5. ALGUM LUGAR
O apartamento estava silencioso. Se alguém estava ali, ou não percebeu a chegada de Sirius e Elinor, ou, pior, sabia que eles estavam no apartamento, e esperava o momento certo para atacar.
Sem olhar para Sirius, Elinor procurou a mão dele. Sua mão estava gelada, e com dificuldade ele não se deixou dominar pelo nervosismo da mulher enquanto atravessavam os cômodos. No entanto, não havia motivo para Elinor estar nervosa, pois o apartamento estava vazio.
- Ele deve ter ido trabalhar... – Elinor disse sem encarar Sirius, duvidando das próprias palavras.
Sem responder, Sirius foi até a suíte, e abriu o armário. Não havia nenhuma roupa dentro dele.
- Elinor. – ele chamou a loira, e apontou para o armário vazio quanto ela entrou no quarto. – Ele deve ter viajado.
Os olhos azuis de Elinor estavam sobre o armário, sem realmente vê-lo, perdida em seus pensamentos.
- Já sei! – ela disse, e saiu do apartamento rapidamente. Sirius, inquieto e com um ar protetor, a seguiu até o apartamento ao lado.
Elinor bateu na porta, e pouco depois, uma mulher idosa, mas com uma vitalidade no rosto abriu a porta.
- Elinor, como vai! Não vejo você desde o começo do ano! – ela olhou de Elinor para Sirius, e sorriu, aprovando ele.
- Vou bem, senhora Peterson. – ela disse com um sorriso amigável. – Eu falei com o Christopher na semana passada avisando que viria aqui pegar umas coisas minhas, mas ele não está em casa, a senhora sabe se ele viajou?
- Sim, querida, ele disse que estava indo passar algumas semanas na Califórnia, mas não falou nada sobre você, Elinor. Você ainda tem as chaves, não é?
- Sim, senhora Peterson, mas eu não queria entrar no apartamento sem que Christopher autorizasse. – ela fez um gesto de descaso. – Bem, eu realmente preciso dessas coisas, e eu avisei para ele que viria, então vou ter que entrar.
- Esses homens, tão esquecidos... Espero que você não seja como Christopher. – ela disse para Sirius. – Elinor merece alguém que a respeite.
Elinor sorriu embaraçada, sem saber o que responder. Ela segurou a mão de Sirius e voltou para o apartamento, mas ele não a acompanhou. Ele olhava para Lynn Peterson, e respondia a ela.
- Não se preocupe, senhora Peterson, a Elinor vai ficar bem comigo. – ele se aproximou da loira, e envolvendo a cintura dela com o braço, eles voltaram para o apartamento.
Elinor mal conseguia encarar Sirius. Ele deveria estar irritado com Lynn por ter falado com ele daquela forma, e tentando se desculpar pela atitude da vizinha, começou a falar e a andar ao redor da sala.
- Desculpe a senhora Peterson, ela é a síndica do prédio, e me ajudou quando me divorciei, ela é um amor, mas às vezes se intromete onde não deve, desculpe se ela o constrangeu.
Sirius a interrompeu segurando no ombro dela.
- Não precisa se desculpar, eu não estou irritado. Ela só está preocupada com você, assim como eu – ele soltou Elinor, e fez uma pausa antes de continuar. – O que eu falei agora a pouco é verdade. Eu vou proteger você.
O olhar de Sirius dizia que ele queria mais do que protegê-la. Nos meses que conviveu com Elinor, se apaixonou por ela, mas agora, a amava, e esperava que ela correspondesse. Elinor, porém, abaixou a cabeça. Para Sirius, aquele silêncio significou uma recusa, e apesar de decepcionado, estava preparado. Ela deveria estar com medo dele. Tentando disfarçar, falou com animação.
- Você deve estar com fome, eu vou ver se tem alguma coisa para comermos.
Sirius começou a se afastar quando sentiu a mão de Elinor segurando a sua.
- Obrigada, você não precisava ter dito aquilo. – ela finalmente conseguiu falar, olhando para Sirius com gratidão.
