Passe Para Mim

Ficar parado na porta daquela mansão não era uma situação muito agradável. Aliás nem deveria estar ali... Com certeza Tomoyo até tinha se esquecido dele. E não tinha sentido nenhum pegar um livro que não iria ler. Aquele fora um pretexto para reencontrá-la, se não fosse por aquele livro certamente nunca teria a possibilidade de se aproximar dela. Há muito tempo havia notado a presença dela na escola, e via como ela era inacessível a ele... Era rica, tinha uma beleza explendorosa. Embora ficasse escondida por trás daqueles óculos horríveis. Não admitia se sentir interessado por ela, preferia pensar que era por pena que queria ajudá-la. Tomoyo um dia seria igual a Miaka, ou até mais bonita... E isso seria graças a ele. Ele iria tirá-la da escuridão, e a traria para a luz dos olofotes da escola. Afinal foi isso que tratou com Sakura há uma semana atrás.

-Olá Eriol!-a voz melódica chamou sua atenção.-Estava esperando por você...Vamos, entre...

Como sempre Tomoyo estava vestida com aquelas batas pretas e com os cabelos trançados. Não entendia como uma garota tão bonita poderia ficar tão "sem-graça". E o que era pior Tomoyo queria ser feia.

-Bem, acho melhor não, Tomoyo...-disse ressabiado.

Sabia muito bem onde era seu lugar, não estava ali para ser humilhado e sim para ajudar aquela garota sair do buraco que se encontrava.

-Por quê? Se teme por minha mãe pode ficar despreocupado que ela já saiu.-Tomoyo falou abrindo o portão.-Estou sozinha em casa, então é necessário que fique envergonhado.

Se tinha uma pessoa prepotente naquela cidade, essa pessoa se atendia pelo nome de Sonomi Daidouji. Ela com o seu afamado marido pensavam que eram donos da cidade. Já havia tido um problema com ela uma vez... Não queria ter outro novamente. Seu pai ainda era um mísero empregado daquela mulher, ecertamente ela não gostaria nada de ficar sabendo que ele andava com sua filhinha.

-Mas...

-Vamos, Eriol.-falou o pegando pela mão.-Não tenha medo.

Eriol sentiu o calor das mãos dela sobre o seu braço e perdeu qualquer argumento. Um simples toque nunca havia o deixado tão sem ação em toda sua vida... Ao sentir o calor da palma da mão daquela garota em seu braço inexplicavelmente começara a suar frio. Estava nervoso... Mas não tinha o que temer, pois só sentia pena daquela menina.

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Na noite passada tivera uma leve discussão com Miaka. Percebera que a garota estava levando a sério demais o relacionamento de ambos. Tivera que em fim colocar um ponto final naquele relacionamento. Achava Miaka bonita, simpática, mas não a amava... Aliás, não acreditava no amor, esim no prazer que dois corpos poderiam proporcionar. Amor não existia...Era apenas uma figura abstrata que os poetas usavam para vender seus livros. Havia aprendido isso no decorrer de sua vida...

O"palácio"de Tomoyo era grande, espaçoso e bonito, muito diferente desua casa, queera do tamanho da garagem dos Daidouji... Até que não era revoltante estar ali no meio de tanto luxo e desperdício. Tinha pena da pobre Tomoyo naquele lugar frio e insólito. Isso explicava muito sobre a personalidade daquela garota.

-Bonita casa...-ele disse olhando para sala espaçosa e fria.

-Você acha?-perguntou sorrindo.-Para mim essa casa é uma prisão...-concluiu triste-que me encarceraram

Devia ser duro morar naquela casa mesmo. Mas não era sobre isso que a garota estava falando... Havia algo nublado em seus olhos... Algo triste. Era pobre, mas pelo menos tinha sua liberdade. Podia ir para onde quisesse, andar de skate, mesmo não pichando mais muro não deixava de querer expressar sua arte.

-Sim, sua casa é grande e bonita.-respondeu andando pela a sala parando na frente de um quadro.

Achou interessante a gravura daquele quadro. Por algum momento pensara que aquela mulher fosse Tomoyo. Tinha o mesmo sorriso... a mesma feição.

-Essa é Nadeshiko, mãe de Sakura.-informou ela se aproximando dele.-Eu e Sakura somos primas, minha mãe é prima de Nadeshiko.

Nunca havia escutado aquilo. Nem em seus sonhos imaginaria que Sakura e Tomoyo fossem primas. Aliás não sabia nada de Tomoyo, aquela era uma boa oportunidade de descobrir, e assim ficar mais próximo de ganhar a aposta firmada com Shoran.

-Interessante...-falou pensativo olhando para o quadro de um homem típico inglês pendurado na parede.-Quem é esse?

Por algum momento percebeu que os olhos azuis escureceram. Depois como um pôr-do-sol um sorriso se fez naqueles lindos lábios.

-Meu pai.-disse sorrindo.-Henry White... Infelizmente já não é mais vivo.

