3. RAZÕES

Sirius olhava paralisado para a cobra. Já havia visto aquela imagem antes, mas ele não estava animado com a lembrança de algo do seu passado, pelo contrário. Aquela cobra verde no céu fez ele preocupar-se com o que aconteceria a partir de agora, embora ele não soubesse exatamente o que iria acontecer.

- Que coisa é aquela? - Elinor sussurrou lentamente, apontando para o céu.

Montados em vassouras, cerca de dez pessoas, com o rosto coberto por uma máscara e usando um capuz negro, voavam ao redor da cobra.

- Eles estão aqui por minha causa. - Sirius disse ainda olhando para a cobra, evitando olhar para Elinor - Eu os vi seguindo o carro hoje à tarde, quando estávamos indo para a delegacia.

- Sirius, você conseguiu?! - Elinor arregalou os olhos com surpresa - Você se lembrou?!

- Não, mas você já tinha visto isso acontecer antes? - Elinor negou com a cabeça, e Sirius continuou - Como eu esperava. Eles só podem estar atrás de mim.

- Mas... - Elinor franziu a testa - por que eles estão atrás de você?

- Para ter certeza de que eu não vou voltar. - ele murmurou, olhando fixamente para Elinor.

Elinor balançou a cabeça, aturdida com o que Sirius falava.

- Sirius, você não está brincando comigo, está? Você se lembrou de tudo e não está me contando porque é um contrabandista, um fugitivo, um... - enquanto falava, Elinor gesticulava exageradamente.

Sirius mal ouviu a primeira frase que a loira disse. Assim como fez ela sair da casa, a segurou pelo braço e a levou até um pinheiro.

- Fique aqui. Eles não querem você, e eu posso me cuidar sozinho.

Elinor se debateu, tentando libertar-se.

- Mas eu quero ajudar!

- Acredite-me, você vai me ajudar mais se eu tiver certeza que você está em segurança.

Sirius se afastou, sem esperar pela resposta de Elinor, e o que aconteceu em seguida foi rápido demais para que ele conseguisse impedir. Enquanto voltava para a casa, sem idéia do que iria fazer, um dos mascarados voou baixo, com uma varinha apontada para Sirius, que se abaixou, por instinto.

Elinor viu Sirius se afastar e bufou indignada. Ela balançou a cabeça, e o seguiu, falando, sem notar o que estava acontecendo.

- Eu não vou ficar parada enquanto minha casa é...

A loira não entendeu porque Sirius se jogou na neve, até ver um feixe de luz atravessar o ar em sua direção. Elinor arregalou os olhos, paralisada com a certeza de que não haveria tempo para fugir.

- Não, Elinor!

O grito de Sirius foi quase tão forte quanto o grito de dor da mulher, que desequilibrada com o impacto no peito e a dor que sentiu, caiu no chão e rolou na neve. Esquecendo os mascarados, a cobra verde que ainda se movia no céu e qualquer outra coisa, Sirius correu desesperado em direção a Elinor, escapando de novos raios por poucos centímetros. Ela estava caída com o rosto voltado para a neve, e começava a sufocar quando Sirius a virou, constatando que ela estava inconsciente.

Sirius voltou-se para os mascarados, que agora voavam para onde ele estava com Elinor. Uma fúria dominou-o, e mais do que por desejo de se vingar pelo que havia acontecido a Elinor que para se salvar, Sirius jogou a primeira pedra que alcançou direto no rosto de um dos mascarados.

Teria sido a coisa mais infantil que ele havia feito, pelo menos do pequeno pedaço de sua vida que lembrava, não fosse o resultado. A máscara caiu, revelando o rosto de um homem de cabelos loiros, com a pele tão pálida quanto a do próprio Sirius. Somente os olhos do homem demonstravam uma reação, e era pânico.

- Vamos embora! - e antes que um dos outros mascarados protestasse, ele ordenou - Agora!

Se Sirius pudesse ver os rostos escondidos nas máscaras, teria visto decepção e frustração no olhar deles, mas apesar disso, eles seguiram o loiro, que deveria ser o líder, sem deixar de soltar alguns raios ao acaso, errando Sirius ou Elinor por muito.

