Capítulo 39 – Dançou!

N/A: Sim, o título tem sentido duplo

Lupin decidira dar aulas anti-dementadores do quinto ano para cima, com a permissão de Dumbledore, claro. Nas últimas aulas de Defesa contra a Arte das Trevas os alunos saiam para os portões da escola, aonde Dumbledore dera permissão para apenas um dementador ficar. O professor deixava os alunos a uma distância segura, e os aproximava um de cada vez, sempre acompanhando o aluno de perto.

Os cinco se saíram muito bem nas aulas, mas Cinthia era a única que não havia ficado muito entusiasmada, e evitava falar dessas aulas para não lembrar delas. Fred e Jorge eram os que mais falavam dos efeitos que os patronos deles produziram no dementador, e Douglas e Aline também estavam muito animados com o próprio progresso. Aline estranhou que Douglas estava indo particularmente bem nestas aulas.

- Não é tão estranho assim – disse Douglas depois de mais uma aula de Defesa contra a Arte das Trevas, enquanto iam para o almoço. – É a minha matéria favorita, então é natural que eu vá bem, não acha?

- Em se tratando de você a coisa fica um tanto sobrenatural, mas quem sabe...

A final do campeonato de quadribol se aproximou em um clima muito, muito, mas muito tenso mesmo! Fazia muito tempo que Grifinória não vencia o campeonato, desde a época do irmão dos gêmeos, Carlinhos, e Lufa-Lufa e Corvinal estavam torcendo para que Sonserina perdesse, como sempre.

Fred e Jorge voltavam sempre muito cansados dos treinos, e estavam visivelmente agitados com a aproximação da partida, tentando se acalmar aprontando ainda mais pelo castelo inteiro, soltando bombas de bosta e outras coisinha pelos corredores quando podiam. Às vésperas do jogo, Douglas e Aline mal conseguiam chegar perto deles, de tanto que eles se mexiam e não paravam em um só lugar.

Olívio Wood era, provável e obviamente, a pessoa mais tensa, fanática, preocupada, obcecada e paranóica do castelo inteiro! Luciana contou a Cinthia e Aline, já às vésperas do jogo, que no começo o Olívio falava o tempo todo no meio do namoro que precisava mudar tal tática e saía correndo para anotar, e depois voltava, mas era só para sair correndo novamente e repetir tudo. Mas agora, perto da partida, ele levava os pergaminhos e esquemas consigo, e sempre impedia que Luciana visse alguma coisa para não passar informações para o time adversário.

- Eu vou levando o namoro como posso – respondeu Luciana quando Aline perguntou como que ela agüentava. – Com muuuuuuuuuuuuita paciência.

E o que todos (incluindo apenas as pessoas legais) esperavam que acontecesse, o que todos estavam ansiosos para ver, o que todos mal podiam esperar com as respirações suspensas finalmente aconteceu!

GRIFINÓRIA GANHOU A TAÇA DE QUADRIBOL!!!

Até a Profª Minerva não se conteve em campo e soluçava de alegria. Olívio parecia a pessoa mais feliz na face da Terra, e os outros jogadores, assim como os torcedores, estavam nas nuvens com a vitória fenomenal da Grifinória em cima da Sonserina, que foi esmagada como uma mosca até sumir esquecida no chão do campo de quadribol.

E não podia faltar uma comemoração para um evento tão esperado, comentado, falado e incomparavelmente fantástico! N/A: É, eu sou só um pouquinho parcial... não reparem...

Fred, Jorge, Douglas, Aline e até Cinthia fizeram uma rápida visita a Hogsmeade e trouxeram o que podiam, abarrotados até as orelhas de generosas contribuições para uma festança na sala comunal da Grifinória. Uma festa em que Lufa-Lufa e Corvinal tinham permissão de participar, afinal, uma vitória também é feita de torcedores.

