Capítulo 36 – Espírito natalino
McGonagall parecia ter sido avisada da hora, minuto e segundos exatos em que Cinthia sairia da ala hospitalar, tão preciso foi o encontro da menina com a professora no corredor na hora do almoço. O olhar severo de McGonagall fez Cinthia seguí-la pelo corredor de cabeça baixa, sentindo vontade de tropeçar ali mesmo e quebrar uma perna só para voltara à enfermaria.
Fred, Jorge, Douglas e Aline estavam almoçando despreocupadamente, conversando sobre a terrível aula de poções que tiveram, quando McGonagall chamou os três garotos para acertar a detenção. Era a última quarta-feira de aula do trimestre, e isso significava que eles cumpririam a detenção ainda naquela semana.
A professora McGonagall levou-os até uma sala ligada ao salão principal, e com todo o alvoroço de fim de ano nas mesas ninguém notou a ausência deles.
- Suponho que os quatro colocaram os seus nomes na lista dos que vão ficar em Hogwarts durante o natal – começou ela, e todos afirmaram positivamente com a cabeça. – Pois bem, a detenção de vocês será arrumar a decoração de natal deste ano no castelo inteiro. Vocês tem permissão para usar magia, mas se fizerem alguma gracinha na decoração tenham a certeza de que receberão uma detenção pior que esta. E não se preocupem com as doze árvores que serão colocadas no salão principal, sei que Hagrid pode arranjar um tempo para corta-las. Podem começar no primeiro díade férias, depois da visita a Hogsmeade deste sábado. Vão ter muito trabalho pela frente.
McGonagall abriu a porta para eles saírem, e os quatro formavam a figura perfeita de uma marcha fúnebre, andando de cabeças baixas e arrastando os pés. Fred e Jorge não deram muito crédito à detenção, tampouco Douglas, mas eles ficariam trabalhando o domingo inteiro.
Aline estava esperando por eles na mesa da Grifinória com uma expressão preocupadíssima.
- Oi Cinthia! Que bom que você já saiu da ala hospitalar – disse ela rapidamente, e emendou: - Qual foi a detenção que a Profª Minerva passou para vocês?
- Vamos ter que fazer toda a decoração de natal do castelo – respondeu Douglas.
- Decoração de Natal?! – Aline estava esperando algo como "limpar todas as lareiras sem usar magia" ou alguma coisa do gênero, mas não aquilo. – Que tipo de detenção é essa?
- Você não ouviu? – disse Fred. – O castelo inteiro! Você sabe o tamanho que isso aqui tem?
- Provavelmente ainda vamos estar decorando até a Páscoa! – disse Jorge se sentando.
- Bom, já que vocês não podem usar magia, acho que vai demorar bastante mesmo – disse Aline pensando melhor.
- Mas nós podemos usar magia sim – disse Cinthia se sentando também ao lado de Aline. – O problema vai ser achar os feitiços e encantamentos certos na biblioteca.
- Eu posso ajudar vocês um pouquinho – disse Aline lentamente. – Acho que eu sei em qual seção vocês podem achar as coisas certas, mas é só nisso que eu vou ajudar. A detenção é de vocês.
- Isso é que é dar uma mãozinha – disse Douglas.
- Eu até poderia dar uma mãozona, mas ela acertaria a sua cara.
- Então eu ficaria te devendo duas desfeitas ao invés de uma.
Aline não entendeu bem o que Douglas quis dizer com aquilo, e os outros três não ligavam muito para as brigas ocasionais deles. Embora tenham terminado o almoço pacificamente, Aline continuou refletindo sobre aquilo tentando entender, mas com as aulas da tarde ela acabou se esquecendo.
- Nosso último dia de liberdade... - choramingou Fred no meio da Zonko's.
- Temos que poupar energia, irmão – disse Jorge no mesmo tom. – O trabalho será árduo.
- Façam-me o favor! Nós acabamos de chegar em Hogsmeade! – disse Aline enquanto escolhia o que iria comprar. – Não podem esquecer um pouquinho a detenção? Vocês já pegaram detenções piores que eu sei. E até que é divertido fazer a decoração de Natal.
