Capítulo 46 – O baile de inverno
Resignada e muito contrariada, Cinthia se acostumou com a idéia de que iria acompanhada no baile, mesmo não sendo com a pessoa com quem gostaria de ir. Fred, Aline, Douglas e até Jorge não comentaram muito sobre aquilo, sabendo que ela poderia não aparecer no dia se ficasse muito irritada.
E o tão esperado dia chegou para todos, mas muitos pareciam ter esquecido que à noite teriam um baile quando acharam os presentes nos pés da cama, como em qualquer Natal comum. Fred e Jorge apareceram no salão principal com os tradicionais suéteres que a Sra. Weasley fazia para eles todo ano.
- Acordaram tarde, hein – disse Douglas. Ele e Aline estavam abraçadinhos, sentados à mesa da Grifinória. – Já é quase hora do almoço.
- Ah, acordamos com o barulho que você fez para se levantar – disse Fred, e era verdade.
- Cadê a Cinthia? – perguntou Jorge. Não era muito comum ela acordar tarde assim na manhã de Natal, na verdade, era sempre a primeira deles a acordar. Aline olhou para Douglas como que perguntando se deveria dizer e ele concordou.
- Olhe ali – disse ela apontando para a mesa da Corvinal num ponto não muito longe deles, onde Cinthia estava sentada ao lado de Luciana, conversando, com um tabuleiro de xadrez bruxo à sua frente. E do outro lado da mesa estava Jonathan, que no momento comandava uma torre para comer o cavalo de Cinthia.
Jorge só olhou, olhou e olhou, e continuou olhando, até Cinthia fazer um movimento com o bispo e comer a rainha de Jonathan.
- Eu acho que ela não está muito animada para ir ao baile – disse Aline. – Não disse nem uma palavra sobre isso desde que acordou, e ela estava bem animada ontem comentando que As Esquisitonas iriam cantar no baile. Acho que só quando começarem a tocar ela vai ficar um pouco mais animada.
Depois do almoço, Cinthia continuou falando com Luciana, mas Jonathan não jogou outra partida de xadrez com ela. Aparentemente Luciana estava desconsolável porque Olívio não podia ir ao baile com ela, já que estava acompanhando os Appleby Arrows como goleiro reserva. Ela estava bastante orgulhosa dele, claro, mas queria que ele ainda tivesse mais um ano de Hogwarts. Cinthia dizia que ela podia aproveitar a festa mesmo sem ele estando por perto, mas evitava falar muito no baile.
Aline e Douglas passavam cada vez mais tempo longe dos outros, namorando, e mesmo tendo o baile de noite eles resolveram ir namorar por uns corredores. Fred e Jorge acabaram sem ter muito que fazer, então resolveram massacrar o irmãozinho em uma guerrilha de bolas de neve.
Quando ficou difícil fazer pontaria, já às sete horas, Fred e Jorge voltaram para o dormitório para se arrumarem para o baile. Encontraram Douglas já lá dentro, remexendo no malão.
- Onde vocês estava? – perguntou ele. – Faz mais de duas horas que a Aline foi se arrumar e eu fiquei procurando vocês pelo castelo inteiro.
- Estávamos do lado de fora, guerrilhando com Rony e Harry – disse Fred. - Soldados bravos, mas o Rony se distrai muito fácil.
Os três estavam começando a se arrumar quando Lino chegou de repente no dormitório, suando frio. Ele disse brevemente que "as garotas ficam muito alteradas quando se desmarca alguma coisa", e os três entenderam na hora. Alícia havia arranjado um par para ele, mas Lino só soube quem era na hora do almoço: uma prima dela de quinto grau, do quarto ano da Lufa-Lufa, Heloísa Midgeon. Não podiam culpa-lo por não querer ir ao baile com ela e suas inseparáveis espinhas estilo furúnculos.
Douglas havia comprado vestes castanho-escuras, de um tom quase preto, que realçava os seus cabelos cor de palha. A Sra. Weasley havia comprado vestes azul-marinhas idênticas para Fred e Jorge, que torceram o nariz ao ver que eram iguais.
