Capítulo 49 – Despedidas nada convencionais

A multidão que assistia à última tarefa do Torneio Tribruxo não podia estar mais barulhenta do que agora, todos sentados nas arquibancadas, dando vivas e berros para encorajar os campeões. Mas assim que eles entraram no labirinto de sebes que haviam plantado no campo de quadribol ("Ainda bem que Olívio não está vendo isso" comentou Luciana) os espectadores os perderam de vista e podiam apenas ouvir o que acontecia.

Dado algum tempo, um grito aterrorizado cortou ou ar, mas nenhuma faísca vermelha fora lançada. Os mais atentos reconheceram como sendo o grito de Fleur, e a família dela, que também estava entre os espectadores, ficou visivelmente perturbada. Especialmente Gabrielle, a irmão mais nova da campeã.

Depois de muitos minutos, faíscas vermelhas foram lançadas, e logo Hagrid entrou no labirinto. Ele trouxe Vítor Krum para fora, e ele estava estuporado. Os professores Flitwick e McGonagall foram ver o que havia acontecido com o campeão da Durmstrang, e ficaram intrigados com aquilo, sem conseguirem achar um resposta plausível.

- Isso é estranho... - disse Cinthia na arquibancada, junto com os outros espectadores.

- O que é estranho? – perguntou Fred.

- O professor Moody... - respondeu ela brevemente, como se pensasse em muitas coisas ao mesmo tempo.

- Mas ele não está com os outros professores – disse Douglas. – Ele está do outro lado do labirinto.

- Exatamente! – disse Cinthia se virando para ele. – O que é muito estranho. Ele devia ter ido ver o que aconteceu com o Krum como os outros professores que estão patrulhando o labirinto. Não acham que ele, a pessoa mais paranóica com ataques e coisas do tipo, deveria ter sido o primeiro a entrar no labirinto para resgatar o campeão que estivesse em apuros?

- Bem, ele provavelmente está acompanhando tudo com aquele olho dele, que enxerga através das coisas – disse Aline.

- Ele deve ter visto o que aconteceu e não acho que fosse sério – disse Jorge.

- Mas como o Vítor Krum lançou as faíscas se estava estuporado? - Todos os quatro se calaram diante daquela pergunta sem acharem uma resposta. E Cinthia continuou: - E se ele sabe o que aconteceu, também devia ter ido contar aos outros professores, não acham?

Instantes depois o labirinto ficou estranhamente silencioso, como se nenhum dos campeões estivesse mais lá, pelo menos não acordados. Momentos de agonia e expectativa tomavam conta de todos, professores, alunos, juízes e famílias, e estes momentos pareciam se arrastar longamente sem que nada os interrompesse.

Mas então, do lado de fora do labirinto, alguma coisa apareceu do nada. Não era só uma coisa, eram pessoas!

- É o Harry! – exclamou Douglas da multidão. – O Cedrico... e o Cálice!

- Eles não estão se mexendo... - disse Aline receosa. – Será que...?

Mas as suas palavras foram interrompidas pelos gritos e vozes da multidão, que explodia em comentários. Os professores lá em baixo já estavam se aproximando dos dois campeões caídos, sendo que Dumbledore foi o primeiro a chegar. Todos os que estavam nas arquibancadas agora se empurravam e acotovelavam para descer até os professores e juízes e ver o que havia acontecido. Era uma sorte o gêmeos serem tão altos, assim eles abriam espaço no meio dos alunos para os outros passarem. Quando chegaram, Harry já estava de pé, mas Cedrico continuava estatelado no chão, e os comentários que ouviram não foram nada agradáveis.

"Ele está morto..."

"Cedrico Diggory morreu! Como?"

"Morto!"

Ninguém sabia como, e muitas garotas soluçavam e choravam diante da cena horrível. Dumbledore falava com os pais de Cedrico, extremamente perturbados, e insistiu para que Harry ficasse. Ele tentava acalmar a todos, dizendo o que sabia, e o Profº Moody levou Harry para dentro do castelo. Quando as coisas se acalmaram um pouco, Dumbledore procurou por Harry, mas não o encontrou. Fred, Jorge, Douglas, Cinthia e Aline assistiam a tudo um pouco longe do resto da multidão, chocados demais para terem qualquer outra reação.