À medida que os mascarados se afastavam, o verde brilhante ficava mais fraco, até desaparecer totalmente, mas Sirius não viu nada disso acontecer. Ele estava ao lado de Elinor, tentando fazê-la voltar a si.

- Elinor, acorde! - ele sacudiu o rosto dela levemente, e tentou chamá-la, mas nada fez a loira acordar.

A respiração dela era lenta e dificulta. Sirius não podia fazer nada para Elinor melhorar, porém, sabia quem ajudaria. Com agilidade e ao mesmo tempo cuidado, segurou o corpo de Elinor e a levou até o carro, estacionado na garagem ao lado da casa.

Sirius acomodou Elinor no banco de trás, e sentou-se ao volante. Lembrando de como ela fez o carro mover-se, procurou pela chave, mas não estava na ignição. Ele estava saindo do carro quando viu a bolsa de Elinor, e encontrou a chave dentro dela.

- Certo, isso deve ser fácil... - ele disse depois que ligou o carro.

Vendo os pedais próximos aos seus pés, Sirius pisou no da direita, e o carro foi bruscamente para a frente, parando em seguida e desligando.

- Ora, vamos, o que eu fiz errado? - ele disse com impaciência, mas imediatamente percebeu o que não havia feito - Droga, esqueci de mexer nisso aqui! - Sirius disse enquanto mudava a marcha, e dessa vez tirou o carro da garagem.

Apesar de não conseguir manter o carro na faixa correta, Sirius aprendeu em pouco tempo a controlar o carro, e levou Elinor ao hospital.

- Um médico, urgente! - Sirius gritou, entrando no hospital com Elinor nos braços - Ela não está respirando!

Uma médica se aproximou.

- O que aconteceu? - ela perguntou enquanto examinava Elinor, sem olhar para Sirius.

- Fomos atacados quando chegávamos em casa, Elinor foi atingida por alguma coisa no peito e rolou na neve, eu corri atrás do homem, mas ele fugiu. Quando eu voltei para Elinor, ela estava desmaiada.

Era mais uma mentira que ele contava, mas não poderia dizer a verdade. Ele poderia não se surpreender com pessoas que voavam em vassouras, mas duvidava que a mulher fosse pensar o mesmo.

- Me ajude a colocar ela na maca.

Sirius obedeceu à médica, e a seguiu enquanto ela empurrava a maca para uma sala, dando ordens para um enfermeiro, até que a médica voltou-se para Sirius pela primeira vez.

- Você não pode continuar, fique esperando na sala de espera que logo eu irei falar com você.

Sirius olhou para a médica levando Elinor para dentro de um corredor e se não fosse a porta de entrada para as salas de emergência fechar, teria continuado. Sem outra alternativa, perguntou para alguém onde ficava a sala de espera, e foi para lá.

A espera era angustiante. Sirius levantou e andou pela sala, sentou-se e ficou balançando a perna, até que a porta foi aberta, mas não era a médica. Era o delegado.

- Senhor Black, o hospital me avisou o que aconteceu, você poderia me informar sobre o - o delegado fez uma pausa antes de continuar, encarando Sirius fixamente - atacante.

Sirius concordou com a cabeça, percebendo a insinuação do delegado. Ele achava que quem havia atacado Elinor era Sirius, e não um assaltante.

- Ele era alto, mas com ombros pequenos. Ele era loiro, a pele bastante pálida, os lábios e nariz eram longos e finos, e os olhos pequenos e cinzentos.

- Você não tentou alcançá-lo? - o delegado perguntou enquanto anotava a descrição do atacante.

- Não, eu estava preocupado com Elinor. Ela poderia ter se machucado, e eu teria que levá-la para o hospital, como acabou acontecendo.

- E você fez bem em trazê-la.

- O senhor viu como ela está? - ele perguntou, atento.

- Sim, a senhora Bennet vai ficar bem, mas se não tivesse sido trazida imediatamente, teria sido pior.

- O que aconteceu com ela, delegado? - ele perguntou, preocupado.

- Ela ainda está inconsciente, mas só teve o braço e a perna fraturados. A doutora Winters logo virá para o senhor ir vê-la. Eu vou voltar à delegacia e mandarei vigiarem a estrada.