- Por que mamãe compra tudo igual se já somos gêmeos? – reclamou Fred enquanto usava um feitiço para deixar as suas vestes um pouco mais claras. – Assim as pessoas só se confundem mais.
Os três garotos foram esperar seus pares ao pé das escadas que levavam ao saguão de entrada, um tanto nervosos. Angelina foi a primeira a descer, extremamente linda em vestes verde-piscina, com detalhes em um tom mais escuro. Fred não conseguiu tirar os olhos dela enquanto a garota descia as escadas, e subiu alguns degraus oferecendo-lhe o braço.
- Vamos?
- Claro – disse Angelina enganchando no braço dele.
Os dois foram para perto da porta no saguão que dava para o salão principal enquanto Jorge e Douglas continuavam esperando ao pé da escada. O saguão já estava quase cheio quando Aline apareceu, um pouquinho ofegante.
- Me atrasei? – perguntou ela parando de frente para Douglas. Ele a olhava totalmente hipnotizado, nunca havia imaginado Aline mais bonita do que ela estava agora. Ela estava usando vestes carmim que passavam suavemente para o vermelho na parte de baixo. Havia feito duas trancinhas dos lados da cabeça e as amarrado atrás, juntando-as, e usava brincos cintilantes de rubi combinando com o colar. Douglas tinha que admitir que a cintura fina dela era bem acentuada pelo vestido, e não lembrava nem um pouco a Aline de cinco anos atrás, quando ele a chamava de botijão de gás.
- Não, nem um pouco – disse ele ainda olhando para a garota, e ela lhe deu um beijo apaixonado.
- Então vamos!
Jorge ficou esperando sozinho ao pé da escada, e ficava imaginando como Cinthia estaria. Ainda olhava para o ponto em que Aline e Douglas haviam passado por ele quando ouviu a voz de Cinthia vindo da escada.
- Está esperando outra pessoa?
- Não, só... você...
Jorge se virou e deixou (literalmente) o queixo cair ao ver Cinthia descendo a escada. Ela estava usando um longo vestido de cetim lilás sem mangas, com uma pequena cauda arrastando no chão. Usava também luvas brancas que passavam do cotovelo, e o cabelo estava preso do lado esquerdo com uma fivela prateada de pedras brancas, em forma de flor. Sem dizer também que o vestido era extremamente acinturado. Cinthia não pôde deixar de notar no olhar embasbacado de Jorge e disse:
- Eu disse que iria fazer uma entrada triunfal, não disse? Pois bem, aqui estou.
- Puxa, como eu sou sortudo! – disse Jorge oferecendo o braço para a garota. Cinthia enganchou o braço no dele como se aquilo fosse um ritual alienígena muito estranho, lembrando das obrigações de um par nos bailes.
Ao se aproximarem da porta que levava ao salão principal, Jorge notou que uns dois rapazes (acompanhados), sendo um de Beauxbatons, olharam-no como quem diz "ela escolheu vir com isso aí?"
- Você conhece esses dois? – perguntou Jorge para Cinthia, apontando-os discretamente.
- Você se lembra que eu disse que havia sido convidada por outros caras antes? Esses aí são dois deles.
Jorge olhou os dois rapazes de cima a baixo, avaliando-os. Um era do sétimo ano da Corvinal, não oferecia muita concorrência. Já o de Beauxbatons era incrivelmente atraente, e Jorge se sentiu um tiquinho ameaçado em relação a ele, mas tentou não demonstrar isso.
Eles avistaram Aline, Douglas, Fred e Angelina e foram até eles. Angelina disse que teriam um banquete, e depois os campeões abririam o baile. A Profª McGonagall chamou os campeões para perto da porta e Fred deu uma piscada para encorajar Harry. Mas quando Vítor Krum passou, nenhum dos seis pareceu reconhecer a menina que estava com ele, até Aline dizer:
- Mas aquela não é a Hermione?
Os outros cinco concordara, e Fred e Jorge percorreram os olhos pelo saguão à procura do irmão.