- Vamos lá, se divirtam um pouco. – disse Cinthia já com os braços carregados. – Se é o nosso último dia de liberdade, vamos aproveitá-lo!
Fred e Jorge tiveram que concordar, afinal, não adiantava se lamentar. Era a detenção mais demorada que já pegaram, mas nem por isso o mundo ia acabar.
- O que vocês acham de passarmos na casa mais mal-assombrada da Inglaterra quando sairmos da Zonko's? – sugeriu Douglas.
- Eu disse "aproveitar", e não "desperdiçar" – disse Cinthia.
- Então o Três Vassouras seria uma opção melhor, não acham? – disse Aline indo pagar as suas coisas. Ela geralmente não comprava muita coisa na Zonko's.
- Na verdade, não – disseram os três garotos, mas Fred acrescentou depois de ver a cara de Cinthia: - Mas já que as senhoritas insistem...
- Um dia eu ainda chego perto daquela casa, mas hoje ainda está muito longe – disse Cinthia.
Assim que todos pagaram as suas compras, fizeram o sininho da loja tilintar com a saída deles. A neve lá fora caía em grandes flocos, cobrindo o chão e as casas em grossas camadas. Não havia nenhum aluno nas ruas de tão forte que nevava. Só passaram por uma ou duas pessoas, ou pelo menos era o que pareciam ser aqueles vultos no meio da cortina de neve. Eles andavam lentamente, contra o vento, e a camada de 40 centímetros no chão também não ajudava muito.
- Ora, ora, ora. Vejam se não é o Quinteto Quebrado.
Eles ouviram uma voz bem familiar às suas costas e três risadas de trasgos, e era uma voz nem um pouco bem-vinda, assim como o seu dono. Giovanni Pieri vinha subindo a rua atrás deles, e seus amiguinhos o acompanhavam.
- Estava demorando – disse Douglas. – Achei que você tivesse finalmente se olhado no espelho e visto o quão patético você é.
- Nós dois temos uma idéia bem diferente de "patético" – disse Giovanni olhando frio para Douglas, e logo depois mirando os cinco. – Para mim é patético ver três garotos da Grifinória, um idiota e dois pés-rapados, andando com uma Mini Minerva metida à besta e uma sangue-ruim tapada da Corvinal. Isso sim é patético: um grupo de derrotados.
Giovanni achava que ninguém faria nada como da última vez, e que eles não iriam atacar estando ele com os seus "guarda-costas" do lado, os três rindo como trasgos. Mas Fred e Jorge não iam deixar que ele chamasse Cinthia de sangue-ruim e se sair bem dessa, nem Douglas ia permitir que outra pessoa além dele mesmo chamasse Aline de Mini Minerva. Os três sabiam que McNair, Avery e Burkes estavam esperando com as varinhas no bolso e acabaram tendo a mesma idéia para surpreende-los.
Giovanni não viu direito por causa da nevasca que parecia até estar parando um pouco, mas de algum jeito haviam surgido três animais na rua entre ele e o quinteto patético, e os três estavam avançando nele e seus guarda-costas. Uma raposa, um coiote e um enorme urso marrom fizeram-no recuar, e ele acabou tropeçando nos seus três companheiros, caindo no chão de neve.
- Fred! Jorge! Douglas! Não façam isso! – Aline gritou.
- Agora ele sabe! – Cinthia apontou para Giovanni, que estava sentado na neve com um sorriso cínico no rosto.
- E vocês não podem fazer nada a respeito – disse Giovanni se levantando enquanto Fred, Jorge e Douglas voltavam à forma humana. Os seus guarda-costas já haviam deviam estar correndo longe à essa altura, e Giovanni se virou para ir embora dali o mais rápido que pode, mas Douglas usou o feitiço da perna presa nele e Giovanni caiu no chão.
- Não pense que pode fugir assim tão fácil. Você fica!
