Capítulo 52 – Recuperando a "Lady"

No resto das aulas daquela semana, Aline ficou encarregada de ficar com Cinthia durante as aulas conjuntas, e aproveitou para falar com Luciana sobre o plano. Como Cinthia a avia ajudado a começar o namoro com Olívio dando aquela sugestão do cartão cantado, Luciana não hesitou em cooperar. Ela perguntou por que Aline também não pedia ajuda a Jonathan, já que Cinthia passava muito tempo jogando xadrez bruxo com ele, e Aline mudou de assunto habilmente. Sabia que não era bom ficar espalhando que Jorge tinha ciúmes dele, ou isso faria com que Jonathan aproveitasse esse período da briga.

Na primeira aula que tiveram em conjunto, Cinthia notou quando Jorge entrou na sala. Ela fingiu não tê-lo visto, mas pôde sentir o olhar dele fixo nela. Mas Jorge não tentou falar com ela, e nem Aline falou uma palavra sobre ele, era parte do plano. No meio da aula, enquanto todos anotavam o que o Profº Flitwick ditava, Cinthia se virou para trás para ver se Jorge ainda estava de olho nela, mas ele escrevia as anotações como todo mundo. Mas o pior para Cinthia foi ver que ele estava com uma cara melancólica, extremamente triste.

"Ele merece passar por isso depois do que fez" pensou ela com uma expressão decidida no rosto, voltando às suas anotações.

Aline notou que aquilo não teve efeito externo em Cinthia, e decidiu partir para a segunda etapa do plano mais cedo. "Já que a carinha de cachorro abandonado não funcionou, vamos ter que começar a usar medidas mais drásticas! É uma pena que Jorge consiga fazer essa cara sem precisar fingir."

No dia seguinte, Fred foi falar com Cinthia para pedir a capa da invisibilidade que havia ficado com ela. Jorge disse que ia precisar da capa, mas não quis contar a ninguém o plano que havia feito para voltar com Cinthia, já que Aline só havia concordado em ajudar um pouquinho no começo. Fred disse a Cinthia que era ele quem iria usar a capa sem mencionar nenhuma vez o nome de Jorge, mas Aline havia pedido para ele reparar na reação dela. À princípio, Cinthia ficou um pouco surpresa por Fred vir falar com ela, mas como ele não tinha nada a ver com o assunto ela conversou normalmente com ele, e foi buscar a capa logo em seguida.

Quando Fred contou a conversa perfeitamente normal que tiveram, Aline abriu um largo sorriso.

- Bem, o plano está funcionando melhor do que eu pensava! – disse ela juntando as mãos com entusiasmo.

- Mas o que isso tem de mais? – perguntou Douglas.

- Bem, eu achava que ela não tinha sido afetado pela cara de cachorrinho abandonado do Jorge porque ela parecia realmente indiferente quando te via nas aulas. Mas era só fingimento. Se isso não tivesse amolecido um pouco o coração dela, aposto como ela teria tido uma conversa bem fria com você, Fred, já que vocês são gêmeos e ela não ia conseguir falar direito com alguém tão parecido com o Jorge.

- Não, ela falava normalmente – confirmou Fred.

- Ela só está tentando parecer fria – continuou Aline -, e está conseguindo, mas é nessas pequenas coisas que a gente percebe que ela não está tão zangada como antes.

- E qual é a próxima parte do plano? – perguntou Jorge. Ele queria falar logo com Cinthia, esclarecer tudo e pedir desculpas, mas enquanto ela não se acalmasse seria praticamente impossível. Ele estava sofrendo muito com o que havia feito, e não precisava realmente fingir que estava triste porque era exatamente assim que ele se sentia.

- Hum... eu acho que vamos ter um problema – disse Aline desanimada. – Eu não esperava que o plano chegasse à este ponto tão rápido, e com o jogo de quadribol de amanhã ele pode regressar um pouco.

Infelizmente, o jogo de amanhã seria Grifinória x Corvinal, e o fato de que eles jogariam um contra o outro poderia apenas fazer com que Cinthia acentuasse sua rivalidade com Jorge, e até demonstrasse isso em campo com a ajuda dos balaços.

- Acho que você não vai poder jogar amanhã – disse Aline, e imediatamente os outros três responderam:

- COMO É QUE É?!?!

- Ele não pode perder o jogo de amanhã! – disse Fred furioso.

