Bom, já que vcs gostaram tanto dos elementos mitológicos na fanfiction, resolvi colocar um presentinho! Este não é um cap, pois a fic já acabou, mas sim um resumo de vários elementos da mitologia grega, envolvendo lendas e detalhes sobre o Hades.Tem coisas que eu não usei, porque precisaria de muita imaginação, caps infinitos e paciência de vcs, mas acho interessante a título de curiosidade, afinal de contas, Phoenix também é cultura!
Introdução
Os gregos acreditavam que os deuses haviam escolhido o Monte Olimpo, numa região conhecida por Tessália, como seu lar. No Olimpo, os deuses formavam uma sociedade que era classificada quanto à autoridade e poder. Entretanto, os deuses tinham liberdade para vagar livremente, e deuses individuais eram associados a três domínios principais - o céu ou paraíso, o mar e a terra. Os doze deuses chefes, usualmente chamados de olimpianos eram Zeus, Hera, Hefestos, Atena, Apolo, Artêmis, Ares, Afrodite, Héstia, Hermes, Deméter e Posêidon.
Hera, sua esposa, era a rainha do paraíso e a guardiã do casamento. Outros deuses eram associados ao paraíso, como Hefésto, deus do fogo e das artes manuais; Atena, deusa da sabedoria e da guerra; Apolo, deus da luz, da poesia e da música; Ártemis, deusa da caça; Ares, deus da guerra; Afrodite, deusa do amor; Héstia, deusa do coração e da chama sagrada; Hermes, mensageiro dos deuses e senhor das ciências e das invenções.
Posêidon era o senhor do mar que, junto com sua esposa Anfitrite, originou um grupo de deuses do mar menos importantes, como as nereidas e Tritão. Deméter, a deusa da agricultura, era associada com a terra. Hades, um deus importante, mas que geralmente não era considerado um olimpiano, governava o mundo subterrâneo, onde ele vivia com sua esposa Perséfone. O mundo subterrâneo era um lugar escuro e triste, localizado no centro da terra. Era povoado pelos espíritos das pessoas que morriam. Dionísio, deus do vinho e do prazer, estava entre os deuses mais populares. Os gregos devotavam muitos festivais para este deus , em algumas regiões ele se tornou tão importante quanto Zeus. Ele freqüentemente era acompanhado por um exército de deuses fantásticos, incluindo centauros e ninfas. Centauros tinham a cabeça e o torso humanos e o corpo de cavalo. As belas e charmosas ninfas assombravam os bosques e florestas.
A Mitologia é o estudo e interpretação do mito e do conjunto de mitos de uma determinada cultura. O mito é um fenômeno cultural complexo com inúmeros pontos-de-vista. Em geral, mito é uma narrativa que descreve e retrata, em linguagem simbólica, a origem dos elementos básicos e suposições de uma cultura. As narrativas míticas relatam, por exemplo, como o mundo começou, como os animais e o homem foram criados, e como certos costumes, atitudes ou formas de atividades humanas se originaram. Quase todas as culturas possuem ou em algum tempo possuíram e viveram sob a influência dos mitos. Os mitos diferem de contos de fada, os quais se referem a um tempo que é diferente do tempo comum. A seqüência de tempo dos mitos é extraordinária - um "outro" tempo - o tempo antes do mundo vir a ser como o conhecemos. Pelo fato dos mitos se referirem a um tempo e lugar extraordinários, a deuses e outros seres sobrenaturais, eles foram vistos como aspectos de ordem religiosa.
Os mitos são crenças e observações dos antigos rituais gregos, o primeiro povo ocidental, surgindo por volta de 2000 a.C.. Consiste principalmente de um grupo de relatos e lendas diversos sobre uma variedade de deuses. A Mitologia grega se desenvolveu plenamente por volta de 700 a.C.. Três coleções clássicas de mitos - a Teogonia, pelo poeta Hesíodo, e a Ilíada e Odisséia de Homero - apareceram nesta época. A Mitologia grega tem várias características particulares. Os deuses gregos eram retratados como semelhantes aos humanos em forma e sentimentos. Ao contrário de antigas religiões, como o Hinduísmo ou o Judaísmo, a mitologia grega não envolvia revelações especiais ou ensinamentos espirituais. Também variava largamente na sua prática e crença, com nenhuma estrutura formal, tal como um governo religioso, a exemplo da igreja de nossos dias, e nenhum código escrito, como um livro sagrado.
A mitologia grega realçava a fraqueza humana em contraste aos grandes e terríveis poderes da natureza. Os Gregos acreditavam que seus deuses, que eram imortais, controlavam todos os aspectos da natureza. Assim os gregos reconheciam que suas vidas eram completamente dependentes da boa vontade dos deuses. Em geral, as relações entre as pessoas e deuses eram consideradas amigáveis. Mas os deuses empregavam castigos severos a mortais que mostravam comportamento inaceitável, tal como o orgulho indulgente, a ambição extrema, ou mesmo a prosperidade excessiva. A mitologia estava interligada a cada aspecto da vida grega. Cada cidade se devotou a um deus particular ou para um grupo de deuses, para quem os cidadãos freqüentemente construíam templos de adoração. Em festivais e outras reuniões oficiais, poetas recitavam ou cantavam grandes lendas e histórias. Muitos gregos aprenderam sobre os deuses através das palavras dos poetas. Os gregos também aprendiam sobre os deuses através de diálogos em família, onde a adoração era comum. Partes diferentes dos lares eram dedicadas a certos deuses, e as pessoas ofereciam orações a esses deuses regularmente. Um templo de Zeus, por exemplo, podia ser colocado no pátio da casa, enquanto Héstia era ritualmente honrada dentro do lar. Embora os gregos não tivessem nenhum organização religiosa oficial, eles universalmente honravam certos lugares sagrados. Delfos, por exemplo, era um local sagrado dedicado a Apolo. Um templo construído em Delfos continha um oráculo, de quem os viajantes corajosos interrogavam a cerca do futuro. Um grupo de sacerdotes representava cada um dos locais sagrados. Estes sacerdotes interpretavam as palavras do deus mas não possuíam qualquer conhecimento especial nem poder. Além de orações, os gregos freqüentemente ofereciam sacrifícios aos deuses, normalmente de um animal doméstico, como carneiros, por exemplo.
Deuses Gregos
Na concepção greco-romana, os imortais classificavam-se em: Divindades primordiais, superiores, siderais, dos ventos, das águas e alegóricas. Abaixo listarei os deuses utilizando a mesma concepção.
Divindades Primordiais:
Geia - Mãe de todos os seres, personificação da terra. Surgiu do Caos e gerou Urano, os Montes, o Mar, os Titãs, os Centímanos (Hecatonquiros), os Gigantes, as Erínies, etc. O mito de Géia provavelmente começou como uma veneração neolítica da terra-mãe antes da invasão Indo-Européia que posteriormente se tornou a civilização Helenística.
Urano - O primeiro rei do Universo, segundo Hesíodo (céu estrelado). Casou-se com Géia, da qual teve os Titãs, as Titânidas, os Ciclopes e os Hecatonquiros. Urano, por ódio, lançou no Tártaro os Ciclopes e os Hecatonquiros, Géia porém deu uma foice aos Titãs para que se vingassem. Cronos, o mais audacioso deles, castrou Urano e tornou-se o senhor do universo!
Cronos - Filho de Urano e Géia. O mais jovem dos Titãs. Tornou-se senhor do céu castrando o pai. Casou com Réia, e teve Héstia, Deméter, Hera, Hades e Poseidon. Como tinha medo de ser destronado, Cronos engolia os filhos ao nascerem. Comeu todos, exceto Zeus, que Réia conseguiu salvar enganando Cronos enrolando uma pedra em um pano, a qual ele engoliu sem perceber a troca. Mais tarde Zeus voltou, deu ao pai um remédio que o fez vomitar os filhos, e logo depois o destronou e baniu-o no tártaro. Cronos escapou e fugiu para a Itália onde reinou sobre o nome de Saturno. Este período no qual reinou foi chamado de "A era de ouro terrestre".
Ciclopes – Eram eles Arges, Brontes e Estéropes; pertenciam à raça dos gigantes. Forjavam os raios e os trovões para Zeus. Teriam sido mortos por Apolo para vingar a morte de Asclépio. Segundo Homero, porém, teria sido um povo de gigantes rudes, fortes, indiferentes às divindades, dedicados ao pastoreio.
Hecantoquiros (ou Centimanos) - Briareu, Coto e Giges. Gigantes de cem braços e cinqüenta cabeças. Tendo hostilizado o pai, este os mandou pra horríveis cavernas nas vísceras da terra. Participaram da rebelião contra Urano. Quando Cronos tomou o poder, os aprisionou no tártaro. Libertados por Zeus, lutaram contra os titãs. Com a habilidade de arremessar cem pedras de uma vez venceram os titãs. Briareus era guarda-costas de Zeus.
Titãs - Oceano, Hipérion, Japeto, Céos, Créos e Cronos.
Titanidas - Téia, Réia, Têmis, Mnemôsine, Febe e Téis.
Divindades Siderais:
Hélios - Filho de Hipérion e de Téia, titã por excelência, irmão de Selene e de Éos, personificação do Sol. Surgia todas as manhãs do Oceano, para conduzir o carro do Sol, puxado por cavalos que expeliam fogo pelas narinas. Penetrava com seus raios em todos os juramentos. Mais tarde foi confundido com Apolo. O Colosso de Rodes foi uma estátua consagrada à ele.
Selene - Deusa da Lua, irmã de Hélios e Eos, da família dos Titãs. Era uma linda deusa, de braços brancos, com longas asas, que percorria o céu sobre um carro para levar aos homens a sua plácida luz. Amou Endimião e foi, posteriormente, identificada com Ártemis.
Eos - Deusa que anunciava o dia. Era representada sobre o carro da luz, guiando os cavalos, com uma tocha na mão.
Divindades dos Ventos:
Boreas - Filho de Astreu e de Eos, deus dos ventos do norte, morava na Trácia. Pertencia à raça dos Titãs e era irmão de Zéfiro, Euro e Noto. Raptou Orítia, com a qual casou e que lhe deu os filhos Cálais e Zetes.
Zéfiro - Vento que sopra do Poente, anunciador da primavera e venerado como deus benéfico.
Euro - Vento que sopra do Oriente, dependente de Éolo.
Noto - O vento do Sul.