Ao ver o diretor procurando por Harry, Cinthia comentou com os outros: - Será que o Moody fez bem em levar o Harry para o castelo?

Dumbledore pareceu ouvir, já que ordenou para que Minerva e Snape o acompanhassem até o castelo, e rumou para lá com passos apressados.

Alguns professores dispersaram a multidão, ordenando que os alunos voltassem para os dormitórios como de costume. A Profª Sprout acompanhou os pais de Cedrico até o castelo, e o Ministro da Magia, Cornélio Fudge, perguntava aos professores restantes o que tudo aquilo significava.

À caminho dos dormitórios, Fred e Jorge pararam no meio do corredor, puxando Aline, Douglas e Cinthia para um canto.

- Vocês não estão pensando seriamente em ir assim, numa boa, não é? – perguntou Fred como se aquilo já fosse esperados de todos.

- Tem algo muito estranho acontecendo, e nós não vamos dormir enquanto não descobrirmos o que é – disse Jorge.

- Mas o que a gente pode fazer? – perguntou Aline ainda meio abalado com os fatos.

- Provavelmente o Harry está na enfermaria. Vamos descobrir o que aconteceu! – disse Fred indo na frente com Jorge. Os outros três tiveram que apertar o passo para segui-los.

- Vocês acham que vão deixar a gente falar com ele agora, quando ele provavelmente não falou nada ainda para os professores? – disse Douglas trazendo um pouco de razão aos gêmeos.

- Bom... então podemos ficar ouvindo do outro lado da porta – disse Jorge. – Não vai ser nossa culpa se eles falarem um pouco alto, não é?

Eles chegaram à enfermaria, mas Madame Pomfrey informou que Harry ainda não estava lá, e sabia menos ainda do que estava acontecendo. Ela perguntou a eles se Harry havia se machucado muito e aonde ele estava, mas os gêmeos lhe responderam brevemente que também não sabiam. Pomfrey expulsou-os da enfermaria, dizendo que não era hora para ficarem importunando-a.

Andando lentamente pelo corredor, os cinco pensavam aonde Harry e os professores poderiam estar.

- Que tal na sala do Dumbledore? – sugeriu Aline.

- Não sabemos a senha para chegar lá – disse Douglas desanimado.

Os cinco ficaram parados no corredor, pensando no que havia acontecido, em como aquilo tudo era estranho, e apenas adivinhando o que teria acontecido realmente. Fred e Jorge não conseguiam pensar em nenhuma piada para amenizar a sensação de peso que todos sentiam, e nem achavam que era apropriado.

- Vocês notaram que Karkarof sumiu depois que Krum foi retirado do labirinto? – disse Cinthia de repente, e todos levantaram a cabeça. – Ele não estava com os outros juízes quando Harry voltou... e nem estava no meio da multidão que se formou em volta dele.

- Ele pode ter ido ao banheiro – disse Fred.

- Você acha? – disse Cinthia, e Fred respondeu com um sorriso sem graça.

- Você está dizendo que ele pode ter alguma coisa a ver com o que aconteceu? – perguntou Aline.

- Só estou dizendo o que eu vi – disse Cinthia não querendo dizer as suas suspeitas.

Mas logo eles ouviram passos vindo do corredor, e como eles deveriam estar nos dormitórios, se esconderam na curva mais próxima para ver quem estava passando. Ficaram um pouco surpresos ao ver Snape, mas antes que pudessem falar muito o professor passou novamente pelo corredor com Madame Pomfrey.

- Vamos segui-los! – disse Douglas quando eles saíram da linha de audição deles. – Provavelmente vamos escutar algo interessante.

Eles seguiram os dois, e quando chegaram perto da sala de Alastor Moody ouviram Snape dizer:

- Moody está muito fraco. Ficou sobre a Maldição Imperius durante todo o ano letivo.