O delegado saiu, e em seguida, a médica entrou.

- Senhor Black, você já pode ver a senhora Bennet.

Sirius levantou-se e seguiu a doutora Winters até um dos quartos. Elinor estava deitada, inconsciente, mas apesar disso, Sirius se aproximou da cama e falou.

- Oi, Elinor. - ele segurou a mão esquerda - A médica disse que você vai ficar bem - Sirius encarou o rosto pálido de Elinor, e continuou -, mas eu não consigo esquecer que se não fosse por mim, nada disso teria acontecido.

Elinor franziu a testa, e pensando que ela fosse acordar, Sirius se calou, mas como a mulher continuou adormecida, ele recomeçou.

- Por isso eu decidi que vou embora. Não agora, eu sei que você vai precisar de mim enquanto não puder andar, Elinor, mas assim que você se recuperar, eu vou embora. Não quero que nada aconteça com você, e se eu ficar, não conseguirei impedir que você se machuque, ou que algo pior aconteça. Você entende, não é, Elinor?

Segurando a mão dela, Sirius olhava para Elinor esperando que ela respondesse, mas nada aconteceu.


Cuidadosamente, Sirius tirou Elinor do carro, depois de abrir a cadeira de rodas. Enquanto ele fechava o carro, Elinor foi para casa, empurrando a cadeira com a mão esquerda.

- Não, Elinor, eu empurro a cadeira!

- Eu consigo girar essas rodas, sabia? - apesar de protestar, Elinor parou, deixando que Sirius a levasse.

- Se seu braço direito não estivesse quebrado, talvez.

Sirius parou para abrir a porta, e, depois de três dias no hospital, Elinor entrou em casa.

- Eu vou fazer o almoço, fique vendo tv, enquanto isso.

- Dessa vez eu vou deixar, mas você vai ver quando eu sair dessa cadeira.

Sirius foi para a cozinha e Elinor ligou a tv. Passava o noticiário local, e um ufólogo falava sobre as estranhas luzes verdes que alguns moradores viram três dias antes.

-... não é novidade, nos anos 70 e começo dos 80, muitas pessoas do Canadá, Estados Unidos e Europa viram as mesmas luzes verdes. Tenho imagens gravadas, e não tenho a menor dúvida que se trata de um fenômeno ufólogo.

- Não tenho a menor dúvida que você não sabe do que está falando. Fenômeno ufólogo, humpf! - irritada, ela mudou o canal.

Minutos depois, Sirius a levou para a cozinha.

- Você devia ter visto o absurdo que passou no noticiário. Um ufólogo disse que as luzes eram fenômenos ufológicos.

- Claro, os aliens vieram para seqüestrar o Papai Noel. - ele respondeu com sarcasmo.

- Acho que os homenzinhos verdes não voam em vassouras. - ela disse brincando, mas ficou séria - Pode parecer absurdo demais, mas será que eles são bruxos? Sabe, como aqueles das histórias de fadas, com caldeirões, e verruga no nariz. - ela olhava pensativa para Sirius enquanto falava.

- A verruga explica as máscaras, mas eu não acho isso absurdo. - mais uma vez, ele pensou na familiaridade que sentiu quando viu os mascarados voarem e a cobra verde no céu. Será que ele era um deles? - Acho que faz mais sentido que essa matéria.

- Sabe, uma coisa me deixou intrigada. O repórter disse que a mesma coisa aconteceu nos anos 70 e 80... Vinte anos se passaram, porque está recomeçando? - Elinor perguntou, pensativa, sem realmente esperar uma resposta.

- Eu não sei. - Sirius disse, sombrio - A comida está boa? - ele perguntou, mudando de assunto.

- Uma delícia. - ela respondeu depois de engolir - Estou começando a achar que você era um cozinheiro. Talvez você tenha vindo dos Estados Unidos para dar algum curso, vou falar com o delegado.

Tentar adivinhar quem era Sirius estava se tornando a brincadeira preferida de Elinor, e as suposições se tornavam cada vez mais absurdas. Claro que ele não era americano, o sotaque inglês era evidente, por isso, Sirius riu, e ainda sorrindo, falou.