Éolo - Rei dos ventos, às vezes identificado com o filho de Posêidon e Arne. Morador das ilhas Eólias, acolheu amigavelmente Ulisses e seus companheiros e deu-lhes um odre em que estavam encerrados todos os ventos contrários à navegação Ítaca. Os companheiros de Ulisses, por curiosidade, abriram-no e os ventos desencadearam uma terrível tempestade que causou o naufrágio de quase toda a frota.
Divindades das Águas
Oceano - O mais velho dos Titãs, marido de Tétis, pai de todos os rios e das Oceânides. Era a personificação da água que envolve o mundo. Para os antigos o Oceano primitivamente é um rio imenso que envolve o mundo terrestre. Na Mitologia é o primeiro deus das águas, filho de Urano ou do Céu e de Gaia, a Terra; é o pai de todos os seres. Homero diz que os deuses eram originários do Oceano e de Tétis. Conta o mesmo poeta que os deuses iam muitas vezes à Etiópia visitar o Oceano e tomar parte nas festas e sacrifícios que ali se celebravam. Conta-se enfim que Juno, desde o seu nascimento, foi por sua mãe Réia confiada aos cuidados de Oceano e de Tétis, para livrá-la da cruel voracidade de Saturno.
O Oceano é pois tão antigo como o mundo. Por isso representam-no sob a forma de um velho, sentado sobre as ondas, com uma lança na mão e um monstro marinho ao seu lado. Esse velho segura uma urna e despeja água, símbolo do mar, dos rios e das fontes.
Como sacrifício ofereciam-lhe geralmente grandes vítimas, e antes das expedições difíceis, faziam-se-lhe libações. Era não somente venerado pelos homens, mas também pelos deuses. Nas Geórgicas de Virgílio, a ninfa Cirene, ao palácio do Peneu, na fonte desse rio, oferece um sacrifício ao Oceano; três vezes seguidas, ela deita o vinho sobre o fogo do altar, e três vezes a chama ressalta até a abóbada do palácio, presságio tranqüilizador para a ninfa e seu filho Aristeu.
Nereu - Velho deus marinho, filho do Ponto e de Géia. tinha o dom da profecia e a faculdade de tomar várias formas. Era representado com os cabelos, sobrancelhas, queixo e peito cobertos por juncos marinhos e por folhas de plantas similares.
Netuno (Poseidon): Netuno ou Poseidon, filho de Saturno e de Réia, era irmão de Júpiter e de Plutão. Logo que nasceu, Réia o escondeu em um aprisco da Arcádia, e fez Saturno acreditar ter ela dado à luz a um potro que lhe deu para devorar. Na partilha que os três irmãos fizeram do Universo ele teve por quinhão o mar, as ilhas, e todas as ribeiras.
Quando Júpiter, seu irmão, a quem sempre serviu com toda a fidelidade, venceu os Titãs, seus terríveis competidores, Netuno encarcerou-os no Inferno, impedindo-os de tentar novas empresas. Ele os mantém por trás do recinto inexpugnável formado por suas ondas e rochedos.
Netuno governa o seu império com uma calma imperturbável. Do fundo do mar em que está sua tranqüila morada, sabe tudo quanto se passa na superfície das ondas. Se por acaso os ventos impetuosos espalham inconsideradamente as vagas sobre as praias, causando injustos naufrágios, Netuno aparece, e com a sua nobre serenidade faz reentrar as águas no seu leito, abre canais através dos baixios, levanta com o tridente os navios presos nos rochedos ou encalhados nos bancos de areia, ï€ em uma palavra, restabelece toda a desordem das tempestades.
Teve como mulher Anfitrite, filha de Doris e de Nereu. Essa ninfa recusara antes desposar Netuno, e se escondeu para esquivar-se às suas perseguições. Mas um delfim, encarregado dos interesses de Netuno, encontrou-a ao pé do monte Atlas, e persuadiu-a que devia aceitar o pedido do deus; como recompensa foi colocada entre os astros. De Netuno ela teve um filho chamado Tritão, e muitas ninfas marinhas; diz-se também que foi a mãe dos Ciclopes.
O ruído do mar, a sua profundidade misteriosa, o seu poder, a severidade de Netuno que abala o mundo, quando com o tridente ergue os enormes rochedos, inspiram à humanidade um sentimento mais de receio do que de simpatia e amor. O deus parecia dar por isso, todas as vezes que se apaixonava de uma divindade ou de um simples mortal. Recorria então à metamorfose; mas mesmo assim, na maior parte das vezes, conservava o seu caráter de força e impetuosidade.
Representam-no mudado em touro, nos seus amores com a filha de Éolo; sob a forma de rio Enipeu, quando fazia Ifiomédia mãe de Ifialto e de Oto; sob a de um carneiro, para seduzir Bisaltis, como cavalo para enganar Ceres, enfim, como um grande pássaro nos amores com Medusa, e como um delfim quando se apaixonou por Melanto.
Sua famosa discórdia com Minerva, por causa da posse de Ática, é uma alegoria transparente em que os doze grandes deuses, tomados como árbitros, indicam a Atenas os seus destinos. Esse deus teve ainda uma desavença com Juno por causa de Micenas e com o Sol por causa de Corinto.
Quer a fábula de Netuno, expulso do céu com Apolo, por haver conspirado contra Júpiter, tenha construído as muralhas de Tróia, e que defraudado no seu salário, se tenha vingado da perfídia de Laomedonte destruindo os muros da cidade.
Netuno era um dos deuses mais venerados na Grécia e na Itália, onde possuía grande número de templos, sobretudo nas vizinhanças do mar; tinha também as suas festas e os seus espetáculos solenes, sendo que os do istmo de Corinto e os do Circo de Roma eram-lhe especialmente consagrados sob o nome de Hípio. Independente das Saturnais, festas que se celebravam no mês de julho, os romanos consagravam a Netuno todo o mês de fevereiro.
Perto do istmo de Corinto, Netuno e Anfitrite tinham as suas estátuas no mesmo templo, não longe uma da outra; a de Netuno era de bronze e media doze pés e meio de altura. Na ilha de Tenos, uma das Ciclades, tinha Anfitrite uma estátua colossal da altura de nove cúbitos. O deus do mar tinha sob a sua proteção os cavalos e os navegantes. Além das vítimas ordinárias e das libações em sua honra, os arúspices ofereciam-lhe particularmente o fel da vítima porque o amargor convinha às águas do mar.
Netuno é geralmente representado nu, com uma longa barba, e o tridente na mão, ora sentado, ora em pé sobre as ondas; muitas vezes; em um carro tirado por dois ou quatro cavalos, comuns ou marinhos, cuja parte inferior do corpo termina em cauda de peixe.
Ninfas - Filhas de Zeus, representavam as forças elementares da natureza. Moravam nos montes, nos bosques, nas fontes, nos rios, nas grutas, das quais eram potências benéficas. Viviam livres e independentes, plantavam árvores e eram de grande utilidade aos homems. Dividiam-se em Oceânides, Nereidas, Náiades, Oréades, Napéias, Alseidas, Dríades e Hamadríades.
Proteu - Pastor das focas de Poseidon. Morava numa ilha próxima ao Egito e tinha o poder de metamorfosear-se em todas as formas que desejasse, não só de animais, mas também de plantas e de elementos, com a água e o fogo. Segundo Eurípedes, Proteu foi rei da ilha de Faros e, casando-se com Psâmate, teve os filhos Idoteu e Teoclímenes. Proteu: Proteu, deus marinho, era filho de Oceano e de Tetis ou, segundo uma outra tradição, de Netuno e de Fênice. Segundo os gregos, a sua pátria é Palene, cidade da Macedônia. Dois dos seus filhos, Tmolos e Telégono, eram gigantes, monstros de crueldade. Não tendo podido chamá-los ao sentimento da humanidade, tomou o partido de retirar-se para o Egito, com o socorro de Netuno, que lhe abriu uma passagem sob o mar. Também teve filhas, entre as quais as ninfas Eidotéia, que apareceu a Menelau, quando voltando de Tróia esse herói foi levado por ventos contrários aobre a costa do Egito, e lhe ensinou o que devia fazer para saber de Proteu os meios de regressar à pátria. Proteu guardava os rebanhos de Netuno, isto é, grandes peixes e focas. Para o recompensar dos trabalhos que com isso tinha. Netuno deu-lhe o conhecimento do passado, do presente e do futuro. Mas não era fácil abordá-lo, e ele se recusava a todos que vinham consultá-lo. Eidotéia disse a Menelau que, para decidi-lo a falar, era preciso surpreendê-lo durante o sono, e amarrá-lo de maneira que não pudesse escapar, pois ele tomava todas as formas para espantar os que se aproximavam: a de leão, dragão, leopardo, javali; algumas vezes se metamorfoseava em árvore, em água e mesmo em fogo; mas se se perseverava em conservá-lo bem ligado, retomava a primitiva forma e respondia a todas as perguntas que se lhe fizessem. Menelau seguiu ponto por ponto as instruções da ninfa. Com três dos seus companheiros, entrou de manhã, nas grutas em que Proteu costumava ir ao meio-dia descansar, juntamente com os rebanhos. Apenas Proteu fechou os olhos e tomou uma posição cômoda para dormir. Menelau e os seus três companheiros se atiraram sobre ele e o apertaram fortemente entre os braços. Era inútil metamorfosear-se: a cada forma que tomava, apertavam-no com mais força. Quando enfim esgotou todas as suas astúcias Proteu voltou à forma ordinária, e deu a Menelau os esclarecimentos que este pedia. No quarto livro das Geórgicas, Virgílio, imitando Homero, conta que o pastor Aristeu, depois de haver perdido todas as suas abelhas, foi a conselho de Cirene, sua mãe, consultar Proteu sobre os meios de reparar os enxames, e para lhe falar, recorreu aos mesmos artifícios.
As Sereias: Quando, por uma noite calma de primavera ou de outono, o marinheiro deixa vogar docemente o barco perto das margens, nas paragens semeadas de rochedos ou de escolhos, ouve ao longe, no marulho das ondas, o gorjeio das aves marinhas. Esse gorjeio, entrecortado, às vezes, por gritos estridentes e zombeteiros, sobe aos ares e passa invisível com um estranho síbilo de asas, por cima da cabeça do marinheiro atento, dando-lhe a ilusão de um concerto de vozes humanas. A sua imaginação então lhe representa grupos de mulheres ou de raparigas que se divertem e procuram desviá-lo do seu caminho. Desgraçado dele se se aproxima do lugar em que a voz parece mais clara, isto é, dos rochedos à flor d'água onde, para as aves marinhas, a pesca é frutuosa; infalivelmente o seu barco se quebrará e se perderá entre os escolhos.
