Capítulo 47 – A casa mais mal-assombrada da Inglaterra

O dia seguinte amanheceu com o céu limpo, pelo que Cinthia pôde ver pela janela do dormitório. Não havia pregado o olho a noite inteira, pensando constantemente na mesma frase: "ele me ama, o que eu faço agora?" Horas depois de amanhecer ela ouviu Tanya se levantando e saindo do dormitório para tomar o café da manhã. Uma hora e meia depois ouviu Luciana fazer o mesmo. Mas Cinthia não estava com fome, e só saiu da cama por volta da hora do almoço.

Jorge se levantou antes que os outros naquela manhã, rumando direto para o salão principal. A única que levantou quase tão cedo quanto ele foi Aline, e o salão ainda estava bastante vazio.

- Caiu da cama? – cumprimentou Aline colocando alguns livros em cima da mesa, assim como alguns pergaminhos, penas e um tinteiro.

Jorge não respondeu, e Aline levantou os olhos, intrigada.

- Aconteceu alguma coisa... no baile?

- Interessa?

- Sim, é claro que sim, e eu sou curiosa e vou ficar enchendo o saco se você não me disser o que aconteceu. E então?

Aline sorria como se Jorge não tivesse outra alternativa, e não tinha mesmo. Ele se encostou na cadeira e cruzou os braços, dizendo simplesmente:

- Eu contei a ela.

- Eee... - Aline ficou esperando mais detalhes.

- Eu contei.

- Qual foi a reação dela? – perguntou Aline impaciente, mas emendou rapidamente ao se lembrar de algo: - Ela não gostava do Cedrico?

- Não, ela não gosta mais, me contou isso ontem. Já a reação dela, você pode imaginar.

- Ficou confusa, embaraçada, e não sabia o que falar?

- Bingo!

Aline ficou quieta por um instante, pensativa. Uma reação normal, claro, para Cinthia, mas o complicado seria fazer ela voltar ao normal. Se não fizessem algo rápido ela ficaria daquele jeito (confusa, embaraça e sem saber o que falar) toda vez que encontrasse Jorge, o que não era uma opção válida.

- Não acho que ela tenha achado ruim... – começou Aline.

- Não, ela só achou péssimo.

- Deixa eu continuar! Bom... eu acho que tudo o que temos a fazer é dizer a ela que você... não se sente mais assim.

- Mas daí estaríamos mentindo para ela.

- Você prefere que ela fique te evitando?

- Pelo menos ela vai saber a verdade. – Jorge fez questão de destacar a última palavra.

- Bom, aí eu já não posso te ajudar – disse Aline se interessando repentinamente no café da manhã, desviando do olhar de Jorge. – Francamente, ela é como um coelhinho... não, como um guaxinim assustado, com medo de tudo de muito inesperado que acontece. A melhor tática agora seria... seria... eu, honestamente, não faço a mínima idéia.

- Obrigado pela ajuda – disse Jorge sarcasticamente, se interessando também no seu café da manhã, mas ao invés de comê-lo ele ficou apenas remexendo os ovos mexidos, fazendo alguns desenhos no prato.

Quando Douglas e Fred se juntaram a eles, e também perguntaram o motivo daquele astral baixo, Jorge explicou novamente, dando mais alguns detalhes da conversa já que os dois eram mais xeretas que Aline.

- Parece que eu tive um pouco mais de sorte ontem – disse Fred casualmente.

- Você está namorando com a Angelina? – perguntou Aline interessada. – Mas é sério mesmo, ou só ficaram no baile?

- É sério – disse Fred. – Aqui a gente não tem esse costume de ficar só por ficar, se você quer saber.

- Acho que as férias no Brasil não estão fazendo bem para a sua cabecinha – disse Douglas abraçando Aline. Ele havia ficado muito mais grudento desde o baile, e não se afastara nem um segundo sequer dela.

- Engraçadinho... bem, já que o baile já passou, o que vocês acham de fazerem as tarefas que os professores nos passaram? Com certeza vocês tem muito que fazer.

Aquilo foi o suficiente para fazer Douglas soltá-la, e Aline deu um suspiro como se antes estivesse sufocando.

- Eu estava brincando. Se você não quiser, não precisa fazer as lições, embora eu recomende que você as faça.

