Capítulo 43 – O "perdedor" de Hogwarts

Embora Moody parecesse assustador (porque realmente era), as suas aulas eram, de longe, as mais interessantes do ano. Não só do ano, de todos os anos! Fred e Jorge ficaram impressionados com a fibra do novo professor e com todo o conhecimento que ele tinha em enfrentar as artes das trevas, afinal, ele era um auror aposentado. Explicou logo no primeiro dia de aula o que era um auror, e o trabalho difícil que era enfrentar bruxos das trevas. Ele tivera um olho substituído justamente para poder combater melhor os bruxos maus na época de Voldemort, algo que todos os melhores aurores tiveram que fazer.

Ficou decepcionado quando viu que poucos alunos conheciam as maldições imperdoáveis, uma matéria em que o sexto ano já deveria saber pelo menos na teoria. Demonstrou todas as três maldições em besouros que havia levado para a aula, e ficou incrivelmente decepcionado no período da Corvinal, quando uma garota desmaiou de medo ao ver o efeito do Avada kedavra logo depois de algumas semanas de aula.

E essa garota era Cinthia.

Assim que ela caiu da cadeira, Luciana, que estava sentada ao seu lado, se abaixou para ajudá-la. Moody se aproximou imediatamente com a varinha em punho, afastando os curiosos que se amontoaram ao redor de Cinthia.

- Afastem-se! Voltem para os seus lugares! – bradou ele. – Afaste-se, garota. Enervate!

Cinthia acordou um pouco assustada, mas levou um susto ainda maior ao se deparar com a cara cheia de cicatrizes do professor, até se lembrar que estava em uma sala de aula. Luciana a ajudou a se levantar, e Moody continuou de pé na sua frente, inflexível, encarando-a com os dois olhos.

- Se não agüenta as aulas, é melhor não assisti-las – disse ele com a voz áspera e inquestionável, encarando Cinthia friamente.

A garota se sentiu muito mal ao visualizar o besouro na mesa atrás do professor, mas não queria mais ficar daquele jeito sempre que via algo assustador e tomou uma resolução:

- Não, eu vou ficar – disse ela com a voz ainda um pouco trêmula, mas encarava o professor sem piscar. Estranhamente, Moody sorriu ao ver a expressão resoluta no rosto de Cinthia. Brevemente, é verdade, mas mesmo assim aquilo lembrava um sorriso.

- Isso é que é encarar as próprias limitações como um desafio a mais – disse ele voltando para a sua mesa, o toc toc da sua perna de madeira ecoando pelo silêncio da sala. – Espero que os outros também tenham esse tipo de audácia, ou o que aprenderão na minha aula não vai valer de nada. - O olho normal de Moody continuava encarando Cinthia, e a garota não piscava, mas o olho mágico do professor se voltou repentinamente para Tanya, que estava no fundo da sala. Aparentemente ela não havia ficado impressionada com as palavras de Olho-Tonto-Moody, e fez questão de ficar olhando para o teto da sala, impaciente. – Isto vale especialmente para você, Srta. Freire.

Tanya corou de raiva, e ficou com uma cara de mau-humor até o fim da aula. Cinthia evitou chegar muito perto dela durante o resto do dia. Quando saíram da aula, Luciana perguntou se Cinthia estava bem, já que não se atreveu a falar durante a explicação do professor sobre a maldição da morte.

- Ah, é... acho que estou melhor. Eu desmaiei só de imaginar o efeito daquilo em uma pessoa. Acho que o Profº Moody está certo, temos que enfrentar as nossas próprias limitações de frente e tentar derrubá-las.

- Eu não conseguiria ficar encarando ele do jeito que você fez – disse Luciana. – Aquele olho mágico dele me dá arrepios!

- Nem eu sei como conseguir fazer aquilo! Só sei que o meu estômago desapareceu na hora – disse Cinthia, em seguida ouviu um ronco muito alto vindo da sua barriga. – Olha só! Ele voltou. E bem na hora do almoço.

No almoço, Cinthia contou o que aconteceu na aula para Aline, Douglas, Fred e Jorge. Eles já haviam tido aquela aula, e ficaram extremamente surpresos quando a ouviram dizer que Moody havia sorrido.

