Capítulo 48 – Desestressando a Mini Minerva

Depois da visita a Hogsmeade, Aline, Douglas, Fred, Jorge e Cinthia só se encontraram outra vez no castelo na hora do jantar. Fred, Douglas e Aline já estavam na mesa da Grifinória quando Cinthia e Jorge apareceram, de mãos dadas (discretamente, claro, para não chamar a atenção de algum monitor que fosse igual ao Percy). Aline foi a primeira a vê-los entrar no salão principal, e deu uma cutucada em Douglas, pigarreando para também chamar a atenção de Fred. Quando os dois chegaram perto, Aline, Douglas e Fred começaram a bater palmas, deixando Cinthia embaraçada.

- Não precisam fazer tanto barulho só por causa disso – disse Cinthia enquanto ela e Jorge se sentavam à mesa.

- Ah, precisamos sim – disse Aline. – Não é todo dia que você está com esse sorriso tão grande.

- Heh... a mudança de humor é tão aparente assim? – perguntou Cinthia corando um pouco mais.

- Mais do que você imagina – disse Jorge beijando o seu rosto, fazendo Cinthia corar totalmente agora.

- Não faça isso – disse ela um pouco embaraçada. – Você sabe que os alunos não podem ficar de namorico no colégio, e a mesa dos professores está logo ali, se você não notou.

- Não me importo nem um pouco com isso – disse ele dando outro beijo na bochecha dela, e desta vez foi estalado. Por sorte não havia nenhum professor ou monitor chato prestando atenção na hora.

Infelizmente foi difícil encontrarem tempo para namorar depois disso. Sim, os exames finais estavam se aproximando mais rápido que de costume, e mais uma vez Aline havia ficado obcecada com os livros, para a sorte dos outros. Mas desta vez ela tinha algo com que se distrair, exigindo um pouco menos dos amigos e dando broncas menos rígidas quando eles não estudavam o que ela passava. Douglas contribuía inteiramente para a folga dos outros, e para a sua própria, mais interessado em outros assuntos do que nas notas do ano. Mas quanto mais os professores os atolavam de matérias, mais Aline dobrava as revisões, o que era bom, já que antes ela costumava triplicar a carga diária de tarefas, e agora passava para eles os pontos mais importantes, e não todos os mínimos detalhes.

Mas, como toda tradição manda, a última semana antes de começarem os exames foi exaustivamente cheia, atulhada e entupida de revisões, mas em uma noite ou outra Douglas conseguiu fazer com que Aline relaxasse um pouco depois dos estudos, ficando com ela na sala comunal da Grifinória. Eles conversavam bastante nessas pequenas horas, sentados em uma das poltronas na frente da lareira enquanto todos dormiam, mas Aline caia no sono freqüentemente por causa dos estudos puxados do dia. Na última semana antes das provas, Douglas deixava que ela dormisse logo, mesmo sem terem conversado muito, afinal, era ela que tinha mais matérias para estudar.

Quando os exames finalmente chegaram, todos ficaram extremamente tensos, tentando se lembrar de tudo sem se confundirem com datas, ingredientes ou nomes, já que este ano parecia estar particularmente lotado com pequenos detalhes em todas as matérias. Pobre Aline, a cada dia que passava dos exames ela ficava com olheiras mais profundas, e com uma aparência cansada que lembrava a do Profº Lupin, que dera Defesa contra a Arte das trevas para eles no ano anterior.

No dia vinte e três de junho era a data dos últimos exames, e no café da manhã Aline repetia freneticamente os conteúdos das matérias que teria, se confundindo algumas vezes e falando matérias que ela já havia feito no exames.

Fred, Jorge e Douglas acabaram a suas quotas de exames antes das garotas, que teriam suas últimas provas depois do almoço. O dia estava lindo para se ficar ao ar livre, e os três foram para o lago fazer uma pequena visita à lula gigante, para aborrece-la. Mesmo tendo que se manter atento para não ser pego por um dos tentáculos da lula, Fred parecia um pouco sonolento, e depois de um bocejo particularmente longo Jorge lhe perguntou o motivo de tanto sono.

- Eu quase não dormi na noite passa – explicou Fred. – Eu e a Angelina, vocês sabem, não fazemos questão de uma boa noite de sono antes das provas.

- Antes de todos os dias de provas, você quer dizer – acrescentou Douglas lembrando que Fred passara quase todas as noites fora da torre durante a semana.

- O que eu posso dizer em defesa? Simplesmente nada – disse ele com um leve tom de orgulho na voz. – Mas e você? Já vai fazer quase um ano desde que você e a Aline começaram a namorar. Alguma das tentativas deu certo?