- Quem sabe mais tarde...

- Acredito. – Respondeu Aline em um tom sarcástico, enfiando a cara em um livro de runas.

Eles só viram Cinthia na hora do almoço, mas a garota se sentou na mesa da Corvinal. Ela comeu tão rápido que eles não tiveram tempo de ir falar com ela, e com certeza era isso o que ela queria. Aline resolveu deixar os deveres de lado para ir procurar a garota, mas antes perguntou a Luciana se ela não estava na sala da Corvinal, reduzindo o lugares em que iria procurar.

- Vê lá o que você vai dizer – disse Jorge. – Eu lembro que uma vez ela disse que não confiava muito nos seus recados, e eu não quero saber a razão.

- Não se preocupe, eu sei exatamente o que falar.

Aline procurou em todos os lugares que Cinthia poderia estar do castelo: banheiros (especialmente no da Murta-Que-Geme), biblioteca, corujal, torre de astronomia, fora outros. Decididamente ela não estava dentro do castelo. Foi então procurar do lado de fora, e desanimou um pouco ao ver a grossa camada de neve que se acumulara na grama, principalmente porque todos os rastros haviam sido apagados pelos flocos que insistiam em cair no momento. Andou até o lago, mas nem sinal da amiga pela margem; andou pela borda da Floresta Proibida, mas sabia que ela não estaria por lá; perguntou a Hagrid se havia visto a garota, mas ele não sabia de nada. Estava já com as vestes um pouco molhadas por causa da neve quando foi até o campo de quadribol, mas ela também não estava lá.

Pelo menos no chão.

Aline ouviu um zunido no alto e, no meio dos flocos, viu um vulto voando metros acima da cabeça dela. Reconheceu a vassoura, uma Zig-Zag Star, e a sua pilota provavelmente não a vira lá embaixo. Aline se transformou em uma coruja e voou em direção a Cinthia. Quase não se lembrava da sensação maravilhosa que era voar sem vassoura, mas tinha que se concentrar em chegar até Cinthia. Não havia vento, mas os flocos de neve a atrapalhavam um pouco. Depois de algum esforço, Aline conseguiu voar ao lado de Cinthia, e soltou um pio alto para que a garota a visse.

- Oi, Emplumada! – disse Cinthia com um sorriso divertido. – Sente aqui atrás, vai se cansar se voar ao lado da vassoura.

Aline pousou no pedaço de cabo perto das cerdas da vassoura, voltando à forma humana logo em seguida.

- É melhor descermos – disse Aline olhando cautelosamente para baixo. – As vassouras não gostam muito de mim, e eu não confio muito nelas.

Cinthia, mesmo estando a trinta metros do solo, imbicou para o chão, se divertindo com a reação de Aline.

- Devagar! Devagar! PELAMORDIDEUS, NÃO FAZ ISSO!

Cinthia colocou a vassoura na posição mais horizontal que pôde e desceu lentamente, descrevendo uma descida em espiral para chegar ao chão suavemente. Aline desmontou da vassoura de imediato, apoiando as mãos nos joelhos para pegar fôlego.

- Nunca... mais... faça... isso... Eu... quase... morri!

- Foi engraçado – disse Cinthia com um tom de riso na voz, mas o sorriso desapareceu de seu rosto como se os seus problemas lhe voltassem à memória assim que tocara os pés no chão. – Você veio aqui para falar do Jorge, né?

- Depois do que você fez estou pensando seriamente em não falar nunca mais com você – disse Aline ainda com as mãos nos joelhos.

- Tá, desculpa, mas é que eu precisava de alguma coisa para me fazer rir. Você devia ter visto a sua cara quando eu comecei a descer... - Aline levantou a cabeça com um olhar de poucos amigos, fazendo Cinthia parar de falar. – Tá bom, tá bom.

- É que eu vim aqui para falar sério, pôxa!

- Eu sei, mas eu não quero falar sobre isso.

- Então só me escute. – Ela e Cinthia andaram até os jardins, que ficavam bem próximos do campo de quadribol, e se sentaram no banco mais próximo. Na verdade, só Cinthia se sentou, Aline preferiu ficar de pé, fazendo aquilo parecer um interrogatório. – O Jorge estava falando sério quando disse que...