- Ele é capaz disso? – disse Fred admirado.

- Mas não fica muito melhor, é até preferível que ele continue com a cara amarrada – disse Cinthia.

- Eu acho que já via ele sorrir uma vez - disse Aline. – Acho que foi na aula do começo da semana, quando ele estava nos passando os efeitos da maldição Imperius.

- Eu não me lembro de ter visto ele sorrindo – disse Douglas se lembrando da aula.

- Claro que não! – retrucou Aline. – Ele estava lançando a maldição em você na hora. Acho até que ele sorriu porque você conseguiu resistir à maldição.

- Foi incrível! – lembrou Jorge. – O único da sala que conseguiu resistir totalmente logo da primeira vez!

- Eu sou patética – disse Cinthia encostando a cabeça na mesa, sem ter coragem de olhar para os amigos. – A maldição Imperius funcionou 100 em mim, e eu desmaiei só de imaginar uma pessoa morrendo com a maldição Avada kedavra. Nem parece que eu sou uma dos seis brasileiros em que acharam grande concentração mágica. Estou começando a duvidar dessa história toda.

Aline e Douglas haviam quase esquecido o motivo de terem sido aceitos em Hogwarts, e nem haviam se importado muito com aquilo quando Dumbledore explicou a eles a mais de cinco anos atrás. Fred e Jorge pareceram confusos. Cinthia notou que os amigos haviam ficado estranhamente silenciosos e levantou a cabeça.

- Que história é essa? – perguntou Jorge.

- Nós nunca contamos a vocês? – estranhou Cinthia.

- Se soubéssemos de alguma coisa não estaríamos perguntando, não acha? – disse Fred.

- Vocês nunca se perguntaram por quê seis brasileiros entraram em Hogwarts no mesmo ano, sendo que nós continuamos morando no Brasil e tem uma escola de magias lá? – disse Aline.

- Nunca paramos realmente para pensar nisso – disse Jorge com os ombros encolhidos.

- Bom, Dumbledore disse que os monitoradores mágicos do ministério daqui haviam detectado um grande acúmulo de magia no Brasil, e como Hogwarts é considerada uma das melhores escolas do mundo, nos matricularam aqui – Douglas resumiu a história para eles.

- Como assim acúmulo de magia? – perguntou Fred.

- Também não sabemos direito – disse Aline. – Parece que nascemos com grandes poderes mágicos, latentes, mas até agora não vi nem sinal deles.

- Obrigada! – disse Cinthia sarcasticamente, voltando a encostar a testa na mesa, se sentindo uma fracassada.

- Você sabe que não foi isso o que eu quis dizer.

- Acho que os primeiros indícios podem ter sido a resistência que o Douglas teve com a maldição Imperius – concluiu Jorge.

- Mas sabem o que vocês podem fazer de realmente útil com essa quantidade de magia? – disse Fred animado, com os olhos brilhando de entusiasmo, deixando todos curiosos. – Participar do torneio! Se vocês tem mais poderes que qualquer um, então serão as escolhas óbvias para campeões de Hogwarts!

- Você está se esquecendo de uma coisa – disse Aline autoritariamente, apontando o dedo indicador para Fred. – O limite de idade. Nenhum de nós vai poder participar.

- Fale só por você – disse Jorge num muxoxo.

- Vocês não estão pensando em se inscrever clandestinamente, estão? – perguntou Aline em um tom mandão, estufando o peito para fazer o distintivo de monitora ficar bem visível.

- Claro que não – disse Fred, dando uma cutucada no irmão.

- Ai... claro! Nós nem pensaríamos nisso.

- Definitivamente! – concordou Douglas.

- É bom mesmo – disse Aline voltando a se sentar normalmente na cadeira. – Eu vou ficar louca se souber que vocês estão pensando em por em prática mais uma idéia maluca.

- Por que é que eu fui namorar com uma monitora? – disse Douglas resignado, pensando na poção que já estava sendo preparada no dormitório dos garotos, e que Lino também teria problemas se descobrissem o que estavam fazendo.