E quantos torcedores! A sala comunal parecia muito pequena para comportar tanta gente, e alguns setimanistas resolveram esse problema com um simples movimento de varinha. A sala logo foi magicamente ampliada, ficando larga o suficiente para ter até uma pista de dança, palco e lugar para mais mesas. Fred e Jorge ainda foram até a cozinha pegar algumas coisinhas que consideraram indispensáveis na festa.

- Precisamos de um vocalista! – gritou um sextanista da Grifinória do palco improvisado, onde haviam sido trazidos alguns instrumentos que, por serem mágicos, não precisavam de toda aquela aparelhagem dos trouxas.

- Temos uma candidata bem aqui! – disse Aline apontando para Cinthia, e a menina corou até a ponta das orelhas.

- Eu não vou cantar na frente de toda essa gente! – disse Cinthia só para a amiga.

- Ora, e você teve aquelas aulas de canto lá no Brasil pra quê? Pra dizer que sabe e ficar mofando? Ela já vai! – disse Aline gritando para o palco.

- Mas, mas...

Aline empurrou Cinthia até o palco, e ela não teve outra saída. Subiu no palco e, pensando que a sensação em uma execução não seria muito diferente daquilo, ela tomou posição na frente do microfone, tremendo um pouco de nervosismo. Havia um setimanista da Lufa-Lufa no baixo, o sextanista da Grifinória na bateria, outro sextanista, da Lufa-Lufa, na guitarra e Amanda Darkcat no teclado (a única sonserina com permissão e vontade de participar da festa). Cinthia era a única corvinal do grupo e se sentiu meio perdida, mas por sorte ela conhecia algumas (subentenda-se um monte) músicas bruxas, já que nessas últimas férias ela conseguiu comprar um radinho que pegava a estação bruxa.

- Você conhece aquela Dragon Eyes, das Esquisitonas? – perguntou-lhe Harold, o baterista.

- Conheço, sim.

- Então vamos começar em 1, 2, 3, 4!

Cinthia começou a cantar, e Fred e Jorge ficaram com os queixos caídos, e não foram os únicos na sala. Até Douglas, que não era muito entendido de música, ficou admirado com o talento da menina.

- Ela nunca nos contou... - disse Fred como que pedindo alguma resposta para Aline, tentando prestar atenção em Cinthia cantando. (Não era nem na letra, vejam bem.)

- Vocês nunca perguntaram – disse Aline casualmente. Para ela aquilo não era nenhuma novidade, mas ela não se importava tanto para música como Cinthia. – Ela teve umas aulas lá no Brasil, sabe, de canto, acho que foi entre o segundo e terceiro ano. É incrível o esforço que ela fez para aprender durante as férias, quando voltava de Hogwarts. Acho que nunca vi alguém gostar tanto de música.

- E como canta bem... - disse Jorge, também abestalhado com o talento de Cinthia.

Assim que parou de cantar, Cinthia percebeu que estava muito mais calma do que quando subira no palco, e gostou da sensação de ser aplaudida. Ela tomou um pouco mais de confiança e continuou no palco.

- Que tal a My World For Our Magic? – sugeriu ela, e o resto da banda concordou. Essa era uma música um pouco mais lenta, e muitos casais foram até a pista de dança, incluindo Luciana e Olívio, mas aquilo não podia ser considerado exatamente uma "dança". Mas logo a dança calminha acabou e eles mudaram novamente de ritmo.

Enquanto a banda tocava no palco (tocaram inclusive uma adaptação da We Are The Champions, do Queen) os outros alunos festejavam a vitória da Grifinória. Fred e Jorge aproveitaram para divulgar um e outro invento pelo salão, dando muitos sustos em grupinhos do terceiro ano para baixo. Todas as três casas faziam muita algazarra, e só quem ficava perto do palco conseguia ouvir a banda.

Depois de algum tempo circulando pela sala comunal (que mais parecia o salão principal de tão cheia que estava) Fred e Jorge foram se sentar em uma mesa em que Aline, Douglas, Luciana e Olívio estavam sentados, perto da mini pista de dança. Mas, assim que se sentaram, ouviram uma voz diferente cantando.