- Eu sei – interrompeu Cinthia. – Ele me disse isso. Mas é que agora eu não sei o que falar para ele, sabendo que ele é apaixonado por mim sabe-se lá desde quando, mas querendo manter a amizade como estava antes.

- Desde o quarto ano... - disse Aline baixinho, e Cinthia jogou a cabeça para trás desapontada.

- É exatamente disso que eu estou falando.

- Mas você só vai saber o que falar quando ver ele se você realmente for falar com ele. Não adianta ficar imaginando se você não testar na real.

- Isso se parece muito com o conselho que eu te dei – disse Cinthia sorrindo, mas estava com a cabeça apoiada no banco, encarando o céu cheio de flocos de neve.

- Para você ver que não basta dar conselhos, você precisa ouvi-los de vez em quando e seguí-los também.

- Eu não vou seguir o meu próprio conselho – disse Cinthia voltando a olhar para Aline. – Você e o Douglas acabaram namorando depois que eu te forcei a seguir o meu conselho, e eu não quero acabar assim com o Jorge.

- Tem certeza? Aah-ah-aah – ela disse levantando a mão, impedindo Cinthia de responder de imediato -, pense bem antes de responder.

- Já pensei – disse Cinthia no segundo seguinte.

- Então me diga, olhando nos meus olhos, a verdade – disse ela em tom de desafio.

- Eu não gosto dele.

Cinthia nem piscou enquanto falava aquilo, e o tom de voz dela estava tão gélido que até assustou Aline, mais até que o mergulho da vassoura.

- Puxa, você estava falando sério.

- Eu sei ser bem fria quando quero. Já acabou o interrogatório?

- É... bem... acho que já. Quer voltar para o castelo?

- Não, acho que vou continuar voando até a hora do jantar. Me ajuda a esquecer os problemas, sabe...

- Tudo bem...

Aline voltou sozinha para o castelo, pensando em como contar aquilo a Jorge de uma maneira suave. De certa maneira, ele já esperava aquela resposta, mas Aline ainda achava que não deveria despejar tudo de uma vez sobre ele.

Cinthia se levantou, sacudiu a neve que se acumulara sobre a roupa enquanto estava sentada e voltou para o campo de quadribol na sua Zig-Zag Star, ganhando altitude depois de chegar ao gramado. Mas dessa vez não conseguiu deixar os problemas em terra por causa da conversa que acabara de ter. De uma certa forma, Aline estava certa em lhe repetir o conselho, mas Cinthia temia que o resultado fosse o mesmo. Sim, ela sabia que não gostava de Jorge, mas ele a convencera a ir ao baile acompanhada e, ainda por cima, conseguiu fazer com que ela dançasse. Talvez ele conseguisse fazer ela se apaixonar por ele se conversassem. Cinthia se perguntou como ele conseguia convence-la tão facilmente, mas não conseguiu achar uma resposta plausível. Depois se perguntou se ficaria chateada caso ele realmente conseguisse fazê-la se apaixonar por ele, já que não foi de todo ruim dançar.

- Não! Nem comece a pensar assim! – disse ela para si mesma, quase perdendo o controle da vassoura. – Você viu naqueles livros o que acontece quando o personagem começa a pensar assim... simplesmente não pode acontecer.

É, ela sabia ter sangue-frio quando queria, e sabia também que havia forçado um pouco a voz para dar aquela resposta a Aline, mas era melhor que as coisas continuassem como estava. Gostava de Jorge, mas como amigo. Ele era mais o tipo de pessoa legal para se ter por perto quando alguma coisa andasse mal na vida, e não para... namorar.

Mesmo assim, Cinthia teria que falar com ele mais cedo ou mais tarde. Não arriscaria perder a melhor amizade que tinha por causa de... não podia nem chamar aquilo de mal entendido, rotulando então a situação como "um caso incomum".

Ao voltar para o castelo, Cinthia pensou se deveria falar com ele na hora do jantar, mas ao vê-lo na mesa da Grifinória desistiu, indo se sentar com Luciana. A garota estava igualmente preocupada com ela, e Cinthia teve que repetir tudo para a garota. Ela não deu uma opinião, e nem deu conselhos à Cinthia, mas deu a entender que concordava com Aline.