- Não é bem assim. Se eu não quiser ficar, eu saio.
Giovanni fez um movimento mínimo com a mão e no segundo seguinte já empunhava a varinha na direção da cabeça de Douglas. Fred e Jorge ficaram do lado do amigo ameaçando Giovanni da mesma forma e Aline tomou a varinha dele.
- O que vocês vão fazer comigo? Me silenciar para sempre? – ele disse impertinente.
- Calado! – bradou Fred. – O melhor momento para você ficar em silêncio é agora.
A nevasca estava diminuindo com certeza, e logo os alunos e habitantes iriam sair nas ruas. Eles precisavam pensar em algo rápido.
- Se a gente soubesse de um jeito para fazer ele esquecer o que viu... - disse Jorge pensando alto.
- É isso! Jorge, você é um gênio! – exclamou Aline.
- Desde quando ele diz alguma coisa esperta? – disse Giovanni, mas Douglas aproximou a varinha de seu rosto fazendo-o calar.
- O que foi que eu disse? – perguntou Jorge sem prestar atenção no "prisioneiro".
- Fazer ele esquecer... só com um feitiço da memória! – disse Aline radiante, mas logo em seguida desanimou novamente. – Mas eu não sei esse feitiço.
- Há! Parece que o seu planinho tinha um furo – disse Giovanni. – Seria muito bom se os professores tivessem passado como dever de casa, não é.
- Mas eu sei fazer – disse Cinthia tirando a varinha do bolso e apontando para Giovanni.
- Não me faça rir – disse ele com uma cara de desdém. – Uma sangue-ruim como você só vai errar o feitiço.
- Obliviate!!!
Cinthia nem quis saber de dar uma última palavra a Giovanni, com certeza não ia sair boa coisa mesmo. Ela apagou os últimos minutos da memória dele, e pela cara de bobo que ele ficou por algum tempo, pareceu ter funcionado.
- Vamos logo, antes que ele perceba que está com as pernas presas – disse Cinthia e os cinco saíram de lá.
Sem se afastarem muito, eles ouviram Giovanni gritar:
- Quem foi que me enfeitiçou?! Droga! Cadê aqueles três incompetentes? E aonde foi parar a minha varinha?! – Eles ainda puderam ouvir Giovanni reclamando através da nevasca.
- Até que funcionou – disse Aline.
- Você ainda está com a varinha dele, sabia? – disse Cinthia.
- Ah, isso. Ele pode precisar para desfazer o feitiço, né. Aqui vai!
Aline jogou a varinha para trás o mais longe que pode, e logo eles ouviram Giovanni reclamar de novo.
- Ai! Minha cabeça... de onde veio isso?
Fred, Jorge, Douglas, Aline e Cinthia riram durante todo o percurso até o Três vassouras, a ainda deram boas risadas lembrando disso enquanto tomavam as cervejas amanteigadas. Para o contento dos cinco, não encontraram Giovanni durante toda o resto da visita.
No dia seguinte eles acordaram muito tarde e as salas comunais vazias os lembraram que era o primeiro dia de férias. Pouco antes do almoço a Profª McGonagall veio falar com Fred, Jorge, Douglas e Cinthia.
- Tenho uma tarefa para cada um, e espero que todos mantenham os padrões que são esperados da decoração da escola. Sr. Berttapeli, você vai enfeitar as doze árvores de natal do salão principal. Srs. Weasley, vocês vão pendurar as serpentinas de azevinho nos corredores. E Srta. Christino, você vai cuidar das armaduras. Depois do almoço quero ver todos trabalhando. Srta. Quadros, quero falar com você por um instante.
Os quatro se afastaram, deixando Aline falando sozinha com a diretora da Grifinória. Na verdade, Aline quase não falava, ela só balançava a cabeça concordando com o que a professora dizia ou fazia algum comentário ocasional. Quando acabou, Aline se juntou aos quatro com uma cara radiante. Mas foi só para encontrar um Douglas pensativo na mesa do almoço.
