Capítulo 2: Sentimentos
- ... e você irá também visitar a Nymphadora, não temos tempo para isso hoje, e precisamos mantê-la informada da situação.
- Kingsley não faria isso?
- Como se você achasse uma tortura isso. Deixe de ser hipócrita, estamos com pressa. – disse Snape, ríspido.
- No final do dia eu passo pelo St. Mungus. – evitou encarar Severo, percebia o tamanho de sua malícia.
Teve certeza da armação, por que justamente ele? Teimava em não admitir o prazer em cumprir a ordem, e ficou irritado por ansiar pelo entardecer...
Chegou no quarto e observou os outros doentes, todos acordados. Tonks era a única virada para a parede. Aproximou-se, na esperança de conseguir ser frio com ela e apenas dar-lhe as notícias rotineiras. Contudo, as lágrimas nunca vistas antes o fizeram esquecer os planos...
- Tonks, o que foi?
- Diz pra mim que o Sirius tá vivo. – disse, entre soluços.
- Não. Sinto dizer, mas ele morreu. – engoliu, em seco.
- Você deve ter se sentido tão mal estes dias...
- Não tanto quanto você está sentido-se agora, não é? – a mágoa aflorou.
- Ele era um grande amigo.
- Eu também achava isso.
- Como assim, achava? Lupin, por que você está assim comigo?
- Estou com muitas obrigações, é normal não ter muito ânimo. – mentiu.
Os pequeninos soluços ainda se faziam notar, Lupin esforçava-se para não olhar demais para ela, porém sentia que era observado... e resolveu usar a frieza:
- Quando acha que vai sair daqui?
- Uma semana, talvez... não posso voltar antes porque...
- "timo, era o que Moody mandou-me verificar, somente. – cortou-a.
- Ele também pediu para ser grosso?
- Não estou sendo grosso, Nymphadora.
- O que eu fiz pra você???
Ela o agarrou pelo colarinho e seus rostos aproximaram-se. A determinação mostrou-se em seu olhar, ele não conseguiu ignorar isso. Todavia, não estava pronto para confessar a agonia e amor sufocantes naquele momento...
- Você não me fez nada. Estou cansado, triste, machucado. Será possível nesta semana eu ter um minuto de paz? Não suporto mais perguntas de ninguém, preocupações... vim aqui para saber como você estava e não te deixar desinformada, porque Moody mandou. Posso falar o que anda acontecendo sem ser interrompido e puxado?
Tonks o soltou, atônita com o que ouviu, nunca a tratou daquela forma. Diante do olhar pronfundíssimamente sofrido e expressão séria, calou-se mais para analisá-lo do que ouvi-lo. O monólogo não prolongou-se, a presença dela o desnorteava. Ao finalizar a explicação, notou a impaciência da mulher.
- Bem, já acabou o horário da visita e não tenho mais nada para falar, necessariamente é esta a situação. Todos estão torcendo pela sua recuperação. – estranhou o silêncio, e resolveu acabar com o clima carregado – Tchau.
- O Remo Lupin que eu conheço estava aqui ontem à noite, beijando minha mão não sei porque. Quando você encontrá-lo, por favor, peça para ele me visitar... pois é importante para mim sua presença.
Lupin estava de costas, portanto Tonks não pode ver a solitária lágrima que materializava um pouco da grande dor acometida em seu peito. Saiu dali sem olhar para trás.
Durante uma semana, Kingsley não conseguia conversar com Lupin, o trabalho os ocupava demais. Porém, numa madrugada onde eles obtiveram uma folga, o auror não hesitou em interpelar o outro...
- E aí, Lupin? Vamos continuar nossa conversinha?
- Já lhe disse o que aconteceu, a conversa acabou.
- Vamos para a sala, ninguém aparecerá aqui por hoje.
Foi ignorando o comentário que Kingsley dominou a severidade de Lupin.
- Afinal, quer saber mais o quê?
- Quando Tonks disse que tinha um caso com o Sirius?
- Falou dormindo.
- Quer dizer que ela disse dormindo: "Lupin, eu tenho um caso com o Sirius."
- Não. Foi em sussurros pausados.
- E em vez de você perguntar a ela se é verdade, preferiu acreditar em sonhos confusos??? Por que não falou logo e confessou seus sentimentos, facilitou as coisas?
- Você não entenderia.
- É medo? Bem, se ela tivesse mesmo um caso, e daí? Sirius morreu, você teria uma chance...