- E quanto à ele? – os garotos ouviram Madame Pomfrey perguntar, mas quem respondeu foi a Profª Minerva, que também estava na sala.

- Ele não deve sair da sala, Cornélio Fudge vai interroga-lo. – Eles notaram que havia um leve tom de indignação na voz da professora, como se ela não quisesse permitir que o outro recebesse cuidados.

- Mas ele não parece muito bem... – insistiu Madame Pomfrey, mas Minerva a interrompeu novamente:

- É porque ele está sobre o efeito do Veritasserum, Papoula! Agora, acho que Moody precisa de cuidados mais urgentes.

O tom inflexível na voz da professora fez com que Madame Pomfrey se calasse. Eles ouviram o professore Snape murmurar alguma coisa, e logo em seguida dois pares de passos se dirigiram até a porta.

- Escondam-se! – murmurou Aline, e bem a tempo. Snape passou com Moody flutuando ao seu lado. Mas não era o Moody que lembravam, a juba de cabelos estava cheia de falhas e bastante desgrenhada, e Madame Pomfrey carregava a perna de madeira dele e o olho mágico.

Depois que os dois se afastaram, os cinco saíram de trás das armaduras e se entreolharam.

- O que será que aconteceu com ele? – perguntou Jorge. – E quem manteve um auror sobre a Maldição Imperius por tanto tempo assim?

- Talvez seja o tal cara sobre o efeito do Veritasserum – disse Aline indo dar uma espiada na fechadura da porta, tomando muito cuidado para não fazer barulho. A Profª McGonagall estava na sua frente, andando de um lado para o outro. Quando ela finalmente saiu da frente e Aline pôde ver que mais estava na sala, deu alguns passos para trás ao reconhecer o homem caído no chão.

- O que foi Aline? Quem está lá? – perguntou Douglas indo ampara-la.

- Crouch... Bartolomeu Crouch... - disse ela quase não acreditando nas próprias palavras.

- Mas ele deveria ser um dos juízes do Tribruxo – disse Fred. – O que ele está fazendo aí?

- Não esse Crouch! – disse Aline impaciente, mas sempre em um sussurro para não chamar a atenção da Profª Minerva. – O filho dele! Eles tem o mesmo nome, mas... não é possível...

- O que é tão extraordinário assim? – perguntou Jorge.

- Supões-se que ele tivesse morrido em Azkaban. – Todos a olharam chocados com aquela informação e estupefatos por ela saber daquilo. Aline explicou: - Depois que o Moody veio dar aulas para a gente, eu pesquisei um pouco na biblioteca sobre o período em os aurores tiveram mais trabalho, sabe, quando ele ganhou aquele olho esquisito. Li sobre alguns julgamentos de pessoas que praticavam as artes das trevas e alguns jornais da época que estavam na seção restrita falavam dos acusados. O Crouch sentenciou o próprio filho como culpado e mandou-o para Azkaban, onde ele morreu pouco tempo depois.

- E você tem certeza de que era ele lá dentro? – perguntou Douglas.

- Eu vi umas fotos dele nos jornais. Mesmo tendo se passado alguns anos e ele envelhecido um pouco, eu tenho certeza de que é ele naquela sala.

- Isso pode explicar porquê o Crouch pai não tem comparecido ao torneio – disse Cinthia de cabeça baixa, pensando. – Mas ainda não sei direito como os dois fatos podem se encaixar.

Nesse instante, os cinco garotos sentiram um frio repentino e reconheceram na hora o que era. Eles se esconderam atrás das armaduras novamente e logo ouviram passos vindo pelo corredor. Mas uma voz abafava os passos que se aproximando, esbravejando furiosamente.

- Fudge, você sabe que Dumbledore não permite que essas coisas entrem em Hogwarts! – sem dúvida era a voz de Snape. – A sua segurança não corre risco nenhum perto de alguém semi-desacordado!