- Nós não temos outro batedor reserva, se ele faltar podemos ter muitas faltas! – defendeu Douglas.

- Mas não tem outro jeito! Se o Jorge jogar evitando prejudicar a Cinthia ou o time da Corvinal ela vai achar que é exibicionismo, e se você jogar como se nada tivesse acontecido ela vai achar que é indiferença. A solução é você não jogar – disse ela séria para Jorge.

- Mas se ele não entrar no jogo vamos ser forçados a escolher outro batedor para substituí-lo – disse Fred -, e isso pode ser um desastre para o time. Não podemos perder um jogo por causa deu um burro que pode acabar se auto-nocauteando com o bastão.

- Acho que eu posso me acidentar logo no começo do jogo – disse Jorge lentamente. – Não vamos poder me substituir e assim nós não arriscamos o time com um batedor de meia-tigela.

- Você tem certeza que quer sair do jogo assim? – disse Fred.

- Tenho – disse Jorge. Ele estava disposto a fazer esse sacrifício por Cinthia, mas Aline não entendia o que havia de tão errado em perder um joguinho de quadribol.

- Bom, então trate de se machucar bastante – disse ela sem realmente falar sério. – Como se diz no teatro, quebre uma perna. Madame Pomfrey com certeza vai saber curá-la fácil, fácil.

Foi o que Jorge fez, mas ele não quebrou só a perna.

Logo nos primeiros três minutos de jogo, Jorge ficou pensando em como poderia se machucar seriamente. No quarto minuto ele achou a oportunidade. Quando viu que um balaço ia acertar Alícia, ele mergulhou como sempre para interceptar a bola. Ele ergueu o bastão, mas não o rebateu como das outras vezes, simplesmente deixou-se ser atingido. O balaço havia sido lançado com muita força, quebrando pelo menos três costelas de Jorge enquanto ele era derrubado da vassoura. Madame Wooch evitou que ele se espatifasse no chão com um feitiço, mas ele quebrou uma perna assim mesmo, e ela o enviou diretamente para a ala hospitalar. O jogo continuou normalmente, e o time da Grifinória conseguiu ganhar mesmo com um jogador a menos. Mas o que poucos notaram foi que o balaço havia sido lançado por Cinthia, e ela foi uma das pessoas que percebeu o que havia acontecido.

Remendar ossos era rápido, mas doloroso, como Jorge acabou descobrindo depois desse jogo. Madame Pomfrey consertou os seus quatro ossos quebrados rapidamente, mas ele tinha que esperar um dia até que eles estivessem fortes o suficiente. Teve que passar a noite na enfermaria, perdendo a festa de comemoração na sala comunal da Grifinória. Mas Fred, Aline e Douglas trouxeram alguns pedaços da festa para a enfermaria, animando um pouco Jorge com todo o tipo de doces que puderam afanar da cozinha. Mas a conversa deles estava aparentemente atrapalhando o silêncio das outras camas vazias da ala hospitalar, e Pomfrey expulsou-os de lá dizendo que Jorge precisava descansar se quisesse sair da enfermaria ainda amanhã.

Quando acordou na manhã seguinte, Jorge já se sentia bem melhor, e Madame Pomfrey retirou as ataduras dele dizendo que havia recebido mais algumas visitas durante à noite, e que Fred tentara dar a ele um chuveiro do vestiário de quadribol, que foi confiscado imediatamente.

Enquanto juntava os doces de cima da mesa de cabeceira que Aline, Douglas e Fred haviam comprado em Hogsmeade para ele, além de alguns cartões de Rony, Gina e alguns amigos deles, Jorge reconheceu a letra de um dos cartões. Era de Cinthia, e ele abriu-o imediatamente.

Jorge

Desculpa pelo balaço, mas mesmo não sendo a minha intenção acertá-lo não posso dizer que não tenha sido bem merecido. Eu não queria levar a minha raiva para o jogo, e aprecio o seu gesto para não brigar comigo mesmo no campo de quadribol. Eu sei que você fez aquilo de propósito e sei que foi difícil para você perder uma partida como teria sido difícil para mim também, mas não precisa mais fazer isso caso tenhamos outro jogo.

Cinthia

"Isso não me diz muita coisa" pensou ele guardando o cartão no bolso com cuidado. Iria mostrá-lo a Aline, talvez ela pudesse entender o que Cinthia estava pensando ao escrever aquele bilhete. Mesmo assim, ele ficou desapontado ao ver que ela não dizia "melhoras" ou "sare logo", e estava com um pressentimento ruim sobre o significado oculto do bilhete.

