UM ENCONTRO COM – CAPITULO FINAL
O AMOR E CHÁ DE BOLDOShina subia de volta a escadaria das doze casas. Com certeza, àquela hora Shura já devia estar desmaiado na casa de Gêmeos. O espírito machista daqueles europeus fazia com que competissem pra ver quem era mais "macho" agüentando beber sem cair ou vomitar, mas até o organismo de um cavaleiro de ouro tinha um limite para a absorção de álcool. Kiril já tinha saído pra balada e a casa de Áries estava vazia. Na casa de Touro, Aldebaran tinha deixado um saquinho de ervas na passagem: boldo. Shina sorriu. Ia precisar mesmo. Apressou os passos, tentando ouvir algum som da casa seguinte. Ouviu mesmo, três vozes moles cantando uma canção bem dor de corno, entremeadas de palavrões em espanhol e grego, principalmente dirigidos a quem tocava o violão, que estava errando muito.
-Não, não... – reclamava Kanon, tendo dificuldades em se levantar e ir reclamar no ouvido do tocador, Shura. – Está fora do tom, seu grosso. Não é esse o acorde...
-Fora do tom está o teu ... – gritava o espanhol, vermelho. Mas se percebia que ele não conseguia enxergar direito onde punha os dedos no braço do instrumento e nem lembrava se já tinha feito aquele acorde ou não.
A presença da amazona foi saudada com vaias e aplausos. Saga soluçou, abraçando-a:
-Estão vendo o que é o amor verdadeiro? A Shininha veio atrás do amor dela, pra agora dar um bom trato nele... E a minha noiva, onde está uma hora dessas? Afagando a cabecinha de um monte de pirralhos...
-Vai lá, espanhol sortudo. – empurrou Kanon, quase caindo junto. – Deixa a mulher aí te dar um trato... mas dê um trato nela você também, se conseguir levantar alguma coisa... – e riu, malicioso.
-Estás me estranhando, cabrón? Aqui tudo levanta... – e caiu, sentado de volta na cadeira da varanda de Gêmeos, provocando gargalhadas dos irmãos.
Shina sacudiu a cabeça e franziu o nariz ao cheiro dos "borrachos". Levantou Shura e se despedindo, foi levando-o pela passagem de atalho. Foi a subida mais complicada da vida dela, porque ele queria voltar, queria beija-la, queria entrar nas casas onde os casais estavam "só pra sacanear", a casa de Capricórnio nunca esteve tão longe... Com muito custo e paciência, ela levou-o para o segundo andar, tirando as roupas dele e colocando-o num banho frio, onde aprendeu mais um monte de palavrões em espanhol. Emburrado feito uma criança, Shura não queria tomar o chá de boldo que ela preparou. Gemendo por causa do enjôo que o estava acometendo, foi para a cozinha fazer um suco de tomate. Foi olhar para o copo e tudo virou de uma vez, o estômago, a cozinha, a escadaria, fazendo com ele lavasse o chão da cozinha mesmo. Shina se recusou a entrar lá, o que obrigou o pobre Shura limpar a sujeira sozinho. Depois, ele deitou na cama e tomou o suco de tomate com duas aspirinas, sentindo a cabeça latejar e o estômago doer. Mas a morena começou a massagear suas têmporas, acariciar seus cabelos escuros e ele foi sentindo tudo passar. Ao senti-lo adormecido, Shina se ajeitou ao seu lado e beijou-o de leve.
"Como pode? Se fosse outro, eu teria ido dormir há muito tempo e ele que se ferrasse sozinho... Agora to aqui, preocupada com a ressaca dele, me sentindo muito bem com a sua presença junto a mim. É, to ficando muito mole..."
Depois que Shina levou Shura, Kanon se espreguiçou e cambaleando, foi pegando o rumo do quarto.
-HEY! Onde você vai?
-Dormir, cacete! Acha mesmo que eu vou ficar aqui, vendo você beber e choramingar, Saga? Se eu fosse você, ia fazer o mesmo. – arrotou alto e soluçou. – Hoje a morena não sobe mais. Aliás, é o melhor que ela faz mesmo. Você ta um porre... – riu, da própria piada sem graça... – Um porre, sacou?
Saga mandou a garrafa onde achava que estava o irmão, errando por quilômetros, xingando:
-Vai, filho de uma p, me abandona mesmo, você também... – soluçou ele. – Não posso contar nem com meu próprio sangue. Mas eu não preciso de ninguém. – Virou o resto do copo. – DE NINGUÉM! NINGUÉM... além do banheiro agora...
Se levantou com dificuldade e foi cambaleando atrás do seu quarto. Abriu a porta e fechou um olho pra ver se acertava o alvo, se aliviando com um suspiro. Fechou a porta e virou-se, tropeçando no tapete e se esparramando na cama, a batida do estômago no colchão tendo efeitos catastróficos. Colocando as mãos sobre a boca, Saga virou-se e engatinhando, abriu a porta do banheiro, se contendo com dificuldade, a ânsia estonteando-o, quase que não consegue levantar a tampa do vaso, achando que ia colocar todo o aparelho digestivo pra fora... No meio daquela névoa de sensações horríveis, ouviu um gemido baixo, uma mão fria puxou os cabelos pra longe do rosto, enquanto outra lhe segurava a testa. Logo a mão se afastou para apertar o botão da descarga e ambas sumiram por um tempo. Saga continuou com a cabeça baixa, o corpo dolorido, o enjôo ainda presente. Ouviu a torneira da banheira ser aberta, a mesma ser enchida e as mãos voltaram para lhe despir, lhe ajudar a entrar na peça cheia de água morna, e fizeram massagem em seus ombros, sua cabeça encostada em coxas cheirosas, depois os dedos longos massagearam sua testa, seu rosto... Meio consciente saiu da banheira, foi enxugado, vestiu os shorts do pijama e foi levado pra cama, onde adormeceu.