- Onde está a Cinthia? – perguntou Jorge vendo que uma setimanista da Grifinória estava cantando no lugar dela.

- Ali – disse Aline apontando para algum ponto na pista de dança, mas ela própria evitava olhar para as caras dos gêmeos. Que ficaram identicamente espantadas.

- Ela está dançando...

- Com o...

- Hum-rum – disse Aline, confirmando o pesadelo dos dois.

- Qual é o problema? – perguntou Olívio, que não sabia nada da situação.

Mas nesse instante a música mudou sem pausa, e Luciana convidou Olívio para dançar, o que o garoto concordou prontamente. Cinthia veio se sentar no lugar vago de Olívio, um tanto embaraçada.

- Estão aproveitando a festa? – disse ela casualmente, não parecendo muito interessada em receber respostas.

- É, estamos – disse Aline no mesmo tom casual. – E, pelo visto, você também.

- Ah, não tanto quanto parece – disse Cinthia desanimada. – Eu não gosto muito de dançar.

- E por que você estava dançando agorinha mesmo? – perguntou Fred. Ele achou que dizer "e com aquele trasgo do Harper" seria dar bandeira demais.

- Ah, isso foi por causa de uma apostazinha.

- Não me diga que você apostou contra a Grifinória e perdeu? – disse Douglas incrédulo.

- Eu nunca faria isso! É que nenhum de vocês se interessa por xadrez bruxo, e o Big é o único que concorda em jogar comigo, mas eu só ganho dele. Um dia, para deixar as coisas mais interessantes, eu sugeri que o ganhador da próxima partida podia pedir qualquer coisa depois, como um favor, e ele acabou ganhando. – "Também, com uma motivação dessas" pensou Aline. – Eu não esperava que ele ganhasse. Bem depois que eu saí do palco, ele me pediu uma dança, e eu neguei, mas daí ele resolveu cobrar pela partida.

- E agora que você superou a sua crise de dança, não quer dançar mais um pouquinho? – perguntou Jorge esperançoso.

- Ah, tudo menos isso! Não é nada pessoal, juro, mas eu não danço de novo nem que o céu caia sobre a minha cabeça.

N/A: Plágio de Asterix! Fanfic tem de tudo mesmo...

- Nem uma dancinha? – perguntou Fred fazendo cara de pidão, mas dessa vez não funcionou.

- Não! Nope! Negativo! Nananinanão! De jeito nenhum!

Nesse instante, a setimanista da Grifinória que estava no palco chamou Cinthia para substituí-las, e Cinthia concordou. Que melhor jeito de se livrar da pista de dança do que contribuindo para que ela continuasse ativa?

- Ah, não fiquem insistindo! – disse Cinthia subindo no palco com Fred e Jorge em seu encalço. – Peçam para a Alicia, a Katie ou a Angelina dançarem com vocês. Eu ajudo com a música, tá.

Fred e Jorge não voltaram para a mesa em que estavam. Sentiam-se derrotados, mesmo tendo ganhado a Taça de quadribol, mesmo acontecendo uma festança em volta deles. Festa? É isso mesmo, eles iriam aproveitar a festa, com ou sem dança! Esse pensamento logo tomou conta dos dois, e eles voltaram a fazer muita bagunça pelo salão.

Depois de umas três horas, aproximadamente, Fred e Jorge repararam que Aline e Douglas estavam... entediados. Não exatamente pra baixo, estavam se divertindo muito, mas até Gina mostrava mais entusiasmo que eles.

- O que você acha de animarmos um pouquinho a vida deles? – disse Fred para o irmão.

- Com a poçãozinha básica que eu estou imaginando? – disse Jorge entendendo aonde Fred queria chegar.