Tal é, sem dúvida, a origem da fábula das Sereias; mas a imaginação dos poetas criou-lhes uma lenda maravilhosa.
Elas eram filhas do rio Aqueló e da musa Calíope. Ordinariamente contam-se três: Parténope, Leucósia e Lígea, nomes gregos que evocam as idéias de candura, de brancura e de harmonia. Outros lhes dão os nomes de Aglaufone, Telxieme e Pisinoe, denominações que exprimem a doçura da sua voz e o encanto das suas palavras.
Conta-se que no tempo do rapto de Prosérpina, as Sereias foram à terra de Apolo, isto é, a Sicília, e que Ceres, para puni-las por não haverem socorrido a sua filha, mudou-as em aves.
Ovídio, ao contrário, diz que as Sereias, desoladas com o rapto de Prosérpina, pediram aos deuses que lhes dessem asas para que fossem procurar a sua jovem companheira por toda a terra. Habitavam rochedos escarpados sobre as margens do mar, entre a ilha de Capri e a costa de Itália.
O oráculo predissera às Sereias que elas viveriam tanto tempo quanto pudessem deter os navegantes à sua passagem; mas desde que um só passasse sem para sempre ficar preso ao encanto das suas vozes e das suas palavras, elas morreriam. Por isso essas feiticeiras, sempre em vigília, não deixavam de deter pela sua harmonia todos os que chegavam perto delas e que cometiam a imprudência de escutar os seus cantos. Elas tão bem os encantavam e os seduziam que eles não pensavam mais no seu país, na sua família, em si mesmos; esqueciam de beber e de comer, e morriam por falta de alimento. A costa vizinha estava toda branca dos ossos daqueles que assim haviam perecido.
Entretanto, quando os Argonautas passaram nas suas paragens, elas fizeram vãos esforços para atraí-los. Orfeu, que estava embarcado no navio, tomou a sua lira e as encantou a tal ponto que elas emudeceram e atiraram os instrumentos ao mar.
Ulisses, obrigado a passar com o seu navio adiante das Sereias, mas advertido por Circe, tapou com cera as orelhas de todos os seus companheiros, e se fez amarrar, de pés e mãos, a um mastro. Além disso, proibiu que o desligassem se, por acaso, ouvindo a voz da Sereias, ele exprimisse o desejo de parar. Não foram inúteis essas precauções. Ulisses, mal ouviu as suas doces palavras e as suas promessas sedutoras, apesar do aviso que recebera e da certeza de morrer, deu ordem aos companheiros que o soltassem, o que felizmente eles não fizeram. As Sereias, não tendo podido deter Ulisses, precipitaram-se no mar, e as pequenas ilhas rochosas que habitavam, defronte do promontório da Lucárnia foram chamadas Sirenusas.
As Sereias são representadas ora com cabeça de mulher e corpo de pássaro, ora com todo o busto feminino e a forma de ave, da cintura até os pés. Nas mãos têm instrumentos: uma empunha uma lira, outra duas flautas, e a terceira gaitas campestres ou um rolo de música, como para cantar. Também pintam-nas com um espelho. Não há nem um autor antigo que nos tenha representado as Sereias como mulheres-peixe. Como muita gente atualmente as representam.
Pausânias conta ainda uma fábula sobre as Sereias: "As filhas de Aqueló, diz ele, encorajadas por Juno, pretenderam a glória de cantar melhor do que as Musas, e ousaram fazer-lhes um desafio, mas as Musas, tendo-as vencido, arrancaram-lhes as penas das asas, e com elas fizeram coroas." Com efeito, existem antigos monumentos que representam as Musas com uma pena na cabeça. Apesar de temíveis ou perigosas, as Sereias não deixaram de participar das honras divinas; tinham um templo perto de Sorrento.
Tetis e as Oceânidas: Tetis, filha do Céu e da Terra, casou com o Oceano, seu irmão, e foi mãe de três mil ninfas chamadas Oceânidas. Dão-lhe ainda como filhos, não somente os rios e as fontes, mas também Proteu, Etra, mãe de Atlas, Persa, mãe de Circeu, etc. Conta-se que Júpiter, tendo sido amarrado e preso pelos outros deuses, Tetis pô-lo em liberdade, com auxílio do gigante Egeon. Ela se chamava Tetis, palavra que em grego significa "ama, nutri", sem dúvida porque é a deusa da água, matéria-prima que, segundo uma crença antiga, entra na formação de todos os corpos. O carro dessa deusa é uma concha de maravilhosa forma e de uma brancura de marfim nacarado. Quando percorre o seu império, esse carro, tirado por cavalos-marinhos mais brancos do que a neve, parece voar, à superfície das águas. Ao redor dela, os delfins, brincando, saltam no mar; Tetis é acompanhada pelos Tritões que tocam trombeta com as suas conchas recurvas, e pelas Oceânidas coroadas de flores, e cuja cabeleira esvoaça pelas espáduas, ao capricho dos ventos. Tétis, deusa do mar, esposa de Oceano, não deve ser confundida com Tetis, filha de Nereu e mãe de Aquiles.
Afrodite (a Vênus romana) – Deusa do Amor e da Beleza. Filha de Zeus e Dione, segundo uma tradição, e, segundo outra, nascida da espuma do mar, que fora fecundada pelo sangue de Urano, mutilado por Cronos. Casou-se com Hefestos, mas traiu-o com deuses (Ares, Hermes, Posêidon, Dionísio) e mortais (Anquises, Adônis). Ao surpreendê-la no leito com o amante, Hefestos prendeu-os numa rede invisível e inquebrável para exibir a traição aos outros deuses do Olimpo. Por seus amores com Ares, foi considerada também como divindade guerreira. Por ser mãe de Enéias, os romanos a consideravam a ancestral da família Júlia e, por conseguinte, padroeira de Roma. Era adorada sob duas formas: Afrodite Urânia, deusa do amor puro, e Afrodite Pandêmia, deusa do amor vulgar. É a a mais bela deusa do Olimpo, foi cortejada por todos os deuses, inclusive Zeus, a quem recusou; em vingança, este lhe deu em casamento a Hefestos, o mais feio dos imortais. Acompanhavam-na as Horas, as Graças e as outras divindades personificadoras do amor. A sede mais antiga de seu culto era a ilha de Chipre.
Amor (o Cupido romano) – Filho de Hermes e Afrodite, é representado com asas e carregando o arco e as flechas com que fere os casais, despertando neles a paixão.
Andrômeda – Filha de Cefeu, rei da Etiópia, e de Cassiopéia. Por culpa de sua mãe, que pretendeu rivalizar em beleza com Juno e com as nereidas, filhas de Possêidon, foi acorrentada por elas a um rochedo para ser devorada por um monstro que assolava o país. Perseu, no entanto, montando no divino Pégaso, petrificou o feroz animal apresentando-lhe a cabeça da Medusa, salvou-a e a desposou.
Anfitrite – Filha de Nereu – deus do mar anterior a Possêidon – e Dóris. Deslumbrado com sua beleza, Possêidon mandou um delfim capturá-la. Após intensa perseguição, ela se entregou e foi levada para a terra. De sua união com Possêidon, nasceu Tritão, que possui corpo de homem e cauda de peixe.
Anteros – Irmão de Eros, tem uma dupla função: castiga os mortais que recusam o amor ou o traem, e faz com que, com o tempo, o amor seja substituído pela indiferença, introduzindo um elemento de equilíbrio dentro da desorganização emocional produzida por Eros.
Apolo – Deus da Beleza, da Poesia e da Música, filho de Zeus e Leto (ou Latona), irmão gêmeo de Artêmis. Identificado também como Hélios, o Sol, sob o nome de Febo. Amou Dafne (que, para escapar dele, transformou-se em loureiro) e a ninfa Clítia (que, depois de morta, metamorfoseou-se no girassol) e foi pastor do rei Admeto, sendo por isso considerado também como o protetor dos rebanhos. Como padroeiro de todas as artes, tem o título de Apolo Musageta. Tinha o dom da predição e da cura. É o mais belo dos deuses, alto, famoso por seus cabelos encaracolados, negros com reflexos azulados, conheceu inúmeros amores, mas muito poucos foram correspondidos.
Aquiles – Guerreiro filho de Peleu e de Tétis. Sua mãe banhou-o nas águas do rio Estige, o que o tornou invulnerável – à exceção do calcanhar, por onde ela o segurara seu corpo. Durante a guerra de Tróia, abandonou o combate, pois a jovem cativa troiana Briseida, por quem ele se apaixonara, foi-lhe tomada para ser entregue a Agamênon. Retornou à luta depois da morte de seu amigo Pátroclo e matou, num duelo, o príncipe troiano Heitor. Porém, foi morto por Páris, que, guiado pela mão de Apolo, conseguiu feri-lo no calcanhar.
Ares - Deus da guerra, filho de Zeus e de Hera. Deleitava-se com a guerra pelo sei lado mais brutal, qual seja a carnificina e o derramamento de sangue. Inimigo da serena luz solar e da calmaria atmosférica, ávido de desordem e de luta. Ares era detestado pelos outros deuses, o próprio Zeus o odiava. Tinha como companheiros nas lutas Éris, a discórdia; Deimos e Fobos, o espanto e o terror, e Ênio, a deusa da carnificina na guerra. Amou Afrodite, da qual teve Harmonia, Eros, Anteros, Deimos e Fobos. Ares: Deus da Guerra, filho de Zeus e hera. A sua figura surgiu na época em que o ferro passou a ser utilizado para a fabricação de espadas e escudos, e os exércitos passaram a ter normas precisas para ataque e defesa. Ares possuía um caráter violento, apreciava cenas brutais e tinha prazer em observar a dor alheia. Ele não era cultuado na Grécia, onde o povo preferia a concórdia e a harmonia. por essa razão, era muitas vezes o derrotado nos mitos gregos. Atena, deusa da sabedoria, o venceu várias vezes, o que era uma forma de demonstrar o triunfo da razão sobre a brutalidade.
Ariadne – Filha do rei Minos de Creta e de Pasifaé. Ajudou Teseu a entrar no Labirinto e matar o Minotauro; partiu com ele para a Grécia, mas Teseu, apaixonado por sua irmã Fedra, abandonou-a na ilha de Naxos, onde Dionísio a encontrou e casou-se com ela.