Elinor abraçou Sirius, e deixou-se ficar presa aos braços dele. Sirius acariciou os cabelos dourados, admirado com a aparente fragilidade que escondia uma força inimaginada, sem conseguir deixar de encarar os olhos dela depois que se separaram. Eram tão inocentes, tão transparentes, que sentiu ser capaz de ver a alma de Elinor, e o impulso foi mais forte. Apertando ainda mais o corpo da mulher junto ao seu, uniu os seus lábios aos de Elinor. O beijo foi suave como jamais fora, e por um tempo, ele rejeitou qualquer coisa senão o sabor delicado dos lábios dela.
Quase sem que Sirius percebesse, ele entreabriu os lábios. O contato trouxe a tona sensações que costumava reprimir, mas agora, estava se tornando incontrolável.
- Elinor... – ele interrompeu o beijo, mas segurava a mão dela como se quisesse garantir que ela não fosse embora. – Eu não sei o que realmente sou e o quanto isso pode nos afetar, muito menos tudo o que tenho para oferecer a você. Talvez estejamos indo rápido...
- Não diga nada, Sirius – ela levou a mão dele aos lábios, a beijando com ternura. – O que você puder me oferecer é o bastante, e se você só tiver o seu amor, será o melhor presente que eu poderia receber.
Eles se beijaram, entregando-se totalmente um ao outro, deixando que o que sentiam os conduzissem, e logo estavam ajoelhados. Sirius estava tenso, com medo de tomar uma atitude que pudesse magoá-la, por isso a encarava com indecisão.
- Sirius, eu sei o que eu quero, e não vou fugir, nem vou deixar que você fuja.
Ela se aproximou de Sirius e puxou a camisa dele para cima, jogando-a para longe, e em seguida, ergueu os braços, ajudando ele a despi-la.
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Sirius acordou, mas não se levantou imediatamente. Ficou deitado, de olhos fechados, relembrando a noite anterior e sentindo-se imensamente feliz. Esticou os braços esperando encontrar o toque suave da pele rosada de Elinor, mas não havia ninguém ao seu lado.
Sirius sentou-se, totalmente desperto e apreensivo. Os piores pensamentos passaram em sua cabeça. Aqueles mascarados apareceram à noite e levaram Elinor, ou pior, o ex-marido dela apareceu.
- Elinor? – ele a chamou com urgência, ao mesmo tempo em que se levantou.
- Eu estou aqui. – ela respondeu enquanto ele entrava na sala.
Em meio a caixas viradas e papéis espalhados, estava Elinor na sala.
- O que você está fazendo? – ele perguntou, sorrindo como se estivesse vendo uma criança fazendo uma travessura.
- Eu estou procurando. – ela mordeu o lábio e olhou nervosa para ele. – Não me pergunte o que eu estou procurando. Eu só sei que Christopher nunca iria para a Califórnia, ele sempre detestou o sol... – ela apertou o papel que segurava e suspirou com cansaço. – Eu só queria uma pista...
Sirius sentou-se ao lado da mulher, e beijou os cabelos dourados dela.
- Eu vou ajudar você. Se tiver uma pista no meio desses papéis, nós vamos encontrar – ele disse, sentado-se ao lado da loira.
- Sirius, se ele não estiver na Califórnia... – ela não terminou a frase, receosa.
- Isso quer dizer que ele está fugindo dos mascarados, de você ou de qualquer outra coisa. É mais um motivo para termos certeza se ele foi para a Califórnia mesmo – ele disse com determinação, e começou a procurar.
A procura por uma indicação de onde estaria Christopher Bennet durou praticamente a manhã toda. Sirius e Elinor procuraram em pastas, caixas e envelopes sem sucesso.
- Você deve estar faminto, Sirius, não comeu nada hoje! – ela se levantou, soltando um suspiro de cansaço. – Vou fazer o almoço, se eu estou com tanta fome, imagine você, que não comeu nada!
- Tudo bem – Sirius concordou sem desviar o rosto dos papéis.