As aulas recomeçaram, e nesses dias todos Cinthia não conseguiu ter uma conversa normal com Jorge. Volta e meia se encontravam nos corredores e nas aulas, mas Cinthia usava palavras e frases extremamente formais, como se as conversas comuns não fizessem parte de seu dia-a-dia, o que a deixava muito desconfortável depois que se afastava dele. Achava que estava agindo como uma criancinha, mas ela não conseguia agir de outro jeito depois do "caso incomum", e Aline era a única que conseguia conversar com ela decentemente.

Ela evitava tocar naquele assunto delicado quando estava com Cinthia, ao que a garota agradecia, mas em compensação falava de todas as outras coisas que estavam acontecendo. Ela falou do namoro de Fred e Angelina, o que para Cinthia era uma novidade, e até que, em algumas noites, Angelina não havia voltado para o dormitório, assim como Fred.

Essa situação foi se arrastando por semanas, até que na metade de janeiro foi colocado uma nota no quadro de avisos: Hogsmeade no próximo fim de semana! Aquilo animou um pouco o ânimo de Cinthia, ainda mais que ela havia ficado com a capa e não precisaria ser pedi-la para Jorge, ou Fred.

Mas ela não pôde ir a Hogsmeade. Acabou se atrasando na hora de ir à passagem da estátua, sendo que todos os alunos já estavam no vilarejo quando ela achou a capa da invisibilidade (evitando pensar no que os outros falariam se ela a perdesse). Mas Madame Nor-r-ra estava rondando o corredor e sentiu o cheiro dela, mesmo não podendo ver Cinthia. Esperou alguns minutos, quase meia hora, até que a gata saísse do corredor, mas logo em seguida Pirraça passou voando por ali com uma taça da sala de troféus, e Filch veio logo em seu encalço.

- Vou contar ao Barão Sangrento, Pirraça, se você não largar essa taça agora mesmo!

O poltergeist largou o troféu soltando uma gargalhada maldosa e desaparecendo de vista, mas era uma taça muito grande e acabou abrindo um buraco no chão de madeira. Filch pegou a taça e encarregou Madame Nor-r-ra de levá-lo à sala de troféus, continuando no corredor para concertar o piso. Enquanto Cinthia se afastava de lá ainda ouvindo os xingamentos de Filch, pensou em usar a entrada do espelho do quarto andar, mas se lembrou que aquela passagem havia desabado no inverno anterior por causa da neve. E como não estava a fim de enfrentar o salgueiro lutador, resolveu continuar no castelo, já que não tinha outra escolha mesmo.

Quando os alunos voltaram, Aline lhe entregou uma saca de doces da Dedosdemel, e ainda perguntou motivo da sua ausência. Douglas, Fred e Jorge estavam com ela, e Cinthia explicou o ocorrido à tarde, omitindo que quase se esquecera de onde havia guardado a capa, mas devolveu-a aos gêmeos, entregando a Fred.

Ainda não conseguia falar com Jorge, e todas essas semanas que se passaram pareciam ter contribuído apenas para piorar a situação, sendo que ela mal conseguia encará-lo. Mas Cinthia pensava sempre na mesma desculpa, que precisava juntar coragem para falar com ele sem que ele a enrolasse. Embora, ela começava a notar, o sentimento que substituiria a amizade de Jorge começava a ganhar forma, e se parecia muito com...

N/A: Vou manter um suspense, mas acho que vocês já tem uma idéia do que deve ser, não é mesmo? Vamos lá, ódio, indiferença, raiva, tristeza... vão chutando, uma hora vocês acertam!

A segunda tarefa do Torneio Tribruxo teve lugar no dia 24 de fevereiro, e todos ficaram surpresos com o resultado da tarefa. Os campeões deveriam ir até o fundo do lago que ficava na propriedade e pegar de volta algo que os sereianos haviam levado deles no prazo de uma hora. Passado um minuto depois do prazo, todos viram que o primeiro a voltar à superfície foi Cedrico Diggory, e ficaram espantados ao ver que ele trazia uma pessoa. Mais especificamente, Cho Chang, apanhadora da Corvinal e seu par no baile. Em seguida apareceu Vitor Krum, que havia transfigurado a própria cabeça em uma de tubarão, ficando terrivelmente assustador, e ele trazia Hermione.