Os três pararam perto de onde os garotos estavam, e o dementador que acompanhava o ministro deu uma forte inspirada sentindo a presença deles. Mas Snape e Fudge pareciam exaltados demais para prestar atenção naquilo.

- Não questione as minhas escolhas de segurança. Se há um Comensal aí dentro toda a segurança é pouca. Vamos! – ele chamou energicamente o dementador, se dirigindo para a porta da sala. O dementador se reteve por um instante, sentindo a presença dos garotos, mas seguiu Fudge flutuando pelo corredor.

Eles ouviram McGonagall dizer com a voz um pouco alterada pela presença do dementador que Crouch ainda estava sobre o efeito do Veritasserum, e que era melhor interroga-lo. Mas o ministro pareceu chocado ao constatar que Bartolomeu ainda estava vivo, e mandou que o dementador desse ou beijinho nele, a pior arma dessas criaturas.

Enquanto a alma de Bartolomeu Crouch filho era sugada, Aline, Cinthia, Douglas, Fred e Jorge ouviram do lado de fora o grito de surpresa abafado da Profª Minerva, e um urro de raiva vindo de Snape. Houve uma breve discussão, como se os professores tentassem dizer a Fudge que o interrogatório dele revelaria muitas coisas importantes e que agora essas informações estavam perdidas. Mas Cornélio Fudge manteve o pé firme de que essa história sobre Voldemort ter voltado era apenas invenção de um louco. Eles saíram tempestuosamente da sala, indo diretamente para a enfermaria, onde Snape disse que Dumbledore estaria e poderia explicar melhor o que haviam ouvido de Crouch. O dementador os seguiu, mas virou em uma bifurcação diferente para sair do castelo por ordem de Fudge.

Os cinco saíram de trás das armaduras, tremendo um pouco por causa da presença do dementador. Cinthia era a que mais tremia por causa disso, mas também por causa do que ouviu.

- Um comensal... em Hogwarts? – disse ela incrédula. – Como foi possível? Quer dizer, Dumbledore não podia ser enganado assim, podia? E Vocês-Sabem-Quem está voltando? Isso não é possível!

- Calma agora – disse Jorge abraçando-a para que ela parasse de tremer. – Tem que ter uma explicação para tudo isso.

- E para que será que ele precisava do Moody para entrar aqui? – disse Aline. – Quer dizer, ele é um auror aposentado, não iria concordar em traze-lo para dentro sabendo que ele foi acusado de ser um Comensal.

- Vocês se lembram que ele estava sobre a Maldição Imperius? E todas aquelas falhas no cabelo de Moody? Além de que ele estava sem a perna e o olho mágico – disse Douglas. – Provavelmente o filho do Crouch estava usando o Moody para preparar uma poção Polissuco, aquela que Snape nos mostrou um mês atrás. Por isso ele sempre usava aquele cantil para tomar, era onde estava a poção. Assim ele se passava por uma pessoa acima de qualquer suspeita.

- É isso! – exclamou Cinthia de repente. – Quem colocou o nome de Harry no cálice, sendo que ele ficou bem surpreso quando isso aconteceu? Quem se ofereceu para levar o cálice para o labirinto hoje? O Fudge não quis acreditar que Vocês-Sabem-Quem está voltando, mas aposto como foi ele que o Harry encontrou ao tocar no cálice. Vocês viram que quando ele voltou estava segurando o cálice? Devia ser uma chave de portal, mas nenhum dos outros juízes parecia saber disso. E eles não iriam fazer uma tarefa que acabasse matando um dos campeões – nessa parte a voz de Cinthia falhou ao se lembrar da imagem do corpo de Cedrico estendido na grama.

- Isso não explica o sumiço de Karkarof – lembrou Fred.

- Bem, eu estou apenas fazendo suposições. Não sabemos se foi exatamente isso o que aconteceu, mas acho que o Karkarof podia estar apoiando o plano.

- Temos que descobrir o que está acontecendo – disse Aline resoluta. – De qualquer jeito, eles não vão esconder isso dos alunos por muito tempo, mas com certeza vão omitir alguns fatos.