- É, e com certeza o Roniquinho já viu ela também – disse Fred indicando Rony para Jorge, e o garoto mal dava atenção para o próprio par.
- Descobrimos alguém mais cabeça-dura que vocês – disse Jorge se virando para Aline e Douglas, que sorriram e fecharam a cara ao mesmo tempo.
Depois do banquete fenomenal que tiveram, graças ao esforço dobrado dos elfos domésticos, as mesas foram afastadas para formar uma pista de dança, e As Esquisitonas subiram no palco que havia sido conjurado. Cinthia foi uma das que mais aplaudiu o grupo musical. Assim que elas começaram a tocar, os campeões e seus pares abriram o baile dançando no meio do salão, mas logo os outros alunos se juntaram a eles e a pista de dança ficou bem cheia. Fred e Angelina também foram dançar, mas Cinthia insistiu para que ela e Jorge fossem se sentar, e Aline e Douglas também não queriam dançar já no começo.
- O Fred sabe dançar ou está só fingindo que sabe? – perguntou Douglas quando a segunda música começou e eles viram Fred e Angelina afastando todos à volta enquanto dançavam exuberantemente.
- Os dois – disse Jorge.
Depois de mais uma e outra dança, Fred e Angelina vieram se sentar à mesa em que eles estava. Depois de jogar um pouco de conversa fora, Fred e Jorge se levantaram sem dizer aos outros o que iriam fazer, mas os quatro viram quando eles abordaram Ludo Bagman, e o homem se desvencilhou deles, indo até o outro lado do salão onde estava Harry. Os gêmeos voltaram para a mesa um tanto frustrados.
- Ó lá o Weatherby puxando o saco de alguém do ministério outra vez – disse Jorge apontando para Percy, que havia substituído o Sr. Crouch no torneio e agora estava falando com Ludo Bagman.
- O que é que vocês tanto vão falar com o Bagman? – perguntou Aline cansada das desculpas que eles usavam para desviar do assunto.
- Nada de mais – disse Fred, tentando desviar do assunto.
- Mas essa não é a primeira vez que você procuram ele – disse Douglas. – O que está acontecendo?
Fred e Jorge se entreolharam, concordando em responder.
- O Bagman fez uma aposta com a gente na Copa Mundial de quadribol – começou Jorge – e nós ganhamos, mas até hoje não vimos nem a cor de um galeão que aquele tratante nos deve.
- Qual foi a aposta? – interessou-se Angelina.
- Trinta e sete galeões, quinze sicles e três nuques, ou seja, todas as nossas economias, que Krum apanharia o pomo, mas a Irlanda ganharia. E uma varinha falsa, que valia por cinco galeões – acrescentou Fred.
- Mas se vocês ganharam, por que ele não pagou o que devia? – perguntou Cinthia. – Quer dizer, ele obviamente havia feito outras apostas e tinha dinheiro para pagar a vocês.
- Aaaah, ele nos pagou sim, mas com aquele ouro de leprechaum – disse Jorge. – Na manhã seguinte já tinha desaparecido!
- Tentamos falar para ele que ele havia cometido um engano – continuou Fred - mas ele nem deu bola, e não acho que ele vá mesmo nos pagar. Agora tentamos pedir o dinheiro de volta, mas até o pai do Lino teve trabalho para tirar algum dinheiro dele. Aquelas cartas que a gente mandava eram para ele.
- E pensar que ele é um funcionário do Ministério – disse Angelina balançando a cabeça. – E ele parecia ser tão legal.
- É muito conveniente, não é? Parecer legal para ninguém suspeitar dele – disse Douglas olhando para Ludo, mas viu também que Harry e Rony haviam saído de perto dele muito sabiamente, enquanto que Percy não parava de falar.
Depois de algum tempo conversando, Aline e Douglas foram para a pista de dança. Algum tempo depois disso, Fred e Angelina foram dançar também, e Cinthia e Jorge podiam sempre saber onde os dois estavam pelo buraco que abriam entre os outros alunos.