- Porque você me ama – disse Aline dando um carinhoso beijo na bochecha dele. – Além do mais, o máximo que eu posso fazer é tirar quinze pontos de cada um. Mas não é como se vocês fossem realmente tentar alguma coisa, então não precisam se preocupar.

Claaaro. Que Aline continuasse acreditando nisso, seria melhor para eles. Mas Douglas pensava seriamente em desistir da idéia.

N/A: Alguém notou que o texto anda "anormalmente" sério? Hum... não sei não, acho que estou deixando a história um pouco sombria demais. Pode até ser, mas, por mais que a Emplumada diga o contrário, acho que não tem nada a ver com o fato de que eu gosto de escrever em noites de tempestade, ao som de músicas do Sepultura e depois de ter lido e relido o poema "O Corvo", de Edgar Alan Poe. Olha lá! É o furgão do St. Mungo outra vez! Apertaram a campainha... O que será que eles querem? Será que precisam de uma xícara de açúcar?

Fred e Jorge andavam anormalmente distantes N/A: Acho que também estou usando a palavra "anormal" com muita freqüência... de Aline, Douglas e Cinthia. Volte e meia, quando procuravam os gêmeos, os três os encontravam em algum canto, discutindo em voz baixa sobre um pergaminho. Como não pareciam querer falar sobre o assunto, os três os deixaram em paz. Aline suspeitava que fosse alguma coisa para conseguir entrar no Torneio Tribruxo, mas se fosse isso Douglas saberia de alguma coisa. Não, ele não sabia de nada mesmo.

Em uma dessas vezes em que estavam discutindo, Rony os interrompeu, e eles tiveram que parar de falar sobre o assunto. Por sorte Harry puxou assunto sobre o torneio antes que o irmão deles continuasse xeretando. Mas eles já haviam perguntado aos professores, e nenhum deles quis dizer como os campeões eram selecionados, e nem quem eram os juízes. Hermione informou que os diretores das escolas participantes sempre faziam parte da bancada, algo que nenhum dos garotos fazia idéia porque nenhum havia lido Hogwarts, uma história.

Infelizmente, aquilo fez a garota se voltar para o assunto dos elfos domésticos, e ela insistiu para que Fred e Jorge entrassem para o F.A.L.E. (Fundo de Apoio à Liberação dos Elfos), e eles se recusaram terminantemente. Jorge ainda tentou persuadir Hermione de que os elfos eram felizes, e disse que os que trabalhavam na cozinha de Hogwarts estavam muito satisfeito com o emprego que tinham. Aquilo não convenceu a garota.

No dia seguinte, quando encontraram Aline, Cinthia e Douglas, eles comentaram sobre essa paranóia da garota em libertar os elfos domésticos.

- Quer dizer que eles são escravos! – chocou-se Cinthia. – Eu só vi eles na cozinha, mas achei que eles fossem livres por causa da boa vontade deles.

- E eles não falam nada sobre eles em Hogwarts, uma história – disse Aline vagamente.

- Fomos informados disso ontem, muito obrigado – disse Fred. – Mas a Hermione anda muito preocupada com isso. E agora nem fala direito com a gente só porque não quisemos entrar no fale.

- Bom, pelo menos alguém está fazendo alguma coisa para libertá-los – disse Cinthia como se encerrasse o assunto.

- Você também?! – disse Douglas. – A gente já foi na cozinha, você viu, eles são felizes assim, escravizados.

- Pode ser, mas não acham que eles ficariam ainda mais felizes se recebessem um salário, licenças e todo o resto?

- Não – disseram os quatro ao mesmo tempo.

- Por que você não se junta ao F.A.L.E.? – perguntou Aline.

- Porque... quer saber, é o que eu vou fazer!

- Por que é que você foi colocar idéias na cabeça dela, Aline? – disse Fred imaginado que, onde quer que eles fossem, de agora em diante haveria sempre uma latinha do F.A.L.E. os espreitando em cada esquina.

- Não enche!