Os cinco foram para a enfermaria, onde Dumbledore e Fudge mantinham uma discussão acalorada, mas o ministro sempre elevava a voz enquanto que Dumbledore parecia calmamente decepcionado com o comportamento dele. Eles ouviram Harry falar assim que encostaram os ouvidos na porta da enfermaria, e Cornélio respondeu como se a opinião dele não devesse ser levada em conta. Eles estavam falando das dores que Harry sentia quando Voldemort estava por perto, e ficaram surpresos, mas ficaram ainda mais quando Harry berrou que havia visto Lord Voldemort em pessoa. Ele deu nomes que os cinco do lado de fora não puderam entender muito bem, mas tiveram a certeza de ouvir os sobrenomes de McNair e Avery, além de Malfoy, o que já não era surpresa para Fred e Jorge. Infelizmente, Fudge ainda falava como se Harry estivesse mentindo e todos ficaram surpresos que ele estivesse tentando ignorar os fatos. E ele ignorava também as mortes conseqüentes dos fatos, tanto a de Cedrico Diggory como a do Sr. Crouch.

- Weatherby não vai gostar de saber disso – comentou Fred ao ouvirem a segunda morte, sabendo que o beijo do dementado não poderia ter matado o Bartô filho. Mesmo tentando fazer uma piada, sua voz não conseguiu amenizar o efeito daquelas palavras sobre os mortos.

- Acho que esse foi o jeito que ele achou para tirar o pai do caminho – disse Cinthia com a voz um pouco afetada.

A discussão continuou com Dumbledore dando sugestões do que Fudge poderia fazer para conter Voldemort o mais depressa possível, mas o ministro não parecia querer admitir que Voldemort havia voltado, se recusando terminantemente a seguir os conselhos do diretor. Fred, Jorge, Douglas, Aline e Cinthia ficaram chocados ao ver que o ministro estava mais preocupado com a imagem que passava do que com a segurança do país, disposto a ignorar uma ameaça só porque ela ameaçava perturbar a calma de todos, preferindo que as pessoas se sentissem falsamente seguras.

Dumbledore falava com uma calma surpreendente para a situação delicada em que se encontrava, mas Fudge não gostava de ser questionado e recebeu as palavras de Dumbledore como uma afronta. Mas o que os surpreendeu foi quando Snape levantou a voz para o ministro, aparentemente lhe mostrando algo. Quando ele falou da Marca Negra, Douglas olhou pela fechadura da porta e pôde ver que ele havia levantado a manga esquerda da veste, e do ângulo em que estava pôde ver nitidamente a Marca no braço do professor, falando brevemente para os outros o que via. Eles escutaram Snape dizer que aquela marca era o que Voldemort usava para chamar seus servos, e que Karkarof também tinha uma e fugiu quando foram chamados com medo da vingança de Lord Voldemort.

Os garotos estavam chocados com a revelação, mas esperavam que agora Fudge abrisse os olhos para o que o diretor dizia. Por mais que tudo aquilo fosse alarmante, os cinco mantinham uma alta quota de confiança em Dumbledore e sabiam que o diretor não mentiria diante de algo tão sério, muito menos que Harry faria isso. Mas o ministro, aparentemente sem mais argumentos, deu aquela discussão por encerrada dizendo que no dia seguinte entraria em contado com Dumbledore para discutir sobre a administração da escola.

Sabendo que ele sairia da enfermaria logo em seguida, Fred, Jorge, Aline, Cinthia e Douglas voltaram pelo corredor, virando em uma curva que o ministro não passaria ao sair. Alguns instantes depois eles ouviram os passos apressados do ministro passarem ali perto, e ele decididamente murmurava alguma coisa como "estão todos enlouquecendo, ele não pode ter voltado, é inconcebível..."

Mesmo os corredores parecendo calmo, nenhum dos cinco falou nada. Cada um tentava juntar os fragmentos dos últimos acontecimentos nas próprias cabeças e, principalmente, tentavam aceitar o inevitável: Voldemort havia voltado.