- Não quer dançar também? – sugeriu Jorge depois de alguns minutos.
- Hum... não é nada...
- ...pessoal, eu sei. Mas tem certeza que não quer dançar nem uma vez?
- Eu estava pensando em fazer outra coisa antes – disse Cinthia se levantando e indo até o palco, sendo acompanhada por Jorge. – Você viu que algumas pessoas pedem para as Esquisitonas tocarem uma e outra música em especial, e não são só músicas delas? Eu quero pedir uma também.
- E qual seria?
- Você vai ouvir.
Cinthia esperou a música que estava tocando acabar e chamou a vocalista das Esquisitonas. Ela andou até a beirada do palco e se abaixou.
- Qual é o seu nome, garota? – perguntou ela sorrindo.
- Cinthia. Cinthia Christino.
- Muito bem, Cinthia, eu sou Emerina Morgan. Qual é a música que você quer que a gente toque?
- Esta aqui – disse ela mostrando um papelzinho à bruxa onde havia a letra e os acordes da música que ela queria. A bruxa examinou o papel e disse:
- É uma música trouxa, não é?
- É sim.
- Uma das coisas que eu gosto nos trouxas é a habilidade musical deles, bem diferente da maioria dos grupos bruxos. Mas, infelizmente, eu não sei cantar essa.
Cinthia ficou bastante desapontada, e estava se virando para sair quando Emerina falou:
- Mas eu gostaria de ouvir essa música, parece ser muito bonita. Você sabe cantar?
- Eu... eu? Cantar? – Cinthia tinha plena consciência da platéia que teria: toda a Hogwarts do quarto ano para cima, além de professores, alguns alunos de Beauxbatons e Durmstrang, um funcionário do Ministério e um secretário meia-boca também do Ministério (o Percy). Era uma platéia um tanto... importante para que ela arriscasse fazer feio, e estava prestes a recusar quando Jorge, que estava logo atrás dela, disse:
- Ela canta muito bem, Srta. Emerina. Você ficaria chocada se a ouvisse cantar, a voz dela é simplesmente magnífica!
- Jorge! – Cinthia virou a cabeça para trás com um olhar de censura, mas também um pouco assustado.
- Bem, se é assim, pode subir no palco, Cinthia.
Emerina Morgan a ajudou a subir no palco, já que a escada ficava do outro lado, e Cinthia se deu conta que estava tremendo. Ela apresentou brevemente os outros integrantes da banda: Kirley N/A: Pronuncia-se Kãrly. Vocês não sabem como foi estranho ler sem saber como se falava esse nome, e eu demorei um pouco para entender, já que era um nome masculino. McCormak na guitarra principal (o mais novo do grupo), Anne Chokchin na outra guitarra, Otto Bartwink na bateria, Mary, Polly e Rose Wonka nas gaitas de foles, Henry Gior no alaúde, Joshua Sovieur no violoncelo, e Tabata Highill e Ingrid Deepsea como backvocals (vocalistas de fundo) e também nos violões. Cinthia mostrou a letra para eles e foi para o microfone. Emerina ficou um pouco atrás dela e fez um sinal para os outros começarem a tocar. Antes de cantar, Cinthia viu Jorge lhe mandando uma piscadela e sorriu, ficando um pouco menos nervosa do que estava.
Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell bellow us
Abouve us only sky
Imagine all the people
Living for today
Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religions too
Imagine all the people
Living life in peace
You may say I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will be as one
Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world
You may say I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will be as one
Quando Cinthia acabou de cantar ficou maravilhada em ouvir quase todos no salão aplaudindo-a, dando um suspiro de alívio.
- É, você canta bem mesmo – disse Emerina colocando uma mão em seu ombro. – Se estiver interessada, pode vir falar com a gente quando acabar Hogwarts.
- Obrigada – disse Cinthia acenando para o resto da banda. – Vou pensar no assunto.
Cinthia foi até a beirada do palco, onde Jorge a esperava.
- Vamos dançar agora?
- Jorge...