Nessa hora, Fred e Jorge começaram a olhar em volta (Cinthia não estava sentada com ele, mas sim com Luciana) na arquibancada, e Douglas perguntou:

- Quem vocês estão procurando?

- O Roniquinho – disse Fred ainda olhando em volta.

- Por quê? – perguntou Aline.

- Ontem, quando a Profª Minerva nos pegou armando alguns Fogos Filibusteiros perto da sala do Filch (Aline revirou os olhos murmurando algo como "mas que criancice!") ela substituiu a bronca de costume por uma tarefa. Ela queria falar com o Rony e a Hermione, e tínhamos que achá-los para ela.

- E desde ontem que a gente não vê os dois, sendo que a Hermione só apareceu agora.

- Vocês não acham que... ele também está no lago, acham? – perguntou Douglas achando aquilo pouco provável.

- Ao que tudo indica... - disse Jorge.

Muitos minutos depois, Fleur Delacour saiu do lago, mas não estava linda e magnífica como sempre. Suas vestes estavam rasgadas e ela tinha arranhões por todo o rosto e braços, e parecia extremamente nervosa, não parando de choramingar para os juízes dizendo que não havia achado os sereianos. Mas, para seu alívio, passados menos de cinco minutos, Harry apareceu trazendo Rony e uma menina com os mesmos cabelos loiro-prateados de Fleur. A francesa correu para a irmã, e preferiu que Madame Pomfrey cuidasse antes da refém do que dela mesma.

Fred e Jorge ficaram aliviados ao ver que, mesmo depois de passar do prazo de uma hora, Rony estava bem, mas não falaram nada para ninguém. Viram quando Fleur beijou-o no rosto para agradecer por ter ajudado a resgatar a sua irmã, Gabrielle, e não se deram ao trabalho de segurar as risadas ao ver que Rony havia ficado muito vermelho com aquilo. Riram mais alto ainda quando Percy correu para ver se Rony estava bem, e este lutava para se desvencilhar.

Dois fins de semana após àquela tarefa em que Harry havia demonstrado grande fibra moral, segundo os juízes, teriam mais um passeio ao vilarejo, e todos estavam mais animados que de costume porque os dois campeões de Hogwarts estavam liderando o torneio. E como a tarefa havia sido realizada na quarta-feira, a visita a Hogsmeade caía no dia 4 de março, exatamente no...

- Aniversário da Cinthia – dizia Aline aos outros, já na Dedosdemel, esperando a amiga. – Espero que ela consiga vir dessa vez, ela ia gostar muito de passar o aniversário no vilarejo.

Depois de passarem quase uma hora na loja, os quatro resolveram ir para o Três Vassouras, já que Cinthia não dava sinais de que iria aparecer. Encontraram Luciana no meio do caminho, e ela disse que Cinthia havia se trancado no dormitório, estudando. Jorge desanimou um pouco, mas sabia que era sua culpa, então não falou nada para não ficar se lamentando.

Enquanto entravam no Três Vassouras, Angelina, Katie e Alícia estavam saindo do bar, e Fred aproveitou para ir dar uma volta pelo vilarejo com Angelina, deixando os outros três entrarem sozinhos. Jorge sentiu que estava sobrando no meio de Aline e Douglas, e não quis atrapalhá-los por muito tempo.

- Como eu estou segurando vela aqui, acho melhor ir lá fora – disse ele se levantando.

- Porque você não vai procurar a Cinthia? Duvido que ela perca uma visita a Hogsmeade pela terceira vez seguida, ainda mais no próprio aniversário – disse Aline dizendo menos do que sabia. – Com certeza ela usou aquela desculpa de que ficaria estudando para Luciana não procurá-la.

- É uma boa idéia – disse Jorge, que não tinha mais nada para fazer. Ele saiu do bar sem dizer nada, e Douglas começou a olhar atentamente para a expressão no rosto de Aline.

- A Cinthia veio, não veio?

- Veio sim. Ela me disse que estava morrendo de vontade de visitar Hogsmeade, mas que não queria encontrar com o Jorge.

- Ainda?

- É. Pelo menos até ter certeza do que sentia por ele.

- Como assim?

- Bem, ela começou a pensar seriamente no assunto, e viu que não seria tão ruim assim se apaixonar de verdade por ele, mas quando se deu conta, já havia acontecido. Só que, você conhece a Pelúcia, ela não vai admitir que seja verdade, não até que alguém a faça dizer isso alto e claro.