- Acho que aquilo explica o sumiço do Karkarof, não é? – disse Douglas quebrando o silêncio.

- Mas como Dumbledore permitiu que Snape lecionasse em Hogwarts sabendo que ele fora um comensal? – disse Aline abismada.

- Dumbledore sabe em quem confiar – disse Fred. – Vejam o Hagrid por exemplo, ele foi expulso de Hogwarts quando a Câmara de Slytherin foi aberta cinqüenta anos atrás, é meio gigante e adora monstrinhos de estimação, e mesmo assim Dumbledore conseguiu convencer outros a deixarem ele trabalhar em Hogwarts, e como professor.

- Não podemos nos esquecer daquela libélula charlatã que é a Trelawney – disse Jorge.

- Mas e quanto à Moody? – lembrou Cinthia, apagando o leve sorriso que começava a se formar nos rostos dos gêmeos.

- Tecnicamente Olho-Tonto-Moody era confiável – disse Douglas -, e não o seu sósia. Dumbledore contratou o verdadeiro, e não o impostor para o cargo de professor.

Alguns passos apressados no corredor fez com que os cinco se calassem, e Aline foi até a curva ver quem estava saindo da enfermaria, ficando surpresa.

- Vocês sabiam que o irmão de vocês também estava na enfermaria? – sussurrou ela se virando para os gêmeos.

- Não – disse Fred surpreso.

- Temos que saber o que vai acontecer daqui para frente – disse Jorge passando na frente dos outros. – Vamos! Ele pode saber da mais coisas sobre o que está acontecendo.

Os cinco correram por um pequeno trecho do corredor até avistarem Gui se dirigindo ao corujal.

- Ei! Gui! – chamou Fred, fazendo o rapaz se virar bastante surpreso.

- Vocês deviam estar na cama à essa hora! Todos vocês! – acrescentou ela ao ver que os gêmeos vinham acompanhados.

- Agora não é hora para bancar a mamãe – disse Jorge impaciente. – Sabemos o que está acontecendo, ouvimos quase tudo que se passou na enfermaria. Você podia nos contar o que você ouviu.

- Bem... eu não sei se devia...

- Qualé Gui! Vamos acabar Hogwarts daqui a um ano! Não acha que já somos crescidinhos o bastante para saber o que está acontecendo?

Fred estava com uma expressão bastante resoluta no rosto, e acabou convencendo o irmão mais velho.

- Tudo bem. Mas é melhor irmos para um lugar em que não passe muitas pessoas... o corujal, talvez. Eu preciso mesmo mandar uma carta para papai.

Os cinco foram para o corujal em silêncio. Quando chegaram lá, Gui lhes contou que Dumbledore não permitiu que eles fizessem perguntas à Harry, insistindo para ficarem em silêncio. Disse também que o diretor havia trazido um cachorro esquisito para fazer companhia a Harry, que era preto e muito grande. Mas o mais estranho era que o cão parecia entender as pessoas, já que ele rosnou quando Fudge disse que a palavra de Harry não era digna de crédito.

- Quanto à isso nós já sabemos o que o cão era, não é? – disse Douglas em um tom que só Aline pudesse ouvir, e ela concordou com a cabeça; só podia ser um animago.

Gui continuou narrando o que aconteceu depois, da Profª Minerva entrar discutindo com Fudge na enfermaria e tudo mais, revelando coisas que os cinco já sabiam, mas que serviram para confirmar a nova imagem que tinham do antes respeitável Ministro da Magia Cornélio Fudge. Ele continuou falando sobre o que veio depois, de como ficou surpreso ao ver que Harry estava acordado. Fred e Jorge o interromperam dizendo que já estavam do outro lado da porta quando Harry perguntou se Fudge andava lendo Rita Skeeter.

- Bom, acho que é só. – disse Gui procurando pena e pergaminho nos bolsos. – Ah, Dumbledore quer que papai alerte a todos de confiança no Ministério sobre a volta de Vocês-Sabem-Quem. Fudge com certeza vai tentar abafar o caso de hoje à noite, mas papai está bem colocado no meio daqueles incrédulos para convencer um monte de gente a abrir os olhos para a verdade.