- Bom, não é um sinal exatamente ótimo, mas também não é ruim – disse Aline depois de ter lido o bilhete. E mais ma vez Jorge se sentiu perdido.

- Mas o que significa afinal?

- Que ela sabe que você está sendo cuidadoso com ela.

- Isso é um tanto óbvio – disse Fred acabando de ler o bilhete e entregando-o a Douglas. – Diga uma novidade.

- Bom, pelo menos ela não está mais com raiva de você. Se ela estivesse com raiva ela teria dito que foi uma atitude infantil e teria feito pouco caso. Como ela reconheceu o seu "sacrifício" – Jorge não gostou do tom de descaso de Aline, mas fingiu não notar – podemos concluir que ela também quer separar esse problema dos jogos. Realmente é uma atitude diplomática. Eu nunca agiria assim.

- E qual é o próximo passo do plano? – perguntou Jorge um pouco mais animado, sentindo que um raio de sol estava abrindo um buraco no meio da bosta do poço em que estava.

- Não sei direito. – "OK! De quem foi a idéia de descarregar mais um caminhão de fertilizante para tapar aquele único buraquinho de esperança?" – Se ela ainda estivesse com raiva, ou se mostrasse alguma vontade de fazer as pazes, eu até teria alguma idéia para o resto do plano, mas como ela está indiferente vai ser um pouco mais difícil. Depois do almoço eu digo qual vai ser o próximo passo.

Durante toda a manhã Jorge ficou em um estado de ansiedade insuportável, mas como Aline conhecia Cinthia a mais tempo ele preferiu deixar que ela pensasse em um jeito de resolver aquilo, mesmo que quisesse colocar logo a parte final do plano em prática.

No almoço, Aline parecia pensativa, e, como se todos os quatro tivessem combinado, acabaram o almoço mais cedo que os outros.

- OK, já sei o que fazer daqui em diante – disse Aline em um tom que sugeria que eles planejavam assaltar a um cofre de segurança máxima no centro do Ministério. – Ela não está mais com raiva, mas acho que ela ainda não acredita que você está realmente arrependido pelo que fez, Jorge. Precisamos continuar com a tática de quinta e sexta-feira, mas tem que ter mais encontros no corredor entre as aulas. Vou falar com a Luciana, ela está em uma posição mais favorável para fazer ela ver que você está muito triste com tudo isso. Acho que essa semana vai ser o suficiente para amolecê-la. Depois disso, Jorge, você tem permissão para colocar o seu plano em ação.

- OK! – disse Jorge convicto.

- Mas você baseou o seu plano naquilo que a gente te disse, né? – perguntou Douglas se lembrando dos conselhos que Jorge não podia se esquecer de jeito nenhum.

- Claro. Com isso vocês não precisam se preocupar.

- Mas qual é o seu plano exatamente? – perguntou Fred.

- Eu prefiro não contar – disse Jorge se levantando da mesa e deixando os outros três intrigados.

Durante toda a semana Aline, Douglas, Fred e Luciana fizeram com que Cinthia visse o quanto Jorge estava arrependido, se certificando de que ela e Jorge cruzassem nos corredores quase ao acaso, e nessas horas Cinthia via o quanto Jorge parecia estar sofrendo com a falta dela. Na sexta-feira, Luciana se sentou com Cinthia na aula de Adivinhação, e executou a sua parte final no plano, puxando o assunto 'Jorge' para a conversa.

- Nossa, como ele tem estado deprimido nesses últimos dias – disse ela.

- De quem você está falando?

- O Jorge. É estranho que ele não esteja pelos corredores estourando bombas de bosta ou fogos Filibusteiros a mais de uma semana. Eu nunca vi ele tão deprimido.

- Ah, é mesmo, né.

Luciana notou um leve tom de arrependimento na voz de Cinthia, e sabia que ela odiava fazer os outros sofrerem.

- Acho que... - começou Cinthia, mas não terminou a frase para Luciana. – Nada não. Esquece.

"Será que eu já não fui dura o suficiente com ele?" pensou Cinthia. "Acho que agora já da para voltar a falar com ele. Não... ainda não."