Artêmis (a Diana romana) – Deusa da Caça e da Castidade, é a réplica feminina de Apolo, associada com a Lua; filha de Zeus e Leto e irmã gêmea de Apolo. Deusa feroz e vingativa, matou os filhos de Níobe porque esta afirmara que eles eram mais belos que os de Leto; e puniu Acteon por tê-la surpreendido no banho. Como Apolo, está armada com um arco. Artêmis permaneceu eternamente virgem; passava seu tempo na caça, percorrendo as montanhas, acompanhada de seus cães.
Asclépio (o Esculápio romano) – Filho de Apolo com Corônis, filha do rei Flégias da Tessália. Aprendeu com o centauro Quíron a arte da medicina, mas seu poder de impedir a morte enfureceu Hades, deus dos Infernos, e, a pedido deste, Zeus o fulminou com um raio; era adorado como uma divindade em Epidauro.
Atena (a Minerva romana) – Deusa da Sabedoria, também chamada de Pallass Athenae (Palas Atenas); filha de Zeus e de sua primeira mulher, Métis, deusa da Prudência. Segundo a tradição, quando Métis estava grávida, Zeus a engoliu, por temer que seu filho viesse a destroná-lo. Mais tarde, atormentado por uma dor de cabeça, pediu a Hefáistos que lhe abrisse o crânio com uma machadada e de sua cabeça saiu Atena, armada e coberta com o elmo do Saber. Conselheira dos deuses, padroeira de Atenas e protetora dos gregos, ela garantia também a justa aplicação das leis e a prosperidade agrícola (os dois esteios principais do Estado), é engenhosa, protege as fiandeiras, os tecelãos e as bordadeiras. Inventou o carro de combate e ensinou o homem a extrair azeite das azeitonas. Atena - Surgiu toda armada do cérebro de Zeus, depois de ter ele engolido seu primeira esposa Métis. Era o símbolo da inteligência, da guerra justa, da casta mocidade e das artes domésticas e uma das divindades mais veneradas. Um esplêndido templo, o Partenon, surgia em sua honra na Acrópole de Atenas, a cidade que lhe era particularmente consagrada. Obra maravilhosa de Ictino e de Calícrates, o Partenon continha uma colossal estátua de ouro dessa deusa, de autoria do famoso escultor Fídias. Athena: Deusa da sabedoria, indústria, justiça, guerra e artes. era filha somente de Zeus, que ao sentir uma terrível dor de cabeça, pediu a Hefesto, deus do fogo e padroeiro dos artesões, que lhe abrisse o crânio. então, dele saltou Atena, já adulta. Atena teria sido concebida por Métis, a antiga deusa da prudência, que em alguns mitos foi a primeira mulher de Zeus, porém havia uma profecia de que a criança o destronaria. Então, Zeus devorou Métis e teve Atena sozinho. Na guerra, Atena associava-se ao combate individual, estratégia e justiça. O atributo da vitória era em algumas cidades consagrado a Atena. Minerva era o nome que os romanos designaram para Atena.
Atlas – Gigante filho de Japeto e da oceânide Climene. Combateu contra Zeus e, derrotado, foi condenado a carregar o mundo nos ombros.
Apolo - Filho de Zeus e de Leto, também chamado Febo, irmão gêmeo de Ártemis, nasceu às fraldas do monte Cinto, na ilha de Delos. É o deus radiante, o deus da luz benéfica. A lenda mostra-nos Apolo, ainda garoto, combatendo contra o gigante Títio e matando-o, e contra a serpente Píton, monstro saído da terra, que assolava os campos, matando-a também. Apolo é porém, também concebido como divindade maléfica, executora de vinganças. Em contraposição, como dá a morte, dá também a vida: é médico, deus da saúde, amigo da juventude bela e forte. É o inventor da adivinhação, da música e da poesia, condutor das Musas, afasta as desventuras e protege os rebanhos.
Bacantes – Sacerdotisas de Dionísio que o acompanhavam em cortejo, vestidas de peles de leão, com o peito nu, carregando o tirso, lança enfeitada de pâmpano e hera, e executando uma dança frenética que as mergulhava num êxtase místico.
Belerofonte – Filho de Glauco e neto de Sísifo, que domou o cavalo voador Pégaso e com ele matou a Quimera, monstro com cabeça de leão, corpo de bode e cauda de serpente, e que vomitava fogo; em seguida, tentou escalar o Olimpo para tornar-se imortal, mas, derrubado de seu cavalo por Zeus, matou-se na queda.
Cadmo – Filho de Agenor e de Telefassa, irmão de Europa. Na Beócia, matou um dragão e, aconselhado por Atena, plantou seus dentes, deles nascendo os gigantes que o ajudaram a construir a cidade de Tebas. Foi o inventor do alfabeto fenício. Depois de mortos, ele e sua esposa Harmonia foram transformados em serpentes e levados para os Campos Elísios.
Caos – Não é um deus, mas um princípio, o do começo confuso de todas as coisas, do vácuo preexistente aos deuses e aos mortais, e do qual tudo se originou; gerou o Érebo, o Dia e a Noite.
Caronte – Filho de Érebo e da Noite. Barqueiro do Inferno, transportava os mortos através do Estige, desde que estes lhe pagassem um óbolo; por isso, os gregos colocavam uma moeda debaixo da língua dos cadáveres.
Cassandra – Princesa troiana, filha do Príamo e Hécuba. Apolo, para possuí-la, prometeu-lhe o dom da profecia; como ela se recusou a entregar-se após ter recebido o dom, ele a puniu condenando-a a que nunca acreditassem em suas predições; assim, seus avisos sobre a derrota dos troianos, sobre o ardil do cavalo e sobre o assassinato de Agamênon, a quem ela foi entregue e com quem teve dois filhos, nunca foram levados a sério.
Centauros – Filhos de Íxion com uma nuvem a quem Zeus dera a forma de Hera. Metade cavalo, metade homem, eram selvagens e alimentavam-se de carne crua. Dois deles, Folos e Quíron, foram sábios e serviram de tutores a vários heróis.
Cérbero – Filho dos monstros Tífon e Equidna e irmão da Quimera. Cão de três cabeças, com um colar de serpentes à volta do pescoço, montava guarda na porta do inferno: Psiquê o domesticou com um bolo, Orfeu o encantou com sua lira e Hércules conseguiu pôr-lhe uma coleira e levá-lo até Micenas.
Ciclopes – Monstros fabulosos, dotados de um só olho no centro da testa. Filhos de Urano (o Céu) e de Gaia (a Terra), forjaram para Zeus o raio, o relâmpago e o trovão. O mais famoso deles foi Polifemo, filho de Possêidon e Toosa, que prendeu Ulisses e seus companheiros dentro de uma caverna, para devorá-los; o herói o cegou com uma estaca.
Creonte – Filho de Meneceu, irmão de Jocasta, ao descobrir que o casamento de sua irmã com Édipo era incestuoso, expulsou este de Tebas e governou a cidade até entregá-la a seu herdeiro, Eteocles; quando este entrou em guerra com seu irmão Polinice pelo poder, Creonte tomou o partido de Eteocles e, terminado o conflito, fez-lhe funerais suntuosos, condenando o cadáver de Polinice a apodrecer sem sepultura; como Antígone, irmã dos dois, desobedecesse a sua ordem, mandou enterrá-la viva. Como recusou-se a devolver aos argianos os corpos dos heróis mortos durante a guerra dos Sete Chefes, foi morto por Teseu.
Danáe – Filha de Acrísio, rei de Argos. Como o oráculo dissesse que seu filho destronaria o avô, Acrísio trancou-a no alto de uma torre; Zeus, que se apaixonara por ela, visitou-a sob a forma de uma chuva de ouro e dessa união nasceu Perseu. Enfurecido, Acrísio trancou ambos em um cofre e lançou-os ao mar, mas eles chegaram até a ilha de Sérifos, onde foram salvos por Polidecto.
Dédalo – De origem desconhecida, mas aparentado a família real ateniense, arquiteto e inventor, construiu para o rei Minos, de Creta, o Labirinto onde foi encerrado o Minotauro. Mais tarde, por ter acobertado os amores de Teseu e Ariadne, Minos mandou prendê-lo no Labirinto, com seu filho, Ícaro. Para escapar da prisão, Dédalo fabricou asas de cera e penas, mas Ícaro, entusiasmado por poder voar, quis aproximar-se demais do Sol: suas asas derreteram-se e ele caiu no mar, afogando-se.
Deméter – Filha de Cronos e Réia, deusa da Agricultura, seu nome significa Terra-mãe. Quando sua filha Perséfone foi raptada por Hades, retirou-se do Olimpo, deixando a terra inteiramente estéril, até que Zeus encontrasse uma solução. O seu mito em relação a Perséfone teve lugar nos mistérios eleusinos. Inconsolada , saiu a procura da filha , errando pela terra durante 9 dias e 9 noites. No décimo dia o sol revelou-lhe o autor do rapto. Deméter decidiu não voltar ao Olimpo enquanto sua filha não fosse devolvida. Zeus então decidiu que ela ficaria durante um ano 6 meses com a mãe (verão e primavera) e 6 com Hades (inverno e outono).
Dionísio (o Baco romano) – Filho de Zeus e de Sêmele, deus do vinho e do delírio místico. Em sentido mais geral, representava aquela energia da natureza que, por efeito do calor e da umidade, amadurece os frutos; era, pois, uma divindade benéfica. De todas as divindades, era a que mais aproximava dos homens. Teve um nascimento milagroso, com efeito, morrendo-lhe a mãe antes que tivesse o necessário desenvolvimento, foi recolhido pelo pai que o costurou numa de suas coxas e aí o conservou até que o garoto pudesse enfrentar a vida. Dioniso demonstrou muito cedo sua origem, divina: crescia livre, amante da caça e possuía o estranho poder de amansar as feras mais ferozes. Um dia, criou a videira e quis dar o vinho a todos os homens; para esse fim, empreendeu numa longa viagem, através de todas as terras, seguido por um cortejo de ninfas, sátiros, bacantes e silenos. Por onde passavam, os homens tornavam-se felizes. Na Frígia, concedeu ao rei Midas a faculdade de poder transformar em ouro tudo que tocasse. Na Trácia, o rei Licurgo tentou dispersas a comitiva: Dioniso indignado, cegou-o. Em Delos, concedeu às filhas do rei Ânio o poder de mudar a água em vinho. Casou-se com Ariadne, depois que esta foi abandonada por Teseu; as núpcias foram celebradas com suntuosidade e o casal subiu ao Olimpo sobre um carro puxado por panteras.