- O delegado provavelmente pensaria que esse era meu disfarce para atacar mulheres solitárias e roubar tudo o que elas tiverem.

- Por que você diz isso? - Elinor perguntou, depois de parar de rir.

- O delegado achou que eu ataquei você.

Elinor largou o garfo, indignada.

- Isso é ridículo, mais ridículo que aquele ufólogo! Eu disse para ele que não foi você quem me atacou!

Sirius segurou a mão de Elinor, acalmando-a.

- Isso foi antes dele falar com você, não fique nervosa.

A mulher balançou a cabeça, concordando com Sirius.

- Está bem... Eu não consigo acreditar como alguém consegue pensar que você quer me prejudicar, você está sendo tão bom comigo. Eu detesto não poder fazer tudo, mas eu não conseguiria dirigir ou cozinhar com uma mão e um pé quebrado.

Elinor sorria, mas sorria como se tivesse sido o segundo colocado numa disputa, e Sirius, sabendo que ela não queria se sentir inútil, só agradeceu.

- Obrigado por confiar em mim, Elinor. - ele sorriu de volta enquanto falava.

Nas semanas seguintes, Sirius ajudou Elinor em tudo. A cozinhar, arrumar a casa, a tomar banho, e mesmo com as discussões por Sirius não deixar Elinor fazer tudo sozinha, os dois se tornaram muito próximos.

Sirius sempre perguntava se Elinor estava bem ou se precisava de algo, a distraía e a alegrava, parecendo realmente preocupado com o bem estar dela. Elinor nunca teve uma pessoa tão próxima quanto antes, nem mesmo o ex-marido, e começava a sentir uma afeição por Sirius que preferia que não existisse.

Sirius, por sua vez, sentia que acima de tudo, podia confiar em Elinor. No meio de tantas dúvidas sobre o seu presente e seu passado, ela era a única certeza em sua vida. Quando olhava para Elinor, via a gratidão que ela demonstrava no olhar por estar com ela, e ele se culpava por não contar que estava pesquisando sobre a cobra verde que havia aparecido antes dos mascarados aparecerem.

Em suas pesquisas, Sirius descobriu que as estranhas luzes que apareciam no céu haviam sido vistas pela primeira vez na Inglaterra, no início dos anos 70. Ele tinha certeza de que seu passado estava ligado àquela cobra verde, e havia decidido. Quando Elinor se recuperasse, encontraria uma forma de ir para a Inglaterra.

- Era a doutora Winters. - Elinor disse depois que desligou o telefone - Amanhã eu vou tirar o gesso, ainda bem. Desculpe, Sirius - ela começou, sem ficar encabulada, com a certeza de que ele não ficaria chateado com ela devido à intimidade que havia entre eles -, mas eu acho que dirigiria um carro melhor do que você mesmo com o braço e a perna engessados.

- Você não disse isso há seis semanas atrás, quando quis fazer compras e não conseguiu alcançar o acelerador. - ele disse despreocupadamente, enquanto Elinor se aproximava na cadeira de rodas.

- Eu tinha tomado o remédio para a dor, como poderia dirigir? - ela disse com o orgulho ferido, mais pela risada sonora de Sirius do que por depender dele, porém, logo ela estava rindo.

Enquanto observava Elinor rir, Sirius pensava se conseguiria deixar a mulher. Sentiria falta dela, ela era o único rosto familiar para ele, mas também teria saudade do interesse que Elinor demonstrava para descobrir sobre o passado dele, das conversas sobre qualquer coisa, de como os olhos dela brilhavam quando ela sorria, como naquele momento, ou como ela enrugava a testa quando estava zangada.

Sirius sabia que o que sentia por Elinor ia além da gratidão e da amizade, mas em momento algum hesitou na decisão de ir para a Inglaterra. Era por estar apaixonado por ela que deveria se afastar. Os mascarados voltariam cedo ou tarde, e Sirius queria estar longe da loira quando isso acontecesse.

- Eu estou com sono, você me leva para cima?

Sirius imediatamente concordou com o pedido de Elinor, e deixando aqueles pensamentos de lado, segurou a mulher nos braços e a levou até o quarto, onde a deitou na cama. Depois que se acomodou, ela perguntou para Sirius, como já havia feito várias noites antes.

