Capítulo 35 – Animais, magos e animagos
Na primeira semana de aulas, Fred e Jorge continuaram ensinando Aline, Cinthia e Douglas a se tornarem animagos. Estavam quase conseguindo se transformar totalmente, e Aline e Cinthia estavam particularmente perto do fim. Já Douglas estava precisando de uns treinos extras, mas não arranjava tempo para faze-los.
No começo de outubro, Aline finalmente conseguiu se transformar completamente. Ela se tornou uma coruja branca bem elegante, com algumas manchinhas cinzas pelo corpo, e tinha olhos amarelos vigilantes.
- Que espécie de galinha esquisita – disse Douglas. – Acho que deu alguma coisa errada na transformação da Carijó.
Aline começou a dar vôos rasantes na cabeça de Douglas, e ele teve que se esconder atrás dos gêmeos.
- O que foi que deu nela?!
- Esquecemos de te avisar – disse Fred. – Mesmo na forma de animal dá para entender o que as pessoas fala.
- OK, Emplumada. Pode voltar ao normal. – disse Jorge. – Ele não falou sério.
- Falei sim.
Aline deu mais um vôo rasante e Douglas se encolheu tentando escapara da bicada dela.
- Ei! Tem uma coisa esquisita no pescoço dela. – disse ele.
Aline voltou ao normal ainda no ar, e acabou caindo de bunda no chão. Cinthia a ajudou a se levantar.
- Tenho que me lembrar de não fazer isso de novo. – disse ela massageando o bumbum. – O que tinha de estranho?
- Uma papada – disse Douglas. – Brincadeirinha! Tô só brincando! Parecia uma linha cinza, e na frente tinha uma manchinha na forma de um trevo de quatro folhas.
- Deve ser a sua marca registrada. – disse Fred.
- Marca registrada? – perguntou Cinthia.
- É que para um animago ser identificado ele continua com uma característica humana. – disse Jorge.
- Nós continuamos com as sardas. Nem na forma animal conseguimos nos livrar delas.
- E é por isso que a Professora McGonagall continua com aquelas marcas quadradas em volta dos olhos. É por causa dos óculos.
- Mas então o que é essa marquinha? – perguntou Douglas se virando para Aline.
- É uma correntinha de ouro que eu tenho desde bebê.
- E como é que eu nunca vi ela?
- Porque eu uso debaixo da blusa. Você nunca vai ver essa correntinha.
- Não aposte nisso – disse ele tentando provoca-la.
- Seu... - Aline puxou a varinha e apontou para ele, mas Cinthia segurou o seu braço.
- Boba! Ele está só provocando. Não leve a sério.
- Odeio quando você tem razão sobre isso e não me deixa dar uma lição nele – disse Aline guardando a varinha a contra-gosto, e ainda teve que aturar Douglas olhando-a com um misto de triunfo e provocação durante o resto da noite.
Como não havia mais perigo em andar pelo castelo à noite as seções de treino estavam mais regulares, e pouco antes do dia das bruxas Cinthia conseguiu se transformar completamente em um guaxinim peludinho e felpudo.
- Que bonitinha! – disse Aline. – Parece mesmo um bichinho de pelúcia!
Cinthia pareceu não ter gostado do comentário, já que arreganhou os dentes e fez um som parecido com um rosnado baixo.
- Achei que a marca registrada dela seria o chapeuzinho, mas não tem nada parecido. – comentou Douglas.
- É mesmo. – disse Fred. – Tente achar uma característica. – disse ele para Cinthia, e a menina (ou guaxinim) começou a andar em círculos. Os quatro fizeram força para não rir, mas pararam quando Cinthia começou a apontar para o próprio peito. Tinha uma manchinha em forma de gota no meio, levemente para a esquerda. Era pequena, e Jorge se aproximou um pouco para ver melhor.
- Que gracinha! – disse ele passando o dedo na manchinha, mas Cinthia mordeu o dedo dele. – Ai! O que foi que eu fiz?
Cinthia voltou ao normal e parecia um pouco embaraçada. – Er... desculpa. Foi instinto de auto-preservação, eu acho. É que isso é uma marquinha de nascença que eu tenho, e peço para que nunca mais mecham nela, OK?
- Por que? – perguntou Jorge com o dedo na boca. Ele não sabia que dentes de guaxinim eram tão afiados.
- Porque... porque... o lugar que ela fica... sabe... não preciso continuar a frase, né?
- Oh. Foi mal – disse Jorge corando levemente, mas ninguém notou e ele logo voltou ao normal.
- Agora só falta você, Douglas – disse Fred.
- Podem perder as esperanças – disse Aline balançando a cabeça. – Acho que o inferno congela antes de vermos a transformação completa dele.
- Falou aquela que nem consegue se transformar em uma galinha decente – revidou Douglas.