Ele a ajudou a descer segurando a garota pela cintura. Enquanto se afastava, Emerina Morgan disse do palco:
- Vou tocar uma música especial para você e seu namorado.
Cinthia se virou surpresa e disse, enquanto Jorge a arrastava para a pista de dança:
- Mas ele não é o meu namorado! – Depois de andarem até um espaço aberto, ouviram a música começar. Era bem lenta e melodiosa, perfeita para casaizinhos dançarem juntos. – Acho que ela não me ouviu – disse Cinthia.
Jorge não se importou nem um pouco. Na verdade, até gostou da música. Colocou uma mão na cintura de Cinthia e segurou uma das mãos dela no alto, enquanto Cinthia tinha a outra no ombro dele. Ele começou a guia-la pela pista lentamente, dançando mais junto dela do que era necessário. Ele sentiu que Cinthia ainda estava um pouco abalada por ter cantado na frente de tanta gente, mas ela estava sorrindo.
- Por que você escolheu cantar aquela música? – perguntou ele já no meio da dança; aquela era uma música bem comprida.
Cinthia deu um suspiro e apoiou a cabeça no ombro dele, dizendo: - Não sei. Eu acordei hoje com ela na cabeça, e, não sei direito, mas tive a impressão de que outras pessoas também precisavam ouvi-la.
- Acho que deve ter sido por causa de um sonho – disse Jorge se lembrando de uma das aulas da Profª Trelawney sobre como os sonhos influenciavam no dia-a-dia de alguns bruxos como premonições. – Não leve tão a sério.
Mas Jorge estaria levando mais a sério a intuição de Cinthia se soubesse que três alunos de Hogwarts aspirantes à arte das trevas desistiram de seguir este rumo depois de ouvirem aquela música. N/A: "A música tem o poder de acalmar as feras"... ou até de purificar os corações das pessoas!
A música não demorou muito a acabar, e Cinthia tirou a mão do ombro de Jorge, mas ele continuou segurando-a.
- Mais uma dancinha, por favooooor! Eu sei que você não gosta, mas eu quero aproveitar que consegui um par para dançar, afinal, é só para isso que os pares servem, não é mesmo?
Ele estava usando as suas próprias palavras contra ela, e Cinthia não teve como dizer não. Esta segunda música era um pouco mais rápida e animada, e quando acabou, Jorge pediu "só mais uma, então".
Assim que começou a outra música (lenta, mas alegre), Cinthia não pôde deixar de perguntar:
- Por que é que você faz tanta questão de dançar comigo? Tem outras pessoas sem par na festa, sabia?
- Mas é que se eu deixar você livre pode aparecer outro cara e te tirar para dançar.
Jorge respondeu tão automaticamente que demorou um pouco para perceber o que havia dito, mas por sorte Cinthia não entendeu.
- Como assim?
"Acho melhor não esconder mais isso dela" pensou Jorge.
- É por causa dele. – Jorge virou de um jeito que Cinthia pudesse ver uma das mesas através das pessoas que dançavam. Na mesa estava Luciana, conversando com Jonathan, mas o garoto olhava para a pista de dança por cima da cabeça dela; mais especificamente, para Cinthia. Ao perceber que ela o tinha visto, Jonathan voltou a olhar para Luciana e a conversar normalmente.
- Não entendo... - disse Cinthia. – Ele me convidou para ir no baile, mas foi só de brincadeira. E vocês dois... - disse ela se lembrando de repente de um certo jogo de quadribol. – estavam competindo por uma garota naquele jogo do ano passado, não estavam? O que isso tem a ver comigo?
"É agora" pensou Jorge. "Tenho que contar a ela. É tudo ou nada!"
Jorge a fez dar um giro sobre si mesma e a deitou sobre um de seus braços.
- Você é uma garota também, sabia?
- Não... não me diga que... - disse Cinthia finalmente se dando conta do que estava acontecendo. N/A: Respirem aliviados, meus caríssimos leitores, pois finalmente aconteceu o que vocês estavam esperando a mais de cem páginas atrás!
- Eu estava competindo por você.