- Você vai dormir agora, ou vai ficar um pouco aqui?

- Não, eu vou dormir. Tenho que acordar cedo. - ele disse rapidamente, como se justificasse.

- Então boa noite. - Elinor disse, e Sirius saiu.

Ele foi para o quarto, e leu um livro até ter certeza de que Elinor estava dormindo. Iria embora no dia seguinte, depois de deixar Elinor no hospital, e começou a arrumar uma pequena mala com o mínimo de coisas necessárias. Estava quase terminando quando percebeu que não estava sozinho no quarto.

- Por favor, não me diga que você está indo embora desse jeito!

Sirius voltou-se para a porta onde Elinor estava parada, visivelmente cansada pelo esforço, mais assustado com o tom desesperado da voz dela do que com o fato dela ter descoberto que ele ia embora.

- Elinor, o que você está fazendo aqui? Você devia estar deitada, descansando! - ele disse com determinação, irritado com a teimosia da mulher.

- Isso não importa! - ela bateu o pé esquerdo, nervosa - Eu não acredito que você estava pretendendo ir embora sem me dizer nada!

Sirius encarou Elinor abatido, e passou os dedos pelo cabelo antes de responder.

- Desculpe, Elinor, eu não queria ter que ir embora, mas vai ser melhor para você se eu for.

- Pouco me importa se é melhor para mim, será que...

O rosto de Elinor irradiava a fúria que ela sentia. Ela tentou se aproximar de Sirius, mas perdeu o equilíbrio e teria caído se ele, atento, não tivesse segurado-a antes.

Poucos centímetros separavam os rostos dos dois. Sirius estava dominado pela intensidade com que seu coração batia devido à proximidade de Elinor, e fazia questão de não dar atenção a nada na sala além da mulher em seus braços.

- Será que você não entende que eu não quero que você vá embora?! - ela murmurou lentamente.

Sirius não se lembrava da discussão anterior agora que estava ciente de que o desejo que sentia por Elinor era correspondido. A troca de olhares antecipava o que aconteceria a seguir, e era exatamente o que eles queriam que acontecesse.

Sirius aproximou os lábios dos de Elinor como se eles o atraíssem. Ela passou o braço esquerdo ao redor do pescoço dele e se entregou ao beijo.

Só quando sentiu que a beijava foi que Sirius soube o quanto realmente ansiava por aquele beijo, que ia se tornando mais íntimo à medida que as mãos dele iam descendo pelas costas dela, enquanto ele a levava até a cama, mas antes que eles alcançassem a cama, Elinor interrompeu o beijo.

- Não, Sirius. - o tom de voz era calmo, mas decidido - Eu preciso que você me explique porque pretendia ir embora sem que eu soubesse. - ela sentou-se na cama.

Sirius desviou o olhar de Elinor, tentando concentrar o pensamento em esclarecer o motivo de estar indo embora, frustrado pela interrupção. Ele sentou-se ao lado da loira antes de responder.

- Aqueles mascarados estão atrás de mim, e você já foi ferida por minha causa uma vez. Não quero que isso aconteça novamente, e eu só vou evitar se for embora. Pode fazer quase dois meses desde o ataque, mas eles vão voltar.

- Sirius, se essa é a razão, podemos nos preparar melhor, e eu sei me cuidar, o que aconteceu da primeira vez foi só... - ela hesitou, pensando na palavra -... um acidente.

Sirius balançou a cabeça com resignação.

- Acidente que pode se repetir. - Sirius balançou a cabeça com resignação enquanto falava - Não, Elinor, eu iria embora mesmo se essa fosse a única razão. Eu me preocupo demais com você.

Elinor concordou com a cabeça, apesar de seu olhar de protesto, que logo quando Sirius terminou de falar se mostrou intrigado.

- Outro motivo?

- Eu pesquisei sobre outras aparições de luzes verdes, e descobri que elas foram vistas pela primeira vez na Inglaterra.

- E você acha que descobrirá sobre o seu passado lá. - ela afirmou, entendendo os motivos que estavam o levando embora.

- Sim, Elinor. - ele concordou - Isso explica o fato do delegado não encontrar nenhuma queixa de uma pessoa com a minha descrição desaparecida.