- Galinha é a tua vizinha!
- E sabe que é verdade? Você não sabe quantos homens diferentes aparecem por lá em um mês, e olha que ela é casada.
- Eu vou fingir que não ouvi isso.
- Vocês podiam formar uma dupla, sabe, Galinha e Carijó.
- Já chega! Eu vou te dar uma bifa, e sem usar magia!
No resto daquela noite, Fred, Jorge e Cinthia tiveram muito trabalho em separar Douglas e Aline. Na verdade, só Aline deu trabalho, já que o tempo todo tentava avançar em Douglas, e Fred e Jorge tinham que segurar a menina. Cinthia fez um feitiço temporário para que Douglas não falasse, e só então conseguiram acalmar Aline o suficiente para voltarem para os dormitórios em segurança.
Para aqueles que pensaram que Douglas conseguiria se transformar pouco depois, estão enganados. Ele ainda precisava progredir na transformação parcial, e precisava de pelo menos dois meses e meio para chegar ao final.
Depois do dia das bruxas, que foi também a primeira visita a Hogsmeade do ano, Fred e Jorge não puderam deixar de notar nos treinos de quadribol que Harry estava bem deprimido. E depois da derrota da Grifinória para a Lufa-Lufa então, os gêmeos não sabiam dizer se o mais deprimido era Harry por causa da vassoura perdida ou eles mesmos por terem perdido uma partida para Cedrico Diggory, que havia se tornado o capitão do time naquele ano. Pelo menos a Corvinal derrotou Lufa-Lufa no final de novembro, e além de Harry ter achado aquilo bom, Cinthia não parou de comemorar por três dias.
Mas ainda estavam preocupados com Harry, e foram falar com Rony, que disse o que eles esperavam ouvir, e também que Harry não tinha autorização para ir até Hogsmeade, e os gêmeos queriam fazer alguma coisa para ajudar. E em um final de tarde de domingo resolveram falar com os outros três sobre dar o mapa para o garoto.
- Mas isso só vai mete-lo em confusão – protestou Aline. – Vocês viram no Semanário da Bruxa e no Profeta Diário que Sírius Black ainda está foragido e atrás de Harry. Se ele fosse para Hogsmeade ficaria sem a proteção de Dumbledore, e vocês sabem que isso é muito perigoso.
- E você quer que nós deixemos ele deprimido o ano inteiro? – defendeu-se Jorge.
- O Harry não é tão burro a ponto de se arriscar muito. – disse Fred - E podemos até ficar de olho nele.
- Eu não acho que seja uma boa idéia. – disse Cinthia – Sírius Black é muito perigoso, e o Harry só teve problemas desde o primeiro ano em que entrou em Hogwarts.
- Só queremos que ele esqueça esses problemas e se divirta um pouco.
- É capaz do garoto ficar neurótico se continuar trancado no castelo por mais um fim de semana sem Hogsmeade.
- Douglas, você concorda com a gente, não é mesmo?
Até agora Douglas estava encostado em uma das paredes da sala que usavam para os treinos de animagia, de braços cruzados e cabeça baixa. Só levantou a cabeça ao ouvir o seu nome.
- Fico neutro. Se eu fosse o Harry, com certeza ia querer ir a Hogsmeade de qualquer jeito. Mas não posso deixar de concordar com a Cinthia e a Mini Minerva (Aline não gostou de ser chamada assim): é muito arriscado e perigoso tirar o Harry da proteção de Dumbledore, ainda mais que tem dementadores em volta de Hogwarts inteira. Isso garante a proteção dele.
- Mas tem dementadores em Hogsmeade também! – disse Fred. – Ele vai estar seguro, de uma certa maneira. Seria até melhor para a saúde dele se não tivesse dementadores por lá.
- E vocês estão esquecendo que o Harry não é bobo, ele vai saber se virar. Já enfrentou Vocês-Sabem-Quem três vezes, com certeza pode escapar de Sírius Black.
- Vocês não querem ver uma pessoa feliz?
Fred e Jorge estavam com olhares tão pidões que até Aline se comoveu. Ela pensou nos professores que estariam por perto, e pensou que Harry era mesmo um bruxo esperto. Ora, o Mapa do Maroto podia até ajudar Harry a escapar de Sírius Black. No fundo sabia que estava apenas arranjando desculpas para se convencer a dar o mapa, mas fingiu que não havia problema algum.
- Tudo bem. Eu concordo em dar o mapa para ele. Nós não precisamos mais mesmo, já sabemos todas as passagens decor.
- Fale só por você – disse Cinthia. – Tem pelo menos umas cem passagens secretas naquele mapa, e eu mal sei quais são as passagens pelos corredores normais.