Jorge ficou esperando uma resposta, alguma reação, mas Cinthia ficou estática, olhando para ele com incredulidade. Na verdade, seu rosto havia ficado um pouco pálido enquanto ele falava, e agora adotara um leve tom esverdeado, que mudou rapidamente para vermelho. Cinthia saiu daquela posição de dança, o rosto ainda muito corado, e parou de frente para ele, séria.
- Você... você não está falando... sério mesmo, não é?
- E por que eu mentiria para você? – ele perguntou sorrindo, mas sabia que a situação não era favorável.
- E por que você esperaria tanto para me contar?
- Porque... - nem Jorge sabia ao certo, mas aí se lembrou do que o impedira de se declarar por dois anos. – Porque você gosta daquele... Diggory. – Ele teve que se conter para não xingar o rapaz.
- Gostava – disse Cinthia destacando a última sílaba, e seu rosto voltou a ficar da cor normal. – Quando eu vi ele acompanhado com outra garota hoje eu me dei conta que não gosto mais dele, que ele só representava para mim a imagem de príncipe encantado, e nada mais.
- Quer dizer que agora eu posso dizer que te amo sem me preocupar com concorrentes? – disse Jorge sorrindo mais do que já estava.
- Não. Quer dizer... não é bem assim... Você não pode dizer que me ama de uma hora para outra – disse Cinthia voltando a corar.
- Quer dizer que precisava de um aviso prévio?
- Não foi isso o que eu disse. Eu só... não sei explicar direito... é estranho. É complicado.
- Só é assim porque você faz parecer complicado – disse Jorge deixando de sorrir, e era a primeira vez que Cinthia o ouvia falar sério. – Eu amo você, não pedi uma resposta em troca. Eu só queria que você soubesse.
- Só isso? – perguntou ela confusa.
- Só – concordou ele acenando com a cabeça. – Acho que agora você provavelmente vai querer se afastar de mim para pensar um pouco, sem ter que me ver enquanto decide o que vai fazer para esse clima estranho não atrapalhar a nossa amizade.
Jorge disse exatamente o que Cinthia estava pensando. Sem precisar dizer nada, a garota se afastou de Jorge e se dirigiu para as escadas. Parou por um instante e olhou para o salão a procura de Aline. Mas a amiga não estava à vista; provavelmente ela estava nos jardins com Douglas. Sem ter alguém para desabafar o que estava sentindo, Cinthia foi até o dormitório. A festa acabara mais cedo para ela no instante em que Jorge disse que a amava, e agora Cinthia se sentia esquisita e rumava para o dormitório sem prestar atenção ao caminho. Mas tarde ela nem se lembraria de como desviou de todos os degraus podres da escada de tão absorta que estava em seus pensamentos.
Ela trocou de roupa se jogou na cama, mas não dormiu. Olhou no relógio de cabeceira que marcava 11:23. A festa acabaria em quarenta minutos e logo todos os alunos subiriam para os seus dormitórios. Cinthia continuou acordada até ouvir o relógio anunciar que era meia-noite, ouviu os passos e vozes dos alunos que entravam na sala comunal da Corvinal, ouviu Luciana e Tanya entrarem no dormitório, rindo, ouviu Luciana perguntar se ela estava bem e por que havia subido mais cedo. Mas Cinthia não respondeu. Fingiu estar dormindo. Ouviu também Luciana e Tanya se deitarem e adormecerem, enquanto ela continuava acordada. O sentimento esquisito continuava lá, impedindo-a de pegar no sono, impedindo-a de esquecê-lo.
Até a algumas horas atrás considerava Jorge um amigo, e achava que ele a considerava do mesmo jeito. Mas, a algumas horas atrás, ele havia dito que a amava, e o sentimento de amizade de Cinthia simplesmente desmoronou. Ele gostava dela, mas ela não gostava dele do mesmo jeito, e Cinthia não sabia o que poderia substituir o espaço vazio que ficara no lugar da amizade. Por enquanto havia um sentimento esquisito, como se Jorge voltasse a ser um estranho que ela não conhecia mais.