- "Poção dos Pés Dançantes - faça seus amigos dançarem até em sonhos com esta poção instantânea!" – disse Fred lembrando de um dos artigos da Zonko's.

Os dois correram para a passagem da bruxa de um olho só e voltaram voando para a festa. Estavam todos tão ocupados que ninguém deu pela falta dos dois.

- "Misture um pacotinho do pó para cada litro. O efeito durará uma hora." – disse Jorge lendo as instruções da embalagem de cinco gramas.

- Quanto a gente tem que por para um copinho de ponche? – perguntou Fred.

- Ah, põe tudo mesmo! – Jorge virou todo o pacotinho de Fred em um copinho, e fez o mesmo. - Agora é só eles tomarem.

Fred e Jorge localizaram Aline e Douglas no meio da multidão, conversando com Alícia Spinnet sobre a partida perto da pista de dança, e se aproximaram deles com as caras mais inocentes e convincentes que podiam.

- Vocês já experimentaram o ponche? – perguntou Fred inocentemente. – Tá uma delícia!

Os dois ofereceram os copinhos e Aline e Douglas aceitaram. Fred e Jorge esperavam que a poção não deixasse o ponche com gosto esquisito.

- E para mim vocês não trazem? – perguntou Alicia, fingindo indignação.

- Puxa vida! Esquecemos! – disse Jorge. – A gente te mostra em que mesa está o ponche.

- Já voltamos! – disse Fred para Aline e Douglas.

Enquanto levavam Alícia até a mesa do ponche, Fred e Jorge observavam Aline e Douglas atentamente. De acordo com a embalagem, a poção provocava uma enorme vontade de dançar por horas (o pacotinho de cinco gramas era o menor), além de transformar o enfeitiçado em um bom dançarino. "Até que não é má idéia oferecer essa poção para a Cinthia" pensaram os dois, mas logo a poção de Douglas e Aline fez efeito e eles ficaram prestando atenção.

Assim que Fred e Jorge se afastaram, Douglas olhou para a pista de dança e reparou que a música que estava tocando era ótima para dançar. Ele olhou para os lados, e única pessoa que estava próxima dele era Aline. As outras garotas em volta eram do segundo ano, e ele não estava muito afim de pagar esse mico, então por quê não?

- Er, Aline, quer dançar?

Aline olhou para Douglas estranhando esse convite, mas por quê não? Ela estava com vontade de dançar, e a melhor opção que ela tinha no momento era o tosco na sua frente mesmo.

- Tá.

Mal pisaram na pista de dança, os dois começaram a dançar inconscientemente, e ficaram surpresos com a habilidade de cada um, embora aquela fosse uma poçãozinha meia-boca e não os transformava em dançarinos profissionais, apenas aceitáveis.

- Eu não sabia que você dançava bem – disse Aline.

- Nem eu – disse Douglas confuso. Ele tentou parar de dançar, mas não conseguiu. – Não acha que tem alguma coisa estranha?

- Acho. Eu não consigo parar de dançar! – disse Aline enquanto os seus pés se moviam praticamente sozinhos.

- Será que fomos atingidos por um feitiço tarantallegra?

- Não, do contrário estaríamos parecendo palhaços, dançando totalmente fora de ritmo. O ponche! Aposto como Fred e Jorge colocaram alguma coisa nele!

- Isso é que é ser amigo – disse Douglas, irritado. – Eles estão logo ali – disse ele apontando um canto da pista com a cabeça. – Acha que consegue dançar até lá?

- Dá para tentar.

Os dois foram dançando até os gêmeos que, por sinal, haviam achado a cena muito engraçada e se dobravam de rir.

- Será que os dois... podem dizer... o que colocaram... naqueles ponches? – disse Douglas tentando falar enquanto dançava com Aline, os dois estavam visivelmente irritados.

- Apenas uma coisinha para animar o dia de vocês – disse Fred enxugando as lágrimas de riso.

- Então tratem de arranjar antídoto disso, porque o efeito foi justamente o contrário – disse Aline furiosa.