- Mas como nós quatro sabemos todas as passagens, não faz mal passarmos o mapa para outra pessoa, não é? – perguntou Jorge esperançoso.
- É, eu acho que não.
- Mas por que vocês não dão para o Rony, que é irmão de vocês? – perguntou Douglas.
- Porque ele não ia saber usar o mapa direito, e o Harry precisa mais dele que o Roniquinho.
- Então tá. – disse Douglas se desencostando da parede. - Mas não acham que precisamos deixar algum tipo de marca no mapa.
- Pra quê? – perguntou Aline.
- Para deixar alguma recordação em Hogwarts depois que sairmos, Srta. Emplumada.
- Que tal alguma coisa como uma frase atrás do mapa – sugeriu Cinthia.
- Mas precisamos de um nome, como os Marotos fizeram. – disse Fred.
- Que tal Os Ladinos! – disse Aline. – Significa pessoa esperta, astuta.
- Então vamos precisar deixar a Cinthia de fora do grupo – disse Douglas.
- Digo o mesmo de você, esperto.
- Ei, ei, ei! Calma – disse Jorge pegando o mapa e colocando-o de costas na mesa. – Que tal escrevermos "Os Ladinos passaram por aqui!"?
- E em baixo assinarmos com os nossos apelidos – completou Fred.
- Eu gostei. – disse Aline.
Jorge escreveu a frase e ofereceu a pena para Aline assinar.
- As garotas primeiro.
No final todos haviam assinado e ficaram contemplando o mapa.
Os Ladinos passaram por aqui – turma de 1989.
Emplumada, a mais inteligente de Hogwarts.
"E não duvidem disso ou eu lanço uma azaração!"
Pelúcia, a mestra dos números.
"Eu esqueci o que ia escrever..."
Garra, o mais bonitão do grupo.
"Como é bom ser eu!"
Bigodes e Focinho, os gêmeos inigualáveis.
"Não tem ninguém igual a gente!"
"Não tem ninguém igual a gente!"
- Quanta besteira! – comentou Aline.
- Realmente, é uma mentira atrás da outra – disse Douglas em tom de mofa.
- Malfeito feito! – disse Fred, e, para a surpresa de todos, a mensagem que eles deixaram desapareceu com os outros escritos. – Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom! – disse ele só para testar, e a mensagem apareceu novamente, junto com os desenhos do mapa. – Malfeito feito!
Mas dessa vez apareceu uma mensagem que se apagou logo em seguida:
"Decida-se logo, panacão!"
- Agora vamos no livrar mesmo de você! – disse Jorge para o mapa.
- Dêem para o Harry quando chegar a próxima visita a Hogsmeade – sugeriu Aline. – Vai ser pouco antes do fim do trimestre, e ele vai adorar receber um presente de Natal adiantado.
- Enquanto isso podemos usa-lo! – disse Douglas.
- Mas nós já vimos tudo de interessante que se tem para ver em Hogwarts – disse Cinthia. – Só precisaríamos do mapa para esquivar dos professores, mas não temos para onde ir.
- Aí é que você se engana! – disse Fred. – Sabemos de algo que ainda podemos fazer com o mapa.
- Uma última aventura juntos... - disse Jorge olhando para o pergaminho em cima de uma mesa. – Para nos despedirmos disso aí com estilo!
- No que é que os dois estão pensando? – perguntou Aline apreensiva.
- Bom... lembram quando fomos falar com o nosso irmão? – disse Fred.
- E como não lembrar? – disse Douglas – Vocês demoraram um século.
- É que ficamos falando com ele, sabe – disse Jorge. – Ele deixou escapar uma informação muito útil relacionada a aranhas e sem pressioná-lo, claro, ele nos contou algo muito interessante.
- Ele disse que tem aranhas gigantes na Floresta proibida! – disse Fred entusiasmado.
- Aranhas gigantes...? – Cinthia não gostou muito da idéia.
- Mas não tem perigo! – disse Jorge. – A chefona das aranhas é bem legal com os humanos, só o que temos a fazer é dizer que somos amigos do Hagrid.
- O que essa aranha tem a ver com o Hagrid? – perguntou Douglas.
- Não é óbvio? – disse Aline. – Provavelmente ela já foi o bichinho de estimação dele, conhecendo o Hagrid como nós o conhecemos.
- De que tamanho vocês disseram que eram as aranhas? – perguntou Cinthia. Ainda não estava totalmente OK com a idéia.
- Nós não dissemos – respondeu Fred. – Mas o Roniquinho nos contou que umas tem por volta de dois metros.
- Dois metros?! E o que vocês pretendem fazer exatamente?
- Vamos até a Floresta Proibida ver se elas existem mesmo – disse Jorge casualmente. – O Rony morre de medo de aranhas, e pode muito bem ter exagerado um pouco, você sabe. Vai ver elas tem dois centímetros, e não dois metros.