Cinthia entrou no F.A.L.E. no mesmo dia, e algumas semanas depois foi colocado um aviso que as delegações de Beauxbatons e Durmstrang chegariam no dia 30 de outubro. O primeiro a avistar a delegação de Beauxbatons chegando foi Douglas. Era uma carruagem azul clara muito grande puxada por vários cavalos alados enormes, mas explicável pelo tamanho da diretora da escola. A única pessoa tão grande assim que haviam visto foi Hagrid, mas mesmo assim aquilo não era muito comum. Logo em seguida chegou a delegação de Durmstrang, pelo lago. E foi de espanto geral quando viram Vitor Krum no meio dos alunos que subiam a encosta.

- Ele estava na Copa Mundial! – disse Fred entusiasmado. - É o melhor apanhador do mundo!

- Vimos ele de perto! – acompanhou Jorge. – Nossa! Eu nem fazia idéia de que ele ainda estava na escola!

- Uau! Vitor Krum! – disse Fred ainda embasbacado.

- Ah, por favor! – disse Aline impaciente. – Ele só é um apanhador de quadribol, que é que tem de mais nisso?

- Você por acaso não nos ouviu? – disse Jorge. – O melhor apanhador do mundo!

- Ele tem grandes chances de ser o campeão da Durmstrang – disse Douglas, lembrando os gêmeos que ele não deixava de ser um concorrente para Hogwarts e, quem sabe, para eles também.

Dentro do salão, Cinthia ficou na mesa da Corvinal para a abertura do torneio, e ficou bem contente quando os alunos de Beauxbatons decidiram se sentar na mesa deles.

O quatro grifinórios se sentaram poucos lugares de Harry, Rony e Hermione. Viram surpresos Ludo Bagman e Bartolomeu Crouch se sentarem à mesa dos professores durante o banquete, provavelmente para ver a abertura do torneio, afinal, foram eles que o organizaram. Mas Fred e Jorge pareciam ter ficado estranhamente tensos.

- É o tratante! – disse Fred em tom baixo só para Jorge ouvir, mas Douglas estava prestando atenção.

- Quem é o tratante? – perguntou ele.

- Ninguém – respondeu Jorge secamente, cortando Douglas.

Depois que os pratos foram magicamente limpos, Dumbledore começou um discurso. Fred e Jorge não bateram palmas quando Dumbledore apresentou Bagman aos alunos, ao contrário de todos os outros. Dumbledore disse que ele e Crouch fariam parte da bancada de juízes, e em seguida o que era esperado do Torneio Tribruxo. O momento mais tenso no salão foi quando ele mostrou a todos o juiz imparcial que escolheria os campeões: um cálice! Dumbledore falou também da linha etária que seria traçada em volta do cálice para que nenhum aluno menor de idade se inscrevesse.

- Uma linha etária! – exclamou Fred. – Bom, isso pode ser contornado com uma Poção para Envelhecer, não? – disse ele como se acabasse de pensar naquilo. Fazia parte do plano para despistar Aline. - E depois que o nome estiver no cálice, a gente vai ficar rindo, ele não vai saber se você tem ou não dezessete anos.

Aline não gostou nem um pouco daquela idéia, mas não se preocupou; levava alguns dias para se fazer uma Poção para Envelhecer decente, e eles só teriam até amanhã para se inscrever.

- Mas eu acho que ninguém abaixo de dezessete anos terá a menor chance, ainda não aprendemos o suficiente – disse Hermione, e Aline ficou feliz de ver que alguém pensava como ela.

- Fale só por você – disse Jorge. – Você vai tentar entrar, não vai, Harry?

- Não fique colocando idéias na cabeça dele! – disse Aline rispidamente, mas ninguém prestou atenção nela.

- Mas você não vai tentar mesmo? – insistia Fred.

- Imagine toda glória... ela vai é ficar orgulhosa! – concordou Jorge.

- Vocês acham? – respondeu Douglas sarcástico. Ele, os gêmeos e Lino estavam prestes a tomar a Poção para Envelhecer na manhã de dia das bruxas, mas Douglas conhecia Aline melhor do que gostaria. – Ela é monitora, e vocês sabem a afixação dela por regras. Se eu fosse escolhido o campeão de Hogwarts, o que provavelmente iria acontecer, ela ia saber que eu burlei as regras. E, vocês sabem, isso ela não perdoaria fácil.