- Se essas eram suas razões, não precisava ter escondido de mim. - ela gritou, contrariada por ter sido enganada, e desviou o olhar para os pés timidamente, envergonhada da atitude explosiva - Qual era o seu plano?

- Eu deixaria você no hospital, e depois pegaria um ônibus para o litoral. - ele respondeu sem corar, mas sentindo-se culpado.

- É um bom plano. - ela sorriu - Mas vamos fazer umas modificações. Você vai comigo para o hospital, e depois eu levo você para a rodoviária. De qualquer forma, eu tenho que passar por lá, vou fazer algumas compras numa loja do lado. Tudo bem para você?

- Parece perfeito. - ele sorriu de volta, e foi dormir depois que deixou Elinor no quarto.


Sirius não desceu do carro assim que Elinor o estacionou em frente à rodoviária. Havia chegado o momento mais difícil para ele desde que encontrou Elinor, e para piorar, tudo o que havia pensado em dizer desapareceu de sua mente.

- Bem, chegamos. - a mulher disse, quebrando o silêncio.

Ele engoliu em seco antes de falar.

- Elinor, eu não sei como agradecer por toda a sua ajuda...

- Eu o ajudei tanto quanto você me ajudou. - ela respondeu com um sorriso sincero - Vou sentir sua falta.

- Não por muito tempo. - os olhos dele brilharam, divertidos pela surpresa de Elinor - Assim que estiver seguro eu vou voltar.

Elinor abraçou Sirius, emocionada, e pela primeira vez ele pensou em ficar. Depois do que aconteceu na última noite, tinha certeza de que, independente do que fosse descobrir sobre o seu passado, desejaria voltar no instante que entrasse no ônibus. Sirius olhou profundamente para ela, querendo levar com ele todas as sensações que tinha somente ao vê-la.

- Eu vou esperar por você, Sirius. - ela beijou os lábios de Sirius rapidamente, com medo do que um contato mais íntimo poderia fazer, e continuou - É melhor você ir agora.

Antes que ela se afastasse, porém, Sirius segurou o pescoço dela, e entreabriu os lábios para um beijo longo e intenso, devido à incerteza de que voltaria, apesar da promessa e de sua própria vontade.

Eles interromperam o beijo, mas continuaram abraçados, as testas se tocando suavemente.

- Se você não voltar, eu mesma irei arrastar você de volta, nem que tenha que ir para o inferno.

Sirius se afastou, e respondeu, brincalhão.

- Então talvez eu acabe no inferno só para testar. - e sem que Elinor respondesse, ele saiu do carro e entrou na estação.

Elinor não desviou o olhar de Sirius até o perder de vista, demorando um pouco para descer do carro, com a esperança dele voltar, mas dez minutos depois, sem que Sirius aparecesse, ela saiu.

Ela atravessou a rua de braços cruzados, ignorando as pessoas ao seu redor, pois dificilmente deveriam estar passando pelas mesmas dificuldades que ela, e com uma expressão de distração no rosto, entrou num pequeno supermercado. Ela andou pelas prateleiras procurando o que queria comprar, foi para o caixa, e então percebeu que alguma coisa estava errada.

O caixa, um rapaz de vinte anos, estava entregando o troco para uma senhora distraída com o filho, enquanto as outras pessoas na fila olhavam irritadas, mas nenhuma delas se moviam. Elinor olhou ao redor, e viu duas crianças lendo uma revista, um homem cheirava uma fruta desinteressadamente, e, assim como as pessoas da fila, todos eles estavam parados, como se fossem estátuas.

Rapidamente Elinor saiu da loja, e na rua, ninguém se movia também, nem mesmo os animais. Ela correu para o carro antes que tudo ficasse pior, mas o raio de luz azul que acertou o chão poucos metros à sua frente impediu que o alcançasse. Elinor olhou na direção de onde o raio veio e logo entendeu porque as pessoas não se moviam. Vários mascarados sobrevoavam o céu sobre ela, montados em vassouras.

N/A: Talvez eu demore um pouco mais de 15 dias para atualizar a fic, mas eu não vou abandonar, aguardem mais capítulos em breve.