- Ela não vai gostar nem um pouco de saber que você mandou o Jorge atrás dela justamente para isso.

- Mas ela não precisa saber que fui eu que dei um empurrãozinho – disse Aline beijando Douglas e encerrando o assunto.

Jorge não reparou direito por onde andava, virando automaticamente nas ruas de Hogsmeade sem se dar conta do caminho que fazia. Quando saiu do mar de pensamentos em que estava mergulhado, percebeu que havia parado em frente à Casa dos Gritos. Apoiou-se na cerca velha e baixa de madeira, lembrando do dia em que haviam tentado arrombá-la, sem sucesso. Mas logo percebeu alguma coisa se movendo sorrateiramente por debaixo da cerca, e abaixou a cabeça para ver o que era, ficando surpreso. Era um guaxinim que ele nem reparara quando havia se aproximado da cerca, e o animalzinho estava se afastando dele na direção da casa. Estava de costas, e Jorge não pôde ver se tinha ou não a marquinha em forma de gota, mas arriscou mesmo assim.

Pulou a cerca e, definitivamente, o guaxinim acelerou o passo quando ele entrou no terreno da casa. Jorge se transformou em raposa para alcançar o animalzinho que agora corria à sua frente. O guaxinim pulou em uma das latas de lixo ao lado da casa e entrou por um buraco nas tábuas de uma janela, pequeno para passar um humano, mas grande o suficiente para passar um animal. Jorge parou receoso antes de entrar, e as palavras de Cinthia lhe voltaram à mente, mas elas eram daquele mesmo dia em que tentaram arrombar a Casa dos Gritos:

"- Um dia eu posso até entrar aí, mas vai ter que ser por um bom motivo, ou se eu estiver muito desesperada..."

Qual dessas razões fizera o guaxinim/Cinthia entrar ali, Jorge não sabia, mas entrou na casa assim mesmo, conseguindo passar pelo buraco porque era magro mesmo na forma animal.

Jorge avistou o guaxinim saindo do aposento em que entrara, e o avistou do lado de fora correndo pelo corredor. Seguiu-o por vários corredores e salas, reparando em como a casa era grande. Depois de sair de uma sala em que a poeira estava excessivamente acumulada, Jorge viu que o guaxinim parara no meio de uma escada, mas não por opção. É que o resto da escada havia desabado, abrindo um enorme buraco no chão. O guaxinim se virou para voltar e, mesmo o interior da casa estando na penumbra por causa das tábuas nas janelas, Jorge conseguiu ver a marca em forma de gotinha no peito do animal.

Cinthia voltou à forma humana, e Jorge fez o mesmo, mas o primeiro a falar foi ele: - Por que você não foi encontrar a gente? Achei que não viria hoje.

- Porque... porque... - disse Cinthia pensando em uma desculpa – porque eu estava sem a capa da invisibilidade e... e não tinha pensado antes em ficar na forma de guaxinim.

Jorge soltou uma risada divertida, como Cinthia não ouvia já a algum tempo, e disse: - Você não sabe mentir, não é? Era só ter pedido a capa da invisibilidade para mim ou para o Fred. Tá, mesmo tendo pensado só depois em vir como animaga, por que não encontrou a gente na cidade? Por que resolveu ficar por aqui?

- Oras! Porque... porque ia ser estranho, não é? Um guaxinim andando junto com quatro alunos de Hogwarts. Ia chamar muita atenção. – Jorge revirou os olhos pensando que ela podia pelo menos ter tentado inventar uma desculpa melhor.

- Bem, acho que você já explorou bastante o vilarejo sem nós. Que tal se nós formos até o Três Vassouras? Emplumada e Garra também estão lá, e acho que Bigodes logo vai aparecer também, com companhia. – Jorge falava se referindo aos apelidos por achar engraçado o fato de que ela tentara fugir dele, duas vezes, como guaxinim.

- Não, não. Acho que vou continuar por aqui, obrigada – disse Cinthia sem ainda tomar consciência de onde estava.

- Tudo bem, mas eu estou voltando – disse Jorge se virando de costas. – Mas se você quiser ficar aqui sozinha, tentar achar a saída sem ajuda e se divertir nessa casa mal-assombrada, bem... fique à vontade!