- Ainda não – respondeu Douglas. – Mas eu tenho um plano para hoje à noite.

Enquanto falavam, acabaram parando de prestar atenção na lula, e ela não gostava de ser ignorada. A enorme criatura agarrou Douglas pelo pé e ficou a balança-lo no ar. Os gêmeos começaram a rir descontroladamente da cena.

- Parece que antes você vai precisar escapar da lula! – disse Jorge, rindo mais ainda.

Douglas fez um feitiço de cócegas e a lula o soltou, entrando novamente na água.

- Mesmo você tendo tudo planejado – disse Fred quando conseguiu parar de rir - duvido que a Dona Certinha concorde.

- É mesmo – concordou Jorge. - Posso até apostar que você não consegue nada dela por hoje.

Douglas pensou por um instante e resolveu levar à sério as palavras de Jorge. Não era muito bom em apostas e geralmente perdia, mas...

- Apostado! Tenho certeza de que dessa noite não passa.

- Cinco galões! – disse Fred.

- Cada! – acrescentou Jorge.

- A aposta mais fácil que já ganhei.

Os três apertaram as mãos para fechar o acordo, voltando para o castelo logo em seguida.

Depois do jantar, Aline queria revisar com eles o que havia caído no exames do dia como fizera no resto da semana para saber o que tinham acertado e compararem as respostas.

- Ó, desculpa, mas eu tenho coisa melhor para fazer – disse Fred se levantando e dando uma olhada discreta, mas significativa, para Douglas.

- E posso saber o que é que é tão importante assim? – perguntou Aline em um tom levemente irritado, e ficando ainda mais irritada depois que ele respondeu:

- Ainda não sei, mas que eu arranjo alguma coisa melhor para fazer se sair daqui, arranjo!

Fred saiu rápido antes que Aline pudesse dizer alguma coisa, e isso fez com que ela se voltasse para os que ainda estavam na mesa.

- E vocês? Tem alguma outra coisa para fazer também?

Foi Jorge que respondeu.

- Agora que você perguntou... Cinthia, não quer ir dar uma volta?

Cinthia sabia que aquilo deixaria Aline irritadiça, mas não estava com a mínima vontade de ficar revisando os exames, sendo que Jorge não precisava ter feito a cara mais pidona do mundo para que ela concordasse.

- Ah, tá né.

Os dois se levantaram rapidamente antes que Aline resolvesse acorrenta-los só para revisarem a matéria, deixando ela e Douglas sozinhos à mesa.

- Não me diga que até o meu namorado tem alguma coisa melhor para fazer! – disse ela se dirigindo à Douglas

- Tenho sim. – Disse Douglas e, ao ver que Aline estava prestes a dar uma daquelas broncas de "não se deve desprezar os estudos e coisas do tipo", ele acrescentou: - Quero passar um tempo coma minha namorada, já que nos últimos dias a gente só ficou estudando.

- Isso sim é melhor do que repassar a matéria – disse Aline abrindo um sorriso, para o alívio de Douglas.

- Vamos andar um pouco – sugeriu Douglas. – Se ficarmos aqui é capaz de algum monitor intrometido nos tirar mais pontos.

Aline riu e os dois se levantaram, indo andar pelo castelo. Iam andando abraçados, e no quarto andar Douglas fez questão de se demorar um pouco por lá. Mas, depois de passarem por alguns corredores, ele notou que Aline parecia um tanto nervosa.

- O que você tem?

- Ah, nada. Só estou um pouco preocupada com algumas questões de Runas Antigas, sabe, não tive muito tempo de estudar a última matéria e...

- Relaxe! Você sempre vai bem mesmo que não tenha estudado o tanto que queria, o que demoraria anos. Temos uma semana antes dos resultados saírem, então deixe para se preocupar daqui a uma semana.

Os dois se beijaram por alguns segundos antes que Aline percebesse algo caído no chão. Com um pouquinho de esforço (e muito a contragosto) ela separou os seus lábios dos de Douglas e apontou para o objeto que parecia ter sido jogado aos pés de uma porta.

- O que é aquilo?

"Não achei que ela fosse notar tão rápido" pensou Douglas, mas o que ele disse em um tom displicente foi: - Como é que eu posso saber?

Aline se abaixou e viu que era um envelope. Apanhou-o e ficou muito surpresa com o que estava escrito na frente.

- "Para Srta. Quadros" – leu ela. – De quem será?

- Quem sabe não esteja escrito dentro.