- Ah, qualé! – disse Lino. – Você vai perder 250 galeões por causa da namorada?

Douglas pensou por um instante, avaliando as suas possibilidade, e respondeu resoluto: - É! Vou sim!

- Não tenho mais dúvidas de que você ama ela, cara – disse Fred balançando a cabeça.

- Melhor para a gente! – disse Jorge. – Só precisaremos dividir o prêmio em três se algum de nós ganhar!

- Ei! Eu ajudei a fazer a poção! – lembrou Douglas enquanto os três bebiam o seu trabalho.

- Tudo bem – disse Lino sentindo uma coisa esquisita por dentro. – Se os meus cálculos estão certos, cada um vai receber 333 galeões e ainda vai sobrar um, para você é claro.

- Quanta consideração...

Os quatro desceram até o saguão de entrada esperando que estivesse praticamente vazio àquela hora, mas não foram os únicos a levantarem mais cedo que o normal. Douglas decidiu ficar um pouco afastado do cálice, estava com a impressão de que não iria funcionar.

Enquanto os outros três chegavam perto da linha etária traçada por Dumbledore, Douglas viu horrorizado que Aline e Cinthia vinham descendo pela escada. Antes que pudesse impedi-las de ver os três, as garotas vieram ao encontro dele, mas com os olhos postos em Fred, Jorge e Lino.

- O que é que eles vão fazer? – perguntou Cinthia antes mesmo de dizer "bom dia".

- Assinar o atestado de óbito – Douglas não resistiu em fazer uma piadinha, por mais séria que a situação fosse.

- Mas como ele vão passar pela linha etária? – Douglas não conseguiu disfarçar a cara de "eu sou um cúmplice tão culpado quanto eles" e Aline adivinhou na hora o que eles haviam feito. – Eles já haviam preparado a Poção para Envelhecer, não é? E você não me contou nada?!

- É... bem... você entende... não é?

- Ah, deixa pra lá.

Aline estava estranhamente calma, e tanto Douglas quanto Cinthia estranharam essa atitude. Onde estava a monitora pentelha que sempre os lembrava de todas as setecentas e oitenta e três regras escolares?

- Como assim deixa pra lá? – perguntou Cinthia. – Você está se sentindo bem, Aline?

- Melhor impossível – disse ela mantendo uma expressão neutra. – Quanto ao deixa pra lá, é porque eu realmente não me importo. Sei que o Dumbledore é mais esperto que os alunos e provavelmente pensou que alguém iria tentar burlar a linha etária – disse ela calmamente, observando Fred, Jorge e Lino tentarem atravessar a barreira.

Fred parou bem na bordinha da linha, se balançando para frente e para trás como um mergulhador que se prepara para dar um salto de quinze metros. Com o olhar de todos no salão o acompanhando, Fred respirou fundo e se lançou para dentro da linha.

Nada aconteceu, o que significava que a poção havia funcionado! Jorge concluiu que estava tudo bem e, com um "Yee-haa!" de triunfo se juntou ao irmão num salto.

Mas logo em seguida ouviram um chiado forte, seguido de fortes dores no estômago como se eles fossem bolas de golfe acertadas por um taco invisível. Caíram dolorosamente com um baque alto no chão frio e duro de pedra, a uma distância de dez metros do cálice. Ouviram um estampido e o saguão inteiro ecoou com risadas. Quando se levantaram e olharam um para a cara do outro começaram a rir também, pois haviam crescido longas barbas brancas e idênticas nos dois!

- Eu avisei a vocês – disse Dumbledore atrás deles com uma cara risonha. Ele examinou Fred e Jorge, fazendo ainda mais força para não rir. – Sugiro que os dois procurem Madame Pomfrey. Ela já está cuidando da Srta. Fawcett da Corvinal e do Sr. Sammers da Lufa-Lufa, que também resolveram envelhecer um pouquinho. Embora eu deva dizer que as barbas deles não são tão bonitas quanto as suas.

Fred e Jorge se dirigiram para a enfermaria sob o som retumbante das risadas, seguidos de perto por Lino Jordam, que precisava reverter a poção, rolando de rir. Aline, Cinthia e Douglas foram para o salão principal tomar o café da manhã, quase chorando de tanto rir.