Eco – Ninfa que se apaixonou perdidamente por Narciso. Não sendo correspondida, definhou de tristeza até desaparecer, só restando dela a voz, que repete os sons nas montanhas.
Electra – Filha de Agamênon, rei de Micenas, e de Clitemnestra, jurou vingar a morte de seu pai, assassinado por Clitemnestra e Egisto, e convenceu seu irmão mais novo, Orestes, a matar os dois; mais tarde, casou-se com Pilades, o melhor amigo de seu irmão.
Eos – Personificação da Aurora, filha de Téia e Hiperião, irmã de Hélios e Selene, é ela quem, em seu carro, anuncia a próxima chegada de seu irmão, o Sol. Teve numerosos esposos e amantes e deu à luz muitos filhos, entre os quais Mênon, rei do Egito.
Érebo – Filho do Caos e irmão da Noite, é a personificação das trevas; por ter apoiado os Titãs em sua luta contra o Olimpo, foi precipitado por Zeus no Inferno.
Erínias (as Fúrias romanas) – Filhas da Terra fecundada pelo sangue de Urano, mutilado por Cronos, Alecto, Tisífona e Megera são as ministradoras da vingança divina: possuem asas e cabeleira de serpentes e seus castigos se manifestam sob a forma de epidemias, remorso, angústia ou loucura Os gregos as chamavam pelo eufemismo supersticioso de Eumênides (benévolas), para evitar seu furor.
Eros – Uma das forças primordiais que dominam o mundo, seu poder se exerce sobre todas as coisas vivas – ele é a virtude atrativa que leva seres e coisas a se unirem, gerando a vida. Não deve ser confundido com Amor (ou Cupido), embora na fase clássica tenha sido freqüentemente representado por este; é, essencialmente, a personificação de uma força abstrata.
Fama – Mensageira de Zeus, filha da Terra, possui diversas bocas e olhos e com eles desvenda os segredos mais íntimos dos mortais.
Fênix – Mito de origem egípcia, mas venerado também pelos gregos, essa ave fabulosa vivia vários séculos e, como não tinha fêmea, o modo de perpetuar a espécie era queimar-se em uma pira de ervas mágicas – de suas cinzas renascia uma outra fênix, símbolo da imortalidade da alma e também do ano que renasce terminado o seu ciclo.
Górgonas – Três mulheres monstruosas – Euríala, Medusa e Steno – filhas de Fórcis e Ceto, têm cabeleira formada por serpentes, dentes de javali e asas de ouro; seus olhos injetados de sangue petrificam quem olhe para elas. A mais famosa delas, a Medusa, foi morta por Perseu, que lhe mostrou um espelho transformando-a em pedra; de seu sangue nasceu Pégaso, o cavalo voador.
Graças (em grego: Cárites) – Filhas de Zeus com Afrodite ou com a oceânide Eurinoméia. Presidem a todos os prazeres humanos. São três: Aglaia (o Brilho), Tália (a Floração) e Eufrosina (a Alegria); seus símbolos são a rosa um ramo de mirto e um par de dados.
Gréias – Filhas de Fórcis e Ceto, irmãs das Górgonas; são três velhas decrépitas – Enyô, Dino e Pefredo – e só possuem um olho, que elas passam de uma para a outra. Eram as guardiãs da Medusa e Perseu teve de roubar-lhes esse olho para poder penetrar na caverna onde dormia o monstro.
Hades (o Plutão romano) – Filho de Cronos e Réia. Quando o mundo foi dividido em três partes, coube-lhe a região inferior, o Reino do Mortos. Desposou Perséfone, filha de Zeus e da irmã de ambos, Deméter. Ele a quem seqüestrou de sua mãe Démeter. Acreditava-se que, com seu carro, viesse ao mundo para buscar as almas dos mortos. Somente Hades tinha o poder de restituir a vida de um homem, porém, utilizou-se desse poder pouquíssimas vezes e, assim mesmo, a pedido da esposa. Era o deus das riquezas porque dominava nas profundezas da terra, de onde mandava prosperidade e fertilidade; era considerado um deus benéfico.Embora seja conhecido como o deus dos mortos, era também chamado Pluto, o deus das riquezas contidas no subsolo. Sombrio e sinistro, raramente visitava a terra e possuíra em capacete ou elmo que tornava qualquer um invisível. Costumava ser representado num carro de ouro, com a cornucópia da abundância nas mãos.
Hárpias – Filhas de Taumas e da oceânide Electra, são três mulheres – Aelô, Ocípetes e Celano – com belas cabeleiras mas horrendos corpos de aves de rapina, que servem de instrumento da crueldade dos deuses; os romanos costumavam assimilá-las às Fúrias.
Hefaístos (o Vulcano romano) – Deus do fogo e ferreiro dos deuses; filho de Zeus e Hera (mas uma tradição o dá como filho apenas de Hera, sem a participação de Zeus). Como ele tomasse o partido de Hera em uma disputa desta com Zeus, o deus dos deuses o atirou do alto do Olimpo na ilha de Lemmos, e ele ficou aleijado. Casou-se com Afrodite, que o enganou com Ares e outros deuses e mortais. Trabalhava admiravelmente os metais e construiu inúmeros palácios de bronze, foi ele quem forjou o cetro e os raios de Zeus, o tridente de Possêidon, a armadura de Aquiles e de Héracles, e as armas de Peleu. Segundo uma tradição, nasceu coxo, pelo que sua mãe lançou-o do alto do monte Olimpo, foi recolhido por Tétis e Eurínome, com as quais permaneceu durante nove anos. Voltando ao Olimpo, ao defender Hera contra Zeus, este atirou-o do céu e, precipitando durante um dia inteiro, caiu na ilha de Lemos. Suas forjas, com vinte foles, foram depois do Olimpo colocadas no Etna, onde tinha os Ciclopes como companheiros de trabalho.
Hera - Irmã e esposa de Zeus, a mais excelsa das deusas, simbolizava a grandeza e a soberania maternal.. Casou-se com seu irmão Zeus e está união tornou-se, apesar das infidelidades e disputas, o modelo do casamento humano.A Ilíada a representa como orgulhosa, obstinada, ciumenta e rixosa. Odiava sobretudo Héracles, que procurou diversas vezes matar. Na guerra de Tróia por ódio dos troianos, devido ao julgamento de Páris, ajudou os gregos.
Hermes - Filho de Zeus e de Maia, o arauto dos deuses e fiel mensageiro de seu pai, nasceu numa gruta do monte Ciline, na Arcádia. Lodo que nasceu, fugiu do berço e roubou cinqüenta novilhas do rebanho de Apolo, em seguida, com a casca de uma tartaruga, construiu a primeira lira e com o som deste instrumento aplacou Apolo, enfurecido pelo furto; esse deus acabou por deixar-lhe as novilhas e deu-lhe o caduceu, a vara de ouro, símbolo da paz, n troca da lira. Zeus deu-lhe o encargo de levar os mortos a Hades, daí o epíteto de Psicompompo. Inventou, além da lira, as letras e os algarismos, fundou os ritos religiosos e introduziu a cultura da oliveira. Deus dos Sonhos, eram lhe oferecidos sacrifícios de porcos, cordeiros, cabritos... Seus atributos eram a prudência e a esperteza. Livrou Ares das correntes dos Aloídas, levou Príamo à tenda de Aquiles e matou Argos, guarda de Io. Era representado com um jovem ágil e vigoroso, com duas pequenas asas nos pés, um chapéu de abas largas na cabeça e o caduceu nas mãos.
Hestia - Deusa do fogo e dos lares e protetora da família, foi cortejada por Apolo e Poseidon, recusou-os e fez voto de castidade. Em troca disso Zeus lhe permiteu ser venerada como deusa do fogo benéfico que aquece o lar dos pobres.
Perseu: O matador da Górgona Medusa. Era filho de Zeus e de Danaê, filha de Acrísios, rei de Argos. Advertido de que seria morto pelo neto, Acrísios trancou a mãe e a criança numa arca, lançando-os ao mar. Acabaram chegando à ilha de Sérifo, onde foram salvos e onde Perseu cresceu até a idade adulta. Polidectos, rei de Sérifo, apaixonou-se por Danaê e, temendo que Perseu talvez interferisse em seus planos, enviou-o numa missão para obter a cabeça da Medusa, um monstro para o qual quem voltasse o olhar, era transformado em pedra. Auxiliado por Hermes, mensageiro dos deuses, Perseu abriu caminho por entre as Gréias, três velhas decrépitas que compartilhavam o mesmo olho entre elas e vigiavam a caverna que levava ao local onde estavam as Górgonas. Perseu tomou-lhes o olho e recusou a devolvê-lo até que elas lhe dessem a direção para alcançar a Medusa. Recebeu das ninfas um par de sandálias aladas, um alforje mágico que guardaria qualquer coisa que fosse colocado dentro dele e um capacete que o tornava invisível. Equipado com uma espada de Hermes que nunca podia ser entortada ou quebrada, e um escudo da deusa Atena, que o protegeria de virar pedra. Perseu encontrou a Medusa e a matou. Com seu capacete que o tornava invisível, ele foi capaz de escapar da ira de suas irmãs e com a cabeça do monstro em seu alforje, ele voou em suas sandálias aladas de volta para casa. Em outros relatos, ao cortar a cabeça da Medusa, de seu interior surgiu Pégaso, o cavalo alado. Enquanto passava pela Etiópia, ele salvou a princesa Andrômeda que estava prestes a ser sacrificada para um monstro marinho e a tomou como sua esposa. Em Sérifo ele libertou sua mãe de Polidectos usando a cabeça da Medusa para transformar o rei e seus seguidores em pedra. Então todos retornaram à Grécia, onde Perseu acidentalmente matou seu avô Acrísios com um disco, cumprindo assim a profecia. De acordo com uma lenda, Perseu foi à Ásia, onde seu filho Perses governou os persas, povo que recebeu seu nome.
Poseidon - Depois que os Titãs foram derrotados por Zeus, na divisão do mundo coube-lhe a senhoria do mar e de todas as divindades marinhas. Tinha um palácio nas profundezas do mar, onde morava com sua esposa Anfiritre e seu filho Tritão. Sua arma era o tridente, com o qual levantava as ondas fragorosas, que engoliam as naus, e fazia estremecer o solo ou desperdiçar os recifes. Odiava Ulisses, por ele ter cegado o Ciclope Polifemo, seu filho. Foi inimigo de Tróia, depois que seu rei Laomendonte lhe negou a compensação pela construção das muralhas da cidade, ocasião em que mandou um monstro marinho para devorar Hesíon, filha do rei, que Héracles matou. Teve com Zeus, numerosos amores, todavia enquanto os filhos de Zeus eram heróis benfeitores, os de Poseidon eram geralmente gigantes malfazejos e violentos.