Aline abriu o envelope e leu o bilhete que havia dentro.

Srta. Quadros

Você sabe o que este bilhete significa? Significa que agora, mais do que nunca, estou apaixonado por você. Esta noite quero que você se sinta especial. Eu te amo muito, e não posso mais esperar para demonstrar isso. Mas vai depender de você.

Ass.: a única pessoa que está neste corredor com você.

Aline levantou os olhos da carta, mas antes que os dois dissessem alguma coisa, Frei Gorducho, o fantasma da Lufa-Lufa, atravessou algumas paredes e passou por eles.

- Boa noite, jovens.

- Boa noite, frei – disseram os dois enquanto o fantasma se afastava.

- É sua? – disse Aline balançando o bilhetinho da frente de Douglas.

Ele pegou o papel da mão dela e uma pena do bolso, escrevendo uma palavra extra no bilhete. Devolveu a Aline e agora estava escrito "Ass.: a única pessoa viva que está neste corredor com você".

- Você tem alguma dúvida agora?

Aline voltou os olhos para o bilhete, sorrindo. Douglas andou até atrás dela e a abraçou pela cintura, olhando o papel por cima do ombro da garota.

- O que você quis dizer com "esta noite"...?

- Vai ter que descobrir – disse ele abrindo a porta atrás de si, puxando Aline para dentro da sala.

A maioria dos alunos já estava nas salas comunais ou jogavam snap explosivo e xadrez bruxo no salão principal, mas Cinthia e Jorge eram uns dos poucos que não haviam ido para estes lugares depois do jantar. Enquanto andavam por um corredor encontraram Fred.

- E então? – disse ele ainda andando de encontro aos dois.

- É muito cedo para dizer – respondeu o irmão. – Acabamos de deixar os dois lá no salão.

- Vamos ver se ainda estão lá.

Cinthia olhava de um para outro perplexa.

- Do que é que vocês estão falando?

- Já te explico – respondeu Jorge seguindo o irmão até o salão principal.

"Esses dois estão aprontando alguma" pensou Cinthia enquanto seguia os dois.

Da porta do saguão de entrada eles podiam ver todas as mesas, e constataram que nem Aline e nem Douglas estavam mais lá. Os dois rumaram para a torre da Grifinória para se certificarem de que não estavam lá, com Cinthia sempre no encalço dos dois. Assim que Fred saiu pelo retrato da Mulher Gorda balançando a cabeça desapontado, Cinthia impediu os dois de continuarem a busca apontando a varinha para os dois.

- Agora vocês vão ter que me dizer o que está acontecendo ou eu uso o verittas em vocês para descobrir.

- Não precisa ficar toda ouriçada por causa disso. Não é nada de mais – disse Jorge, e Cinthia confiou no tom de voz dele, guardando a varinha.

- Mas tem alguma coisa a ver com a Aline e o Douglas, não tem não? Acho que tenho, no mínimo, que saber se vocês estão aprontando com dois dos meus amigos.

- Somos seus amigos também – disse Fred. – Pode confiar em nós. Só queríamos saber onde os dois estão porque fizemos uma pequena aposta.

- Que tipo de aposta? – perguntou Cinthia ficando ainda mais desconfiada do que antes.

- O Douglas nos contou que tinha um plano.

- E apostamos que este plano não daria certo.

- Que plano? – perguntou Cinthia agora com a pulga atrás da orelha de tão desconfiada. – E podem ir dizendo a verdade.

Fred e Jorge se entreolharam e concordaram com um aceno de cabeça. Não porque queria promover a honestidade, mas sim porque sabiam que Cinthia, apesar da tapadisse ocasional, tinha uma boa memória para feitiços.

- Ele disse que planejava passar a noite fora da torre...

- ... junto com a Aline.

- E vocês dois fizeram uma aposta em cima disso?!!! – Fred e Jorge acenaram positivamente, mas receosos da reação dela. – Eu não esperava por uma coisa dessas, não de meus amigos.

Cinthia se virou para descer a escada, mas Jorge segurou o seu braço impedindo que ela descesse.

- Onde você vai? – perguntou ele.

- Avisar a Aline que os amigos dela ficam apostando no que ela fica fazendo com o namorado.

- Ah, não vai não!

- Não é você que vai me impedir!

Aproveitando que o lugar estava vazio, Cinthia se transformou e guaxinim e seu braço fininho escapou da mão de Jorge. "Já está ficando repetitivo" pensou Jorge indo atrás dela.