- Mas vocês não vão mesmo! – disse Aline. – Como monitora, eu proíbo vocês de entrarem na Floresta Proibida. Nem os dementadores chegam perto dela! E se as aranhas tiverem mesmo dois metros?
- Não tem, não – disse Fred fazendo pouco caso. – Você vai ver como não tem perigo nenhum. E é até melhor que os dementadores não fiquem rondando por lá. Vai ser divertido!
- Eu vou! – disse Douglas. – Qualquer coisa para quebrar a rotina da escola.
- Eu acho que a rotina já foi quebrada quando a Mulher Gorda foi atacada por Sírius Black, fazendo todos os alunos dormirem no salão principal por uma noite, e quando os dementadores invadiram o campo de quadribol arruinando a nossa vitória! E ainda precisamos substituir a Mulher gorda da entrada pelo maluco do Sir Cadogan. O melhor que temos a fazer é continuar no castelo, onde é seguro. Eu não vou deixar vocês fazerem isso!
- Ah, Aline, pode ser que não tenha nada mesmo – Aline se espantou que Cinthia tivesse dito aquilo. Estava falando da segurança justamente para ter pelo menos ela do seu lado, mas pelo visto não funcionou. – Provavelmente nós nem encontremos aranha nenhuma. E eu preciso parar de ser tão medrosa; que melhor maneira de curar isso do que com um tratamento intensivo na Floresta Proibida?
- Eu não acredito no que estou ouvindo... - Aline fechou os olhos e pôs uma das mãos sobre o coração, como se quisesse reunir coragem para falar algo. – Eu vou tirar pontos da Grifinória e da Corvinal se vocês insistirem. E dessa vez eu estou falando sério, muito sério.
- Mas Aline, o que tem de mais... - começou Jorge.
- Pode dizer adeus a dois pontos da Grifinória, Jorge. – disse Aline como se aquilo tivesse doído mais nela do que neles. – E nem mais um pio sobre isso, por favor.
- Mas quem tem o costume de piar por aqui não é você? – disse Douglas.
- Um, dois, três, quatro... - começou Aline.
- O que ela está fazendo? – perguntou Fred.
- Ela está contando até dez para ver se consegue se acalmar – disse Cinthia. – Eu sugeri a ela que fizesse isso quando fosse explodir de raiva, sabem.
- ... nove, dez! Isso acabou de salvar a sua vida, sabia? – disse ela para Douglas.
- Que meda... - disse Douglas. - Vamos ver o que tem de janta, ou daqui a pouco vão estranhar a nossa falta.
No caminho para o salão principal, os cinco surpreenderam uma cena muito bonitinha, mas só na opinião de Cinthia e Aline. Para Fred, Jorge e Douglas aquela era uma cena do tipo "perdi todo o respeito que ainda tinha pelo capitão do time da Grifinória".
Eles pegaram Olívio e Luciana se beijando bem na entrada do salão! Já havia se passado quase um minuto quando os dois se deram conta de que tinham espectadores, e tanto a brasileirinha quanto Olívio ficaram vermelhos.
- Arrumem um quarto vocês dois! – disse Fred brincando.
- Aline, você não vai dar uma de Percy e descontar pontos por isso, vai? Já perdemos uns quinze pontos esse mês, para cada casa. – disse Luciana, e Fred, Jorge, Douglas e Cinthia olharam para Aline como quem diz "você vai?"
- Ah, não. Nem esquente por isso.
- Agora eu mudei minha opinião sobre os monitores – disse Olívio enquanto se afastava pelo corredor com Luciana. Os outros foram para o salão principal, mas Fred, Jorge e Douglas haviam perdido o apetite.
- Vocês tem certeza que não vai ter problema nenhum? – dizia Cinthia para os três em um sussurro. Eles quatro estavam esperando Aline pegar os deveres de casa que tinha (e pelo visto eram muitos, já que deu tempo de Cinthia alimentar a gatinha dela a ainda trazer os próprios deveres) no salão principal. A maioria das pessoas já havia saído, mas algumas, como eles, continuaram para estudar.
- Sem problemas mesmo – disse Jorge. – É só não falarmos nada que ela não vai ter o que desconfiar.
- Não me parece justo – continuou Cinthia.
- Porque não é mesmo – disse Douglas. – Mas é a única maneira de irmos ver essas tais aranhas sem perdermos pontos.
- OK. Mas se alguma coisa der errado e ela descobrir, a responsabilidade é todinha de vocês.
- Ou você está nessa com a gente, ou te deixamos no castelo – disse Fred.
- Tá certo. Mas sem brincadeirinhas no meio do caminho, tá.