Depois do jantar, Luciana teve oportunidade para contar aos outros quatro a reação de Cinthia, de que ela estava com pena do sofrimento do Jorge. Aline disse que essa era a hora para ele colocar o plano de reatação em prática e insistiu para que ele contasse o que iria fazer. Luciana também ficou curiosa como os outros e pediu também para ele contar.

- Eu já disse que não vou contar para vocês! Se eu estiver de bom humor depois de ter terminado o plano eu conto para vocês.

- Se o seu plano tiver funcionado, você quer dizer – disse Luciana.

- Ele vai funcionar.

Cinthia estava voltando para a sala comunal da Corvinal no final da tarde de sábado quando viu um envelope rosa-choque preso em uma das armaduras do corredor. Nele estava escrito "Para a Srta. Christino". Curiosa, Cinthia o abriu e tirou um curto e estranho bilhete de dentro que dizia simplesmente "Vá até o 6º andar". Mesmo sabendo que podia ser uma brincadeira boba Cinthia subiu os outros quatro lances de escada restantes e achou outro bilhete preso no final do corrimão, mas agora só tinha uma seta verde-limão no papel para indicar o caminho. Achou outra seta em uma bifurcação (laranja-berrante) e mais outra (amarelo-gema). Isso se repetiu por vários corredores, e o caminho parecia a Cinthia um tanto familiar.

Quando uma das setas apareceu flutuando no ar ela viu que apontava para uma porta. Era a sua sala do sexto andar. E na porta havia outro envelopezinho pendurado, mas dessa vez era endereçado para "Srta. Pelúcia".

- Tão previsível – disse Cinthia pensando alto. Ela abriu o envelope e nele só havia escrito "Por favor, entre. Preciso falar com você."

Cinthia não sabia se entrava ou não, afinal, ainda estava um pouquinho ressentida pelo que ele havia feito. Mas ele só queria falar com ela. Cinthia não queria mais ver ele todo triste nas aulas e nos corredores, e quem sabe se colocasse um ponto definitivo no assunto ele acabava voltando ao normal.

Ela entrou na sala devagarzinho, deixando a porta entreaberta. Não havia sinal dele no lugar, o que era muito estranho. Cinthia andou até o meio da sala e escutou alguns passos entrando, e a porta se fechou logo em seguida. Ela ouviu um sussurro e de repente toda a sala se encheu de flores.

Nas paredes e colunas começaram a crescer primaveras e glicínias; por todo o chão haviam grandes arbustos de jasmins brancos e hibiscos coloridíssimos; e bem na sua frente, no centro da sala, surgiu rapidamente um único pé de camélia, cheio de flores alvas com as pontas das pétalas levemente rosadas, e ao seu redor brotaram flores-de-maio vermelhas e alaranjadas. Toda a sala se coloriu do verde vistoso das plantas e arbustos, enchendo o ar com os perfumes doces dos jasmins e glicínias.

Cinthia ficou simplesmente maravilhada com aquela visão; eram todas as suas flores favoritas, mas um outro sussurro a despertou e uma música começou a tocar vinda de lugar algum.

Lady, I'm your knight in shining armor and I love you

You have made me what I am and I am yours

My love, there's so many ways I want to say "I love you"

Let me hold you in my arms forever more

Cinthia olhava em volta, procurando Jorge no meio dos arbustos e colunas, e logo o viu tirando a capa da invisibilidade. Ele estava parado perto da porta, e provavelmente a havia seguido pelas escadas para se certificar de que ela entraria.

You have gonne and made me such a fool

I'm so lost in your love

And oh, we belong together

Won't you believe in my song?

Assim que ele jogou a capa a um canto e viu que Cinthia o observava, Jorge segurou um microfone imaginário e começou a fingir que era o cantor, fazendo caras engraçadas enquanto tentava acompanhar a música. Cinthia se virou de costas para ele e andou até a janela de vitral, que agora estava alaranjada por causa do pôr-do-sol. Ela continuou de frente para a parede para que Jorge não a visse rindo, e a música continuava tocando.

Lady, for so many years I thought I'd never find you

You have come into my life and made me whole

Forever let me wake to see you each and every morning

Let me hear you whisper softly in my ear

Por mais que tentasse, Cinthia não conseguia deixar de prestar atenção na letra de alguma música que ouvia, e distraída assim ela nem escutou os passos de Jorge se aproximando. Ela só se deu conta da proximidade dele quando viu que ele segurava uma das camélias acima da sua cabeça. Jorge sacudiu a flor murmurando um quase inaudível "Para você", e Cinthia a pegou. Ela não sabia o que fazer e tampouco conseguiu se virar para ele.