- Não fale – disse ele. – Estou tentando bolar uma boa decoração para doze árvores de Natal que são grandes até mesmo para os padrões de Hagrid.
- Então tá. E vocês três, já sabem como vão arrumar a parte de vocês?
- A nossa não tem nenhum segredo – disse Fred. – Tudo o que temos que fazer é usar um vingardium leviosa e, quem sabe, um feitiço de aumento.
- Sem problemas – acrescentou Jorge.
- E de onde vocês acham que a serpentina vai aparecer? – disse Aline, e Fred e Jorge engoliram em seco. – Eu dou uma procurada na biblioteca depois do almoço, não se preocupem. E você Cinthia?
- Eu não faço a mínima idéia também. O que ela quer que eu faça com as armaduras, que coloque roupa de Papai Noel nelas?
- Ou você podia fazer elas cantarem – sugeriu Fred.
- Não seja bobo. Uma armadura cantando? Qual é que vai ser o som disso? No mínimo, pavoroso.
- Ah, você pensa em alguma coisa, tenho certeza! – disse Jorge se servindo de batatas.
- Eu ajudaria, mas inventar moda para armadura não é a minha especialidade – disse Aline.
Depois do almoço, Aline pegou emprestado o livro de feitiços que Cinthia havia emprestado do Profº Flitwick e achou um feitiço de como fazer aparecer serpentinas de azevinho da ponta da varinha, sendo que o bruxo podia controlar a serpentina como quisesse só com o pensamento. Ela mostrou a Fred e Jorge e se dirigiu ao salão principal para dar uma olhada no livro, que tinha muitos dos feitiços que o professor havia aprendido ao longo do tempo. Ela até achou aquele feitiço que Cinthia havia usado contra as aranhas e o da memória. "Então é assim que ela descobriu como faze-los" concluiu Aline, "não é à toa que ela sabe tantos feitiços. Está tudo aqui!"
Fred e Jorge começaram a decorar o sétimo andar com os mais bonitos desenhos que podiam fazer com aquelas serpentinas de folhas, e quando a Profª Minerva passou vistoriando deu-lhes os parabéns e alguns pontinhos pela criatividade. Mas ela também lembrou-os de que tinham mais seis andares para enfeitar, além do salão principal, as masmorras, etc. E que de preferência terminassem naquele dia. Que divertido...
Douglas estava tendo problemas com as doze árvores de Natal do salão principal, vazio àquela hora com a exceção de Aline. Ele simplesmente não sabia como enfeita-las! Se tivesse as bolinhas e pingentes à mão seria bem fácil coloca-las nas árvores, mas até isso ele precisava criar por meio de magia. Digamos que a imaginação dele não estava querendo ajudar naquele momento. Para a sua "sorte", Aline estava lá para dar uma opinião.
- Não faz mal se você fizer a decoração de todas igual, sabia? – dizia ela sentada da mesa da Grifinória, com os pés na cadeira ao lado e o enorme livro de feitiços aberto no colo.
- Eu sei, mas o problema é escolher a primeira decoração. Depois é só imitar nas outras.
- E nem imaginação para criar uma você tem?!
- Na verdade, eu imaginei tantas que está difícil escolher entre elas – disse Douglas fazendo questão de contrariar Aline, mas a garota não estava prestando atenção. Ela folheava o livro distraidamente enquanto falavam. – Você por acaso ouviu uma palavra do que eu dis...
- Aqui! – disse Aline sem ter ouvido Douglas. – Isso aqui pode te ajudar – disse ela andando até ele com o livro aberto. – Aqui tem um feitiço para conjurar enfeites de Natal, mas você vai ter que escolher na sua cabeça o enfeite.
Douglas leu as instruções de execução do feitiço, não parecia difícil apesar de só conjurar um enfeite de cada vez. Mas qual seria o enfeite? Ele ficou olhando para Aline como se estivesse nela a resposta.
- Por acaso você achou alguma coisa na minha cara? – disse ela impaciente.