- Você se lembra de ter algo escrito sobre um antídoto, Fred?

- Não, não acho que tivesse algo sobre isso, Jorge.

- Então inventem um! Eu quero sair daqui – disse a garota. A poção fazia com que ela estivesse se divertindo enquanto dançava, mas ela sabia que essa não era a verdade real verdadeira realmente.

- Não se preocupem – disse Jorge -, a poção é inofensiva. O efeito deve passar em uma hora.

- Uma hora!!! – disse Douglas. – Eu vou desperdiçar uma hora da minha vida dançando?! – ele só não disse "com a Mini Minerva" porque a previsão de que ela passasse uma hora de cara fechada não era muito boa.

- Talvez dure um pouco mais – disse Fred. – A quantidade que usamos de poção era para um litro, e aqueles copinhos tinham só um cagagésimo disso.

- Vocês não podem estar falando sério – disse Aline abismada. – A poção deve ter ficado superconcentrada. Vocês sabem quanto tempo isso vai durar?!?!

- Não, mas fazemos uma boa idéia – disse Jorge. – Bom, o melhor que vocês podem fazer agora é aproveitar a festa!

Fred e Jorge se afastaram da pista de dança, e Aline estava com ganas de matá-los, mas não conseguia parar de dançar nem para isso.

- Acho que não temos escolha mesmo – disse Douglas bem aborrecido. – pelo menos não estamos pisando um no pé do outro.

- É mesmo.

Aline deu uma risada breve, e seguiu-se um silêncio um tanto constrangedor entre eles depois disso, e nenhum dos dois falou quando a música acabou e começou outra, de ritmo bem lento.

Aline não acreditava que isto estava acontecendo justamente com ela. Se fosse um outro garoto que estivesse juntinho dela, quem sabe a situação não fosse melhor. "Irc!" pensou Aline quando se deu conta do quanto o corpo dele estava próximo do dela, mas até que não era tão ruim assim. Douglas tinha um corpo forte e guiava ela muito bem, mas aí ela se lembrou que aquilo era efeito da poção.

A garota não se lembrava de ter chegado tão perto assim de Douglas, tão perto a ponto de sentir o seu cheiro (era algo como o cheiro de grama fresquinha depois de uma chuva). Mas, sim, teve uma vez que eles estiveram bem pertinho um do outro. Na verdade, duas.

A primeira foi no trem, na vinda de Hogwarts. Ela havia tropeçado em Crabbe ao ver um dementador pela primeira vez e acabara caindo no colo de Douglas.

A outra foi na Floresta Proibida, quando ele estava fazendo algo proibido: indo lá. Ela estava um pouco tonta na hora, mas pelo que lembrava Douglas havia se transformado no urso que escolhera para animago, e, depois de voltar ao normal, puxou Aline para fora do alcance da aranha. Ele parecia estar preocupado naquela hora, mas devia ter sido só impressão dela, como Aline havia pensado na ocasião.

Mas... havia ainda alguma coisa que ela estava esquecendo. É claro! A transformação total de Douglas! Ela nunca deu os parabéns à ele por ter conseguido, e foi até antes do esperado.

- Er, eu sei que parece um pouco atrasado – começou ela, e Douglas a olhou intrigado -, mas como a gente não tem nada para fazer durante algumas horas eu digo assim mesmo: parabéns por ter conseguido se transformar totalmente em um urso. Foi até um pouco cedo, né?

- Nossa! Eu achava que você nunca ia lembrar disso. Agora a sua lista de desfeitas contra mim foi apagada.

"Então era isso!" pensou Aline, se lembrando de quando Douglas havia dito que estava lhe devendo uma desfeita. Mas ela tinha a impressão de que ainda estava devendo alguma para ele.

- Ah, acho que nunca te agradeci direto por ter me salvado naquele dia.

- Eu não estava esperando agradecimentos mesmo. Fiquei até surpreso.