Pelúcia conseguiu descer uns poucos degraus, mas teve que parar. Uma raposa saltara por cima dela, parando alguns degraus abaixo. Ela se virou para trás, mas alguns degraus acima havia um coiote também impedindo a sua passagem. Pelúcia se sentia derrotada, mas parou para pensar por um instante.

"Ele disse que tinha um plano, certo?" pensou ela para os outros dois.

"Foi o que ele disse" respondeu Focinho.

"E pelo jeito que ele falava parecia ser um plano bom, mesmo não tendo pedido os nossos conselhos" comunicou Bigodes.

"Convencido..." pensou Pelúcia de volta.

Cinthia voltou à forma humana, e Fred e Jorge também, pois a qualquer momento poderia aparecer um aluno, já que estavam no meio do caminho para a torre da Grifinória.

- Vou entra na aposta.

- Você está falando sério?! – perguntou Jorge pasmo.

- Não é você que acha isso uma atitude horrível? – cutucou Fred.

- Já que eu não posso fazer nada, vou pelo menos tentar sair lucrando.

- Então aposta em quê? – perguntou Fred antes que ela mudasse de idéia; qualquer oportunidade de ganhar uma aposta maior era bem-vinda para ele.

Cinthia pensou por alguns segundos e logo respondeu: - Vai dar certo.

- Olha que é uma decisão de risco – avisou Jorge.

- Eu sei exatamente no que estou apostando – Cinthia fez uma pausa para se lembra de alguma coisa. - Só não sei quanto estou apostando.

- Cinco galeões – disse Fred.

- Suponho que vou ter que dividir os dez galeões com o Douglas. Sem problemas. – Cinthia passou por Jorge para descer até o terceiro andar dando-lhe um beijo rápido de boa noite e disse em um tom divertido: – Boa noite, rapazes! Preparem-se para a sua derrota!

- Está mais calminha agora?

- Muito... - respondeu Aline com um suspiro.

Ela e Douglas estavam deitados na cama que ele havia conjurado na sala, ainda um pouco ofegantes, mas foram os melhores momentos que já haviam passados juntos. Todos os outros alunos já deviam estar nos dormitórios, dormindo, e eles não se importavam com o que os outros pensariam disso. Mas é sempre bom estar prevenido contra os professores, claro.

- Aline?

- Hum?

- Não acha melhor voltarmos para os dormitórios? Já são quase quatro horas.

- Espera só mais uns segundinhos...

Aline beijou de um jeito que convenceu-o imediatamente a esperar mais uns minutinhos, mas Pirraça passou pelo corredor fazendo muito barulho, assustando-os. O fantasma foi tão rápido quanto veio, mas podia voltar.

- Acho que agora já dá para voltar para a torre – disse Aline se levantando e procurando as suas roupas que foram espalhadas por todos os cantos da sala.

- Imagina se o Pirraça resolve atravessar a parede?

- Shush!

Pirraça passou novamente no corredor e largou uma cadeira bem na frente da porta, partindo-a em pedacinhos.

- Aproveitem a noite de descanso, corvinais otários! Há! Há! Há!

Ele se afastou rindo, provavelmente para pegar outra cadeira. Aline e Douglas suspiraram aliviados quando ouviram a risada do poltergeist se afastando pelo corredor.

- Acho que ele não sabe que estamos aqui – disse Douglas. – Talvez só quisesse incomodar os alunos do andar de baixo.

- Mesmo assim, é melhor irmos enquanto ele está longe. O Filch pode vir a qualquer minuto para ver o que ele está aprontando dessa vez.

- Com ele a gente não precisa se preocupar. Eu trouxe a capa da invisibilidade dos gêmeos – disse Douglas tirando a capa de debaixo da cama.

Aline abriu um largo sorriso. – Você pensou em tudo!

Os dois saíram silenciosamente da sala, mas não sem antes desconjurar a cama; alguém podia notar a falta de espaço. Enquanto subiam as escadas para os andares acima, puderam ouvir Filch subindo para o quarto andar de tão grande que estava o silêncio no castelo àquela hora.

- Esse Pirraça me paga! Poltergeist maldito! Que diabos...! – Pirraça jogara um vaso na cabeça de Filch enquanto o zelador ainda praguejava. – Sua imitação de fantasma! Por essa eu vou fazer com que seja expulso do castelo! O Barão Sangrento não vai gostar de saber que o seu protegido anda destruindo propriedade do castelo!

- Filch boboca! FILCH BOBOCA!