Então o idiota do Takashi não era pai de Tomoyo? Era bom saber disso, sorrindo olhou para garota morena, pois se tinha uma pessoa que odiava nesse mundo era aquele homem. Duro, egoísta e cruel. Por causa dele havia sido preso, e seu pai quase perdera o emprego. Se antes tinha um pouco de pena da jovem, agora tinha muito mais. A coitada devia sofrer horrores nas mãos daquele crápula.

-Lamento pelo o seu pai.

-Eu sei... Eu também lamento muito.-falou abrindo um sorriso triste.-Tudo seria diferente se ele estivesse vivo.

Tomoyo não gostava do padrasto isso estava bem claro para ele. Talvez o senhor White tivesse sido um bom pai para ela, e assim que ele morrera a vida de Tomoyo havia se transformado em um inferno. Não era por menos, a vida ao lado daquele demônio devia ser uma droga.

-Bem, vamos até a biblioteca.-disse segurando as mãos dele.-Assim procuro o livro, enquanto você toma café com o meu avô.

-Não sabia que tinha avô.

-E não tenho, mas considero o pai de Takashi como um.-ela falou sorrindo.-Felizmente ele não é que nem o filho.

Não confiava nisso... Takashi havia herdado o sangue ruim de alguém. Até hoje não sabia qual era a razão parao rapazodiar tanto sua família, esse era um dos motivos que quase o havia impedido de entrar naquela casa, não queria arranjar mais umproblema para Tomoyo.

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Não tinha que se preocupar com Tomoyo. Não tinha motivo para estar ali. Por que tinha que insistir em ajudá-la? A aposta com Shoran não era tão importante assim. Era mais por honra do que necessariamente por dinheiro. Não tinha a obrigação de manter sua palavra. Não gostava de ler, ou ficar fazendo papel de bom menino. Takashi poderia tomar sua visita ali como uma provocação.

Agora era tarde demais para fugir. Aquela garota havia mexido muito com ele... E sabia que não a deixaria enquanto não mudasse aquele comportamento estranho dela. Iria ajudá-la quem sabe escapar das amarras que a prendiam naquela maldita casa.

-Essa é biblioteca.-disse ela abrindo a porta.-É o lugar dessa casa que mais gosto.

Era um ambiente frio, mas não deixava de ter seu charme. Era uma mistura de cultura medieval, com a modernidade de agora. O computador ficava no canto da sala, ao lado tinha uma escrivaninha do século passado. Era tudo sofisticado demais para seu gosto.

-Aqui era o lugar preferido de meu pai.-disse abrindo as janelas.-Mantenho fechado, pois não quero que ninguém toque nos pensamentos dele. Apenas meu avô tem a chave, mas ele é discreto.

Olhando para os cantos não viu o velho pai de Takashi. Mentalmente ficou aliviado... Certamente o senhor não gostaria de vê-lo ali.

-Entendo.-disse sorrindo entrando na sala.-Essa é a única biblioteca da casa?

-Não, existe uma na anti-sala.-informou.-Mas evito ir lá...Não me traz lembranças boas.Além do mais, aquitem tudo o que preciso.

Não compreendia porque uma garota como aquela ficava trancada num ambiente tão fúnebre igual aquele, em vez de estar com as amigas em alguma festa. Certamente ali tinha milhares de livros...

-Nossa...Estou impressionado.-disse andando pela a sala.-Seu pai devia gostar muito daqui.

-Sim, ele queria que aqui fosse mais do que uma simples "sala de diversão".-ela falou pegando o livro para ele.-Está tudo como ele deixou.

Admirava o pai de Tomoyo. Certamente ela havia puxado muito da personalidade daquele homem. Mesmo não sendo o tipo de garota que gostava, não podia deixar de sentir admiração pela aquela alma triste.

-Aqui está o livro.-disse estendendo o livro para ele.-Tenho certeza de que vai gostar.

Tinha dúvidas sobre isso. Nunca fora de ler, não seria agora que iria começar. Mas pelo menos tentaria gostar daquele livro. No momento se sentia hipnotizado com os olhos de Tomoyo... Tendo as mãos estendidas para ele e com um sorriso cativo nos lábios.

-Obrigado...Juro que vou ler.-disse virando para não encará-la, pois não sabia do que seria capaz se continuasse olhando para aquela face tão meiga e delicada. Não iria quebrar seu juramento de não se envolver com a "rainha do gelo" como Tomoyo era chamada na escola.

-Tomara que goste do livro.-ela falou sorrindo.-Agora que talfazermos um lancinho.

-Eu tenho que ir agora...

Eriol percebeu que os olhos azuis da menina haviam escurecido, e a expressão do rosto contraído. Era um idiota por não aceitar o convite... Não custaria nada a ele ficar mais alguns instantes com ela.

-Por favor, fique mais algum minuto.-ela pediu não escondendo o constrangimento.