Aquilo foi como um tapa para Aline. Quer dizer que ele achava que a atitude dela estava tão mandona que ela se esqueceria até desse tipo de coisa.

- Você acha que eu sou tão insensível assim?

- Não foi isso o que eu disse – disse Douglas tentando voltar atrás.

- Mas agora eu quero saber.

- É, eu acho que você não se importa muito com o que os outros fazem por você.

- Isso não é verdade! Quando foi que eu agi assim?

- Tem uma lista enorme! Vejamos, os gêmeos te ensinaram a ser animaga e você, só por ser monitora, ameaçou tirar pontos da gente quando tivemos só a idéia de ir até a Floresta Proibida. Você não se importa com o que a gente tem que fazer, desde que façamos todas as tarefas em dia. Acho que essa discussão também começou por causa da lembrança de uma dessas situações. Tem também quando você...

- Tá, eu já entendi! Me desculpa.

- Hein?

- Eu não vou rep... - começou Aline impaciente, mas ela sabia que não estava certa e disse novamente: - Me desculpa. Eu deveria ter pensado nos amigos antes de pensar no meu título de monitora. Não quero ficar que nem o Percy.

- Acabo de ver um milagre...

- Não começa! Eu já tive que engolir muito do meu orgulho, tá? Mais um pouquinho, e eu acabo estourando.

Aline evitou olhar para o rosto de Douglas depois daquilo, e o garoto percebeu isso. Era como se Aline não quisesse admitir que estava muito mandona, e Douglas começou a rir só de pensar com todas as letras que Aline estava se redimindo por algo pela primeira vez na vida!

- Posso saber o que é tão engraçado? – perguntou ela, voltando a ficar irritadiça.

- Você.

- Eu?

- É. Você odeia admitir que estava errada, ou agindo de maneira errada, e ficou bem triste de ter que admitir isso.

- Não fiquei não – disse Aline esquecendo de disfarçar a mágoa pelo que ele disse.

- Tudo bem, eu não conto para ninguém que você se redimiu.

- Bobo!

Aline continuou a dançar com Douglas olhando para o lado, evitando ao máximo encontrar o olhar dele, que ela sabia, estaria com uma expressão de riso.

E era bem verdade.

Douglas achava incrível a facilidade com que Aline conseguia evitar a verdade, e mais incrível ainda era a facilidade com que ele trazia a verdade à tona. E, apesar de todos os momentos que ele se lembrava que ela tivesse agido de forma mandona e superior, ele não estava bravo com ela por isso. Talvez fosse algum efeito colateral da poção, ele não sabia, mas naquele momento ele estava achando até engraçado aquilo tudo.

A verdade é que aquele não era um efeito colateral da poção, e Douglas estava mesmo gostando de dançar com Aline.

A música lenta acabou e Aline levantou o rosto por um breve momento, encontrando o olhar de Douglas, que a estava observando. O garoto ficou um pouco surpreso, sem saber o que fazer, e os dois ficaram se olhando até que outra música começou e a poção os fez dançar.

- Será que vamos ficar a tarde inteira assim? – disse Aline.

- Podemos tentar trocar de par se você quiser.

- Ah é! E quem vai concordar em dançar com duas criaturas que não conseguem parar de dançar por horas? E seria ridículo se, enquanto pedimos para alguém dançar, a música começasse e a gente ficasse dançando no meio do convite.

- Pelo menos ia ser engraçado.

- Eu não quero pagar esse mico.

- OK, OK. Já temos razões suficientes para não trocar de par.

Ele não estava esperando mesmo que Aline concordasse em trocar. Douglas não sabia por quê, mas queria continuar dançando com ela. Era a primeira vez que eles se falavam sem brigar feio, ou insultar o outro infantilmente, ou agir como se fossem inimigos mortais, e ele estava gostando de conviver assim com ela. Quem sabe, se ficassem conversando assim por mais quinze minutos que fossem, não acabava descobrindo a razão de ela querer tanto ser monitora-chefe (isso era um dos grandes mistérios sem resposta do universo de Douglas, que não via a mínima graça em ser monitor).