- À uma em ponto nós vamos estar te esperando na saída da Grifinória – informou Jorge. – O Mapa do Maroto e a capa da invisibilidade já estão com você, e não esqueça de fazer o feitiço de aumento.
- Combinado.
Os quatro pegaram os livros e abriram como se aquela conversa não tivesse acontecido. Quando Aline chegou ficou contente em ver que até mesmo o "Tosco idiota" estava estudando sem ela precisar mandar. Mal ela sabia que eles planejaram ir até a Floresta Proibida sem ela, e nenhum dos quatro soltou alguma pista disso enquanto estudavam. Douglas tomou o cuidado de não irritar Aline naquela noite.
À uma hora em ponto, Cinthia já estava na frente do retrato do Sir Cadogan, que dormia a sono solto com um barril de cerveja como travesseiro, a sua montaria estava vigiando no lugar dele. Ela viu no mapa os pontinhos de Douglas, Fred e Jorge se aproximarem do retrato, e eles o empurraram com cuidado para não acordar o cavaleiro bebum.
- Você já está aí? – perguntou Fred num sussurro para o nada à sua frente, e Cinthia tirou a capa depois de ver no mapa se não tinha ninguém vindo pelo corredor.
- Estou aqui. Vamos!
Os quatro entraram debaixo da capa e foram até a passagem mais próxima que levava até a orla da Floresta Proibida. Ao entrarem na passagem guardaram o mapa e a capa, já que não precisariam mais deles. Mas, se tivessem olhado o Mapa do Maroto com mais atenção, teriam visto no topo da escada que levava aos dormitórios femininos da Grifinória um pontinho intitulado "Aline Quadros". E teriam visto também que este pontinho os seguia.
- Conseguimos! – exclamou Douglas ao saírem da passagem e darem de cara com a cortina de árvores que se levantava diante deles tentando alcançar o céu cheio de estrelas. – Sem Mini Minerva para nos encher o saco, sem perder pontos para a casa, e o mais importante de tudo, sem Mini Minerva para nos encher o saco!
- Você já falou isso – comentou Jorge.
- Eu sei, mas é tão bom que merece ser repetido. Vamos logo, antes que algo muito trágico aconteça e nos impeça de ver as aranhas gigantes do Rony.
- Se eu pudesse, dava detenção para os quatro!
Eles não podiam acreditar, mas ela estava lá, em carne, osso e regulamentos. Aline havia alcançado o grupo de infratores e estava com as bochechas vermelhas de raiva, com as mãos na cintura e a varinha em uma delas. Ela havia amarrado o cabelo em um rabo de cavalo baixo quando saiu da cama, e agora estava mais parecida do que nunca com a Profª McGonagall.
- Você é pior que praga de jardim! – disse Fred. – Volta pra cama e finge que nunca viu o que está vendo agora.
- Eu não posso fazer isso! Sou monitora, esqueceram?
- Você não deixa a gente esquecer – disse Douglas baixinho, só para si mesmo, mas Aline ouviu.
- E devem se lembrar também que eu ia tirar pontos de vocês se insistissem com isso, não é?
- Mas você não vai fazer isso, vai? – perguntou Cinthia tentando convencer Aline a fazer qualquer coisa, menos puni-los por aquilo.
- Se vocês concordarem em voltar para o castelo comigo eu não tiro pontos das casas.
- Há! Essa é boa! – disse Douglas dando as costas para a garota e entrando na floresta. – Você não quer é tirar um monte de pontos da Grifinória, já que somos três e a penalidade por explorar a Floresta Proibida é muito grande.
Fred, Jorge e Cinthia seguiram Douglas já que Aline estava blefando desde o começo. Os três usaram "lumus" para poderem enxergar dentro da floresta. É certo que Cinthia não queria deixar a amiga zangada, mas a sua curiosidade a forçava a ficar do lado dos garotos.
Aline ficou estática com a atitude deles por alguns segundos, e correu floresta adentro para traze-los de volta.
- Voltem aqui! Vocês tem que voltar para o castelo, ou eu vou chamar um professor!
- Se você fizesse isso teria que explicar por quê não fez isso antes, e eles vão tirar pontos de você também por sair da torre da Grifinória. – continuou Douglas tentando chantagear Aline. – E você não quer arriscar o seu cargo de monitora, não é mesmo.
- Não é bem assim – disse Aline quase correndo para acompanhar os passos deles. – A Profª McGonagall vai entender que eu estava tentando traze-los de volta para o castelo antes que algo muito grave acontecesse com vocês – disse Aline sendo extremamente sincera, quase suplicando para que eles voltassem.
- Se você não quer vir com a gente, então volte para o castelo – disse Douglas sem se importar com a garota.
- Tudo bem. Então tá. Se é assim que vocês querem, eu volto para o castelo. Vou voando, é mais rápido.