- Uma espinha – disse ele olhando com um pouco mais de atenção, e emendou antes que Aline dissesse alguma coisa (que provavelmente seria para dar uma bronca nele): – É isso! Aline, você acaba de me dar uma idéia para a decoração dessas árvores.
- Se você colocar mini vulcões nela eu juro que vou...
- Não é isso. Estrelas! – disse ele se virando para a árvore imaginando como ela ficaria. - Acho que as árvores vão ficar ótimas com estrelas douradas. O que você acha? Aline?
Mas a garota não estava mais lá, apenas o livro que ela segurava estava aonde ela deveria estar, aberto no chão na página do feitiço. Douglas ficou preocupado com o sumiço de Aline. Como pode ela ter desaparecido de repente sem dizer nada?
Tentando afastar aquilo da cabeça, Douglas começou a conjurar várias estrelinhas douradas, que, por causa do feitiço, já apareciam com os fios para pendurar na árvore. Depois de formar uma pilha consideravelmente grande, Douglas começou a pendurar as estrelas com o vingardium leviosa, mas quase deixou cair algumas delas pensando se o sumiço de Aline não havia sido algo sério. E se o feitiço de memória que a Cinthia havia usado no Pieri não funcionou direito e ele estivesse se vingando? Não, ele não havia ficado em Hogwarts no Natal, ele nunca ficava. Mas então...
- Nossa! Está ficando bonita!
Douglas se assustou com aquela voz de tão concentrado que estava, no trabalho e nos seus pensamentos, e acabou deixando uma das estrelas douradas se espatifar no chão. Ele se virou e viu Aline apanhando o livro de feitiços do chão, limpando os caquinhos de vidro que haviam pulado nas páginas.
- Onde é que você estava?!
- Na enfermaria – disse Aline casualmente.
- Por que? Você parecia estar bem.
- Eu só fui pegar uma poção de pus de bubotúberas com a Madame Pomfrey – disse Aline como se aquilo fosse totalmente corriqueiro e sem importância.
- Posso saber pra quê? – disse ele tentando se lembrar das aulas de herbologia que tiveram no ano anterior, quando eles tiveram aulas sobre bubo-alguma-coisa.
- Nada importante – disse Aline voltando para o seu lugar na mesa da Grifinória com o livro aberto no colo. – Ah, antes que eu esqueça: reparo!
A estrela que Douglas havia quebrado se refez instantaneamente, e ele a colocou na árvore. Se Aline não queria falar pra que diabos iria usar aquela tal poção, ele não iria forçar a barra, ainda mais que a garota estada segurando um enorme livro de feitiços, e bastava ela escolher um deles.
Mas quando Douglas estava enfeitando a árvore mais próxima do canto em que Aline estava sentada, ele finalmente lembrou da aula que a Profª Sprout deu sobre bubotúberas. O pus dela é usado em poções que acabam com a acne, mas... aquela espinhazinha na testa de Aline era quase imperceptível! Ela não precisava daquela poção, de jeito algum! Só para se certificar, Douglas disfarçou uma olhada atenta para o rosto da garota, e, sim, a espinhazinha não estava mais lá.
- Achou alguma coisa na minha cara de novo, Tosco? – Aline havia reparado que Douglas a estava olhando, e perguntou isso com muito orgulho.
- Não. Dessa vez não tem um assombroso mini vulcãozinho nela.
- É bom saber que você ainda se lembra das aulas de herbologia do ano passado – disse Aline sem querer dar continuidade à conversa, pois sabia que Douglas não a deixaria em paz. – Seria bom colocar menos estrelinhas, sabe. Este lado da árvore está inclinando com o peso delas.
Douglas havia ficado tanto tempo pensando na aula de Herbologia que nem havia reparado no trabalho que estava fazendo. Ele conseguiu fazer com que a árvore voltasse ao normal retirando metade das estrelinhas que havia colocado daquele lado, e continuou enfeitando as outras normalmente.
Mas ele não podia parar de pensar em uma coisa enquanto trabalhava: será que Aline se importava tanto assim com o que ele achava da cara dela? Nããão, a Mini Minerva apenas estava mostrando a vaidade básica de toda garota de quinze anos. É, devia ser isso mesmo.