Zeus: O deus supremo do mundo, o deus por excelência. Depois de salvo por sua mãe Réia, cresceu numa caverna em Creta, amamentado pela cabra Amaltéia. Presidia aos fenômenos atmosféricos, recolhia e dispersava as nuvens, comandava as tempestades, criava os relâmpagos e o trovão e lançava a chuva com sua poderosa mão direita, à sua vontade, o raio destruidor; por outro lado mandava chuva benéfica para fecundar a terra e amadurecer os frutos. Chamado de o pai dos deuses, por que, apesar de ser o caçula de sua divina família, tinha autoridade sobre todos os deuses, dos quais era o chefe reconhecido por todos. Tinha o supremo governo do mundo e zelava pela ordem e da harmonia que reinava nas coisas. Depois de ter destronado o sei pai, dividiu com seus irmãos o domínio do mundo. Morava no Olimpo, quando sacudia a égide, o escudo formidável que lançava relâmpagos explodia a procela. Casou-se com Hera, porém teve muitos amores. Zeus era o chefe dos deuses, e o pai espiritual dos deuses e das pessoas.
Os Trabalhos de Hércules
Hércules (ou Héracles), o maior de todos os heróis gregos, era filho de Zeus e Alcmena. Alcmena era a virtuosa esposa de Anfitrião e, para seduzi-la, Zeus assumiu a forma de Anfitrião enquanto este estava ausente de casa. Quando seu marido retornou e descobriu o que tinha acontecido, ficou tão irado que construiu uma grande pira e teria queimado Alcmena viva, se Zeus não tivesse mandado nuvens para apagar o fogo, forçando assim Anfitrião a aceitar a situação. Nascido, o jovem Hércules rapidamente revelou seu potencial heróico. Enquanto ainda no berço, ele estrangulou duas serpentes que a ciumenta Hera, esposa de Zeus, tinha mandado para atacá-lo ao seu meio-irmão Íflico; enquanto ainda um menino, ele matou um leão selvagem no Monte Citéron. Na vida adulta, as aventuras de Hércules foram maiores e mais espetaculares do que as de qualquer outro herói. Por toda a antigüidade ele foi muito popular, o assunto de numerosas estórias e incontáveis obras de arte. Apesar das mais coerentes fontes literárias sobre suas façanhas datarem apenas do século III a.C., citações espalhadas por vários locais e a evidência de fontes artísticas deixam muito claro o fato que a maioria, se não todas, de suas aventuras era bem conhecida em tempos mais antigos.
Hércules realizou seus famosos doze trabalhos sob o comando de Euristeu, Rei de Argos de Micenas. Existem várias explicações da razão pela qual Hércules se sentiu obrigado a realizar os pedidos cansativos e aparentemente impossíveis de Euristeu. Uma fonte sugere que os trabalhos eram uma penitência imposta ao herói pelo Oráculo de Delfos quando, num acesso de loucura, matou todos os filhos de seu primeiro casamento. Enquanto os seis primeiros trabalhos se passam no Peloponeso, os últimos levaram Hércules a vários lugares na orla do mundo grego e além. Durante os trabalhos, Hércules foi perseguido pelo ódio da deusa Hera, que tinha ciúmes dos filhos de Zeus com outras mulheres. A deusa Atena, por outro lado, era uma defensora entusiasta de Hércules; ele também desfrutou da companhia e ajuda ocasional de seu sobrinho, Iolau.
O primeiro trabalho de Hércules era matar o leão de Neméia. Como esta enorme fera era invulnerável a qualquer arma, Hércules lutou com ele e acabou estrangulando-o apenas com suas mãos. A seguir, ele removeu a pele utilizando uma de suas garras, e passou a utilizá-la como uma capa, com as patas amarradas ao redor de seu pescoço, as presas surgindo sobre sua cabeça, e a cauda balançando em suas costas. O segundo trabalho exigiu a destruição da Hidra de Lerna, uma cobra aquática com várias cabeças, que estava flagelando os pântanos perto de Lerna. Sempre que Hércules decepava uma cabeça, duas cresciam em seu lugar, e, como se isso não fosse um problema suficiente, Hera enviou um caranguejo gigante para morder o pé de Hércules. Este truque desleal foi demais para o herói, que decidiu pedir ajuda a Iolau; enquanto Hércules cortava as cabeças, Iolau cauterizava os locais com uma tocha flamejante, de modo que novas cabeças não pudessem crescer, e finalmente dando cabo do monstro. A seguir, Hércules embebeu a ponta de suas flechas no sangue ou veneno da Hidra, tornando-as venenosas.
No Monte Erimanto, um feroz javali estava se portando violentamente e causando prejuízos. Euristeu rispidamente ordenou a Hércules que trouxesse este animal vivo à sua presença, mas as antigas ilustrações deste episódio, as quais mostram principalmente Euristeu acovardado refugiando-se num grande jarro, sugerem que ele veio a se arrepender desta ordem. Hércules levou um ano para realizar o trabalho a seguir, que era capturar a Corça do Monte Carineu. Este animal parecia ser mais tímido do que perigoso. Este animal era sagrado para a deusa Ártemis e, apesar de ser fêmea, possuía lindas aspas. De acordo com a lenda, Hércules finalmente aprisionou a Corça e a estava levando para Euristeu, encontrou-se com Ártemis, que estava muito zangada e ameaçou matar Hércules pelo atrevimento em capturar seu animal; mas quando ficou sabendo sobre os trabalhos, ela concordou em deixar Hércules levar o animal, com a condição que Euristeu o libertasse logo que o tivesse visto.
Os Pássaros Estinfalos eram tão numerosos que estavam destruindo todas as plantações nas vizinhanças do Lago Estinfalo em Arcádia; várias fontes dizem que eles eram comedores de homens, ou pelo menos podiam atirar suas penas como se fossem flechas. Não está muito claro como Hércules enfrentou este desafio: uma pintura de um vaso mostra Hércules atacando-os com um tipo de estilingue, mas outras fontes sugerem que ele os abateu com arco e flecha, ou os espantou para longe utilizando um címbalo de bronze feito especialmente para a tarefa pelo deus Hefesto. O último dos seis trabalhos do Peloponeso foi a limpeza dos currais Augianos. O Rei Áugias de Élida possuía grandes rebanhos de gado, cujos currais nunca tinham sido limpos, assim o estrume tinha vários metros de profundidade. Euristeu deve Ter pensado que a tarefa de limpar os estábulos num único dia seria impossível, mas Hércules uma vez mais conseguiu resolver a situação, desviando o curso de um rio e as águas fizeram todo o trabalho por ele.
Euristeu pede agora que Hércules capture o selvagem e fez touro de Creta, o primeiro trabalho fora de Peloponeso. Assim que Euristeu viu o animal, Hércules o soltou, este sobrevivendo até ser morto por Teseu em Maratona. A seguir, Euristeu enviou Hércules à Trácia para trazer os cavalos devoradores de homens de Diomedes. Hércules amansou estes animais alimentando-os com seu brutal senhor, e os trouxe de maneira segura a Euristeu. A seguir, ele foi imediatamente mandado, desta vez para as margens do Mar Negro, para buscar a cinta da rainha das Amazonas. Hércules levou um exército junto consigo nesta ocasião, mas nunca precisaria dele se Hera não tivesse criado problemas. Quando chegou à cidade das Amazonas de Temisquira, a rainha das Amazonas estava até feliz que ele levasse sua cinta; Hera, sentindo que estava sendo fácil demais, espalhou um boato que Hércules pretendia levar a própria rainha, iniciando-se uma sangrenta batalha. Hércules, é claro, conseguiu escapar com a cinta, mas após apenas duros combates e muitas mortes. Para realizar seus três últimos trabalhos, Hércules foi completamente fora das fronteiras do mundo grego. Primeiro foi mandado além da borda do Oceano para a distante Eritéia no extremo ocidente, para buscar o Rebanho de Gérião. Gérião era um formidável desafio; não apenas tinha um corpo triplo, mas para ajudá-lo a tomar conta de seu maravilhoso rebanho vermelho também utilizava um feroz pastor chamado Euritão e um cachorro de duas cabeças e rabo de serpente chamado Orto. Orto era o irmão de Cérbero, o cão que guardava a entrada do Mundo Inferior, e o encontro de Hércules com Gérião é algumas vezes interpretado como seu primeiro encontro com a morte. Apesar de Hércules Ter se livrado de Euritão e Orto sem muito dificuldade, Gérião, com seus três corpos pesadamente armados, provou ser um adversário mais formidável, e apenas após uma terrível luta Hércules conseguiu matá-lo. Quando retornou à Grécia, Euristeu enviou para uma jornada ainda mais desesperadora, descer ao Mundo Inferior e trazer Cérbero, o próprio cão do Inferno. Guiado pelo deus mensageiro Hermes, Hércules desceu ao lúgubre reino dos mortos, e com o consentimento de Hades e Perséfone tomou emprestado o monstro assustador e de três cabeças para mostrá-lo ao aterrorizado Euristeu; isto feito, devolveu o cachorro a seus donos de direito. Mesmo assim, Euristeu solicitou um último trabalho: que Hércules lhe trouxesse os Pomos do Ouro de Hespérides. Estes pomos, a fonte da eterna juventude dos deuses, cresciam em um jardim nos confins da terra; foram um presente de casamento de Géia, a Terra, a Zeus e Hera. A árvore que dava as frutas douradas era cuidada pelas ninfas chamadas Hespérides e guardada por uma serpente. Os relatos variam sobre como Hércules resolveu este trabalho final. As fontes que localizam o jardim abaixo das montanhas Atlas, onde o poderoso Atlas sustenta os céus em suas costas, dizem que Hércules convenceu Atlas a pegar as maças por ele; enquanto fazia esta jornada Hércules sustentou, ele mesmo, o céu; quando Atlas retornou, Hércules teve algumas dificuldades em persuadi-lo a reassumir o seu fardo. Outra versão da estória sugere que o próprio Hércules foi ao jardim lutando e matando a serpente ou conseguindo convencer as Hespérides a lhe entregar as maças. As maças de Hespérides simbolizavam a imortalidade, e este trabalho final significaria que Hércules deveria ascender ao Olimpo, tomando seu lugar entre os deuses. Além dos doze trabalhos, muitos outros feitos heróicos e aventuras foram atribuídos a Hércules. Na sua busca do jardim das Hespérides, teve que lutar