Os quatro continuaram andando para dentro da floresta enquanto Aline usava uma clareira para se transformar, mas ao invés de ouvirem o farfalhar de asas costumeiro das corujas eles ouviram um pio agudo de dor. Eles se viraram para trás e viram uma aranha enorme, muito maior que eles, preta e com longas patas peludas. E presa nas presas do bicho gigante estava Aline, novamente na sua forma humana.
Douglas tomou a dianteira dos outros e, inconscientemente, se transformou em um enorme urso marrom. Ele se apoiou nas duas patas de trás, ficando maior que a aranha, e o bicho recuou alguns passos diante da figura ameaçadora do urso. Com um urro, Garra avançou no bicho e, com apenas uma patada, conseguiu arrancar as presas que prendiam Aline. A garota caiu no chão de costas, enquanto a aranha pisoteava enlouquecida para trás e para frente, soltando estalidos de dor por ter tido as presas arrancadas.
O garoto se transformou novamente em humano e arrastou Aline para longe da aranha enfurecida antes que ela fosse esmagada. Das suas costas, ele pôde ouvir dois feitiços "estupefaça" serem lançados em meio aos estalidos, e a aranha gigante tombou, fazendo o chão em volta tremer com a queda.
Aline sacudiu a cabeça, parecia ter ficado um pouco tonta com a queda, e levantou os olhos para Douglas, que estava debruçado sobre ela com uma expressão preocupada.
- Eu podia ter me virado sozinha, sabia?
- Mas é uma mal-agradecia! – disse ele mudando a expressão de preocupado para meio zangado.
- Eu não pedi para você me salvar!
- Gente, eu odeio ser estraga prazeres e tudo mais – os dois ouviram a voz de Cinthia vindo de algum ponto atrás dos gêmeos, perto de uma grande árvore -, mas acho que estamos cercados.
Fred e Jorge levantaram as varinhas para iluminar melhor a clareira em que estavam e viram algumas dúzias de aranhas menores, talvez com um metro ou menos, fechando o cerco em volta deles. Douglas ajudou Aline a se levantar e ficaram um de costas para o outro, as varinha apontadas para as aranhas que se aproximavam lentamente. Fred e Jorge fizeram o mesmo. Cinthia mal conseguia se manter em pé, e estava se apoiando na árvore atrás de si para não cair.
"A árvore!" pensou Cinthia começando a subir nela.
- O que você vai fazer? – perguntou Fred confuso.
- Eu tive uma idéia! Esperem um pouco.
Com muita agilidade, Cinthia subiu bem alto na árvore, à uma altura que ela achava segura e se sentou em um dos galhos, pensando.
- Tenha uma idéia útil! – disse Jorge para apressa-la. As aranhas estavam a quase três metros do grupo no chão.
- Eu estou pensando! Como era mesmo aquele feitiço... como era...? Lembrei! Aranha exumai!
Com um movimento rápido da varinha, Cinthia apontou para uma das aranhas que estava bem próxima de Aline e um feixe amarelo e luminoso atingiu-a. A aranha caiu um metro para trás, e as suas companheiras se afastaram um pouco.
- Usem o mesmo feitiço! – disse Cinthia para os outros. – É só fazer assim com a varinha – disse ela usando o feitiço mais uma vez em uma aranha que se aproximou perigosamente de Jorge.
As aranhas ficaram furiosas com a morte das companheiras e avançaram no grupo, emitindo estalidos ameaçadores enquanto atacavam. Mas quanto mais avançava, mais aranhas tombavam, e elas logo perceberam que não poderiam ganhar dos cinco garotos. As que continuaram vivas bateram em retirada, e Douglas, Fred e Jorge ainda pegaram algumas que haviam ficado para trás.
- Foi uma batalha e tanto! – disse Douglas enxugando o suor da testa de nervoso e cansaço.
Fred e Jorge se aproximaram da aranha maior, e Fred cutucou-a com o pé.
- Será que essa aqui morreu mesmo?
- Acho que sim – disse Jorge olhando-a de perto. – A queda foi bem grande.
- Parabéns Cinthia! – disse Aline se aproximando do pé da árvore em que a outra estava. – Feitiçozinho útil.
- Nem fale! Eu vou descer – disse Cinthia se levantando para descer.
Mas ela não viu que uma sombra escura se movia no tronco da árvore um pouco acima de sua cabeça. Enquanto passava para um galho mais baixo, a aranha pulou sobre ela, e Cinthia escorregou.
- Cinthia! – gritou Aline, chamando a atenção dos garotos.