Ele se sentou à um canto do corujal perto de uma das tochas, escrevendo rapidamente uma carta resumindo o que havia acontecido, e acrescentando o pedido de Dumbledore.

Enquanto ele escrevia a carta, Fred, Jorge, Aline, Douglas e Cinthia ficaram no outro canto em silêncio. Não conseguiam pensar em nada além do que acabaram de ouvir, do terror com que aquele dia seria lembrado caso a comunidade bruxa tomasse conhecimento dos fatos reais. Aline, Douglas e Cinthia, todos os três moravam no Brasil, suas famílias estavam lá, mas quem garantiria que as garras de Voldemort não atravessariam oceanos caso ele tivesse espaço para agir? Haviam ouvido e lido histórias horríveis sobre a época em que ele estava no poder, e temiam que ela voltasse.

- Em algum lugar, lá fora, ele está vivo. – Disse Cinthia observando as estrelas do por uma das janelas do corujal. – Vivo e regenerado.

Jorge a abraço para conforta-la sem ter palavras de consolo. Dizer para não se preocupar? Dizer que logo tudo iria passar? Não, todos sabiam que aquilo não acabaria logo, e não havia como não se preocupar com aquilo. Só o que podiam fazer era esperar, e tentar viver a vida o mais normal possível.

Gui se levantou, pegou uma dar corujas da escola e amarou a mensagem na pata dela, soltando-a na noite. Os seis observaram a coruja voar no céu escuro por alguns instantes, até que Gui os lembrou de que os professores não gostariam de pegá-los fora da cama.

- É melhor nós irmos agora – disse ele. – Não há muito mais o que fazer e não adianta ficarmos a noite inteira acordados nos preocupando com isso. Ora, vamos! – disse ele ao ver as caras desanimadas deles. – Vocês sabem que Dumbledore não vai permitir que ele volte com força total. Não importa o que Fudge diga, Dumbledore vai continuar lutando para o bem de todos nós até o fim.

- E... você não vai contar à mamãe que ficamos espionando por aí, não é? – disse Fred, fazendo todos sorrirem.

- Não, não vou.

- Graças a Deus! – exclamou Jorge. – Ela realmente me assusta quando fica zangada.

Com os corações um pouco mais leves, Fred, Jorge, Aline, Douglas e Cinthia saíram do corujal e desceram pelo lance de escadas. Gui puxou Fred e Jorge um pouco para trás do grupo, falando baixo.

- Como eu quase não tive tempo de falar com vocês enquanto estive em Hogwarts preciso que me esclareçam algumas coisas que ninguém me contou.

- Como o quê? – disse Fred fazendo sinal para os outros três continuarem andando.

- Quem é a garota de cabelo comprido? – disse ele com um sorriso divertido para Jorge.

- Ah, eu não te contei? Por que será? É tão gratificante ter a família pegando no pé por causa de uma namorada...

- O Percy sabe disso melhor que ninguém, não é mesmo? – disse Gui devolvendo a piadinha na mesma moeda.

- O Percy não conta – disse Fred antes que Gui resolvesse pegar no pé dele também. – Só fizemos o que se esperaria de alguém que se depara com a maior esquisitice da face da Terra: uma pessoa gostar do Weatherby.

- Você só diz isso porque está atrasado, companheiro – disse Gui, mas ele não sabia que havia cutucado um ponto perigoso em Fred.

- Eu acho que não fui bem claro – disse Fred um tantinho irritado. – Nós dois temos namoradas, ao contrário de irmãos que usam brincos com dentes pendurados como talismã anti-garotas.

- Você acha que eu ia conseguir argumentar com alguém em árabe? Não importa, agora eu quero que os dois me contem direitinho essas histórias – disse Gui passando os braços em volta dos ombros dos gêmeos, impedindo-os de se afastar dele. – Tenho certeza que a Mulher Gorda não vai se importar que eu entre na sala comunal da Grifinória mais uma vez, ela já foi legal comigo em outras épocas.