Durante horas de procura, não tinham encontrado um sinal de onde Christopher podia estar. Sirius passou os dedos entre os cabelos, olhando para a janela com cansaço. Tentava esconder de Elinor, mas começava a achar que não iriam encontrar nenhuma pista.
Suspirando, concentrou-se novamente nos papéis espalhados. Continuava com aquela busca somente para agradar Elinor. Ela estava se agarrando em qualquer esperança de encontrar Christopher para entender porque estava sendo caçada.
- O almoço está pronto!
Sirius se levantou, aliviado por sair da sala. Porém, um papel atraiu a sua atenção. Não vira aquele papel antes, e à medida que lia, ficava mais atônito.
- Elinor! – ele a chamou com urgência, e passou o papel para ela quando entrou na sala. – É um comprovante de passagem de avião para Detroit. Veja a data, 28 de março, é de uma semana.
- Eu sabia! – Elinor disse enquanto segurava o comprovante como se fosse sua salvação, e quando olhou para Sirius, havia um brilho de satisfação em seu olhar. – Prepare as malas, partimos imediatamente.
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Apesar dos protestos de Elinor, eles foram para Detroit em avião, e pior do que não poder controlar a situação era ter que suportar as piadas de Sirius sobre ela ter medo de voar. Para alívio da loira, a viagem foi rápida, mas chegar em Detroit era mais fácil que encontrar Christopher.
- Como vamos encontrar seu ex-marido? – Sirius perguntou enquanto saíam do aeroporto, enfatizando inconscientemente a palavra ex-marido.
- Eu estava pensando exatamente nisso, e pensei em contratar um detetive particular, o que você acha?
- Não sei, talvez seja perigoso envolver mais pessoas...
- Se não for assim, talvez demore meses até encontrarmos Christopher, e tempo, Sirius, é o que não temos. Aqueles mascarados logo estarão aqui.
Sirius não respondeu. Estavam entrando no táxi, não queriam despertar a curiosidade do motorista. Elinor perguntou se ele conhecia um hotel agradável, mas barato, e o motorista indicou o Harrington's.
O Harrington's ficava em um bairro comercial e movimentado. O quarto que Sirius e Elinor dividiriam, em compensação, era aconchegante. Os lençóis azuis sobre a cama de casal estavam limpos, e as janelas deixavam a luz do sol iluminar o lugar. O casal teria aproveitado o conforto se não estivesse preocupado com outras coisas.
- O que faremos, vamos contratar o detetive? – Elinor perguntou depois que o recepcionista saiu.
- Você acha que vai dar certo? – Sirius disse, sentando-se na cama.
- Acho que sim, eu tenho umas fotos do Chris, e eu sei que tipo de lugar ele gosta de freqüentar.
- Se ele está fugindo, então tentará evitar esses lugares – ele disse com perspicácia.
- Então o detetive procurará em outros lugares – ela respondeu com otimismo, segurando a mão de Sirius. – Você vai ver, vamos encontrar Christopher.
- Okay – ele concordou. Não sentia o mesmo otimismo que Elinor, achava que era arriscado envolver outra pessoa, mas um detetive conhecia Detroit melhor do que eles.
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Sirius demorou a atender o telefone. Estava tomando banho, e Elinor fora fazer compras.
- Alo?
A voz de quem ligara soou fria.
- Encontrei ele – e desligou em seguida.
Sirius desligou o telefone, molhando a cama ao se sentar, mas sem se importar com isso. Em dois meses de procura por Bennet, finalmente tinham uma pista concreta.
Quando Elinor chegou, minutos depois, Sirius ainda estava no mesmo lugar.
- Hey, trouxe o jornal – ela disse entregando o jornal para Sirius, e foi guardar o que comprara.
- Elinor...
- O que foi? – ela perguntou, de costas para Sirius.
- O detetive ligou, ele encontrou seu ex-marido.
- Quando foi isso? – ela sentou-se ao lado dele, esquecida das compras.
- Alguns minutos antes de você chegar.
Rapidamente, Elinor se levantou.
- Então o que estamos esperando? Vamos logo!