O poltergeist passou voando a dois metros e meio dos degraus, bem acima das cabeças invisíveis de Aline e Douglas. Não parecia que ele voltaria tão cedo àquele corredor; pelo menos os alunos no terceiro andar poderiam descansar um pouco agora. Filch desceu as escadas resmungando:

- Não sei porquê Dumbledore mantém esse problema dentro do castelo; já não bastam os alunos...

- Essa foi por pouco – sussurrou Douglas aliviado quando a voz de Filch desapareceu completamente.

Quando estavam quase chegando ao retrato da Mulher Gorda, Aline sentiu que Douglas se sacudia de rir, mas evitava fazer barulho.

- O que é tão engraçado? – perguntou ela num sussurro.

- Acho que estou melhorando nas minhas apostas. Eu finalmente vi aquela tal correntinha que você disse no ano passado que eu nunca iria ver.

- Eu nem me lembrava daquilo.

- Depois que nós começamos a namorar eu tomei como meta ver essa correntinha.

- Quer dizer que você só fez isso para ver a correntinha? – perguntou Aline brincando; ela sabia que não era verdade.

- Não, mas foi uma conseqüência calculada.

- Hum... Vamos ter que acordá-la.

Os dois haviam chegado até o quadro da entrada da Grifinória, onde a Mulher Gorda dormia apoiada na moldura.

- Vamos brincar um pouco. – Douglas não tirou a capa da invisibilidade, mas começou a falar com um tom que lembrava uma assombração: - Acooorde! Acooorde! Mulher Gorda do quadrooo, você está me ouvindooooo?

- Hã? Que...? Quem está aí fora? – disse ela acordando e se endireitando no quadro.

- Deixe-nos entraaar...

- Quem está aí? Se-seja lá quem for, pre-precisa da senha para entrar. – Ela parecia decididamente assustada.

- Sou a Mooorte...

- E a Deterioraçããão... - Aline também entrou na brincadeira, e a Mulher Gorda pareceu ficar mais preocupada com o que a garota disse do que com o "Morte" de Douglas. – Velas incandeceeentes... Agora deixe-nos entraaar...

- Claro, claro!

A Mulher Gorda abriu a passagem mais rápido que de costume, e esperou bastante para fecha-la. Aline e Douglas riram por um bom tempo na sala comunal depois que a passagem se fechou.

- Acho que acabamos de mandar um quadro para a terapia – comentou Douglas. Depois ele e Aline se despediram com um beijo carinhoso e subiram cada um para o seu dormitório.

Aline abriu a porta devagar para não fazer barulho. Ficou aliviada quando viu que Angelina, Alícia, Helena e Rebeca dormiam profundamente. Se trocou o mais silenciosamente possível e foi dormir com um sorriso bobo estampado no rosto.

Douglas também entrou silenciosamente no dormitório. Estava tudo escuro e as cortinas das camas estavam fechadas. Mas assim que ele fechou a porta do quarto, foi atingido por uma chuva de travesseiradas.

- Mas o quê...? - Ele se virou e viu Fred, Jorge e Lino com mais travesseiros na mão fazendo pontaria. – Espera! Espera! O que vocês estão aprontando dessa vez?

- Não fomos nós que andamos aprontando – disse Lino. Aparentemente Fred e Jorge haviam contado à ele sobre o assunto.

- Você também entrou na aposta, foi?

- Entrei... - respondeu Lino - mas perdi?

- Se você apostou contra este ícone de sexualidade – disse Douglas apontando para si mesmo – então eu sinto muito camarada, pois você perdeu!

Os três atiraram as almofadas restantes em Douglas para ele parar de se achar tanto.

- Se vocês não queriam perder não deviam nem ter feito a aposta. Podem passar os quinze galeões para cá.

- Correção: sete galeões, oito sicles e quatorze nuques e meio – disse Fred. – Você vai ter que dividir o dinheiro com a Cinthia.

- Hein?! Ela entrou na aposta também? E ficou do meu lado?!!!

- Também não entendemos direito – disse Jorge. – Achamos que ela havia ficado maluca, mas... - ele parou ao ver a cara de Douglas. - Não que não confiássemos em você, claro, mas era por causa da Aline, entende? Por. Causa. Da. Aline.

- Em todo caso, depois vocês decidem como vão fazer para dividir um nuque no meio – disse Fred indo se deitar. – Não quero perder a última tarefa do Torneio Tribruxo amanhã... hoje... ah, sei lá!

Os quatro garotos foram dormir, Fred, Jorge e Lino com os bolsos mais leves e Douglas com o bolso mais cheio, além de adormecer com um sorriso tão bobo quanto o de Aline no rosto, sem fazer a mínima idéia do desastre que aguardava a todos na noite seguinte.