No dia seguinte, Saga acordou sentindo que estava acomodado em um corpo macio e cheiroso.
"P que pariu. Só me faltava essa. Dormi com alguma serva. Agora além da ressaca, os gritos daquela mulher... Bom, primeiro, me livrar da prova do crime..."
Abriu um olho azul e olhou pra cima, para encontrar uns olhos castanhos carinhosos e preocupados.
-Está se sentindo bem, amor?
-TERPSICORE! – Saga se levantou de uma vez, provocando milhões de pontadas na cabeça e um enjôo fenomenal. Ofegando, fechou os olhos e se deitou de novo. – O que você ta fazendo aqui?
-Achei que você ia precisar de mim e subi. Quando cheguei você estava pondo todas as tripas pra fora...
-Acha? Que exagero... Só bebemos um pouquinho depois da festa e... mulher, pega uma aspirina pra mim? Parece que eu tenho um monte de pequenas explosões galácticas no cérebro.
-Um pouquinho? Sei... olha, toma aqui.
-Que merda é essa?
-Chá de boldo gelado. Vai te fazer bem.
-Ta pensando que eu to de ressaca, é? Pois eu não to. E eu não bebi nem metade do que eu to acostumado, fique sabendo. Mas que cheiro é esse?
-Vem do seu armário.
Gemendo e segurando a cabeça, Saga se levantou e abriu o armário. O cheiro estava insuportável. Abriu a gaveta de meias e cuecas. Ficou vermelho na hora. Terpsicore estava atrás dele, se segurando pra não estourar de rir. Quando ele virou-se para ela, a noiva estendeu as aspirinas e o copo de chá gelado. Saga tomou sem reclamar, apenas fazendo uma careta. Terpsicore puxou-o de volta pra cama, acariciando-o de leve, para tirar a ruga da sua testa. Até que Saga a beijou, dividindo o gosto amargo do boldo com ela, rindo os dois da situação. Com cuidado, ela subiu em cima dele, beijando o corpo todo, dando uma atenção especial numa região sensível, fazendo o dono dela gemer. Procurando não sacudir muito, Pipe fez amor com Saga cuidadosamente, relaxando-o... Depois se deitou novamente na cabeceira da cama, ajeitando-o no meio dos seus seios.
-Aaaah, esse é o meu lugar, definitivamente...
-Dia de trampo, sabia? O Camus e o Dohko já devem estar lá...
-O Dohko, talvez. O Camyu duvido... O Milo estava muito fogoso ontem...
-Hmmm...
-Pipe... hmmm... você não vai contar, né?
-Que você errou a porta do banheiro e urinou na sua própria gaveta do armário embutido porque tava bêbado demais pra notar? Não, mas e a serva que vai lavar suas meias e cuecas? E como você vai fazer pra ir trabalhar?
-Pego do Kanon. Uma das vantagens de se ter um irmão gêmeo.
-Então vai ter que subornar o Kanon também...
-Quem tem uma família como vocês não precisa de inimigos... Você lavaria minhas cuecas e meias, não, lindinha? O Kanon deixa que eu me viro com ele...
-E o que eu ganho com isso?
-Minha gratidão... é pouco pra você?
-Até que não... Mas que tal ser um pouco mais generoso, amor?
-Perfume ou DVD?
-A caixa do Senhor dos Anéis.
-Feito. Quem será? Espera um pouco... – alguém estava batendo na porta. Vestiram seus robes e Saga foi abrir a porta. Kanon entrou, parecendo muito envergonhado.
-Bom dia... oi, cunhadinha, você por aqui... To estourando de dor de cabeça...
Saga estendeu o copo de chá de boldo. E reclamou:
-Toma! Tudo, vai te fazer bem. E tem aspirina no seu quarto. Que foi?
-Ah, é que... podemos falar em particular um minutinho?
-O que não pode ser dito na frente da minha mulher, Kanon?
-Uma coisa que me deixa muito sem graça, que tal?
-Vou ao banheiro, fiquem à vontade... – Pipe se levantou e fechou a porta, esperando que Saga abrisse o link mental entre eles. E foi assim que ela ficou sabendo que...
-... e eu mijei dentro do guarda-roupa, acredita nisso? E agora? Você pode me emprestar um par de meias e cuecas limpas?
Ela enfiou o rosto dentro da toalha de rosto dobrada pra rir, pensando no que o seu noivo iria dizer... É, essa festa de noivado foi mesmo inesquecível...
N/A: Ah, o último capítulo foi pra quebrar um pouco a "quentura" dos outros... E esse negócio de urinar no guarda-roupa eu tirei de uma piada antiga... Uau, que capítulo escatológico...Engraçado, mas nojentinho. Ah, sim, ninguém foi cuidar do Kanon, porque eu sabia que tinha duas pessoas diferentes interessadas e eu não quis dar a preferência pra nenhuma das duas, pra ser justa (Viu, Tere-chan e Volpi?). Agora vamos nos concentrar no casamento em si. Chega de side-stories...
13/11/04