com o deus marinho Nereu para compelir o deus a dar-lhe as informações que necessitava; em outra ocasião enfrentou outra deidade marinha, Tritão. Tradicionalmente foi na Líbia que Hércules encontrou o gigante Anteu: Anteu era filho de Géia, a Terra, e ele era invulnerável enquanto mantivesse contato físico com sua mãe. Hércules lutou com ele e ergueu-o do solo; desprovido da ajuda de sua mãe, ficou indefeso nos braços poderosos do herói. No Egito Hércules escapou por pouco de ser sacrificado pelas mãos do Rei Busíris. Um advinho tinha dito a Busíris que o sacrifício de estrangeiros era um método infalível de se lidar com as secas. Como o advinho era Cipriota, tornou-se a primeira vítima de seu próprio conselho; quando o método se mostrou efetivo, Busíris ordenou que todo o estrangeiro temerário o suficiente a entrar em seu reino seria sacrificado. Na vez de Hércules, deixou-se ser aprisionado e levado ao local do sacrifício antes de se voltar contra seus agressores e matar uma grande quantidade deles. Hércules não raramente se envolvia em conflito com os deuses. Em uma ocasião, quando não recebeu uma resposta que estava esperando da sacerdotisa do Oráculo de Delfos, tentou fugir com o trípode sagrado, dizendo que iria criar um oráculo melhor por sua própria conta. Quando Apolo tentou detê-lo, ocorreu uma violenta discussão, que foi resolvida apenas quando Zeus arremessou um relâmpago entre eles. Hércules era muito leal aos seus amigos; mais do que uma vez ele arriscou sua vida para ajudá-los, sendo o caso mais espetacular o de Alceste. Admeto, Rei de Feres na Tessália, tinha feito um acordo com Apolo que, quando chegasse a hora de sua morte, poderia continuar a viver se encontrasse alguém que quisesse morrer em seu lugar. Entretanto, quando Admeto estava se aproximando da hora da sua morte, mostrou-se ser mais difícil do que tinha calculado arranjar um substituto; após seus parentes mais velhos terem egoisticamente se recusado ao sacrifício, sua esposa Alceste insistiu para que fosse a sacrificada. Quando Hércules chegou, ela já tinha descido ao Mundo Inferior, indo ele imediatamente atrás dela. Então lutou com a morte e venceu, trazendo-a de volta em triunfo ao mundo dos vivos. Hércules era o super-homem grego, sendo muitas das estórias de seus feitos interessantes contos de realizações sobre-humanas e monstros fabulosos. Ao mesmo tempo Hércules, assim como Ulisses, também atua como se fosse um homem comum, sendo suas aventuras como parábolas exageradas da experiência humana. Irritadiço, não extremamente inteligente, apreciador do vinho e das mulheres (suas aventuras amorosas são muito numerosas), era uma figura eminentemente simpática; e no geral seu exemplo deveria ser seguido, pois destruía o mal e defendia o bem, superando todos os obstáculos que o destino lhe colocou. Além de tudo, ofereceu alguma esperança para a derrota da ameaça última e crucial do homem, a morte. O fim de Hércules foi caracteristicamente dramático. Uma vez, quando ele e sua nova noiva Dejanira estavam atravessando um rio, o centauro Nesso ofereceu-se para transportar Dejanira, e no meio da correnteza tentou raptá-la. Hércules matou-o com uma de suas flechas envenenadas, e ao morrer, Nesso, simulando arrependimento, incentivou Dejanira a pegar um pouco de sangue do seu ferimento e guardá-lo; se Hércules algum dia parecesse cansado dela, deveria embeber um traje no sangue e dá-lo para que ele o vestisse; após isso, ele nunca mais olharia para outra mulher. Anos mais tarde Dejanira lembrou-se deste conselho quando Hércules, voltando de uma distante campanha, mandou à frente uma linda princesa aprisionada pela qual estava evidentemente apaixonado. Dejanira mandou a seu marido um robe tingido pelo sangue; ao vestir a roupa, o veneno da Hidra penetrou na sua pele e ele tombou em terrível agonia. Seu filho mais velho, Hilo, levou-o ao Monte Eta e depositou seu corpo, retorcido porém ainda respirando, numa pira funerária, a qual acabou sendo acesa pelo herói Filoctetes. Entretanto, os trabalhos de Hércules asseguraram-lhe a imortalidade, assim ele subiu ao Olimpo e assumiu seu lugar entre os deuses que vivem eternamente.
Mundo Subterrâneo
O Mundo Subterrâneo está escondido na Terra. É o reino da morte e governado por Hades. Hades é o insaciável deus que está sempre interessado em obter vantagens para si. Todos aqueles que serve para aumentar o número de mortos são vistos positivamente por ele. As Erínias são convidadas bem-vindas. Ele sempre está propenso a não permitir que ninguém deixe o Mundo Subterrâneo. Para a maioria que vive lá, a vida no Mundo Subterrâneo não é necessariamente desagradável. É algo como um sonho terrível, cheio de sombras, sem luz ou esperança. Um local sem alegria onde a morte lentamente se transforma em coisa alguma. Geograficamente, o Mundo Subterrâneo está cercado por uma série de rios: Aqueron (rio da infelicidade), Cocito (rio da lamentação), Flegetonte (rio de fogo), Éstige (rio da promessa inquebrantável), e Letes (rio do esquecimento). Uma vez atravessados os rios, alcança-se um portão guardado por Cérbero, onde fica a entrada para o reino dos mortos. Nas profundezas do reino está o vasto palácio do Hades com inúmeros convidados. Há um barco guiado por Caronte que leva as almas através do rio. Somente aqueles que podem pagar a travessia com moedas colocadas sobre a língua dos cadáveres enterrados recebem a passagem. O restante é encaminhados para os outros dois mundos. Os mortos atravessam os portões e Cérbero permite que entrem, mas não que deixem o Mundo Subterrâneo. As almas então se vêem diante de um tribunal com três juízes: Radamanto, Minos e Eaco, que ditam as sentenças para cada um. Os bons são encaminhados para os Campos Elísios. Os outros são separados para um tratamento especial. Sísifo e Tântalo foram bons exemplos deste tratamento.
Hades, senhor do mundo inferior
O Nome Hades pode levar a confusão, porque era usado pelos antigos gregos tanto para o deus que mandava no Mundo Inferior como para o Próprio Mundo Inferior. Embora fosse o reino dos Mortos, o Hades grego não se parecia com a idéia posterior de inferno, um sítio onde os condenados sofriam penas eternas. Era um lugar para onde todos os mortos – bons ou maus – seguiam, guiados pelo deus mensageiro Hermes. Só quando lá chegavam era decidida a sua sorte. Alguns, principalmente aqueles que haviam ofendido os deuses, sofriam, mas aqueles que tinham sido bons, ajuizados e caridosos, e autores de grandes feitos, podiam ter uma além-vida muito feliz. Sobre todos estes assuntos mandava o deus Hades, um rei austero mas justo ao mesmo tempo.
O deus Hades não aparece muito nas lendas gregas, porque depois de passar a ser o senhor do mundo inferior poucas vezes de lá saía. Uma ou duas vezes quando uma ninfa o encantou, aventurou-se a sair no seu carro puxado por cavalos pretos de aspecto sinistro, e numa curta visita à Terra levou Prosérpina, a filha de Deméter. Mas, normalmente Hades ficava oculto no seu reino.
Todavia, o reino de Hades tem um importante papel nas lendas gregas. Muitos heróis gregos, em companhia de outros deuses, visitaram o Hades por qualquer razão, quando ainda estavam vivos. Uma das tarefas preferidas que um deus entregava a um mortal era mandá-lo era mandá-lo ao Hades e trazer um objeto ou qualquer outra prova da visita. Era precisa muita habilidade (ou ajuda de um poder mágico) para um mortal entrar no Hades e conseguir sair outra vez.
Nos primeiros tempos, acreditava-se que o Hades ficava para oeste, para lá do horizonte onde começava o rio Oceano, que dava a volta à Terra. Mais tarde, algumas histórias descreviam cavernas escuras e corredores compridos e medonhos, que conduziam ao mundo inferior, partindo das regiões do centro da Grécia como Tesprótis a oeste, ou através do mar Egeu, na Ásia Menor. Por onde quer que entrassem, os mortos poderiam sempre confiar em Hermes para lhes indicar o caminho.
Quando o morto era enterrado, colocavam-lhe na boca o uma moeda que se chamava óbolo. Pronunciando palavras de conforto, Hermes conduzia então a sombra do morto para longe dos parentes em lágrimas, cada vez mais para baixo, até a entrada do Hades. Ali, tinham que parar, porque o mundo inferior era cortado de rios por todos os lados.
Eram correntes de água que deslizavam vagarosamente através de túneis que apenas de vez em quando abriam para uma gruta onde se fazia um cruzamento. O Estige era o rio que circundava a parte do Hades chamada Tártaro, no lado do oriente e seus afluentes – Aqueronte e mais quatro circundavam o resto.
A travessia era feita, geralmente sobre o Estige, mas nunca se o óbolo tivesse sido esquecido ou perdido, ou se a sombra do morto fosse tão pobre que não pudesse pagar. Neste caso ficava sempre à espera na margem sem qualquer esperança, porque o Estige tinha um barqueiro que pedia a portagem a todos que usassem o seu barco. Este barqueiro era o terrível Caronte.
Quando o óbolo não era pago, levava às sombras de má vontade. Hades ordenara-lhe, ameaçando-o com um pesado castigo que não transportasse vivos, fossem quais fossem as razões que o invocassem a atravessar o rio. Mas alguns, com muita habilidade, conseguiam enganar Caronte ou convencê-lo a abrir uma exceção.
Hermes deixava sua carga nas margens do Estige. Ali, a sombra tinha que tomar o barco, os remos de Caronte mergulhavam silenciosamente nas águas sombrias e o barco afastava-se da praia, levando os passageiros para sempre da terra dos vivos. Na outra margem estava o monstruoso cão de três cabeças, Cerbero, apesar de seu aspecto ameaçador, Cerbero não faziam mal as sombras que desciam do barco de Caronte. A sua missão era impedir-lhes o caminho, se mais tarde tentassem tornar a atravessar o Estige para fugirem do Mundo Inferior. Também guardava a entrada contra visitantes intrusos.