Depois do café eles foram visitar os gêmeos na enfermaria, e viram que os dois ainda estavam com barbas, mas agora já estavam levemente mais curtas e um pouco mais ruivas. Douglas segurou uma risada ao vê-los.

- Valeu a pena tentar – disse Jorge com um sorriso torto. – Mas bem que o Dumbledore podia ter posto um feitiço mais delicado para repelir os alunos.

- Ainda bem que eu não entrei nessa com vocês – disse Douglas aliviado.

- Pelo menos a Angelina conseguiu colocar o nome no cálice – disse Aline decidida a não fazer outro tipo de comentários, Fred e Jorge já haviam recebido o que mereciam.

Os três notaram que as barbas de Fred e Jorge encurtavam rapidamente (se comparada ao tempo normal de crescimento) e iam ganhando cada vez mais cor, ficando mais para grisalhas do que para brancas. Mas até agora só haviam perdido seis centímetros de barba, e continuavam tão longas que poderiam amarra-las nos cintos.

- Madame Pomfrey nos deu um antídoto – disse Fred acompanhando o olhar deles. – Gosto horrível! E vocês tinham que ver a tal Fawcett quando entramos. Não é nado bonito ver uma garota com barba.

As barbas dos dois só sumiram completamente no final da tarde, e Madame Pomfrey fez uma observação minuciosa para que não saíssem de lá com nem um fiozinho, ou as barbas cresceria novamente.

Cinthia se sentou com os quatro dessa vez para apreciar o banquete de dia das bruxas, mas ele pareceu longo demais, e nenhum dos alunos estava interessado na comida. Estavam todos ansiosos para saber quem eram os campeões das casas.

Quando finalmente chegou a hora, todos prenderam a respiração e olharam admirados as chamas branco-azuladas do cálice ficarem avermelhadas e se alongarem, expelindo o nome do primeiro campeão.

- O campeão da Durmstrang é Vitor Krum – disse Dumbledore, e todos no salão bateram palmas acaloradas para o jogador de quadribol.

- Não é nenhuma novidade, não é mesmo! – disse Fred batendo mais palmas que todos.

Em seguida foi escolhido o campeão de Beauxbatons, melhor dizendo, a campeã: Fleur Delacour. Fred, Jorge e até Douglas não tiraram os olhos da garota enquanto ela ia até a mesa dos professores, a longa cascata de cabelos loiro-prateados balançando ao andar. Os três garotos nem conseguiram bater palmas de tão hipnotizados que estavam.

- É uma veela... - disse Jorge lentamente, acompanhando a garota da Beauxbatons ir até a sala atrás da mesa dos professores.

Aline deu um cutucão nas costelas de Douglas para acordá-lo, e gemendo de dor ele falou:

- O que foi que eu fiz?!

- Aline! – repreendeu Cinthia. – Eles não tem culpa. Ela é neta de veela. Ela me contou ontem no jantar.

- Neta do quê?

- Veela – disse Fred saindo daquele transe quando a garota fechou a porta da sala. – Vimos um monte na Copa Mundial de quadribol. São criaturas que assumem formas lindas e atraem os homens com o canto. Mas a forma real delas não é essa. O efeito dessa Fleur não é nada comparado ao de uma veela pura.

- Desculpa, Douglas – disse Aline sem jeito.

- Tudo bem – disse ele dando um longo beijo em Aline.

Agora todo o salão estava eufórico para saber quem seria o campeão de Hogwarts, mas todas as respirações estavam suspensas esperando o cálice expelir o último nome.

- O campeão de Hogwarts é Cedrico Diggory!

A mesa vizinha da Grifinória explodiu em palmas, assobios e mais palmas enquanto o garoto se levantava e ia até a sala atrás da mesa dos professores. Fred e Jorge eram os únicos que não batiam palmas na mesa da Grifinória; em compensação, Cinthia era a que batia palmas mais animadamente dentre todas as mesas, e os aplausos para Cedrico foram os mais longos que os outros.