Sirius se vestiu, ainda entorpecido com a notícia. Passara os últimos dois meses procurando por Christopher Bennet sem ter uma pista concreta de que ele estava em Nova Iorque que começara a acreditar que algo estava errado
- Você não acha que isso está um pouco estranho? – ele perguntou.
- O quê?
- Nós encontrarmos Bennet antes dos mascarados, sem falar do fato de não termos sido atacados desde que chegamos.
Elinor olhou para Sirius com incredulidade.
- E você reclama disso?
- Não estou reclamando – Sirius respondeu com um gesto apaziguador. – Só estou sendo cauteloso. Talvez os mascarados estejam esperando que encontremos seu ex-marido para atacar.
- Eu também fiquei com medo deles aparecerem... – ela disse, sem encarar Sirius. – Por isso, decidi que da próxima vez que eles atacassem, eu estaria pronta.
Elinor abriu a bolsa, e retirou um saco de papel. Ela olhava para Sirius com um misto de culpa e perdão quando abriu o saco e mostrou uma arma.
- Você deveria ter me contado, Elinor – ele evitava encarar o revólver 38 enquanto falava. Estava mais furioso com o fato de Elinor ter mentido do que com o revólver.
- Eu sei, Sirius, mas eu sabia que você não ia gostar disso. Eu só queria estar preparada se os mascarados nos atacassem! Eu sei mexer no revólver, eu tive aulas de tiro.
- Então era para isso que você sai todos os dias! – ele quase gritou, irritado. – Sobre o que mais você mentiu?
Elinor continuava sentada na cama, mordendo os lábios com apreensão. Tentava permanecer calma, brigar só pioraria a situação.
- Eu não menti sobre nada, Sirius! Eu fiz isso para me proteger, para nos proteger! Você não concordaria com isso, mas era o que eu tinha que fazer! Você entende?
Ele não respondeu imediatamente. Não teria discutido com Elinor se ela tivesse contado antes o que estava fazendo, achava até que aprovaria. Como ela dissera, eles precisavam se proteger.
- Você sabe mesmo usar o revólver? – ele perguntou num tom seco, mas sem a raiva anterior.
- Sei, sim.
- Então é melhor levá-la quando formos encontrar o Bennet depois de falarmos com o Summers.
Elinor sorriu aliviada enquanto Sirius se vestia. Ele não falara nada, mas sabia que estava desculpada.
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Sirius pediu para o motorista parar três ruas antes da casa em que Christopher Bennet morava no subúrbio de Nova Iorque, e andaram até a casa. As luzes da sala estavam acesas.
- Vamos pelos fundos – Sirius sussurrou, e Elinor concordou com um aceno.
A porta estava aberta, e Elinor lembrou do que aconteceram em Chicago.
- Acho que estamos ficando especialistas nisso – ela sussurrou, brincando para disfarçar a tensão.
Silenciosamente, eles entraram na casa. Sirius ia à frente, atento a qualquer movimento, mas a cozinha estava deserta. Eles passaram para o próximo cômodo, e o que aconteceu em seguida foi muito rápido. Mal saíram da cozinha quando uma mancha preta jogou-se sobre Sirius. Elinor não conseguiu conter o grito, e, assustada, atirou na direção dos dois.
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N/A1: Sim, esta fic ainda está de pé! Mas, okay, eu pensei em desistir, só que eu retomei, por isso, postei capítulo novo. Aliás, sobre esse capítulo, uma cena foi cortada porque o ffpontonet não admite fics NC-17, se alguém quiser ler a cena cortada, manda um email ) que eu passo.
N/A2: Sobre 'Em Meio à Esperança', eu não atualizei ultimamente porque estava em época de provas na facul e tive que estudar, mas provavelmente semana q vem eu posto capítulo novo...
N/A3: Não poderia deixar de dizer obrigada a quempassou tanto tempo esperando por atualizações dessa fic... Valeu mesmo!!! Eu pretendo continuar a escrever, mas só queria lembrar q reviews são um ótimo estímulo :p !