Assim que desembarcava, a sombra tinha que atravessar a planície dos Narcisos. Esta era uma região de nevoeiros e de árvores sombrias, com ramos tristes como lágrimas, que pendiam para o chão e gemiam baixinho ao sabor do vento que soprava continuamente sobre a terra lisa e cinzenta. Aqui os mortais menos afortunados – aqueles que não tinham reclamações especiais a fazer quando eram julgados – ficavam, para o resto da eternidade, errando sem destino. Não sofriam tormentos especiais a não ser o aborrecimento, mas muitos teriam, de boa vontade, fugido, se pudessem.
Para além da Planície dos Narcisos ficavam os campos verdes do Érbero e do Rio Letes esquecia-se imediatamente da vida passada no Mundo Superior, por isso, as sombras vulgares nem sequer tinham nada para recordar. Por detrás erguiam-se as torres do esplêndido palácio de Hades, mas nenhum morto tinha o privilégio de passar pela enorme porta, com ferrolho de metal. Apenas os deuses do Olimpo, que vinham de visita e os deuses menores do Mundo Inferior tinham autorização de passar o limiar, e alguns mortos que de tempos a tempos eram chamados à presença do Rei do Mundo Inferior ou da Rainha Prosérpina.
Antes de chagarem às imediações do palácio, as sombras ficavam paradas à espera do julgamento sobre sua vida passada. Os juizes eram Minos, Radamanto e Éaco, escolhidos pela sua grande sabedoria e pela vida irrepreensível que tinham levado na Terra. Todos os dias os mortos acabados de chegar eram levados à sua presença, a tremer, se tinham praticado o mal, ou calmos e silenciosos, indiferentes ao seu fado.
Depois de serem julgadas, as sombras eram levadas por três caminhos. O primeiro conduzia a Planície dos Narcisos. Este caminho era muito percorrido, porque poucos mortos conseguiam convencer os juizes de que mereciam outro tratamento., e por isso a maior parte era obrigada a permanecer naquele sinistro lugar, onde a noite e o dia não passavam de uma meia luz. Poucos – os grandes heróis ou aqueles que tinham agradado aos deuses com sacrifícios ou um trabalho realizado à custa da própria vida – tinham mais sorte. À sua espera, no fim do segundo caminho, estavam os Campos Elísios.
Ali brilhava o Sol e as poucas nuvens no céu eram brancas e leves. Cantavam os pássaros por entre as árvores, principalmente nos ramos de um alto álamo que fora em tempos a filha do deus Oceano. As clareiras estavam sempre cheias do som de alegres músicas tocadas por flautas e liras, e havia sempre danças. Aqui nunca havia noite, porque as sombras não precisavam descansar. Faziam-se banquetes sempre que havia ocasião. O vinho corria em cascata, mas ninguém lhe sofria os efeitos, porque era impossível beber demais. Grandes salvas de uvas e romãs eram servidas no fim de cada banquete.
Os que tinham a fortuna de chegar aos Campos Elísios gozavam de um privilégio desejado acima de tudo pelas sombras do vale dos Narcisos: podiam, se quisessem, voltar à Terra. Mas, de fato, a sua nova vida era tão feliz que poucos a queriam deixar, mesmo por um curto espaço de tempo.
O Sábio juiz Radamanto governava os Campos Elísios, ou Elísio como também eram chamados. Um dos seus súditos era o titã Crono. Pode parecer estranho que Radamanto tenha aceito Crono no Elísio, porque ele tinha sido um deus cruel e invejoso. Mas alguns dos maiores e mais antigos deuses primitivos entre eles Crono, estavam automaticamente autorizados a viver nos Campos Elísios quando eram vencidos – porque os deuses não morrem. Não consta que Crono tenha prejudicado a felicidade dos outros no Elísio, nem que seu comportamento fosse diferente do de qualquer outro velho que foi violento enquanto novo, e se contenta no fim em viver de recordações.
O terceiro caminho por onde os juizes mandavam também os mortos levava ao Tártaro, cercado num dos lados pelo rio Estige. (Nalgumas versões, o nome de Tártaro é dado à todo o Hades.) Tinha um largo portão de bronze que era cautelosamente fechado por dentro, abrindo-se apenas para dar entrada a mais um morto. O Tártaro era semelhante ao inferno dos cristãos, um lugar de penas e danação eternas, reservado aos maus e àqueles que tinham desafiado ou ofendido os deuses. Os gritos de angústia ecoavam permanentemente nas altas muralhas triplas que rodeavam os condenados, e não consta que nenhum conseguisse escapar.
De todos os condenados ao Tártaro pela eternidade, talvez os mais famosos tenham sido os titãs, os antigos deuses que Zeus, os irmãos e as irmãs substituíram. Apenas Crono permaneceu no Elísio; os outros deuses vencidos foram condenados a sofrer por toda a eternidade. Um deles foi Tântalo, que matara seu filho Pelóps, servindo a carne dele aos deuses para ver se a distinguiam da carne de um animal. Os deuses descobriram o que ele tinha feito, e pelóps voltou à vida – embora um dos ombros já tivesse sido comido. Viveu o resto da sua vida com um ombro de marfim, Tântalo foi condenado imediatamente ao Hades. Como castigo foi pendurado numa árvore de frutos por cima de um lago de água limpa. Estava permanentemente cheio de fome e de sede, mas quando tentava chegar ao fruto, este fugia ao seu alcance, e quando se inclinava para beber, a água também se afastava. É daí que vem a expressão: "Suplício de Tântalo".
Outro condenado foi o gigante Títio, que atacou Latona, mãe de Apolo e de Artemisa, enquanto ela orava no santuário de Delfos. O filho e a filha salvaram-na, crivando o gigante de setas e, no Tártaro, Títio foi pregado ao chão, de braços e pernas abertos enquanto os abutres o picavam com seus cruéis bicos aguçados.
Sísifo, em tempos de rei de Corinto acorrentou a Morte quando ela o ia buscar. Durante muito tempo, ninguém morreu à face da Terra, e só quando Ares foi mandado libertar a Morte é que o reino de Hades voltou à normalidade. Por este e outros crimes, Sísifo foi mandado para o Tártaro e condenado a empurrar um pedregulho até ao alto do monte. Quando lá chegava, o pedregulho rolava outra vez pela encosta abaixo. Perto dele estava Ixíon da Tessália, amarrado a uma roda giratória em chamas por se ter atrevido a cortejar Hera, a mulher de Zeus. Zeus dera a uma nuvem o aspecto da mulher para iludir Ixíon. O estratagema resultou e, entretanto, Ixíon foi apanhado pelos centauros, estranhos seres, metade homem, metade cavalo, e mandado para o Tártaro.
E houve muitos outros, cada um com a sua história. Entre estes havia cinqüenta filhas de Dánao, eram conhecidas por Danaides. Eram descendentes de Io e tinham vindo do Egipto com o pai quando ele se tornou rei de Argos. Os cinqüenta filhos do irmão de Dánao, Egipto, seguiram-nas no intuito de casarem com elas. Dánao fingiu concordar com esse casamento em massa, mas na realidade foi a isso obrigado pelo caráter dominador do irmão. Deixou correr as cerimônias e obrigou as raparigas a jurar que assassinavam os maridos na noite de núpcias. Todas as raparigas, menos uma, fizeram o que ordenou, e foram por isso condenadas para sempre a tentar encher com água uma jarra crivada de buracos.
Eram portanto estes os três caminhos por onde as sombras tinham de seguir. O próprio Hades não interferia nas decisões dos juizes, a não ser que surgisse uma dúvida séria. Neste caso tinha sempre a última palavra. Só raramente Prosérpina intervinha – talvez quando as duas partes tivessem empatadas e fosse difícil decidir. Prosérpina pedia em geral um julgamento mais misericordioso, e por vezes Hades condescendia – mas ninguém mais o convencia ou se atrevia a tentar.
A mais importante das deusas menores do Hades era Hécata, que fora antes deusa da Lua e era filha de Zeus. Quando deixou o mundo superior, foi-lhe concedida grande autoridade no Hades, onde era conhecida como rainha invencível. Se os juizes achavam que um morto devia poder pagar os erros do passado, era Hécata quem presidia à cerimônia e à purificação que se seguia. Todavia, nem todas as suas atividades eram pacíficas. Era feiticeira, e capaz de mandar espíritos maus à Terra para atormentar aos homens que tinham procedido erradamente. Por vezes, vinha ela mesma à Terra, em noites de lua cheia. A sua figura apavorante, sempre acompanhada por três enormes cães, podia ser vista muitas vezes a vaguear nas encruzilhadas e nos sítios onde os túmulos projetavam sombras no chão.
As três fúrias – Tisífone, Alecto e Megera – viviam também no Hades. Eram horríveis de ver, porque tinham corpo de cão, asas de morcego e cabelos de serpente. Embora o mundo inferior fosse o seu reino, o seu papel era julgar a verdade das queixas feitas pelos mortais uns dos outros e aplicar o castigo aos que consideravam ter procedido mal. Atacavam principalmente os mortais que quebravam um voto sagrado ou planejavam assassinar os pais. Nenhum culpado escava ao chicote que elas usavam. Soltavam contra os culpados os Cário, ou cães do Hades, que eram mostros vermelhos com dentes compridos e aguçados. Os Cário perseguiam interminavelmente as suas vítimas, mesmo de país em país e através do mar, até matarem à dentadas e com ajuda das temíveis garras. Quando acabavam, levantavam vôo como falcões, carregando suas vítimas até ao reino das sombras
Fúrias
As Erinias (equivalentes às Três Fúrias romanas) viviam nas profundezas do Hades, onde torturavam as almas pecadoras. Nasceram das gotas do sangue que caíram sobre Gaia, a Terra, quando o deus Urano foi castrado. Pavorosas, tinham corpo de velha, cabeça de cão com cobras em vez do cabelo, pele negra retinta e asas do morcego. Chamavam-se: Tisífone (Castigo), Megera (Raiva Ciumenta) e Alecto (lnterminável).
Parcas
As Parcas (ou Moiras), filhas de Zeus e da Titãnida Têmis, controlavam o destino humano. As Parcas eram retratadas quase sempre como um trio do velhas sentadas fiando o fio da vida. Chamavam-se Cloto (a que torcia o fio), Láquesis (a que media seu comprimento e o enrolava) e Átropos (a que o cortava).