- Jorge...

- Só escute a música – disse Jorge bem baixinho às suas costas, como se tivesse lido os pensamentos dela.

In my eyes I see no one else but you

There's no other love like our love

And yes, oh yes, I'll always want you near me

I've waited for you for so long

O coração de Cinthia batia forte, sentindo o quanto ele estava arrependido como se fosse algo tangível como a respiração dele em seu pescoço. Cinthia não precisava ouvira até o final da música para saber o que Jorge estava sentindo, mas fez isso porque também não tinha coragem de falar que queria voltar para ele, que sentia falta dele. A vontade de Jorge de abraçá-la era forte, mas ele não sabia se ela continuava brava com ele, por isso se conteve.

Lady, your love's the only love I need

And beside me is where I want you to be

'Cause, my love, there's something I want you to know

You're the love of my life

You're my lady

A música acabou, mas a parte instrumental continuou tocando baixinho. Cinthia se virou lentamente para Jorge sem conseguir encará-lo. Tudo o que conseguia era olhar para a flor que ele lhe dera e pensar que, apesar do que ela o fez passar durante a semana, ele estava se desculpando.

- Você me perdoa agora, por favor? Eu não agüento mais ver você passar no corredor sabendo que você ainda esta zangada comigo. Eu prometo que nunca, nunca, nunca mais eu...

- Não precisa dizer. – ela o interrompeu. – Eu sei que a partir de agora você vai cumprir essa promessa.

Cinthia levantou o rosto, e Jorge viu que os olhos dela estavam marejados com lágrimas. Ela encarou aqueles lindos olhos azuis que voltavam a ser seus, e apenas seus. Ela sorriu e tentou beijá-lo, mas mesmo ficando nas pontas dos pés ela só conseguiu roçar a testa no queixo dele. Os dois começaram a rir.

- Eu tinha me esquecido dessa parte – disse ela.

- E eu quase esqueci o quanto era bom ficar com você.

Jorge a abraçou forte, como se tivesse medo de perdê-la oura vez.

- Eu te amo, sabia?

- Bem, como é só a primeira vez que você me diz isso hoje, eu não posso ter tanta certeza – disse Cinthia brincando, e Jorge a beijou de surpresa, fazendo com que ela perdesse o fôlego naquele beijo longo e apaixonado.

- Isso é o suficiente pra te convencer? – disse ele com um sorrisinho divertido depois que seus lábios se separaram.

- Hum, ainda estou um pouquinho indecisa. Dá para repetir?

Mas antes que eles se beijassem outra vez, ouviram um som abafado vindo da porta, quase como risos, seguido de um "Quietos!" Só então notaram que ela havia sido entreaberta. Cinthia e Jorge foram até a porta e, como se adiantasse alguma coisa, os espiões fecharam-na antes que eles chegassem muito perto.

Jorge abriu a porta de supetão e se deparou com as quatro criaturas de caras mais lavadas que ele já havia visto na vida: Aline, Douglas, Fred e Luciana.

- Que coincidência! – disse Jorge sarcasticamente. – Todos se encontraram aqui por acidente?

- Você leu a minha mente! – disse Fred.

- O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou Cinthia.

- Boa pergunta – disse Douglas se virando para os outros. – O que vocês estão fazendo aqui?

- É que o Jorge não quis contar o que ia fazer para voltar com você – disse Aline lançando um olhar assassino para Douglas -, e ficamos curiosos.

- E como contribuímos para a unificação do casalzinho, achamos que a cena final deveria ser compartilhada com todos os envolvidos – disse Luciana. – E que estilo, hein!

- OK, OK. Agora que já interromperam a "cena final", poderiam sair? – Jorge pediu educadamente.

- Não antes de ver o final da cena – disse Fred.

- Pensando bem, para vocês já teve um final – disse Jorge indicando o corredor para eles.

- Mas sem um bis? – insistiu Luciana.

- ...

Cinthia puxou Jorge pela gravata e impediu que ele respondesse, beijando-o! Luciana fez um "Uhuuu!" para animar a torcida. Quando Cinthia o soltou, estava mais vermelha que um pimentão, mas estava sorrindo.

- Assim eles param de falar e a gente tem o nosso "final feliz" – explicou ela ao ver a cara surpresa de Jorge, ficando ainda mais vermelha.