Faria de tudo para ela voltar a sorrir. Até mesmo faltar ao compromisso que tinha com o seu pai. Não importava o tempo, pois a vida é feita de minutos e segundos, e não de horas e dias.

ooooooOOOOooooo

Era o jardim mais deslumbrante que tinha visto. Mas parecia um grande orquidário do que um jardim de uma mansão. Ele que não era ligado muito nisso havia se apaixonado pela raridade que havia ali naquele canto. Mas o mais bonito naquilo tudo era Tomoyo, pois o sol a deixava radiante... A escuridão não havia sido feito para ela.

Queria muito vê-la amanhã também. Algo estava mudando nele... Nunca havia convidado ninguém para sair. E agora lá estava ele nervoso, com medo de levar um fora. Não, era arriscado demais levar aquilo a sério. Mesmo tendo ela ali tão próxima dele... Sentada a seu lado. Tinha uma vontade enorme de abraçá-la. Naquele momento sentia a respiração dela como se fosse a sua. Era estranho se sentir assim com uma desconhecida.

-Sempre adorei a natureza...-ela sussurrou a seu lado.-Tudo isso só me traz alegria...

-Eu nunca me interessei muito.-ele confessou olhando para expressão sonhadora da garota.-Acho que nunca fui muito romântico...

Era bem realista, nunca fora de ficar alimentando esperanças de ninguém. Mas isso não o deixava frio e racionário. Preocupava-se muito com as pessoas. Tanto que estava ali para tirar aquela garota do escuro que sua vida se encontrava.

-Eu aprecio muito há natureza.-Ela falouapanhando uma flor silvestre.-Pode parecer estranho, mas invejo essa flor...

Notou que ela tratava com carinho a flor. Sua mãe antes de morrer havia lhe falado que o dinheiro não era tudo na vida, pois já havia tido tudo, e nem por isso fora feliz. Agora entendia o que ela queria lhe dizer. Tomoyo tinha tudo o que uma garota poderia querer naquela situação, mas não tinha algo que era o complemento da vida. Que era a felicidade.

-Você é feliz, Tomoyo?-perguntou ele já sabendo a resposta.

Ela ficou estática por alguns minutos. E depois olhando fixamente para flor falou:

-Não, eu não sou feliz. Nunca fui na verdade... Meu pai morreu quando era pequena. Logo em seguida minha mãe se casou novamente, e a partir daí minha vida se transformou em um inferno.Bem que tentei, mas é impossível.-concluiu abaixando a cabeça.

-Eu sei como se sente. No fundo sinto o mesmo.-disse se lembrando dos últimos momentos de vida da mãe.-Também perdi minha mãe logo cedo, meu pai virou um alcoólatra... E por anos vem lutando contra esse vício.

Ela olhou para ele com pesar. Mas no fundo ele não queria que ela tivesse pena dele... Não queria que ela sentisse por ele o que ele sentia por ela. Não suportaria que alguém, ainda mais ela, sentisse pena dele. Aquela era primeira vez que contava sobre sua família a alguém.

-Sinto muito por sua mãe.-ela falou tocando a mão dele.

Não, ela não podia saber. Mas mesmo assim não pode deixar de sentir o corpo tensionar com o toque inocente da mão dela sobre a sua. Se não fosse embora agora talvez viesse a fazer alguma coisa que fosse se arrepender mais tarde. Como beijá-la, por exemplo.

-Agora tenho que ir, Tomoyo.

Percebeu a expressão triste dela. No fundo aquela menina era muito sozinha. Tinha que ajudá-la a sair daquele lugar logo. Antes que ela se alto destruísse.

-Eu o acompanho até a porta.-ela falou se levantando do chão.

Não esperaria até segunda para vê-la novamente. Iria se encher de coragem e ir para luta. Afinal havia prometido a si mesmo a ajudá-la a sair daquela situação. Não se importava mais com que os outros iriam dizer dele.

ooooooo

Quase caía a noite. Certamente seu pai iria ficar muito nervoso quando chegasse em casa, mas por algum motivo não se importava com aquilo. No momento estava mais preocupado em convidar a garota na sua frente para sair.

-O que pretende fazer amanhã, Tomoyo?-perguntou curioso.-Se não for fazer nada... Bem que poderíamos sair juntos...-disse parando no portão.

Os segundos lhe pareceram uma eternidade. Aquela não era a primeira vez que convidava uma garota para sair, mas era a primeira vez que esse encontro tinha importância para ele.

-Não vou fazer nada de interessante.-ela apressou em falar vermelha como um pimentão.

-Então aceita sair comigo amanhã?-perguntou ansioso segurando as mãos dela.

-Sim, adoraria te encontrar...

-Então está certo... Amanhã te pego às nove horas aqui.-disse soltando as mãos dela.

Por alguns segundos ficara ali só a observando. Depois como um cavalheiro beijou-a no rosto. Um gesto que só serviu para atiçar seus sentimentos por ela. Gostava de Tomoyo, e por isso a iria fazer feliz, pois a tornaria na garota mais popular da escola. Mas antes disso precisava modificar algumas coisas nela. Mas por algum motivo não se sentia tão animado com isso.

Continua...