Ele fez o favor de lembrar a Cinthia que estavam na Casa dos Gritos, e não em um parque de diversões em que se vendia algodão-doce. Cinthia ficou simplesmente aterrorizada quando se deu conta de que não se lembrava de uma única curva que fizera por todo o caminho, e tentou descer a escada o mais depressa que as suas pernas, agora meio bambas, permitiam.

- Espera! – gritou ela para Jorge. – Não... não me deixe aqui sozinha!

Ela correu até Jorge, mas ele parou de repente de andar se virando para trás, e Cinthia esbarrou nele, caindo sentada no chão. Ela reparou que ainda estava tremendo um pouco de medo, mas estava se achando um tanto boba por isso.

- Cuidado – Jorge disse. – Não vai querer abrir um buraco como aquele outro logo debaixo da gente.

Ele sorria, e Cinthia não conseguia imaginar como era possível ele fazer piada em uma situação daquelas. Na verdade, parecia que ele havia deixado aquele "caso incomum" de lado, justamente agora que ela... bom, era melhor fazer o mesmo que ele então. Agora ela sabia exatamente o que sentia em relação a ele, mas, como sempre, havia se dado conta um pouco tarde.

Jorge lhe ofereceu uma mão para que ela se levantasse, ainda meio rindo, e Cinthia aceitou, sendo puxada com força. Mas Jorge aproveitou o impulso e puxou-a para perto de si, enlaçando a cintura dela com a outra mão.

- O quê? Eu pensei que...

Ele a beijou! Jorge não queria mais segurar o que sentia por ela, e a beijava tão apaixonadamente que nem se deu conta de que era o seu primeiro beijo. Ele sentia o coração dela bater acelerado de encontro a seu peito, mas não era de medo que ele batia assim. Cinthia se entregou ao beijo, passando os braços por trás da cabeça dele. Seu coração parecia pegar fogo de tão rápido que batia. Agora ela sabia o quanto gostava de Jorge, e não era apenas como amigo, não era apenas amizade... era amor. E nos últimos dias, enquanto pensava nele e o quão boba ela fora de não falar com ele, aquele sentimento só cresceu, e agora transbordava no beijo dos dois como se apenas o coração não fosse suficiente para contê-lo.

Quando seus lábios se separaram, Jorge continuou a abraça-la pela cintura, olhando no fundo de seus olhos. Agora que já havia se acostumado com a escuridão do lugar ele podia ver um brilho diferente naqueles meigos olhos castanhos. Era o mesmo brilho que Cinthia via nos seus olhos azuis, que se misturava com um pouco de surpresa e muita felicidade.

- Eu realmente não esperava uma reação dessas – disse ele -, mas com certeza foi melhor que um tapa.

- Por um instante eu pensei que você havia desistido de mim – disse Cinthia, encostando a cabeça no ombro dele.

- Não, eu nunca faria isso, por mais foras que eu levasse de você.

- Mas eu nunca te dei um fora... propriamente dito – disse ela levantando a cabeça para ele, se lembrando do baile de inverno. – Quer dizer... você sabe, naquele dia eu fiquei surpresa, não que eu não gostasse de você, mas é que...

- Eu sei. Eu te conheço bem.

Jorge deu um longo beijo no pescoço de Cinthia, e ela sentiu um ligeiro arrepio, mas não foi ruim; muito pelo contrário! Ele foi subindo até chegar à sua boca, beijando-a mais apaixonadamente que antes.

Os dois ficaram sozinhos na Casa dos Gritos por algum tempo. A essa altura, Cinthia já havia esquecido que estava apavorada.

N/A: ÊÊÊÊÊ!!!!! Vivas! Palmas! Assobios! "Fiu-fiôôôôô!" Acabou e enrolação! Eu disse a vocês que iria melhorar as coisas para os gêmeos, ou seja, cada um conseguiu o que queria! Vou dizer uma frase que deixa os outros loucos: EU-DISSE-EU-DISSE-EU-DISSE!

E olhem só que maravilha, os carinhas do St. Mungo me deixaram em casa. No final eles viram que só o que eu queria era trazer um pouco de amor ao mundo, e até choraram depois de lerem este capítulo... (sentimentalóides...)