- Aquele pateta vai competir por Hogwarts!? – disse Jorge incrédulo. Ele se recusava a aplaudir Cedrico por causa do que Aline havia lhes contado no fim das aulas do ano letivo passado, e Fred ainda se lembrava do jogo de quadribol em que ele havia derrotado Harry injustamente. Aline e Douglas bateram palmas cordiais, não querendo parecer para os gêmeos que estavam do lado de Cedrico, e tampouco parecer para Cinthia que não o queriam como campeão.

- Não fale assim dele! – Cinthia defendeu Diggory. – Se o cálice o escolheu é porque ele foi o melhor candidato a campeão.

- Você só fala assim porque ele é bonito – disse Fred virando o rosto para o lado -, e derrotou a Grifinória injustamente no ano passado.

- Claro que não é só por isso! – disse ela indignada. – Eu nunca falaria bem de uma pessoa só porque ela é bonita.

Aline tossiu algo que lembrava o som da palavra "amor" e Cinthia lhe lançou um olhar assassino, mas logo todo o salão, e até Dumbledore, se calou quando o cálice ficou vermelho outra vez e expeliu mais um nome. Todos no salão esperaram com as respirações suspensas o diretor ler o nome do quarto campeão. Harry Potter.

Não é preciso dizer que ninguém bateu palmas, tampouco houve gritos de apoio ao garoto, de tão chocados e pasmos que estavam todos no salão, incluindo o jovem Harry. Depois que o garoto entrou na câmara atrás dos professores, um zum-zum-zum geral tomou conta de todas as mesas. Passado o primeiro momento de choque, Fred, Jorge e Douglas não paravam de falar na sorte de mais um campeão ter sido escolhido, e justamente da Grifinória!

- Mas isso é extremamente irregular! – protestou Aline, que era a única na mesa da Grifinória que não dava vivas. – Nunca aconteceu antes, nem em nenhuma das vezes que tentaram sabotar o torneio houve quatro campeões. E poucos feitiços são poderosos o bastante para confundir aquele cálice.

- Mas que importância tem isso? – perguntou Douglas estarrecido. – O Harry conseguiu burlar a linha etária de Dumbledore sem ficar barbudo e Grifinória conseguiu um campeão! É bom demais para ser verdade!

Cinthia havia ficado tão feliz quanto os amigos pela Grifinória também ter um campeão, mas mesmo assim achava que o certo era que Cedrico fosse o único campeão da escola. Mas, como todos nós já sabemos, ela estava fazendo um julgamento um tanto parcial. Embora, entretanto e porém, as últimas palavras de Douglas somadas aos comentários sobre regularidade de Aline começaram a se juntar na sua cabeça, deixando-a preocupada.

Assim que os professores pediram que os alunos voltassem para seus dormitórios, Fred e Jorge disseram que iriam preparar uma festa de comemoração, e Douglas os apoiou. Aline convidou Cinthia para participar também, eles só precisariam segurar a passagem aberta para ela passar e ignorar os protestos da Mulher Gorda.

- Não, acho que não – disse Cinthia séria. – Preciso fazer umas anotações, só para não me esquecer. – Em seguida rumou para a entrada da Corvinal, deixando os amigos perplexos.

- O que é que ela vai anotar? – perguntou Jorge.

- Provavelmente vai registrar o dia de hoje no diário dela – disse Aline interpretando erroneamente a expressão no rosto da amiga. – Vocês sabem, qualquer coisa que aconteça com o Cedriquinho é digno de nota, especialmente isso.

Jorge não gostou do comentário, mas fingiu ignorar aquilo. Ele não achava realmente que Aline tivesse acertado, mas não podia deixar de pensar que talvez, muito remotamente, ela podia estar certa.

A festa na Grifinória foi ainda maior que no dia em que ganharam a Taça de quadribol, maior que qualquer festa feita no século, mas o motivo da festa escapou dela no primeiro momento que pôde. E ninguém pareceu notar que Harry não estava gostando da idéia de ser campeão de Hogwarts.

N/A: Só para esclarecer: NÃO, eu não gosto tanto assim de ouvir músicas do Sepultura e NÃO, eu não leio e releio o poema O Corvo antes de escrever as fanfics. Quanto a escrever em noites de tempestade... é segredinho!