Enquanto isso, Cinthia estava cuidando das armaduras espalhadas pelo castelo. Ah, "o que fazer com elas" também era um problema que a garota enfrentava, mas dessa vez a cara de Aline não iria ajudar. Quem sabe aquele livro de feitiços que ela estava lendo ajudasse em alguma coisa, mas, para seu azar, Cinthia não havia decorado todos os feitiços inúteis que haviam nele, sabe, daqueles que só se usa uma vez na vida.
A Profª McGonagall havia feito a garota começar a decorar as armadura a partir do primeiro andar, e depois ela passaria para os outros para não fazer muita bagunça com os gêmeos Weasley e esquecer que estava em detenção. Tudo bem, assim ela terminava mais rápido. Mas demorou pelo menos vinte minutos até a inspiração bater e ela ter uma idéia do que fazer com as ditas armaduras.
- Como eu não quero ouvir vocês cantando, vou fazer vocês substituírem as tochas dos corredores!
O primeiro feitiço que Cinthia tentou fez uma das armaduras pegarem fogo! Rapidamente ela usou o finite incantatem e a armadura voltou ao normal, mas ficou um pouquinho chamuscada.
- Outro feitiço... um que funcione direito dessa vez... - disse ela pensando alto. – Já sei! Lumus voltiformi!
Aquele também não funcionou como Cinthia queria. Ao invés de emanar uma iluminação ambiente a armadura emitia uma luz de cegar os olhos.
- Finite incantatem! Finite incantatem!
Cinthia abriu os olhos, piscando um pouco por causa do choque, e voltou a pensar em um feitiço útil que funcionasse como ela queria.
- Talvez se eu não criar uma luz tão forte, que só fique por aí quando alguém passa, talvez funcione. Iluminati passarela!
A luz ficou dentro da armadura, e tinha uma tonalidade levemente lilás, quase branca. Cinthia se afastou dela para testar, e a luz ia diminuindo à medida que ela andava pelo corredor. Ela andou em direção da armadura e a luz voltou a aumentar com a aproximação de Cinthia. A garota deu pulinhos de satisfação e começou a lançar o feitiço nas outras armaduras do primeiro andar.
- Acho que vou colocar cores diferentes nos outros andares – disse Cinthia pensando em colocar as cores do arco-íris dentro das armaduras à medida que fosse subindo os andares, com o vermelho no sétimo andar, mas mantendo sempre a luz quase branca e fraca.
"Só espero que o feitiço acompanhe as outras pessoas também" pensou ela enquanto passava pelo quarto andar, onde usava uma luz levemente verde. Lá ela encontrou Fred e Jorge de divertindo à valer com as serpentinas de azevinho fazendo uma luta imaginária de cobras.
- Isso é que é estar de detenção – disse Cinthia parando para admirar a luta de cobras bem quando a serpentina de Fred desviou da de Jorge e amarrou o irmão, fazendo a serpentina dele cair derrotada.
- Só estamos espairecendo um pouco – disse Jorge se livrando da serpentina morta, deixando-a enrolada no chão a seus pés. – Quer tentar também?
- Ainda tenho metade desse andar para enfeitar – disse Cinthia desanimada – e é quase hora do jantar. Assim que terminar por aqui vou para o salão principal. Me acompanham?
- Claro! – disseram os dois ao mesmo tempo.
- Ok! Continuem pendurando azevinhos por aí.
Mas antes que pudesse sair, Cinthia sentiu uma daquelas serpentinas lhe prender e puxar para trás.
- Você está esquecendo de uma coisinha mínima – disse Fred. – Pequenininha mesmo.
- Você conhece a tradição aqui da Inglaterra, né – explicou Jorge. – Sempre que duas pessoas param embaixo de um galho de azevinho elas tem que se beijar.
- E nós enchemos o corredor de galhos de azevinho.