Cinthia ainda conseguiu se segurar em um dos galhos, mas a aranha se salvou com ela. Sentiu uma picada queimar o seu ombro esquerdo, e logo aquele braço ficou ardendo com o veneno que estava se espalhando pela sua corrente sangüínea. A dor era muito forte, e Cinthia não conseguia mais usar o braço esquerdo para se segurar no galho. Ela ficou se sustentando só com o braço direito, mas o veneno estava se espalhando absurdamente rápido e deixando todo o seu corpo dormente.
- Aranha... - ela ouviu Aline dizer, a voz da amiga parecia muito apagada e distante.
- Não! – ela ouviu outra voz apagada, dessa vez de Douglas. – Você pode acertar a Cinthia.
Cinthia tentou dizer que não tinha problema usar o feitiço, que ele só funcionava em aranhas, mas nenhum som saiu de sua boca. A aranha em suas costas era muito pesada, e o veneno continuava a fazer efeito. A mão dela escorregou, e Cinthia desmaiou ainda no ar, não sentindo dor ao cair no chão.
A aranha se soltou dela pouco antes de chegar ao solo e sentiu que estava encurralada. Começou a dar estalidos ameaçadores para afugentar os quatro garotos que se aproximavam, mas ela tinha apenas sessenta centímetros de altura no máximo. Depois de eliminarem a aranha de dois metros, aquela não representava uma ameaça muito grande.
- Ah, fica quieta! Aranha exumai! – disse Fred, atirando a aranha contra a árvore.
- Ela desmaiou – disse Aline se ajoelhando ao lado de Cinthia. – E a aranha a picou. Vejam! – Aline apontou para os dois furos ensangüentados na roupa de Cinthia, na altura do ombro. – Temos que leva-la até a enfermaria, e rápido!
Jorge carregou Cinthia até o castelo, tomando muito cuidado no caso dela ter quebrado algum osso. Madame Pomfrey não ficou nada feliz em ser acordada no meio da noite, e menos contente ainda quando eles disseram que uma das aranhas da Floresta Proibida havia picado a menina.
Cinthia abriu os olhos, mas ainda estava vendo tudo embaçado. Ela viu duas formas avermelhadas à sua frente, e a primeira coisa que veio na sua mente foram as aranhas. "As aranhas! O que eu estou fazendo deitada?" Cinthia se levantou bruscamente, e bateu a testa naqueles dois borrões ruivos.
- Ai! – ela ouviu duas vozes familiares exclamarem.
"Não se parecem com aranhas" pensou ela, e sua visão voltou a entrar em foco.
- Ainda bem que você tem cabeça dura! – disse Fred.
Fred e Jorge massageavam as testas, cada um de um lado de Cinthia. Ela viu também Aline e Douglas ao lado da cama. "Cama?" Cinthia só se lembrava da aranha na Floresta proibida, e lá não tinha mais que árvores. Olhou em volta e reconheceu a enfermaria da escola, com uma fileira de camas bem arrumadinhas.
- O que aconteceu? – perguntou Cinthia, e ela sentiu uma dor aguda no abdômen.
- Tinha uma aranha escondida na árvore, e você foi picada, além de ter caído da árvore – disse Aline. – E nós tivemos que te trazer para a enfermaria.
- E quebrei uma costela na queda, não foi? – perguntou Cinthia.
Ela olhou para a janela ao lado da cama e ficou surpresa em ver o pôr-do-sol no lugar do céu estrelado que esperava encontrar.
- Já faz algum tempo que você está na enfermaria – disse Jorge acompanhando o olhar dela. – Você perdeu dois dias de aula.
- Acho que perdi o medo de aranhas e alturas também, só pela sorte de ter saído viva daquilo.
Fred e Jorge se sentiram mal em ter convencido os outros a procurarem as "supostas" aranhas gigantes. Aline só não falou "eu não disse" porque os gêmeos já estavam muito mal com aquilo.
- Alguém lembrou de dar comida para a Nina?
- Eu avisei a Luciana logo no café da manhã – disse Aline. – Daí já aproveitei para contar o que aconteceu com você na Floresta Proibida.
- Hum, tá. Mas para a Madame Pomfrey vocês não contaram que fomos até a Floresta Proibida, não é? – disse Cinthia já imaginando o que viria disso. – Por favor, digam que vocês inventaram uma desculpa como "ela foi picada por uma aranha de jardim e caiu da cama".
- Não tinha como inventar uma desculpa dessas – disse Jorge. – Pomfrey perguntou o que tinha acontecido com você, e nós dissemos que você foi picada por uma aranha, e ela perguntou que tipo de aranha, e nós tivemos que dizer que era uma das aranhas da Floresta Proibida para que ela desse o antídoto certo. Depois ela achou uma fratura na sua costela e perguntou de novo o que tinha acontecido. Se disséssemos que você tinha caído da cama ela não ia acreditar.
- Depois de te medicar ela chamou a Profª McGonagall – disse Fred. – E ela não acreditou quando eu disse que estávamos coletando espécies raras de bromélias noturnas para a aula de Herbologia.