N/A: É de família, sabe... importunar aberrações está no sangue! Infelizmente, as famílias trouxas também possuem esse estranho gene.

Nos dias que se seguiram até o resultado dos exames, todo o castelo parecia ter parado no tempo, e todos esperavam informações do lado de fora dos muros de pedra. Alguns dos alunos acreditavam nos artigos de Rita Skeeter e começaram a espalhar boatos de que Harry matara Diggory, boatos que Fred e Jorge faziam questão de aumentar a ponto do ridículo, fazendo com que muitos deixassem de acreditar nesse falatório.

Os resultados chegaram, e, como sempre, Aline havia sido a melhor aluna do ano, com notas máximas em quase todas as matérias, incluindo Runas Antigas. Cinthia teve uma média um pouco mais alta que o normal, graças a Feitiços, Trato com Criaturas Mágicas e Aritmância, suas mataria favoritas. Fred e Jorge tiveram os resultados esperados, mas poderiam ter ido melhor se não tivessem gastado tempo inventando os logros, algo com que eles não se importavam muito. Douglas também teve uma média boa, graças a Defesa contra a Arte das Trevas, o que o irritou um pouco pois tudo o que aprendera foi ensinado por um Comensal disfarçado.

Agora, no Expresso Vermelho que os levaria de volta para Londres, os cinco jogavam algumas partidas de snap explosivo. Agora era mais fácil não pensar no que havia acontecido a alguns dias atrás, e eles haviam retornado à rotina de todo dia.

- Não é estranho que aquela enxerida da Rita não tenha escrito nada para o Profeta Diário sobre a última tarefa do Torneio? Dumbledore deve tê-la calado para proteger o seu menino de ouro...

Os cindo ouviram uma voz desdenhosa passando pelo corredor e reconheceram a cabeça loura que passou pela janela da cabine deles. Fred e Jorge se levantaram e abriram a porta, vendo que Malfoy se dirigia para a cabine de Harry.

- Vamos ver o que ele vai fazer – disse Fred saindo da cabine.

- Talvez precisemos segurar o Roniquinho para ela não fazer nada de muito estúpido – acrescentou Jorge saindo também.

- Não perderíamos muita coisa internando o Malfoy em um hospital – disse Douglas fechando a porta em seguida.

Ao saírem do trem, Cinthia, Aline e Douglas esperaram Fred e Jorge sair, sendo que eles estavam demorando um pouco. Quando finalmente desembarcaram, viram que os gêmeos estavam com caras estranhas, e Jorge vinha trazendo uma bolsa que retinia, e olhava surpreso para ela.

- O que é isso? – perguntou Aline quando eles se aproximaram.

- O prêmio do Tribruxo – disse Fred ainda surpreso com a idéia de ter mil galeões em mãos, que foi a mesma reação dos outros três.

- Como vocês conseguiram isso? – perguntou Douglas.

- Harry nos deu – respondeu Jorge. – E teria nos enfiado goela abaixo se recusássemos mais uma vez.

- Ele disse que não queria o ouro, mas que podíamos usa-lo para a loja de logros, já que vamos precisar de muitas risadas em breve – disse Fred abrindo o malão para guardar a bolsa cheia de galeões. – Mas tinha uma condição.

- Qual? – perguntou Cinthia.

- Que comprássemos novas vestes à rigor para o Roniquinho – disse Jorge – ou no próximo baile ele seria confundido com uma árvore.

Depois que atravessaram a barreira, Aline, Cinthia e Douglas se despediram de Fred e Jorge, e viram Angelina indo se despedir deles também. Os três encontraram Luciana e Jonathan e pegaram a chave de portal que os levaria até o porto. Os três se perguntavam se tudo estaria calmo no Brasil, se teriam um verão (inverno) como todos os outros, se poderiam encontrar uma Inglaterra pacífica quando voltassem, se tiverem para onde voltar.