- Há, há, há. Muito engraçado - disse Cinthia se lembrando de alguns filmes estrangeiros de Natal que via no Brasil. – É, eu já vi isso em filmes, mas eu também sei que não se usa azevinho para isso, e sim visgo. Boa tentativa. Mas já que fazem questão de manter a tradição, eu posso dar uma mãozinha.
Cinthia conjurou um galho de visgo bem em cima dos dois com um dos feitiços que se lembrava do livro do Profº Flitwick. Ela só se lembrava dele porque a página estava em destaque, e agora ela sabia o porque daquilo.
- Divirtam-se! – disse ela saindo e virando em uma curva no corredor, com a cara de espanto dos dois gravada na memória.
"Aqueles dois deviam estar entediados com a detenção mesmo" pensou Cinthia voltando a enfeitiça as armaduras.
- Qual é a diferença entre visgo e azevinho? – perguntou-se um Fred nada feliz apanhando o galhinho flutuante e picotando-o em quinhentos e cinqüenta e cinco mil pedacinhos.
Depois de terminarem de enfeitar todos os corredores do quarto andar, Fred, Jorge e Cinthia foram para o salão principal onde Douglas estava terminando de enfeitar a última das doze árvores de Natal. Durante o jantar, Aline não parou de falar em todos os feitiços úteis que achou naquele livro, além dos que não tinham utilidade alguma.
- Por que alguém iria querer conjurar um galho de visgo? – disse ela se servindo de bife. – E a página ainda estava destacada como extremamente importante. Esse professor tem cada esquisitice, vou te contar!
Cinthia não parava de tentar segurar o riso enquanto Aline falava, e Fred e Jorge tentavam disfarçar que não a viam olhando para os lados.
- Vocês estão bem? – disse Aline para os três. – Parecem um pouco distraídos.
- Não é nada – respondeu Cinthia. – Só lembramos de uma piada envolvendo visgos e azevinhos.
Depois do jantar, Fred, Jorge e Cinthia terminaram de decorar os três andares que lhes faltavam, mas por conseqüência foram dormir muito tarde. Douglas foi o primeiro a acordar no dormitório dos garotos, e acordou Fred e Jorge à sua maneira.
Ele aproveitou que as camas deles eram lado a lado balançou os gêmeos até eles dizerem "chega! Já acordamos!" e "de onde veio o terremoto?"
- Natal! – disse Douglas indo ver a sua pilha de pacotes.
Antes que Fred e Jorge pudessem se levantar da cama eles ouviram uma batida na porta e ela se abriu em seguida, deixando Aline entrar.
- Vocês ainda não levantaram? Andem logo! O cheirinho do café da manhã está chegando até a torre!
- É a sua imaginação – disse Douglas abrindo os seus presentes.
- Ah, é? Vai até a sala comunal dar uma olhada.
- Dar uma cheirada – disseram os gêmeos ao mesmo tempo, fazendo os outros rirem.
E era verdade! O cheirinho do café da manhã preparado pelos elfos domésticos na cozinha chegava até a sala comunal da Grifinória, e eles mal podiam imaginar como seria o almoço.
O cheirinho ia aumentando à medida que eles iam se aproximando do salão principal, assim como a imagem dos bolos nas mentes deles se concretizaram ao olharem para as mesas das casas. E Cinthia estava esperando-os no lugar de costume, já com um enorme pedaço de bolo de frutas na boca.
- Oi! – cumprimentou ela de boca cheia. – Feliz Natal!
Todo o trabalho (forçado) que tiveram que fazer, todo o esforço que empenharam na decoração de natal, valeu a pena no final das contas para terem um ótimo Natal, cercados pelas pessoas mais legais na face do planeta: Os Ladinos, eles mesmos! Era engraçado pensar que este era o primeiro Natal que passavam com esse nome, apesar de terem passados outros tantos juntos. O importante é que os Ladinos estavam comemorando o seu primeiro Natal, e teriam a sua primeira guerrinha de bolas de neve em algumas horas, e que Hogwarts precisava se cuidar em dobro dali em diante!