- Deixe-me adivinhar – disse Cinthia se recostando no travesseiro novamente e colocando as mãos sobre o rosto. – Detenção! E menos cinqüenta pontos para cada um!
- Acertou em parte – disse Douglas. – Você só esqueceu de dizer que a Mini Minerva Monitorazinha Super-Perfeita escapou da detenção por ser a monitora mais puxa-saco da história de Hogwarts.
- Pare com isso, seu amargurado! – disse Aline. – Em "Hogwarts, uma história" está escrito que a monitora mais puxa-saco foi uma garota da Lufa-Lufa, lá por volta de 1834...
- Poupe-nos! – exclamou Douglas com ganas de esmagar o pescocinho de Aline para ver se ela parava de falar.
- Já sabem qual vai ser a detenção? – perguntou Cinthia antes que precisasse fazer companhia para Aline e Douglas na enfermaria.
- A McGonagall disse que, assim que você tiver alta, ela vai nos passar a detenção – disse Jorge. – Por isso, trate de ficar um bom tempo na enfermaria.
- Você sabe que Madame Pomfrey cura fraturas bem rápido, e me sinto muito melhor por causa do antídoto. Em pouco tempo eu vou estar tirando essas bandagens.
- Você sabe o significado de "fingir"? – sugeriu Fred.
- Mas eu não quero me atrasar nos estudos – disse Cinthia indignada. - Se eu demorar demais não vou conseguir acompanhar o resto da turma.
- Ô Aline! O que foi que você fez com ela? – perguntou Douglas como se Aline fosse culpada de alguma coisa.
- Lavagem cerebral – disse ela sarcástica. – Não começa, tá.
- A gente perdeu mesmo cinqüenta pontos cada? – perguntou Cinthia.
- Mas foi pior para a gente, que perdemos duzentos pontos para a Grifinória – disse Jorge com uma voz de além-túmulo. – Temos que nos esforçar muito para conseguir esses pontos de volta.
- Aline, trate de praticar o seu puxa-saquismo em tempo integral de agora em diante – disse Fred como se fosse um general comandando um batalhão preparado para ir à guerra.
- Por que é que vocês também não bancam os puxa-sacos? – perguntou Aline cansada.
- Porque ninguém tem saco suficiente para isso – respondeu Douglas.
- Fale só por você – disseram Fred e Jorge juntos, fazendo todos rirem.
Cinthia pousou os olhos na mesa de cabeceira da sua cama, e para a sua surpresa havia alguns cartões e doces nela. – O que é isso?
- Nós não fomos os únicos que notaram a sua ausência, sabia – disse Aline. – Mas também tem presentes nossos, caso você acordasse durante as aulas.
Cinthia pegou primeiro o cartão de Aline, que era um tanto extenso e vinha junto com um chaveirinho de guaxinim azul de pelúcia. O cartão de Douglas não era muito criativo, mas o presente podia ser considerado original.
- Bombas de bosta – disse Cinthia num tom um tanto mecânico ao abrir o pacote. – Não sei se acho engraçado ou se uso o presente em você, mas obrigada assim mesmo.
Fred e Jorge lhe deram cartões musicais que explodiam quando acabavam de cantar, idênticos, além de logros feitos por eles mesmos.
- Ainda estão na fase inicial – explicou Fred. – Temos alguns testes para fazer, mas logo estarão terminados.
- E eu sirvo de cobaia. Quanta consideração... - disse Cinthia brincando, mas achou mais seguro deixar os logros de lado e partiu para o próximo presente. Luciana havia deixado um grande cartão de melhoras e uma caixa de feijõezinhos de todos os sabores que Cinthia deixou para comer mais tarde.
- Olha só que bonitinho!
Cinthia pegou uma caixa transparente com formato de nuvem, cheia de bombonzinhos de cereja. Dentro também tinha um cartão de melhoras desejando que ela pudesse voltar logo para as aulas.
- É do Big! - disse ela depois de ler o cartão. – Que gentileza a dele. Tenho que me lembrar de agradecer assim que sair daqui.
Antes que Cinthia pudessem ver os outros cartões, Madame Pomfrey entrou na enfermaria e enxotou os quatro visitantes de lá, dizendo que precisava examinar a paciente já que Cinthia havia acordado. Os quatro insistiram em ficar só mais uns cinco minutinhos, mas Madame Pomfrey manteve o pé firme.
- Vocês poderão vê-la por bastante tempo assim que ela sair, o que não deve passar de amanhã à tarde.
Eles deram vivas à isso, e ouviram Cinthia exclamar um "Legal!" da cama, e Madame Pomfrey voltou para examina-la. Mas isso significava que no dia seguinte receberiam as detenções também.