Douglas fez Aline dar um giro bem extravagante enquanto dançavam, e a garota achou aquilo bem esquisito. Douglas notou isso pelo olhar dela.

- É que pode ser chato ficar dançando por horas, e temos que quebrar a rotina de qualquer jeito – disse ele fazendo Aline dar mais um giro. – Além do mais, não é todo dia que eu estou dançando bem assim.

- Se isso é dançar bem, não sei se quero ver você dançando sem a poção – disse Aline brincando, sem um tom de insulto na voz que seria esperado de uma frase como aquela.

- Então agora você vai ver o que é dançar fenomenalmente bem.

Douglas começou a guiar Aline com um pouco mais de exuberância, fazendo passos mais ousados. Se sentia inspirado, e com uma ajudazinha da poção conseguiu surpreender até os casais que dançavam em volta.

- Assim eu vou ficar tonta – disse Aline quando a música acabou, dando a eles uma pausa.

- Ah, mas você precisa ficar firme ainda por algumas horas, pelo menos até a poção passar.

- Só não dance daquele jeito de novo, ou eu juro que dou um berro.

A música recomeçou, mas haviam mudado a vocalista novamente. Cinthia havia descido do palco e agora estava procurando Fred e Jorge no meio dos alunos. Sim, ela viu Douglas e Aline dançando, e era justamente sobre isso que ela queria falar com os gêmeos.

Foi encontra-los perto de uma das mesas que tinham ponche, e Fred vinha com um copinho na mão.

- Cansou de cantar? Toma um ponchezinho – disse ele oferecendo o copo para Cinthia.

A garota estranhou a pressa dele e olhou desconfiada para o líquido. Olhou para as caras de ansiosos dos gêmeos, e depois para Aline e Douglas.

- TOSCO!!! – ela ouviu Aline berrar da pista de dança.

- Aaaah, agora faz sentido! – disse ela, se virando em seguida para Fred e Jorge. – Eu acho que vou pegar o meu próprio ponche, obrigada.

Cinthia passou no meio dos dois e foi pegar o ponche. Fred e Jorge tinham tanta certeza de que ela não ia somar um mais três e conseguir quatro que ficaram mortificados. Tá, nem tanto, só um pouco decepcionados.

A festa de comemoração da vitória da Grifinória no campeonato de quadribol N/A: Aposto sete galeões como vocês já tinham esquecido o motivo da festa! se estendeu até tarde da noite, quase até as três da madrugada. A Profª McGonagall não apareceu dessa vez para manda-los para a cama, de tão contente que estava ela deixou os alunos comemorarem o quanto quisessem. E Cinthia teve o cuidado de não aceitar nada de Fred e Jorge até o final da festa.

Douglas e Aline dançaram durante cinco horas e meia, mas ainda podiam ser vistos conversando até o final da festa, quando todos estavam ficando com sono. Haviam combinado de parar com as brigas idiotas, afinal, já estavam ficando um tanto grandinhos para continuarem se xingando de Mini Minerva e Tosco idiota. Aline estava muito mais leve de ter uma pessoa a menos para se preocupar, e acabou descobrindo que Douglas não era tão tosco ou idiota como ela pensava, só fingia ser um pouquinho bobão. Por sua vez, Douglas descobrira o motivo de Aline querer tanto chegar a monitora-chefe: ela estava ficando preocupada com o seu futuro (um tanto cedo, é verdade) e faria o que estivesse ao seu alcance para garantir um bom emprego quando saísse da escola. Ele achava que ainda iriam ter muito tempo para pensar nisso, mas entendia os motivos dela.

Parece que só o que faltava para eles se entenderem era parar um pouco com os insultos e conversar calmamente como duas pessoas civilizadas. Foi uma proeza extraordinária!