people sick of holding it back?
I am!
Well, I am too!
So don't lay another finger on her,She's mine and I still want her.
If you put your hands upon her
You're a goner, goner!
No meio da platéia, Cinthia arrastava Aline pelo meio da multidão para chegar mais perto do palco, já que queria cantar uma música também, mas nunca faria isso sozinha. Quando chegou perto do palco parou para ouvir Fred e Jorge, e Aline só balançou a cabeça pensando que aquela era mesmo a música dos gêmeos.
And how many people sick of holding it back?I am! I am!
And how many people wanna kick some ass?
I would if I could,
But I'm really just a sensitive artistPerpatrating like I am the hardest.
So spin your cap around to the back,
You think you rhyme but you can't rap.
Loosen that strap a little more
Till your axe hits the floor.
Flip off your fans,
Make 'em cheer,
Try to look sincere.
Anger today's fashion,
So sing another song about bashing someone's head in.
How many people wanna kick some ass?I do! I do!
And how many people sick of holding it back?
I am!
Well, I am too!
So don't lay another finger on her,She's mine and I still want her.
If you put your hands upon her
You're a goner, goner!
And how many people sick of holding it back?I am! I am!
And how many people wanna kick some ass?
I would if I could,
But I'm really just a sensitive artistPerpatrating like I am the hardest,
Acting like I'm not the smartest.
I'm really just a sensitive artist.
Awwwww yeahhhh! So don't lay another finger on her,She's mine and I still want her.
If you put your hands upon her
You're a goner, goner!
Fred e Jorge estavam gostando de ouvir todo mundo acompanhando eles na música, mas resolveram fazer uma pequena alteração na letra.
And how many people sick of holding it back?I am! I am!
And how many people wanna kick Big's ass?
Por um instante eles pensaram que todos estavam do lado de Jonathan, mas olharam a letra com cuidado e respiraram aliviados ao ver que não tinha mais essa parte no refrão. Todos na platéia estavam meio confusos, principalmente Cinthia, mas Fred e Jorge não pararam de cantar por causa de uma pequena falha como aquela.
I said how many people wanna kick some ass?How many people wanna kick some ass?
Whatcha gonna do when you're sick of holding it back?
I think I kick some ass!
How many people wanna kick some ass?
I would if I could,
But I'm really just a sensitive artist
Perpatrating like I am the hardest,
Acting like I'm not the smartest.
I'm really just a sensitive artist.
Honest...
Todos aplaudiram, e Fred e Jorge se demoraram um pouco no pequeno tablado recebendo as palmas. Com uma olhada de relance, eles viram Jonathan no fundo da sala com os braços cruzados e com cara de quem não ia deixar isso passar barato, ao que os gêmeos deram um sorrisinho e desceram.
- Ei, vocês cantaram bem – disse Cinthia se aproximando deles com uma Aline contrariada ao seu lado. – Só erraram num pedacinho da música.
- Nah, a gente só deu uma melhorada na letra – disse Fred, e Aline lançou um olhar divertido para os dois.
- Vocês vão cantar? – perguntou Jorge antes que Aline falasse alguma coisa ou Cinthia percebesse que eles estavam falando do Jonathan, e não de bundas grandes.
- Ela vai – disse Aline apontando para Cinthia e dando uns passos para o lado. – Eu passo a vez.
- Ora, vamos! Depois de ter violado o meu diário é o mínimo que você pode fazer pra se redimir.
Aline deu um gemido indistinguível, e Fred e Jorge resolveram ir ver se não tinha mais ninguém querendo perder no ping-pong.
A festa acabou pouco depois das sete da noite. Fred e Jorge tiveram que ir até a casa de Douglas para usar o Pó de Flu que os levaria até o Ministério Bruxo do Brasil, e de lá eles voltaram para casa. Sua mãe já estava esperando pelos dois e quase os esmagou com um abraço apertado de saudades. No dia seguinte eles estariam indo para o Caldeirão Furado para comprar o material, e ficariam por lá até terem que pegar o trem para Hogwarts, pensando no quanto a festa fora porreta de boa!
N/A: Hahahaha! Faz tempo q eu não escuto a expressa "porreta di baum". Não liguem a linguagem baixa da música, mas é que meu irmão vive escutando ela no carro, e quando eu vi a letra me lembrei imediatamente de Fred e Jorge. Claro, eles nunca foram nerds, mas mesmo assim achei que era a cara deles.