- Estou farto de ter a piedade dos outros, Kingsley!!! Não quero mais saber dela, é jovem, terá homens melhores e mais interessantes do que um lobisomem frustrado e idiota!!!
O ouvinte sorriu e desaparatou. Lupin, nervoso, virou-se. Tonks o observava risonha, argumento perfeito para a irritação dele aumentar...
- Pode rir. É só o que posso ser, motivo de piada!
- Sirius era um homem realmente sedutor, bom de lábia. Nós tínhamos uma certa amizade, e ela só aconteceu por sua causa. Ele me garantiu que você me amava, e eu não quis acreditar.
- Estupendo! Vai contar como se encontravam às escondidas também? Tonks, eu te amo sim. Não queria, mas amo e vivo pra pensar nestas suas loucuras de cabelos coloridos, faces diferentes... nunca saber das aparências mudadas qual é a sua, a que eu posso me lembrar antes e durante os meus sonhos... e dizer: esta é a dona do meu coração. Tá, é ridículo este tipo de confissão, mas não sei como dizer os sentimentos de dias pensando em você e meu melhor amigo juntos, com ele sabendo que eu sentia tudo isso por você. Não era fácil encarar com desprezo, desconfiar do seu sorriso, das suas palavras, de tudo que você representava para mim.
Encabulada, porém explodindo de felicidade com o pimentão que ele virou e sua declaração, disse em tom sério:
- Eu me encontrava com Sirius às escuras, não queria que você sonhasse do meu amor... porque nunca senti isso antes. Pensei ser muito nova e imatura para você, mesmo estando segura do meu potencial. Tive medo da rejeição, da condição perpétua de amiga, de você se basear no meu jeito crianção e desastrado para crer que este amor era coisinha boba e insignificante... então, Sirius prometeu conversar contigo. Era a minha única esperança, apesar de ser extrovertida, sempre temi sua reação...
Olhava para seus pés, mexia nos cabelos roxos nervosamente, a voz sumia a cada sílaba da última frase. Este devia ser o motivo para a jovem assustar-se com aqueles lábios tomando os seus, apaixonadamente. A resposta para a pergunta não feita por ambos, os tirou da realidade. Sem pensar quem poderia estar por ali ou algo do gênero, Lupin cessou o demorado beijo e fez menção de carregá-la, quando esta o interrompeu rindo.
- Assim pareço uma noiva trouxa, pode esquecer!
- O que você quer que eu faça, então? – estranhou.
- Me leve nas costas!
- Ok... – ele estava maliciosamente pensativo.
Tonks pulou nas costas dele, que subiu as escadas correndo e distribuindo sorrisos pelos corredores, Monstro queria morrer de desgosto, juntamente com a Sra. Black. De vez em quando, Tonks beijava o pescoço de Lupin para desequilibrá-lo, no entanto ele não parava. Foram até o antigo quarto de Fred e Jorge, rindo tão cansados que ela o soltou por descuido, e antes de colidir com o chão, o puxou e eles caíram na cama.
- Sou um desastre!
- Isso torna você mais interessante ainda... e agora, quem manda aqui sou eu.
- Mal posso esperar pelas suas ordens!
- E eu, pelos seus próximos murmúrios... certamente serão melhores de se ouvir.
- Isso se a velha rabugenta do quadro parar de gritar! – gargalhou.
- Não a ouça, apenas me sinta... desastrosamente seu.
- Você foi o melhor acidente que cometi!
Um pouquinho além da porta fechada, o elfo reforçava as pragas da amada dona. Não demorou muito para levar um pé na bunda e fazer um buraco na parede, enquanto o autor do chute dizia satisfatoriamente:
- Cala a boca, mamãe!
Sussurros... de quem? Ora, óbvio, eram dela. Agora tão próximos de seus ouvidos, e absolutamente compreensíveis.
- Sirius... você me ajudou muito... a conseguir o meu amor... não preciso mais... que se incomode... sinto falta de você...
Como o silêncio tornou-se notório, Lupin podia jurar que o amigo calou a mãe; e que seu amor por Tonks teria de ser discreto, pois queria protegê-la de todos. Não perderia nada mais para a morte, já que a vida dormia profundamente enlaçada a ele naquele momento...
Nota: Presente para o pessoal que gosta de R/T e ficava esperando traduções para ler algo do shipper!!! Espero comentários... e até a próxima fic...
